terça-feira, 31 de dezembro de 2013

João 3.16 – é um problema para os Tulipanos (Calvinistas)?

Eu trilhei o caminho do calvinismo bíblico sob os escritos de W. Grudem, J. I. Packer e A. Hoekema. Especialmente o último me mostrou um calvinismo bíblico onde a responsabilidade humana é tanto verdade quanto a soberania divina sobre a salvação. Não vejo problema algum com os chamados “textos arminianos”, pois sempre entendi que os que negam serão lançados no inferno e os que aceitam o Evangelho, serão salvos. 

Os assuntos relacionados das escolhas misteriosas de Deus era algo, e é, que não me incomoda nenhum pouco. Esse assunto está atrás das cortinas celestiais, só fui informado sobre isso... Não preocupava os servos de Deus na Bíblia, não me preocupa, portanto. O mesmo que ensinava eleição ensinou evangelização apaixonada (Romanos Cap.9,10).

Quanto a João 3.16, não raro, vejo explicações calvinistas sofisticadas para que de alguma maneira possa salvar alguma coisa “lógica” diante dos arminianos. Em contra partida, arminianos leem tal texto como se fossem um sério problema para os Tulipanos (se bem que parece que é para alguns calvinistas).

Gosto de simplificar e ser objetivo. O mundo de João 3.16 está sendo dito por Jesus a um Judeu (mesmo que não, o foco do contexto é esse), especificamente um Fariseu (Jo 3.1,2,10), que como sabemos, pensava na superioridade judaica. O que Jesus está dizendo é que; não mais uma única nação é alvo do amor de Deus e da contemplação messiânica. Todo o mundo agora o é. E não mais por descender dessa linhagem, e sim por que creriam em Cristo, nasceriam de novo por meio da fé (Jo 3.3,16,36).  Jesus mais adiante é mais especifico nessa questão, dizendo que apenas os que o Pai trazia a ele é o que seria salvo (Jo 6.37-44). 

Em João 3.16 a questão é a universalidade da salvação e o seu meio gracioso, a fé em Cristo, como instrumento divino de salvação. O povo judeu, como corpo político rejeitou a luz, essa luz então brilhou no mundo (Jo 1.10,11) Nada mais, nada menos...

Outros dizem que esse texto é problema para o sistema Tulipano, pois a ideia é que Deus ama todos, não apenas os eleitos. Deus ama a todos, mas não salva a todos. Quando os arminianos, nossos irmãos, aceitarem que a Bíblia demonstra que existe a Vontade do Decreto, a Vontade dos Preceitos e a Vontade do Prazer de Deus, perceberiam que o sistema Tulipano não é esse bicho que dizem ser. Jesus amou o jovem Rico, mas não o salvou. Ele deseja que todos se salvem, mas não decretou que todos se salvem! Deixou o Rico rejeitar a oferta do Evangelho para sua própria perdição. Esse Jovem não foi a Cristo, pois segundo Jesus, o Pai não lhe deu, pois todo o que o Pai deu a Jesus, esse virá a Cristo. Bem, pelo menos foi o que Ele disse. Amou Judas, mas intercedeu por Pedro, que poderia ter perdido a salvação se não fosse a Intercessão de Cristo. Por isso é que existe a preservação dos santos, ou perseverança dos santos.


João 3.16 por certo diz o que diz, sem problema algum para os Tulipanos.

Mais uma baboseira de Ellen White: a ressurreição de Moisés


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Louis Berkof: o que são as Pessoas da Trindade?

"Neste único Ser Divino Há três Pessoas ou subsistências individuais, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Provam-no as várias passagens já citadas como válidas para consubstanciar a doutrina da Trindade. Para indicar estas distinções da Divindade, os escritores gregos geralmente empregavam o termo hypostasis, enquanto que os autores latinos utilizavam o termo persona e,às vezes, substancia. Como aquele podia levar a mal-entendidos e este era ambíguo, os eruditos cunharam a palavra subsistência. A variedade dos termos empregados mostra que sempre se sentiu que são inadequados. Geralmente se admite que a palavra “pessoa” é apenas uma expressão imperfeita da idéia. Na linguagem comum ela designa um indivíduo racional e moral separado, dotado de consciência própria, e consciente da sua identidade em meio a todas as mudanças. A experiência ensina que onde temos uma pessoa, temos também uma essência individual distinta. Toda pessoa é um indivíduo distinto e separado, em quem a natureza é individualizada. Mas em Deus não há três indivíduos justapostos e separados uns dos outros, mas somente auto-distinções pessoais dentro da essência divina, que é não só genericamente, mas também numericamente, uma só. Consequentemente, muitos preferiram falar de três hipóstases em Deus, três diferentes modos, não de manifestação, como ensinava Sabélio, mas de existência ou de subsistência."

Teologia Sistemática, p. 83

Pastores Presbiterianos Maçons - até quando?

Antes de ler o texto abaixo, gostaria de dizer que pastores presbiterianos que foram maçons, respeitaram a decisão do Supremo Concílio da IPB e deixaram a maçonaria. Outros, são rebeldes, dando o exemplo diabólico da insubmissão. 

Os membros de igrejas presbiterianas, cujo pastor é maçom, deveriam sair em massa e ir para outra Igreja Presbiteriana onde o Pastor é exemplo para ovelhas e não para bodes


Se no passado nem tudo era claro nessa "sociedade filosófica", hoje está claro quais rumos os 'Pedreiros' tomaram... é muito interessante quando me informaram de uma grande cidade onde quem manda na IPB são os "homens do compasso". 

Tem coisa abominável enterrada no arraial da IPB, depois pedem Avivamento? Não adianta fazer Congressos, se o pecado ainda é tratado com o 'politicamente correto'! 


Portanto, leia esse texto:


"... Os pastores precisam considerar a relação de sua igreja, seu ministério e seu rebanho em relação à Maçonaria. Maçons estão nos púlpitos, em outras posições de liderança na igreja e nas denominações. É muito difícil acreditar que estão enganados, eu creio que eles não são verdadeiramente cristãos.

Charles G. Finney, o maior dos evangelistas do século 19, deixou a Maçonaria quando reconheceu Cristo como Salvador e Senhor de sua vida. Ele escreveu um livro sobre o assunto, combatendo a Maçonaria.

A Maçonaria durante muito tempo era secreta mesmo, hoje muitos dos segredos são revelados. Não é mais um segredo de qualquer um que desejar ser informado. Portanto os pastores e crentes que ali estão, não estão por acaso.

A Maçonaria uma instituição anti-cristã. Sua moralidade é anticristã, ... Seus segredos juramentado é anticristão, ... Seus juramentos são profanos,... Tomam o nome de Deus em vão,... As penas desses juramentos são bárbaras e até mesmo selvagem, ... Seus ensinamentos são falsos e profanos.

Você sabia que a Maçonaria não permite que o nome de Jesus como Senhor e Salvador seja usado em qualquer Loja regulamentada e aceita? 

Você sabia que quando eles usam uma passagem que fala de Jesus, tem que excluir o seu nome desta passagem? 

Nenhum cristão deve negar o nome de Jesus! 1 João 2:22-23 diz: "Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; mas aquele que confessa o Filho, tem também o Pai." . Leia também 1 João 4:2 em relação a este mesmo pensamento.

Pastor Isaias e todos os pastores e membros da maçonaria leiam ainda Oséias 4:6 declara: "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. " 

Se você tem maçons na composição de sua igreja, você, como pastor, precisa tornar-se educado e confrontá-los com amor. Oro diariamente por sua libertação da Maçonaria. 

Dwight L. Moody disse: "Eu não vejo como qualquer cristão, acima de tudo, um ministro cristão, pode ir para essas lojas secretas com os incrédulos Eles dizem que podem ter mais influência para o bem. Mas eu digo que eles podem ter mais influência para bem por ficar fora delas e reprovando as suas más ações. Abraão teve mais influência para o bem em Sodoma do que Ló tinha ". 

Prefiro ter dez membros que estão separados do mundo do que um milhão de membros no mundo e em sociedades secretas como a maçonaria. “Melhor um com Deus que mil sem Ele “. 

Algumas contradições com a fé cristã:

1 - O maçom tem o compromisso de manter o segredo sobre a instituição e defender os outros membros a qualquer custo, quer dizer se for preciso tem de mentir par defender a instituição.

2 - Maçom deve respeitar a prática religiosa de todos, e evitar o proselitismo. Isso vai contra o mandamento de Jesus, que é pregar o Evangelho e fazer discípulos.

3 - Em suas atividades rituais são usados: astrologia, cabala, numerologia e ocultismo.
4 - A Bíblia não é considerada como única regra de fé e prática.

5 - O sincretismo que fazem com Deus, identificando-o até com Om, o deus do sol dos egípcios.

6 - Jesus Cristo dentro da Maçonaria, é apenas o fundador de uma religião, como foram Maomé, Buda e Confúcio.

7 - Evocação a São João, isso eles fazem costumeiramente.

8 - O presidente da Loja é a “luz” para os novos adeptos.

Tal conjunto de normas e doutrinas municia sem dúvida aqueles que se opõem a maçonaria por motivos religiosos, como os evangélicos. E com razão já que fazem parte dos rituais práticas que vão contra o que ensina a Bíblia Sagrada.

A Maçonaria não pode ser considerada um movimento cristão pelo simples fato de valorizar a fraternidade. Mas se tem templos, ritos orações e recompensas, está claro que é uma religião, uma religião criada no inferno!!!"


Autor: Joaquim de Andrade - via Facebook.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Ellen White: ‘o diabo inventou a doutrina da imortalidade da alma’

A profetisa adventista, que como já disse, é mais que um Papa, visto que mesmo depois de morta é insubstituível. Ela deveria ser chamada de Nossa Senhora Adventista de Todos os Sonhos. Relata-se que quando entrava em seus transes visionários, ficava até duas horas sem respirar em visões! Entre as besteiras que escreveu, encontra-se o assunto que é tema da postagem. Veja:


“E a declaração da serpente a Eva, no Éden – ‘Certamente não morrereis’ – foi o primeiro sermão pregado acerca da imortalidade da alma. Todavia, essa declaração repousando apenas na autoridade de satanás, ecoa dos púlpitos da cristandade, e é recebida pela maior parte da humanidade tão facilmente como o foi pelos nossos primeiros pais [...] depois da queda, Satanás ordenou a seus anjos que fizessem um esforço especial a fim de inculcar a crença da imortalidade inerente do homem [...]” (Grande Conflito, p. 539,540).


Como já comentei tal assunto não é nevrálgico para se estabelecer se alguém é herético ou não – isto é, se ensina ou não a imortalidade da alma,  mas daí, dizer isso que White escreveu, é sair dos limites.

O que Ellen White escreveu é um absurdo imaculado, um absurdo perfeito. No texto não é dito nada de imortalidade da alma, mas nem de longe. Nem os textos posteriores dão qualquer margem para tal erro. E com certeza, qualquer adventista notaria isso, mas o adventismo deve seguir sua papisa. 

Além disso, existe uma incongruência nessa fantasia whiteana: Se a crença ensinada por Satanás ali era a da imortalidade da alma, eles só saberiam isso quando morressem, ou seja, mesmo assim precisariam desobedecer para ver se de fato era assim, sendo que a morte estava vinculada com a desobediência, não é mesmo?

Obviamente, ela nem sequer citaria nesse momento textos bíblicos que ensinam o tormento eterno, o que pressupõem a imortalidade da alma (Mt 10.28; Mc 9.43 Lc 16.19-31; Fl 1.23; Ap 6.9-11; 20.10 comp. Mt 25.41).


Olhando para o texto de Gêneses, de onde ela vomitou essa ignorância, percebemos claramente que o que o diabo disse foi que Deus não estava falando a verdade (Gn 3.4,5). Que eles não morreriam, de fato. E que Deus estava escondendo algo de bom deles, e mais, seriam como Deus e conheceriam o bem e o mal. Essa parece ser a leitura natural do texto. O que tiveram que amargar depois, ficou provado que quem mentiu foi o diabo e não Deus (Gn 3.19). 

Lógica Pressuposicional

"Preciso dizer isso de novo. Sou um aprendiz lerdo. Dãr!
Ora, após 30 anos pensando que era pressuposicionalista, o Dr. Greg Bahnsen mudou a minha mente. Eu estava perto, mas não o suficiente.
Há duas coisas que desafiam todo pensamento: infalibilidade e onisciência.
Exemplo:
Premissa 1: A mente grega (humanista) gostar de fazer conclusões, achar respostas.
Premissa 2: A mente hebraica (não humanista) está interessa no processo, não em conclusões.
Conclusão: Você deve ler as Escrituras com a mente hebraica, não com a mente humanista e, portanto, você não deve fazer conclusões.
É sério! Há pessoas que creem e ensinam esse tipo de “lógica”. Mas o que aconteceu? Essa proposição anti-grega e anti-conclusão fez uma conclusão. Dãr!
Toda alegação de “saber” algo é ao mesmo tempo uma alegação de conhecer exaustivamente, saber infalivelmente. De outra forma a alegação de conhecimento é mera retórica. Isso é o porquê conceitos como infalibilidade ou onisciência não são opções: eles são conceitos inescapáveis. Logicamente, essas alegações não podem ser negadas; elas estão implícitas em toda declaração. Quando pergunta o famoso “por quê” várias vezes, você chega à fonte de qualquer declaração — as pressuposições, o local da infalibilidade e a onisciência.
Você não precisa dominar o pensamento grego ou hebraico, o budismo, islamismo, mormonismo ou mesmo a teologia batista para entender pressuposições. Você precisa entender lógica — a lógica de Deus. A lógica pressuposicional que começa com Deus e sua auto-revelação na Escritura.
Quando a onisciência e a infalibilidade de Deus são negadas, eles são substituídas pela palavra “certa” do homem, uma elevação auto-afirmada ao status de “falando com certeza, sem erro”. Desde o Éden, o homem tem alegado ser capaz de “conhecer” a verdade e o erro sem a ajuda da revelação divina. O homem deseja autonomia. Além disso, é o próprio homem que senta em julgamento da revelação divina e determina se ela terá permissão de entrar na discussão.
Há, então, dois princípios que estão em oposição um ao outro: a infalibilidade e onisciência de Deus num canto, e a infalibilidade e onisciência do homem no outro. Não há terceira escolha, e o jogo é desigual. O peso pesado versus o peso pena. No musical de 1965, Homem de La Mancha, Don Quixote canta a famosa música do musical: O Sonho Impossível. Nas palavras de Van Til, “a interpretação que toma o homem autônomo como auto-interpretativo é uma ‘possibilidade impossível’”.
O sonho impossível do homem é negar a infalibilidade e a onisciência e, todavia, ainda alegar “saber” o que é certo e falso. Isso é loucura.
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Você não pode raciocinar alheio às verdades da Escritura. Você começa com a Escritura porque a Palavra de Deus é o fundamento de todo conhecimento, não de apenas parte dele. Qualquer coisa menos que isso é uma negação da Fé."

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Pastores/Presbíteros Reformados podem "ungir com óleo"?

A ORAÇÃO DA FÉ E A UNÇÃO DE ENFERMOS, ONTEM E HOJE

Uma análise de Tiago 5.14-16 em seu contexto histórico-gramatical-teológico e sua aplicação hoje na igreja 

Por Rev. Ludgero Bonilha Morais 


Dirijo-me aos “presbíteros da igreja” com profundo respeito, apelando humildemente para a autoridade das Escrituras com o fim de, no Senhor, orientá-los no que segue. 

O que desejo expor encontra-se sucintamente registrado em Provérbios 28.13 explicitamente em Tiago 5.14-16. 

As palavras de Provérbios 28.13 são simples e diretas. Não há nada de obtuso nelas; dizem exatamente o que querem dizer, e querem dizer precisamente o que dizem. O remédio que Deus tem para os problemas do homem é a confissão. Ocultar as transgressões traz desgraça, derrota e ruína, mas a confissão e o abandono do pecado trarão o perdão misericordioso e a paz. 

Nas palavras de Tiago 5.14 não se pode duvidar de que Tiago ensinou que há possibilidade de uma doença provir do pecado. Tiago orientou os cristãos que ao adoecerem chamassem “os presbíteros da igreja”. Este texto, portanto, convida-nos, a nós presbíteros, a uma detalhada reflexão, porquanto, refere-se especificamente a uma ação para a qual temos sido chamados em nosso ministério presbiterial. É necessário, sem dúvida, entendermos o mais perfeitamente possível o que Deus quer nos ensinar ali.

Esta provisão escriturística lança a Igreja de Jesus Cristo à tarefa de trabalhar com os que ficam doentes por causa do pecado. A obra dos oficiais da igreja não pode ser transferida aos psiquiatras ou aos místicos. A psiquiatria não tem meios para curar as enfermidades hamartiagênicas*, e os místicos, por outro lado, não levam a sério as Escrituras.

Tiago disse que os presbíteros deveriam orar pelo paciente, ungindo-o com óleo. Explicou que a oração da fé restabelece o membro doente e, se houver cometido algum pecado, ser-lhe-á perdoado. Tiago, além disso, exortou os enfermos a confessarem uns aos outros seus pecados para serem curados (v. 16). O que parece é que Tiago viu forte correlação entre doença e pecado. Ele presumia que muitas doenças resultam de pecado. A cláusula “se” do versículo 15 admite a possibilidade de que haja doenças provenientes de disfunções, ferimentos ou outras causas inocentes. É evidente que Tiago reconhecia duas fontes de doença: orgânica e inorgânica. Mas se, por um outro lado, a causa é desconhecida (e quiçá mesmo no caso de algumas causas conhecidas), Tiago dizia que quando o paciente debate a sua doença com os presbíteros e se faz oração, deve-se discutir a possibilidade de que a doença seja causada por algum pecado, e, se achar pecado por detrás do problema, deve ser confessado.

Ao mencionar a confissão de pecado causador de doença, Tiago referia-se primordialmente à confissão feita a Deus. Mas ele falou também de confessar os pecados “uns aos outros”. A pessoa enferma é orientada no sentido de que revele e confesse os seus pecados àqueles contra os quais pecou. Se deva confessar aos presbíteros também, é problemático. Provavelmente são considerados como conselheiros nessa questão, pois a passagem afirma que depois de orarem juntos, dá-se a cura. Parece que o melhor modo de entender essa porção bíblica é que o crente enfermo confessara os seus pecados aos presbíteros. Talvez seja esta a ênfase do oûn (“pois”) com o qual começa o versículo 16 no texto grego. A generalização contida no versículo 16 (“confessai, pois os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados”) parece evolver da experiência descrita nos versículos 14 e 15, que pressupõem que fora feita confissão aos presbíteros. A palavra exomologéo (“confessar”) empregada em Tiago 5.16 significa literalmente, “declarar a mesma coisa”. A ideia nela contida é a de dizer publicamente (ou ao menos abertamente) a outra pessoa que você concorda com seu julgamento adverso acerca de sua conduta. Significa admitir a alguém mais que você pecou contra ele. A confissão de Westminster coloca-o nestes termos: 

“como todo homem é obrigado a fazer a Deus confissão particular das suas faltas, pedindo-lhe o perdão delas, fazendo o que, achará misericórdia, se deixar os seus pecados, assim também aquele que escandaliza a seu irmão ou a igreja de Cristo, deve estar pronto, por uma confissão particular ou pública do seu pecado e do pesar que por ele sente, a declarar o seu arrependimento aos que estão ofendidos; isto feito, estes devem reconciliar-se com ele e recebê-lo em amor”. (XV, VI) 

Mas o que dizer do óleo? 

Sem dúvida, nós os presbíteros, a quem esta passagem de Tiago faz menção, temos de ser orientados a respeito da unção com óleo.

Primeiramente, é incerta e provavelmente sem importância a questão se Tiago pensava na unção como simultânea ou precedente à oração. O óleo de oliva era tido como remédio. De fato, nos tempos bíblicos o uso do óleo como medicamento era universal. Observem-se, por exemplo, Lucas 10.34 (onde se vê o bom samaritano tratando do homem que caíra em mãos de salteadores, aplicando óleo em seus ferimentos). Isaias lamentava a condição do povo de Deus que ele descreveu empregando a figura de uma pessoa machucada cujas feridas não foram “amolecidas com óleo” (1.6)

Portanto, Tiago não tinha em mente mágica nenhuma, quando mencionou o uso do óleo. Muito menos estava se referindo ao sacramento romanista da unção, e menos ainda, a poderes sobrenaturais conferidos a óleos, líquidos, etc. Como questão de fato, Tiago não escreveu sobre nenhum tipo de unção cerimonial. A palavra grega “ungir” (aleipho) empregada por Tiago, não indica unção cerimonial. A palavra para unções cerimônias, que ocorriam no Antigo Testamento, era chrio (cognata de christós, “ungido”- Cristo, o “ungido”).

Em contraste com a palavra chrio (“ungir”), o vocábulo utilizado por Tiago (aleipho) geralmente significa “friccionar” ou simplesmente “aplicar”. A palavra aleipho era usada para descrever a aplicação pessoal de unguentos, loções e perfumes que em geral tinha uma base de óleo – o termo relaciona-se com lipos, “gordura”. Era empregado significando até argamassa para paredes. O vocábulo cognato exaleipho intensifica o conceito de esfregar ou aplicar o óleo, e dá ideia de untar, apagar, enxugar, raspar, etc. Aleiptes era o “treinador” que massageava os atletas numa escola de ginástica. Em português: alipta. “a.lip.ta sm (gr aleíptes) O que, entre os gregos e romanos, esfregava óleo nos que saíam do banho, ou nos atletas que se preparavam para a luta.” (Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Michaelis). O termo aleipho ocorria muitas vezes nos tratados de medicina (vide: Synonyms of the New Testament – Trench).

Assim é que vem a tona que o que Tiago pretendia com o uso do óleo: era o emprego dos melhores recursos médicos daquele tempo. Tiago simplesmente disse que se aplicasse o óleo (frequentemente usado como base de misturas de várias ervas medicinais) no corpo e que se fizesse oração. O que Tiago defendia era o emprego da medicina aceita e consagrada. Nessa passagem ele apregoou que as doenças fossem tratadas com recursos médicos acompanhados de oração. Ambos os elementos devem ser usados juntos; nenhum deles deve excluir o outro. Portanto, ao invés de ensinar a cura pela fé, independente do uso de medicamentos, a passagem ensina justamente o contrário.

Mas, quando se usam medicamentos, estes devem ser usados conjuntamente com oração. Aí está a razão por que Tiago disse que a oração da fé cura o doente.

Mas Tiago não considera o emprego de remédios e da oração eficientes só nos casos em que o paciente haja cometido pecados. Nesses casos, a oração tem que incluir especificamente a confissão de pecados. O pecado está na raiz de algumas enfermidades e pode ao menos ser um fator corroborativo de certas complicações de algumas outras doenças. E Tiago explicou ainda que a confissão de pecados deve ser feita não só a Deus, mas também “uns aos outros”. Por certo a confissão não é um fim em si mesmo. O arrependimento e a confissão são apenas meios para a reconciliação, sendo esta o objetivo último. 

O Novo Testamento ensina que doenças podem provir de pecados, e daí advertiu sobre a necessidade de confrontação bíblica realizada pelos presbíteros da igreja. Devemos estar sempre cientes do nosso dever nesta questão, quando visitarmos os enfermos. Esta confrontação requer coragem e piedade para fazê-la. Fica-se perguntando quantas doenças (ou pelo menos complicações de doenças) poderiam ter sido curadas mediante cuidadosa atenção às palavras de Tiago e sua aplicação contextual e sábia. Nós presbíteros precisamos aprender a levar Tiago a sério. 

Portanto, é bom que consideremos o seguinte quanto ao uso do óleo: 

1 – A Igreja Presbiteriana do Brasil não é omissa nesta questão, mas, historicamente tem entendido que o uso do óleo, recomendado por Tiago, não é nenhum tipo de “unção cerimonial” (nossa denominação admite somente duas cerimônias de valor sacramental, a Santa Ceia e o Batismo). 

2 – O uso do óleo em Tiago 5:14, ao invés de ensinar a cura pela fé, independentemente do uso de medicamentos, ensina justamente o contrário. 

3- O uso do óleo no contexto do Novo Testamento e, neste caso específico, tem valor medicinal medicamentoso. 

4- O óleo, sem sua legítima aplicação medicamentosa, não produz qualquer efeito.

5- A oração não prescinde o uso do medicamento aplicável a cada caso específico. 

6- A frase: “os presbíteros da igreja” em Tiago 5.14 deixa entender a ação do corpo coletivo dos presbíteros e não ação individual. 

7- O crente pode, e está sujeito a se enfermar. Doença não é resultado direto de pecado específico. 

8- Fica estabelecido, no entanto, que este contexto de Tiago 5.14 ensina aos presbíteros a caminhar para uma confrontação bíblica com o enfermo, inquirindo dele, o enfermo, a possibilidade de o pecado estar na raiz da doença. 

Calvino, a grande referência interpretativa dos presbiterianos, afirma no comentário a esta passagem, quanto ao uso do óleo:

“Foi isto (a unção com óleo) nos dado de tal forma que deveria estar em uso entre nós nos nossos dias? A isto respondo, não...”
 
Cerrar os olhos para as lições da história, fatalmente nos levará a cometermos os mesmos erros que reiteradas vezes condenamos no passado. O texto de Tiago 5.14, interpretado equivocadamente pela “igreja” romana, trouxe à luz a doutrina da “extrema unção”, dos “santos óleos” e, mais tarde o popularmente conhecido surgimento das “benzedeiras”. Descobriram eles que esta manipulação da credulidade popular lhes confere domínio sobre os incautos. Hoje, cumpre-nos o dever de analisar criteriosamente os textos das Escrituras e aplicá-los à luz de seu contexto histórico-gramatical-teológico. Não podemos ficar aquém do propósito recomendado e nem ultrapassar os limites fixados pela Palavra de Deus. 

Na esperança de dirimir toda e qualquer dúvida sobre a passagem de Tiago 5.14-16 e no anseio de que vejamos cumprida a recomendação paulina: “completai a minha alegria de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento” (Fp 2.2), registro minha confiança nos propósitos eternos do Deus que dirige a vida de sua Igreja e, de forma carinhosa, a vida de seus oficiais.

Este texto foi produzido por ordem do Presbitério Belo Horizonte da Igreja Presbiteriana do Brasil, com adaptação autorizada. A pastoral vem acrescida da seguinte declaração: 

Declarar que o posicionamento doutrinário e prático inserido no documento em apreço recebe irrestrito apoio deste Concílio, requerendo de seus pastores e presbíteros comportamento em harmonia com suas conclusões. 



* Enfermidade hamartiagênica é, literalmente, enfermidade “gerada pelo pecado”. Conquanto toda a doença resulte, em última análise, do pecado de Adão, sendo, nesse sentido indireto, hamartiagênica, algumas doenças resultam diretamente de pecados específicos. Neste último sentido é que a palavra é aqui empregada.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Distorções nos escritos do ‘espírito de profecia’:“Ellen White e a doutrina monstruosa”

"No livro O Grande Conflito, existe uma declaração que Leandro Quadros considera a síntese do pensamento de Ellen White sobre a predestinação calvinista. Ei-la:

Estas monstruosas doutrinas são essencialmente as mesmas que o ensino posterior dos educadores e teólogos populares, de que não há lei divina imutável como norma do que é reto, mas que o padrão da moralidade é indicado pela própria sociedade, e tem estado constantemente sujeito a mudança. Todas estas idéias são inspiradas pelo mesmo espírito superior, sim, por aquele que mesmo entre os habitantes celestiais, sem pecado, iniciou sua obra de procurar derruir as justas restrições da lei de Deus.
Sai daí a base de Quadros para afirmar que a doutrina calvinista é satânica. Essa afirmação encontra-se no capítulo 14, o mesmo em que White menciona com aprovação o nome e as doutrinas de eminentes predestinistas, entre os quais Martinho Lutero, Ulrich Zwinglio, John Knox, John Bunyan, Richard Baxter, John Flavel, Joseph Alleine e George Whitefield: “O grande princípio mantido por aqueles reformadores... foi a autoridade infalível das Escrituras Sagradas como regra de fé e prática... A Bíblia era a sua autoridade, e por seus ensinos provavam todas as doutrinas e reivindicações”, disse ela sobre todos eles. Soa incoerente ela em seguida classificar a predestinação, juntamente com o antinomianismo, como “monstruosas doutrinas”, inspiradas por Lúcifer? Soa, mas coerência não é a característica principal dos adventistas.

No entanto, há um fato desconhecido por muitos adventistas: a declaração não é da pena de Ellen White. Trata-se de uma alteração feita W. W. Prescott na edição de 1911 do Grande Conflito. Surpreso pelo espírito de profecia precisar ser revisado e corrigido? Mas foi, aqui e em outros 105 pontos, apenas nessa edição da obra. O que White escreveu, e que consta na edição de 1888, é: "Esta monstruosa doutrina é essencialmente a mesma coisa que a alegação dos romanistas, de que ‘o Papa pode dispensar acima da lei, e do errado fazer certo, pela correção e mudança nas leis”, e que‘ele pode pronunciar sentenças e julgamentos em contradição... com a lei de Deus e dos homens’”. O filho de Ellen White questionou Prescott sobre a alteração e este a justificou dizendo que a afirmação da senhora White estava errada e que os adventistas se veriam em dificuldades se alguém pedisse a fonte da declaração.

Além do todo da redação ter sido alterado, na versão original, “monstruosa doutrina” está no singular e se refere ao antinomismo apenas e não ao calvinismo conjuntamente. A autora compara “esta monstruosa doutrina” com a revindicação romanista de que o Papa pode mudar as leis de Deus e dos homens, dizendo em seguida que “ambas revelam a inspiração” do Diabo. O singular, a referência ao romanismo e a palavra “ambas” tornam gramaticalmente impossível inserir ali a “predestinação calvinista”, como faz Leandro Quadros. São dois pontos a se ter em conta: as palavras não são de Ellen White e ela não fez referência direta ou indireta à doutrina da predestinação, mas unicamente ao antinomianismo e ao romanismo.

Seja como for, o fato é que Ellen White está trabalhando sobre declarações que não são, de forma alguma, expressões da doutrina da predestinação conforme entendida pelos calvinistas. Prova isso a própria fonte utilizada por ela, a Cyclopaedia of Biblical, theological, and ecclesiastical literature, de John McClintock e James Strong. Esta obra atribui a origem moderna do antinomianismo a John Agricola, um dos primeiros cooperadores de Lutero. Compreendendo erradamente algumas palavras de Lutero e Melâncton sobre a justificação sem as obras da lei, Agricola apregoou a doutrina antinomiana e foi por isso repreendido severamente por Lutero, não uma mas várias vezes, até que admitiu publicamente seu erro e se reconciliou com Lutero. Desnecessário dizer que Lutero era mais predestinista que Calvino e combateu duramente a teoria do livre-arbítrio, veja-se seu Nascido Escravo para confirmar.

Segundo a mesma obra, o antinomianismo foi defendido nos dias de Oliver Cromwell por um tal John Saltmarsh, que entre outras coisas defendia o universalismo e a justificação eterna, ou seja, que os eleitos eram justificados antes mesmo de nascerem, daí sua declaração de que “as ações ímpias que cometem não são realmente pecaminosas, nem devem considerar-se como violação da lei divina por parte deles, e que em conseqüência não têm motivo quer para confessar os pecados, quer para com os mesmos romper pelo arrependimento”, mencionada por White. Saltmarsh foi combatido por Samuel Rutherford, calvinista escocês que participou da Assembleia de Westminster. Mais tarde, o também calvinista Richard Baxter iria refutar seus ensinos.

Ao lado de Saltmarsh, os principais antinomianos da época foram Crisp, Richardson, Hussey, Eaton e Town, segundo os mesmos McClintock e Strong. E estes foram atacados e refutados com sucesso pelos calvinistas Thomas Gataker, Andrew Fuller, Richard Baxter e, principalmente, por Daniel Williams, além de outros. Embora escrita por teólogos de orientação wesleyana, a obra é cuidadosa em distinguir entre hiper-calvinismo e antinomianismo de um lado e o calvinismo dos reformadores de outro. Em nenhum lugar a obra referenciada menciona o calvinismo como responsável pelo antinomianismo, portanto, se White pretendeu dar essa impressão, agiu de má fé, se não foi o caso, seus intérpretes é que a compreendem equivocadamente ou a distorcem deliberadamente no calor do debate.

Creio que as palavras de Charles Spurgeon, extraídas de um sermão pregado em 1859, deixam clara a posição calvinista conforme definida em Wesminster e Dort: “Quantos danos tem sido causados às almas dos homens por homens que só tem pregado uma parte, e não todo o conselho de Deus! Meu coração sangra por muitas famílias sobre as quais a doutrina antinomiana conquistou domínio... Não posso imaginar instrumento mais apto, nas mãos de satanás, para arruinar almas do que o ministro que diz aos pecadores que não é dever deles arrepender-se de seus pecados ou crer em Cristo”. Em seu The History of Dissenters, no qual retrata a época referida, James Bennett diz que o antinomianismo “não resulta do genuíno calvinismo”, como aquele que “era familiar aos escritos e práticas dos grandes reformadores”, mas do “erro que tem sido enxertado por aqueles que são mais ansiosos para abraçar certas partes do que estudar para entender o todo”.

Em seu texto, Leandro Quadro menciona outras citações feitas por Ellen White no Grande Conflito, recorrendo a John Wesley. A obra de John Wesley não tão fácil de se analisar e cada citação deve ser analisada em sua ordem no tempo, além do contexto em que foi feito. Demanda tempo e requer espaço, ambos me faltam no momento, a Providência dirá se os terei no futuro. Por ora, basta-nos concluir que a citação feita por Leandro Quadro como sendo da senhora White e contra o calvinismo não é nem uma coisa, nem outra.

Soli Deo Gloria"



sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ellen G. White falou a verdade? O testemunho dos Pais da Igreja. Evidências históricas anteriores à Constantino

Por Ewerton B. Tokashiki

"Sem recorrermos ao Novo Testamento como prova histórica,[1] é possível evidenciar documentalmente que os cristãos observaram o primeiro dia da semana desde os seus primórdios? Devemos recordar que o argumento de Ellen G. White é que o abandono do sétimo dia para a guarda do domingo somente ocorreu em 321 d.C. quando Constantino promulgou a “Lei Dominical”. Leiamos o que registraram os pais da Igreja, nos séculos que antecederam à Constantino, e a nossa conclusão poderá descansar sobre o firme alicerce da verdade. 

Didaquê 

O mais antigo manual de preparação de batismo e discipulado da Igreja Cristã (80-90 d.C.) conhecido por Didaquê instrui como deveria ser a vida comunitária. A orientação era de que “reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacríficio de vocês seja puro.”[2] A expressão dia do Senhor, em grego kuriakê heméra e, em latim Dies Domini tornou-se o termo para indicar o primeiro dia da semana, a que chamamos de Domingo, o dia em que o Senhor ressuscitou! 

Inácio de Antioquia 

Inácio de Antioquia em sua Carta aos Magnésios (110 d.C.) declara que 
aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte. Alguns negam isso, mas é por meio desse mistério que recebemos a fé e no qual perseveramos para ser discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre.[3]


A sistematização doutrinária exposta por Inácio aponta para a transição da antiga para a nova aliança. Esclarece que a ressurreição de Cristo é a causa da descontinuidade e acomodação para a nova ordem, e, isto inevitavelmente envolve a mudança do dia de descanso do sétimo para o primeiro dia da semana, inaugurando uma nova era.

Plínio “o jovem” 

Conhecido por ser justo em seus julgamentos, Plínio “o jovem”, segundo o seu relato, procurava através de tortura e questionamentos descobrir o grau de culpabilidade do réu. Num período em que o imperador romano Trajano exigia a prisão, tortura, e dependendo do caso a pena de morte dos cristãos, e, neste contexto Plínio escreve uma carta questionando do motivo de prender e executá-los, se neles nenhum motivo de culpa era encontrado. Em 113 d.C., o relator descreve que os cristãos, sob tortura, confessaram que “unânimes em reconhecer que sua culpa se reduzia apenas a isso: em determinados dias, costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a Cristo como a um deus...”.[4] 

O testemunho do governador pagão expressou admiração com o costume cristão. Não havia nada de absurdo, nem ofensivo naquela religião. A menção de determinados dias confirma que as suas reuniões seguiam uma norma semanal, e que antes do amanhecer se reuniam. 

A carta a Diogneto 

O desconhecido escritor da Carta a Diogneto afirma que “não creio que tenhas necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos alimentos, a sua superstição sobre os sábados...”.[5] Em 120 d.C., o contraste entre cristãos e judeus estava estabelecido, de modo que a guarda do sétimo dia era visto pelos cristãos como sendo uma superstição judaica, e não como algo normativo para a Igreja. 

A carta de Bárnabé 

Um importante documento histórico apresenta alguns traços do Cristianismo do século II. A “carta de Barnabé” não tem autoria certa, mas pelo seu conteúdo a crítica literária especializada em patrística é de consenso datá-la entre 134-135 d.C.. O autor interpreta o significado do sábado. Ele declara que 
vede como ele diz: não são os sábados atuais que me agradam, mas aquele que eu fiz e no qual, depois de ter levado todas as coisas ao repouso, farei o início do oitavo dia, isto é, o começo de outro mundo. Eis por que celebramos como festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus.[6]


O seu conteúdo é abertamente contrário aos sistemas judaizantes. Nesta interpretação acerca do sábado, o autor contrasta entre o entendimento do Judaísmo e o Cristianismo. 

Justino de Roma 

O apologista cristão expressou que “no dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas.” Noutro lugar ele continua celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.[7]


A preocupação de Justino não era de firmar novas doutrinas, mas apenas de expor aos seus inquisitores o que era crença e prática tradional dentro do Cristianismo. A sua I Apologia é datada em 155 d.C. apontando para a proximidade da era apostólica, um período de pureza na fé cristã. 

Irineu de Lião 

Enquanto Justino defendia os cristãos diante dos governadores pagãos, Irineu se dedicava a atacar as heresias que brotavam dentro do Cristianismo. Irineu como apologista analisava os desvios doutrinários que haviam se infiltrado dentre os cristãos. Especificamente para o nosso propósito selecionamos os heréticos que se nomeavam ebionitas,[8] que segundo Irineu eles “praticam a circuncisão e continuam a observar a Lei e os costumes judaicos da vida e até adoram Jerusalém como se fosse a casa de Deus.”[9] Além de negar a salvação somente pela graça e a sua suficiência em Cristo, os ebionitas ensinavam uma redenção por meio da obediência da lei. Dentre os “costumes judaicos da vida” incluíam a prática de guardar o sétimo dia. Eles não entenderam a cessação dos aspectos civis da lei, nem o seu cumprimento cerimonial em Cristo, de modo que, persistiam em exigi-los como complemento da salvação, e nisto consistia a sua heresia. O livro Contra as Heresias é datado entre 180 a 190 d.C.. 

Tertuliano 

No início do século III os cristãos demonstravam desprezo pelos costumes judaizantes. Em seu livro Da Idolatria, escrito entre os anos 200 e 210 d.C., Tertuliano declara que “não temos praticado os Shabbats ou, outras festividades judaicas, do mesmo modo que evitamos as práticas pagãs.”[10] A sua afirmação esclarece que, tanto a idolatria quanto práticas judaicas, eram evitadas no mesmo pé de igualdade. Não há dúvidas de que o descanso cristão no fim do século II era marcadamente o domingo, da mesma forma que o exclusivismo cristão testemunhava contra pagãos e judeus! 

Conclusão 

As evidências exigem um veredicto! A declaração da senhora Ellen G. White é insustentável por causa da ausência de fontes e de provas. A verdade está contra ela, pois todo testemunho histórico aponta para a celebração do primeiro dia da semana como sendo o santo dia de descanso, de comunhão e de celebração dos cristãos primitivos que antecederam a “Lei Dominical” de Constantino. 

Todos os editos e leis foram promulgados para que os seus súditos incentivados por benefícios civis adotassem a religião cristã. O império romano estava se adaptando ao Cristianismo e não o contrário. Assim, o primeiro dia da semana tornou-se descanso civil, por ser tradicionalmente desde o final do primeiro século um dia reservado para o culto cristão. 

Evidências históricas apontam para o favorecimento do imperador romano para o Cristianismo. O que vimos foi que a Igreja no período da Patrística não somente evitava a guarda do sétimo dia, mas desprezava-a como sendo superstição, idolatria e heresia judaizante! Não há no puro Cristianismo nenhum grupo, em nenhum lugar e período que celebrasse o sábado como o dia cristão. 


Notas: 
[1] Deixo esclarecido que aceito a plena inerrância e historicidade do Novo Testamento. Apenas não recorrerei a textos do NT para evitar uma discussão exegética, mantendo-me apenas na análise histórica extrabíblica. Aqueles que têm alguma dúvida quanto à historicidade do NT sugiro a leitura de Eta Linnermann, Crítica Histórica da Bíblia (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2009). Embora tenha pronto a argumentação bíblica, aqui será exposto apenas as evidências históricas.
[2] Didaquê in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 1, pág. 357.
[3] Inácio de Antioquia – Epístola aos Magnésios – Padres Apostólicos in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 1, pág. 94.
[4] Henry Bettenson, ed., Documentos da Igreja Cristã (São Paulo, ASTE, 4ªed., 2001), págs. 29-30.
[5] Carta a Diogneto – Pais Apologistas in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 2, pág. 21.
[6] Carta de Barnabé – Pais Apologistas in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 1995), vol. 1, pág. 311.
[7] Justino de Roma, I Apologia in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 2ªed., 1995), vol. 3, págs. 83-84.
[8] Sabe-se que “eram judeus que aceitavam Jesus como o Messias ao mesmo tempo em que continuavam a afirmar que Paulo era um apóstota da lei, negavam o nascimento virginal, praticavam a circuncisão, observavam o Sábado, a Páscoa e outras festividades judaicas”. Robert G. Clouse, et. al., Dois reinos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003), pág. 33.
[9] Irineu de Lião, Contra as Heresias in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 2ª ed., 1995), vol. 4, pág. 108.
[10] Tertulian, On Idolatry in: Ante-Nicene Fathers, vol. 3, pág. 70 citado em G.H. Waterman, Sabbath in: The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, Zondervan Publishing, 1977), vol. 5, pág. 187. Este pai da Igreja é conhecido por causa da sua ortodoxia trinitária. O termo “Trindade” foi cunhado por ele, e Philip Schaff concede-lhe o título de fundador do Cristianismo Latino."

Fonte: http://doutrinacalvinista.blogspot.com.br/2013/10/ellen-g-white-falou-verdade-parte-2.html