"Mas há alguns de vós que não creem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar. E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido. Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele." - Jo 6.64-66
Quando arminianos/wesleyanos no arraial evangélico criticam a Teologia Reformada, por confessar que a doutrina da predestinação é um mistério (Ef 1.3-14), eu me lembro bem da critica das Testemunhas de Jeová quando encaram que as doutrinas como a das duas naturezas de Cristo e da Trindade, são mistérios, em última análise. Lembro-me também quando heréticos Adventistas fazem perguntas após perguntas a respeito da natureza do tormento eterno, visto que nem tudo tem resposta. A diferença dos grupos é que o primeiro é cristão, os dois últimos heréticos. Mas eles igualmente se escoram nas limitações da razão humana para questionarem doutrinas claramente assentadas nas Escrituras.
Alguns
encaram o uso do mistério como
desculpa para aquilo que não temos respostas. Enquanto, acham eles, que não
possuem nenhuma pergunta que não possam responder. Ledo engano! O uso de
mistério nas conversas sobre as doutrinas cristãs é exatamente por que a Bíblia
não revelou a resposta a uma indagação especifica – ainda que exista
especulações de cunho teológico que muitas vezes procuram tirar um pouco da
fumaça. Mas nem sempre, tais dificuldades são assim resolvidas.
Porém,
algumas reflexões são úteis para pensarmos até que ponto uma pergunta é
realmente impossível de responder, qual implicação de não se responder, e em
que bases tal pergunta foi feita. Podemos fazer isso em pesarmos as limitações
da nossa inteligência:
A) Um limite para inteligência humana – a revelação. A Bíblia ensina que nossa capacidade humana teria
limitações para captar toda a abrangência das doutrinas cristãs? Sim, e muito
mais! Já que muitas doutrinas não foram, nem encontram, correspondência na
razão humana. Podemos realmente dizer que não apenas os assuntos da
predestinação e trindade, mas outros relacionados ao mal, à providencia de
Deus, ao juízo final, ressurreição, inferno e eternidade, sempre possuirão um
caráter proposicional de assentimento confessional, não necessariamente por
acomodação intelectual plena. O limite de
qualquer pergunta deveria ser a Escritura. O que é lógico para um crente
verdadeiro, é o que é bíblico, não o que em nossa mente se encaixa ou
desencaixa. Não estou dizendo com isso que as doutrinas são irracionais – não é
isso, em absoluto. Mas tais doutrinas seguem um padrão lógico que em alguns
pontos não se assemelha ao nosso (Rm
9.20).
Invoco
aqui dois teólogos de tradições distintas, para demonstrar a questão de que a
doutrina mesmo não sendo compreendida
em seus moldes revelados, deve ser aceita por ser uma declaração bíblica:
Myer Pearlman: “Parece difícil compreender tudo isso?
Não poderia ser de outra maneira, visto que estamos tentando explicar a vida
íntima do Deus todo-poderoso! A doutrina da Trindade é claramente uma doutrina
revelada, e não concebida pela razão humana.” (Conhecendo as Doutrinas da
Bíblia, p 77).
Louis Berkhof: “A doutrina da Trindade depende
decisivamente da revelação.” (Teologia Sistemática, p. 81).
B) Mais um limite da inteligência humana - a sua curiosidade. Ainda que as doutrinas tenham sido a nós reveladas,
elas podem estar ligadas a assuntos não revelados, e também, algumas de suas
facetas e implicações, não tenham sido objetos da revelação por decisão divina.
Nossa preocupação filosófica de algo apenas demonstra que nós nos interessamos
em algo além daquilo que foi demonstrado, mas não que seja imprescindível para
a compreensão do assunto em tela. Estamos
apenas querendo saber, apenas por curiosidade, nada mais. Deuteronômio 29.29 limita bem nosso
campo de argumentação às coisas reveladas, visto que não pertence aos filhos de
Deus a curiosidade em especular coisas encobertas, além de analogias evidentes,
coisas que Deus não nos revelou. O Senhor Jesus alertou seus discípulos sobre
isso em Atos 1.6,7.
C) Outro limite da inteligência
humana - o pecado. Desconsiderar que o pecado afeta nossa compreensão,
mesmo de verdade bíblicas, é algo que deveria estar sempre diante de nossos
olhos. Estou falando de crentes. Por vezes nossa vida espiritual não está tão
lúcida, não nos desenvolvemos como cristãos maduros, ou mesmo estamos
envolvidos em uma prática carnal, que não temos condição de perceber coisas que
são claras para a alma do crente sadio e maduro (I Co 3.1-3; Hb 5.11-14; Tg
3.13-18). Não é nem um pouco bíblico achar que mesmo tendo nossa salvação em Cristo,
não signifique que nosso grau de espiritualidade, não possa impedir mais
iluminação. Mesmo um crente como do salmo 119.18 pediu mais luz para entender
mais, acha mesmo que quando um crente
arminiano que chega com todo seu orgulho, achando que sua razão intelectual deve ser a medida de uma revelação ele terá de
Deus mais luz? Nunca!! Deus resiste aos soberbos.
D) Um grande limite da inteligência humana
- o propósito de Deus. Esse é um assunto difícil para muitos os
arminianos-wesleyanos que já são racionalistas e humanistas – mas
não são todos, graças a Deus. Até
mesmo naquilo que foi revelação (John Murray, Romanos – comentário bíblico, p.467,468), iremos nos deparar com
algo que levará a todos nós nos dobrar e reconhecer que temos um assunto
intrigante, complexos e verdadeiramente profundo, que em ultima analise, vamos
ter obstáculos óbvios para compreender (Dn 12.8,9; Lc 9.44,45). Deus mesmo encobriu muitas coisas, e
outras simplesmente não será possível captar, talvez por certo tempo, dado a natureza daquilo que a revelação
trata. A Bíblia diz isso em Romanos 11.33-36. Se os humanistas e
racionalistas arminianos lerem com atenção o que esse texto está dizendo - que diante da perplexidade incompreensível da
profundeza da sabedoria, do conhecimento, dos juízos e dos caminhos revelados de Deus, devemos apenas
Glorificar a Ele - eles correriam
para arraial calvinista, pois é o único sistema cristão que tem em seu cerne a
teologia da glória de Deus e se rende assim diante dos planos de Deus!
E) "O" grande o limite da inteligência
humana – sua pequenez diante de Deus. Nossas especulações intelectuais geralmente
desconsideram algo que não queremos aceitar – por mais capaz que seja nossa
inteligência, ela não pode, jamais, compreender Deus e suas ações. A Bíblia
destaca isso em algumas partes no livro de Jó (Jó 26.14; 36.26). Seria bom não
irmos com nossa capacidade intelectual à uma direção que ela não foi convidada
a ir, mas sim devemos entrar nesses assuntos com o coração inclinado e a mente
subjugada. Além disso, devemos lembrar que a capacidade humana é limitada, o uso do termo mistério é o reconhecimento
humilde de que não podemos ir além, não somos capazes de ir adiante da
investigação.
Ø O testemunho de
todos os que se rendem à doutrina bíblica da Absoluta Soberania de Deus, é que - parece que ele foi rendido por um
doce poder, e sente total graciosamente desmontado em suas juntas,
humilhado em pó, estranhamente destituído de questionamentos, com um profundo
tremor e temor, inexplicável, ao mesmo tempo em que uma luz da Escritura, a Voz
do Espírito Santo, penetra à alma, e uma alegria e satisfação é infundida nessa
complexidade toda - um salto para a Luz, e assim diz para Cristo “para onde iremos nós? Somente Tu tens palavras de
vida eterna!”