quarta-feira, 7 de junho de 2017

Aos Novos Calvinistas: A ESSÊNCIA DO CALVINISMO

Por Paulo Henrique dos Santos

O nome Calvinismo* tem ganhado nas últimas décadas uma posição de destaque no meio evangélico brasileiro, seja entre aqueles que vieram a se identificar com ele ou entre aqueles que não se identificam, o Calvinismo tem ganhado um espaço que abrange desde o meio acadêmico, chegando até as rodas de conversas entre cristãos em suas igrejas.

No entanto, qual a essência do Calvinismo? Acredito que se perguntássemos nos seminários, faculdades, igrejas e nas ruas a respeito dessa questão, iríamos obter respostas bem diferentes. A identificação de algumas pessoas como sendo calvinistas normalmente é uma identificação reducionista, que se restringe a apenas um dos aspectos do calvinismo. Certa vez Charles Spurgeon disse: 

“Não há nada sobre o que o homem precisa ser mais instruído do que sobre a verdadeira natureza do Calvinismo”. Assim, quer seja você um calvinista, um não calvinista, ou até mesmo um anticalvinista, você precisa dar uma atenção justa a questão sobre o que é a essência do Calvinismo.

O PRINCIPIO BÁSICO DO CALVINISMO

Devemos iniciar dizendo que a teologia calvinista inclui todas as doutrinas evangélicas essenciais, tais como a deidade de Cristo, a expiação objetiva, a pessoa e a obra do Espírito Santo, enganam-se aqueles que pensam que o Calvinismo se resume a área da soteriologia com os famosos cinco pontos do Calvinismo, pois na verdade ele entra em muitas outras áreas, inclusive tendo forte influência na visão de mundo por parte do calvinista.

Também inclui muitas doutrinas desenvolvidas por grandes teólogos como Agostinho e Martinho Lutero, mas o Calvinismo herda seu nome do grande teólogo francês João Calvino. Deve-se, porém, fazer um parêntese aqui para a seguinte questão, é um erro achar que o Calvinismo é apenas uma reunião de ensinos feita por João Calvino, das obras dos teólogos que o antecederam, Calvino foi um gênio na organização e sistematização de doutrinas bíblicas, sua divida para com seus antecessores não deprecia a sua originalidade, evidenciada em sua doutrina da filiação divina, ênfase na humanidade do Redentor, o ofício tríplice de Cristo, em sua explanação do culto ser baseado no segundo mandamento etc.

Ao mesmo tempo deve se evitar o erro de se dizer que o calvinista é um adorador de Calvino ou que o tem como alguém inspirado e infalível, ou quaisquer outras coisas semelhantes a essa, pois o próprio Calvino nunca manifestou qualquer intenção de possuir seu nome ligado a discípulos ou a teologia.

Os calvinistas ao longo da história não se portaram como meros imitadores de Calvino, muito pelo contrário, esses trabalharam, por exemplo, no desenvolvimento da teologia do pacto, da teologia dos decretos e na doutrina da segurança da fé. Por isso apesar da contribuição de diversas correntes, o Calvinismo pode ser bem definido como “O mais amplo e o mais profundo cristianismo, ou o mais consistente e, igualmente, o mais harmonioso cristianismo”. Citamos novamente o batista Charles Spurgeon que certa vez disse:

Eu não acredito que seja possível pregar a Cristo, e esse crucificado, a menos que estejamos pregando o que é hoje conhecido como Calvinismo, o Calvinismo é só um apelido, pois na verdade ele é o evangelho e nada mais”.

Através dos séculos muitos eruditos têm procurado identificar um conceito singular que governa o Calvinismo, algumas interpretações do princípio básico do Calvinismo incluem, por exemplo, a predestinação e o pacto, no entanto, se temos que reduzir o Calvinismo a um conceito, acredito que podemos utilizar as palavras de B.B Warfield que disse: ”Ser reformado/calvinista é ser teocêntrico”. O que será que isso significa?

TEOCENTRISMO

O calvinista é aquele que crê que o Deus revelado na Escritura é o Senhor da vida e Soberano no universo, isso é diferente da visão de muitos irmãos não calvinistas sobre a Soberania divina. Falar de um Deus Soberano no meio evangélico é falar de algo que todos aceitarão, mas o que se tem visto é que essa soberania engloba apenas alguns aspectos, ou seja, Deus é soberano para nos abençoar, para abrir portas, para curar, mas quando se fala de uma soberania que abrange toda a salvação humana, todas as decisões humanas e todos os acontecimentos do universo, veremos então que para a grande maioria no meio evangélico, a soberania que Deus exerce é limitada por causas externas a ele.

Portanto, o interesse primário da teologia calvinista é o Deus Trino, os calvinistas são aqueles que vêem a vida toda “Coram Deo”, ou seja, uma vida vivida diante da face de Deus. Ser calvinista significa enfatizar o abrangente, soberano e amoroso senhorio de Deus sobre todas as coisas, enfatizar um Deus que é livre e independente de qualquer força externa (Dn 4.35), um Deus que sabe o fim desde o princípio (ISA 46: 9-10), que não somente criou, mas também sustenta toda a criação (Cl 1. 16-17), que governa e dirige todas as coisas para sua própria glória (Rm 11.36), um Deus que deve ser amado, adorado, temido, glorificado por toda a criação (1 Co 10.31).

R.C Sproul concorda coma definição citada acima dizendo:

A doutrina de um Deus Soberano e amoroso em Jesus Cristo é o centro da teologia calvinista, pois através desse entendimento nós podemos entender a natureza do homem, que porta a imagem de Deus, a natureza de Cristo, que age para satisfazer o Pai, a natureza da salvação, que é realizada por Deus, e a natureza da ética, cujas normas estão baseadas no caráter de Deus, e ainda muitas outras considerações teológicas.”

Dessa forma, podemos então dizer que o calvinista define toda doutrina de uma maneira centrada em Deus, o pecado é terrível porque é uma ofensa contra Deus, a salvação é maravilhosa porque traz glória a Deus, o céu é glorioso porque é o lugar em que Deus é tudo em todos, o inferno é terrível porque é o lugar onde Deus manifesta sua ira justa, ou seja, Deus está no centro de todas essas coisas.

CONCLUSÃO

Com o aumento do interesse pelo Calvinismo torna-se necessário um melhor conhecimento a respeito dele, não devemos achar que conhecer os cinco pontos faz de alguém um calvinista ou reformado, pois a teologia calvinista vai muito além disso. A centralidade de Deus tem sido considerada como a essência do calvinismo, para o calvinista Deus é o grande sol, e todas as outras bênçãos são raios de luz, Deus é a fonte, e todas as bênçãos são apenas correntes de água.

Infelizmente, nos dias atuais essa paixão pela centralidade de Deus na teologia e na vida tem sido deixada de lado até mesmo dentro de igrejas Reformadas, muitos púlpitos passaram a centralizar o homem, muitos cristãos passaram a colocar seus interesses acima de tudo. Que o nascimento desse interesse pelo Calvinismo seja aproveitado principalmente pelas igrejas Reformadas, e que Deus volte a ocupar o lugar que lhe é devido, o centro.

REFERÊNCIAS
Joel Beeke, Vivendo para a glória de Deus.
Charles Spurgeon, Verdades chamadas Calvinistas.

*Embora seja melhor dizer “Reformados”, mas para efeitos da identificação do uso, prosseguimos com o termo em mira.

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