segunda-feira, 30 de maio de 2016

As Testemunhas de Jeová e ‘oposição ao sangue’

O Corpo Governante, mentores absolutos das crenças e da vida das Testemunhas de Jeová, impõe aos seus seguidores, uma interpretação de Atos 15.29 que tem implicações funestas, visto que proíbe aos adeptos da religião não aceitarem transfusões de sangue. O que geralmente dizem é que apenas as Testemunhas de Jeová respeitam a ‘santidade do sangue’ ordenada na Bíblia, por não aceitarem transfusão de sangue. Em 1983 a liderança TJ chegou ao absurdo de escrever que receber transfusão de sangue é um desrespeito pela morte do Senhor Jesus!!!

“a santidade do sangue do próprio Jesus é destacada pela lei de Deus que proíbe qualquer outro uso do sangue. Disso se pode ver que qualquer uso errado do sangue mostra grave desrespeito pela provisão de salvação por Jeová feita mediante seu Filho.” (Unido na Adoração, p. 160).

No entanto, não foi sempre assim. Como é normal na práxis da Liderança das Testemunhas de Jeová, novas crenças e mudanças doutrinárias são bem comuns, à medida que os oráculos da Torre de Vigia, mudam ou possuem uma ‘nova luz’. O problema, em especial, além do próprio peso divino que qualquer interpretação do Corpo Governante possui na mentalidade e na convivência da comunidade TJ, o que pesa ainda mais é quando tais crenças custam vida e a esperança dessas pessoas.

A prática de transfusão de sangue, ou reposição do liquido sanguíneo, existe desde há muito tempo. E embora tentativas mal sucedidas desafiassem a medicina nos séculos passados, é dito que

“Em 1788, Pontick e Landois, obtiveram resultados positivos realizando transfusões homólogas, chegando à conclusão de que poderiam ser benéficas e salvar vidas. A primeira transfusão com sangue humano é atribuída a James Blundell, em 1818, que após realizar com sucesso experimentos em animais, transfundiu mulheres com hemorragias pós-parto.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Transfus%C3%A3o_de_sangue. )

Portanto, quando os Estudantes da Bíblia surgiram pelos idos de 1870-79, antigo nome das Testemunhas de Jeová, antes de 1931, já era conhecido o recurso medicinal de reposição do liquido sanguíneo. Os Estudantes da Bíblia praticavam isso normalmente, e até mesmo foi publicado elogios à pratica de transfusões de sangue. Rejeitar transfusões de sangue não era uma lei da Liderança TJ sobre seus seguidores. No início da década de 40, esse quadro mudou.

"desde a década de 1940, as testemunhas de Jeová têm recusado dar ou aceitar transfusões de sangue, ao passo que antes disso não adotavam tal atitude." – (A Sentinela de 15/02/73, p. 117).

Algo ocorreu na cabeça dos chefes das Testemunhas de Jeová. A investida das publicações foi a divulgação dos perigos clínicos da transfusão de sangue, com um marketing pesado. E especialmente a interpretação bíblica nessa direção, foi massificada, de tal forma que passou ser a verdade, desconhecida até a década de 40.

Segundo essa seita, ela foi ‘escolhida espiritualmente em 1919’. Até os anos 1940 esse ‘pecado’ não era combatido pela ‘ÚNICA RELIGIÃO VERDADEIRA’. Considerando seu surgimento histórico, 61 anos de silencio (desde a independência da revista A Sentinela em 1879). Considerando sua escolha ‘espiritual’ em 1919, 21 anos de silêncio...

No entanto, havia um alivio. As Testemunhas de Jeová eram deixadas em sua consciência se iria aceitar (ou doar) transfusão de sangue, e se fosse o caso, morrer. Não havia uma expulsão do convívio dos burgos da Torre de Vigia, se um dentre eles decidissem receber sangue. Veja esse relato em uma A Sentinela, onde relata a experiência de uma pessoa da suposta classe ‘ungida’, ou integrante dos 144 mil:

“Uma das testemunhas de Jeová, que afirma ser ela do restante ungido, esteve recentemente, hospitalizada e aceitou voluntariamente uma transfusão de sangue. Deve-lhe permitir que participe dos emblemas do pão e do vinho na ocasião do Memorial? – R. J. Estados Unidos. “Acreditamos que ela fez a coisa errada, contra a vontade de Deus. Todavia, nunca se deu instrução às congregações no sentido de desassociarem os que voluntariamente recebem transfusões de sangue ou os que as aprovam... Visto que a pessoa não é desassociada por causa de ter recebido voluntariamente uma transfusão de sangue ou por ter aprovado que um ente querido seu aceitasse uma transfusão de sangue, não se tem o direito de excluir essa irmã da celebração da Refeição Noturna do Senhor.” (A Sentinela, 1959 p. 255).

Interessante...

Mais uma vez, porém, esse quadro também mudou.

“Se, no futuro ele persistir em aceitar transfusões de sangue ou em doar sangue [...] deve ser cortado por ser desassociado” – (A Sentinela – 01/12/1961, p.736).

"a partir de 1961, quem quer que desconsiderasse esse requisito divino, aceitando transfusão de sangue, e manifestasse uma atitude impenitente seria desassociado da congregação das Testemunhas de Jeová." – (Proclamadores do Reino de Deus, p. 183).

Sendo irônico, diante desse quadro histórico, as Testemunhas de Jeová não deveria incomodar ninguém a respeito desse tema. Afinal, se seus Lideres Totalitários demoraram tanto para compreenderem isso, outras religiões devem ser deixadas ao seu tempo...

O Texto de Atos

O texto bíblico, mal interpretado, que gera essa celeuma toda, diz:

“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá.” (At 15.29).

Em um primeiro momento, só o fato de não existir transfusão de sangue na época bíblica, qualquer leitura nessa direção é uma importação ao texto (eisegese), um anacronismo e totalmente subjetivo. No máximo você pode apenas especular, mas nunca fechar uma doutrina de maneira tão enfática e dogmática. Em segundo lugar, o abster-se de sangue no texto está delineado em não se alimentar dele, como a Bíblia estabeleceu anteriormente em textos como Gênesis (9.4) e Levítico (17.10). No caso, comer e/ou beber o sangue. É isso que o texto está proibindo. A transfusão de sangue não destrói o sangue de seu padrão e objetivo original, ao passo que para alimentação sim. Transfusão de sangue em certo sentido é um transplante de órgão. Até mesmo em uma publicação o Corpo Governante reconhece, de forma bem mais enfática, que a transfusão de sangue é um transplante:

“Quando os médicos realizam um transplante de coração, do fígado, ou de outro órgão, o sistema imunológico do receptor pode detectar a presença do tecido estranho, e rejeitá-lo. Todavia uma transfusão é um transplante de tecido.” (Como pode o sangue salvar sua vida, p. 8).

Podemos fazer uma comparação - se a Bíblia prescrevesse, dentro de contexto de alimento, ‘abstenhais-vos de coração’ – concluiríamos de boi, ou de frango, etc, em hipótese alguma isso seria uma proibição para o transplante de coração humano em nossos dias.

Sabemos que a militância do Corpo Governante contra o sangue, é injustificável do ponto de vista hermenêutico, e do ponto do vista da teologia bíblica. Não respeita nenhum dos postulados da interpretação bíblica. Não possui obviamente nenhuma base exegética. Quando os argumentos partem para o campo médico, aí é outra questão, e se há ou não pontos positivos e/ou negativos, não nos interessam como doutrina cristã, a não ser que o cristão tomará decisões tendo vista os recursos disponíveis e acessíveis, para preservar sua saúde e vida, em obediência ao sexto mandamento (Ex 20.13; Mc 2.17; ITm 5.23).

*Nota: curiosamente, o capítulo onde se encontra esse absurdo no livro Unidos na Adoração do único Deus Verdadeiro, não apareceu quando esse livro foi revisado em 2002, com um novo título Adore o único Deus Verdadeiro. Houve nessa revisão uma alteração também na proibição do serviço militar alternativo, conforme constava no livro Unidos, essa doutrina alterada em 1996. 

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Dr. W. N. Pickering: João 1.18 – “DEUS” ou “FILHO” Unigênito?


“João 1:18

Ο μονογενης υιος−−
A,Cc,E,F,G,H,K,M,S,U,V,Ws,X,Δ,Θ,Π,Ψ,063,f1,13,Biz,Lec,lat,sirc,h,p
o unigênito Filho

μονογενης θεος−−P66,*,B,C*,L,sirp
um unigênito deus

ο μονογενης θεος−−P75,c,33,copbo
o unigênito Deus

Problema: Uma anomalia séria é introduzida — Deus, como Deus, não é gerado.

Discussão: A natureza e o corpo humanos de Jesus Cristo foram, na verdade, literalmente gerados em Maria, virgem, pelo Espírito Santo; Deus o Filho tem existido eternamente. “Um deus unigênito” é tão deliciosamente gnóstico que a origem egípcia aparente desta leitura a faz duplamente suspeita. Também seria possível traduzir a segunda leitura como “unigênito deus!”, enfatizando a qualidade [de ser Divino], e isto tem atraído muitos que aí vêem uma forte afirmação da divindade de Cristo. No entanto, se Cristo recebeu Sua “Divindade” através do processo de geração, então não pode ser a eternamente preexistente Segunda Pessoa da Trindade. Também “unigênito” não é análogo a “primogênito”, que se refere à prioridade de posição — isto poria o Filho acima do Pai. Não importa como a encaremos, a redação da UBS introduz uma anomalia séria.

Presumivelmente μονογενης deve significar algo mais que apenas μονος, "único". Em Lucas 7:12, embora por razões de estilo um tradutor possa por “o filho único de sua mãe”, havemos de entender que ele foi gerado por ela — não poderia ser um filho adotivo. O mesmo acontece em Lucas 8:42 e 9:38. Em Hebreus 11:17, com referência à promessa e a Sara, Isaque foi na verdade o “filho unigênito” de Abraão, embora ele realmente tivesse outros filhos com outras mulheres. Notar em Gênesis 22:12 e 16 que o próprio Deus chama Isaque de “único” filho de Abraão. João usa μονογενης cinco vezes, sempre se referindo ao Filho de Deus (João. 1:14, 18; 3:16, 18; 1 João 4:9). Não vejo nada nos usos do NT que justifique a tradução “único” [em oposição a “unigênito” (único gerado)].


Que P75 tenha uma conflação das duas primeiras redações é curioso, mas demonstra que a discrepância surgiu no segundo século. (Artigos modificam substantivos, não adjetivos, quando numa frase nominal tal qual a que aqui temos. Assim, o artigo é parte da mesma unidade de variação). A maioria das versões modernas evita uma tradução direta da redação da UBS. NIV nos oferece “mas Deus o único [Filho]” — uma má tradução para um texto mau. (Uma revisão subseqüente tem “Deus o Um e Único” — uma “fraude piedosa”, uma vez que nenhuma das variantes tem este sentido.) TEV tem “O Único, que é o mesmo que Deus” — pouco melhor. NASB realmente traduz “o unigênito Deus”! (a redação de P75). Não querendo ficar para trás, a “Amplified” confecciona uma conflação, “o único Filho suigêneris, o Deus unigênito.” Ai ai ai!”

Fonte: "Qual Texto Original do Novo Testamento?"

terça-feira, 24 de maio de 2016

“Ministério Barnabé” – a integração de novos discípulos

Integrar um novo crente na igreja é a finalização da obra evangelística, ou seja, terminar o processo ao introduzir a nova ovelha no arraial visitável de Cristo. Isso pode demorar, mas é compensador. A eternidade deixará claro que na verdade, o tempo gasto não foi nada. 

Devemos lembrar que a integração oficial, cabe aos líderes oficiais da igreja local. Porém, isso não significa que a integração do novo discípulo à vivência experimental e existencial da igreja está sob a responsabilidade agora de um grupo de presbíteros/pastores, etc. É MAIS um grupo que participará dessa integração, mas você, bem como toda a igreja tem essa responsabilidade. Portanto, a integração que nos é exigida é a integração espiritual e social, na igreja. E é sobre essa faceta da evangelização que quero destacar. Um tipo de “Ministério Barnabé”,  para essa  faceta da evangelização - justifico o termo.

Um homem perseguiu duramente a igreja de Cristo, seu nome era Saulo. Sabemos que ele depois com um encontro com o Senhor Jesus, se converteu (At 9). Ele se tonou o maior baluarte do cristianismo, mesmo dentre todos os apóstolos. Além de apóstolo, missionário e teólogo, foi inspirado a escrever boa parte do que hoje temos no Novo Testamento. Até mesmo o apóstolo o proeminente Pedro reconheceu a sabedoria de Paulo (II Pe 3.15).

Mas antes de surgir um Paulo, havia o temido Saulo. Imagine se você estivesse na igreja naqueles dias? Se seus familiares e irmãos cristãos tivessem sido perseguidos e torturados pelo agora crente, Saulo? Leiamos um texto interessante para esse tema – Atos 9.26,27:

“E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo. Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus.”

Saulo é o melhor exemplo de uma pessoa com dificuldade de ser integrada na igreja. Não porque ele não queria, mas por causa do medo da igreja. Perceba que Barnabé veio, e o introduziu na igreja, diante da liderança e deu testemunho a respeito dele. Provavelmente ele estava entre os discípulos entre os quais Saulo encontrou logo após o seu batismo (At 9.19).

Esse deve ser nosso esforço com as pessoas que estamos evangelizando. Levá-los a fazer parte da Igreja local, e se sentir membro da família e não visitante! Infelizmente algumas igrejas acabam se isolando em grupos, e não abre o leque deixando o visitante de lado. A Igreja é um fogão de uma boca só, por isso não deve existir panelinhas. Além disso, deve ser rejeitado qualquer trabalho em torno de um grupo de ‘afinidades’. Isso não é cristianismo bíblico. Se existir grupos e identidade mais próximos, por idade, localidade, razões familiares, etc, deve ser uma convivência natural e espontânea, jamais excluindo outros.

 Como integrar um novo crente na família cristã local? Algumas sugestões:

•          Deixe-o informado de todas as atividades da igreja.
          Convide-o insistentemente para participar de atividades sociais da igreja.
          Apresente-o, com discrição, a todos os irmãos.
•          Apresente-o aos líderes da igreja – pastor, presbíteros, diáconos, líderes.
•          Os irmãos deve ter iniciativa de conversar com o novo crente (mais uma vez, o fogão da igreja deve ter uma boca só, para que exista apenas uma panela... ‘quem lê entenda!’).
•          Passe o contato dele para outros irmãos, para que periodicamente fale com ele e o anime na caminhada cristã.
•          Fale dos ministérios que ele pode participar – sociedades, EBD, etc.
•          A medida que a amizade aumentar, convide-o para um momento ‘social’ junto com outros irmãos maduros, para que linguagem, hábitos e atitudes cristãs sejam percebidas por ele.
•          Ajude ele enentender que a igreja é uma mescla de pessoas - convertidas e não convertidas (I Co 5; Tg 4; Ap 2,3), maduras espiritualmente e imaturas (Hb 5.11-14; Tg 3.1,2).
•          Peça oração e ore por ele sempre.

Barnabé ainda deu outro exemplo de integrar um discípulo na igreja local. Seu sobrinho João Marcos não gerou muita confiança no apóstolo Paulo, por causa de uma atitude de abandono que o mesmo teve em um momento (Veja Atos 13.13 com 15.37,38). Com isso, Paulo não desejou mais a companhia de Marcos. Barnabé, porém, insistiu. Acabou que houve uma divisão na equipe missionária (At 15.39,40). Não sabemos quem estava com razão. O registro de Lucas não revela nada a respeito, apenas registra o fato. O tempo passou, o tempo revelou que pelo menos, o ministério de Barnabé, estava bem ativo em integrar pessoas, ajudando-as a serem reconhecidas e recebidas. Como podemos dizer isso? O mesmo apóstolo que rejeitou a companhia de João Marcos, anos mais tarde enviou uma cata e solicitou a presença do mesmo que ele um dia  não tinha confiança: “Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério.” (II Tm 4.11).

Mesmo antes disso, Marcos já havia sido recebido pelo apóstolo Paulo conforme lemos em Colossenses 4.10 e Filemom 24. Pela graça de Deus, Barnabé ajudou o próprio Paulo a entender que mesmo após uma decepção, compensa investir em pessoas, integrá-las na igreja. Sem dúvida alguma, a atitude de Paulo também, contribuiu muito para o crescimento de João Marcos.


Um alerta se faz necessário - integrar pessoas na Igreja também será um risco, porém, não precisamos temer as decepções. Podemos até tomar algumas precauções, mas jamais, podemos ler os corações – devemos integrar a todos. Além disso, o ser humano é instável e multável – se até mesmo um convertido maduro falha, o que dizer de novos na fé? Devemos esperar o melhor das pessoas, incentivá-las, mas jamais nos esquecer, que a rocha inabalável e imutável é o nosso Senhor Jesus (Hb 13.8), o supremo Pastor que reúne as suas ovelhas (Jo 10.16).

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Hernandes Dias Lopes e as igrejas pragmáticas

“Quando os homens se esquecem do Senhor, os falsos ensinamentos prosperam. Muitas igrejas abandonaram a suficiência da Escritura e a substituíram por doutrinas erradas. As perguntas pragmáticas (o que funciona? O que é prático?) dominam as discussões contemporâneas, dos concílios nacionais e aos conselhos das igrejas. Algumas igrejas que experimentam crescimento numérico infelizmente mudaram a mensagem para o que o povo prefere. A mensagem torna-se centrada no homem. O pragmatismo, não teologia, tem governando a abordagem de muitos pregadores. A ciência social tem dirigido mais o ministério do que a Escritura. “Muitas igrejas vão bem na quantidade e mal na qualidade”. 

Gene Edward Veith, citando Charles Colson, conta a respeito de uma igreja evangélica que decidiu crescer em número. Ele diz que o pastor contratou primeiro uma pesquisa de mercado e descobriu que muitos se sentiam repelidos pelo termo “batista”. A pesquisa mostrou que as pessoas queriam facilidade de acesso, de modo que a igreja construiu um novo prédio distante da auto-estrada. O templo tinha tetos com vigas, lareiras de pedra e nenhuma cruz ou outros símbolos religiosos que pudessem fazer as pessoas se sentir desconfortáveis. Depois, o pastor resolveu não mais usar a linguagem teológica. “Se usarmos as palavras ‘redenção ou conversão’”, raciocinou ele, “pensarão que estamos nos referindo a títulos”. Deixou de falar do inferno e da  condenação e mudou pra temas mais positivos. É claro que a igreja cresceu. “O espírito é pôr as pessoas acima da doutrina” – comentou um membro entusiasmado. A igreja aceita totalmente as pessoas como são, sem qualquer tipo de “faça ou não faça”. Ao abandonar a doutrina a autoridade moral e ao ajustar os ensinamentos de acordo com as exigências do mercado, a igreja embarcou em uma peregrinação para o pós-modernismo. “Igreja calorosa, “igreja verdadeira” e consumismo na igreja diluem a mensagem, mudam o caráter da igreja, pervertem o evangelho e negam a autoridade da igreja.”

Rev. Hernandes Dias Lopes

******************

Nota: Eu vejo muitas dessas advertências, se não todas, perfeitamente aplicáveis ao movimento “das comunidades” que tem assolado a identidade Confessional da Igreja Presbiteriana do Brasil nessa década e meia, patrocinada por uma escola chamada CTPI. Eles mudaram o nome de igreja para comunidade, adaptaram os púlpitos, ‘modernizaram’ o ambiente reverente, mesclaram a linguagem teológica e bíblica, fazem pesquisas de gosto de mercado para ‘abrir uma igreja/comunidade’, usam mensagens, personagens e músicas mundanas, como conteúdo e foco de estudos e mensagens para a Noiva de Cristo. O que é tudo isso se não uma igreja pragmática?

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A Lei de Deus, a Fé Reformada, Adventismo e o Dispensacionalismo

A postura Adventista a respeito da Lei é uma cópia da doutrina da Lei segundo defendeu os Puritanos e os Reformadores – especialmente na influência que a Confissão de Fé de Westminster, e outras confissões reformadas, imprimiram na tradição Batista, e esta, influenciou um grupo de desviados das igrejas cristãs, que esperaram Jesus voltar em 22 de outubro 1844, isto é, os Adventistas/Mileritas. Por vezes, até mesmo da parte de alguns ministros presbiterianos, que provavelmente se esqueceram das aulas nos Seminários, ou no que os Símbolos de Fé Presbiterianos dizem, sucumbem em um argumento dispensacionalista na crítica ao Adventismo.

A diferença mais específica está, certamente, na mistificação do quarto mandamento, em sua antiga formatação, o sábado, como carro proselitista do Adventismo. Embora a posição puritana defenda que o Verdadeiro Dia do Senhor, o Domingo, possui elementos pedagógicos diferentes de outros mandamentos, e um exemplo de devoção litúrgica externa, que não pode ser visto em outros mandamentos, não existe, porém, nada de uma mistificação em tal dia a ponto de substituir o selo do Espírito por um cumprimento da lei.

A Crença Fundamental Adventista 19 é um reflexo, em seus próprios termos, da doutrina Reformada da Lei, vista nas Confissões Reformadas e especialmente a CFW no Cap. XIX. E a crença a respeito do Sábado, contida na Crença Fundamental 20, pode ser uma postura inversa ao Verdadeiro Dia do Senhor do Cap. XXI da CFW.

Portanto, o problema entre o Adventismo e a Fé Reformada, a genuína tradição Protestante, não está na teologia da Lei, necessariamente. O Adventismo é que se apropriou dessa doutrina Reformada e Protestante, para levar a cabo seus ensinos judaicos. As mesmas Confissões que pensaram a respeito da Lei, que fizeram distinção entre Lei Moral e Cerimonial, e que defendeu o tríplice uso da Lei, é a mesma que com esse pressuposto, defendeu a substituição da Circuncisão pelo Batismo, a Páscoa pela Santa Ceia, Israel pela Igreja, O Sacerdócio Levítico pelo Sacerdócio Universal, e foi nessa mesma linha que entendeu na base da Lei e da revelação progressiva contida no Novo Testamento, a substituição do Sábado pelo Dia do Senhor, o Domingo (Ap 1.10).

O grande erudito Gleason Archer apresenta extensas razões da substituição em sua obra Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, das páginas 125 a 130. E uma interpretação de Colossenses 2.16 pode ser vista nos seguintes dizeres:

“o v.16 parece referir-se primordialmente às estipulações obsoletas do AT, umas dos quais é o sábado, como sétimo dia da semana, e a outra festa chamada sábado.” (p.129).

E o que dizer do dispensacionalismo? Existem vertentes dessa escola. Algumas que são mais enfáticas em sua faceta escatológica, que possuem loucuras proféticas, tal como a de 1844, e com falsas profecias. Existe, no entanto, um dispensacionalismo mais responsável, que apesar de ser moderado em sua escatologia está mais preocupado em fazer a distinção entre Israel e a Igreja. Não apenas encontramos isso em arminianos, mas até mesmo em calvinistas, como temos o exemplo de John MacArthur, e no Brasil temos o conhecido pastor calvinista Marcos Granconato, que é um dispensacionalista dessa linha (Fundamentos da Teologia da Vida Cristã, pp.88-96).

Não deixar de dizer também que existe um dispensacionalismo herético que nem mesmo o Senhorio de Cristo apresenta como necessário. Esse assunto é debatido por John MacArthur  em O Evangelho Segundo Jesus, e em O Evangelho Segundo os Apóstolos

Por fim, há os que defendem o fim da Lei Moral, mas com outra Lei Moral, revelada no NT, como padrão de vida para os cristãos. Que é na verdade bem semelhante aos 10 mandamentos – que não raro é apresentado como sendo um resumo da Lei Moral de Deus, porém, sem o Domingo como substituição do quarto mandamento, mantendo-se como tal. Embora, até mesmo muitos desses, olham o Domingo como legítimo da prática cristã neotestamentária [e patrística]. Como é o caso do Teólogo Assembleiano, Esequias Soares, que recentemente em uma excelente obra escreveu:

“A estrutura dos Dez Mandamentos se resumem no amor a Deus e ao próximo, diz respeito a Deus e à sociedade, que envolve pensamento, palavras e obras [...] A lei estabeleceu para Israel o sétimo dia da semana e, na graça, o sábado foi substituído pelo primeiro dia da semana, o dia da ressurreição de Jesus, e deixou de ser mandamento para ser praticado naturalmente, sem coerção alguma.” (Os Dez Mandamentos, pp. 9,10[ele repete a mesma ideia na página 72]).

Existem na proposta de Soares, acordos e desacordos com a Teologia Reformada – ele fez uma distinção entre o sábado institucional e o sábado legal; o primeiro é eterno e pode ser cumprido em qualquer dia – e ele mesmo, não nega o Domingo como essa alternativa; o segundo foi apenas para Israel para ser cumprido no sétimo dia (essa distinção, parece ser, o argumento mais fraco de Soares no livro citado). Obviamente, nem de longe o dispensacionalismo de Soares deve ser identificado com um antinomianismo (sem lei).

J. I. Packer lista em sua Teologia Concisa seis (6) tipos de antinomianismo (pp.155,156). O antinomismo dualístico, centrado ‘no Espírito’, em Cristo, dispensacional, dialético e situacionista. Todos os tipos de antinomismo apresentados são perigosos.

Deve ser dito, que mesmo Calvino tinha uma concepção diferenciada, e o que veio a ser a Teologia Puritana do sábado, não tinha total coesão com Calvino,  a respeito do sábado e de sua substituição. Para ele [assim como penso], Cl 2.16 é uma expressão clara de que o sábado do sétimo dia foi abolido. E que o Domingo entrou em seu lugar.

O SÁBADO E O DOMINGO

Tradição Protestante antiga, e confessional
Adventismo do Sétimo Dia
Dispensacionalismo moderado
O quarto mandamento é anterior ao Sinai. E é uma Lei eterna, assim como é os dez mandamentos. Essa
Lei no NT continua em uma nova roupagem, a saber, o domingo, o dia do  Senhor (Ap 1.10).
Calvino entendia que Cl 2.16 se refere ao sétimo dia.
Os puritanos entendiam que se refere aos sábados cerimonais e não ao moral.
O quarto mandamento é anterior  ao Sinai. E é uma Lei eterna, assim como é os dez mandamentos. Essa Lei no NT continua
com a mesma roupagem,
a saber, o descanso deve continuar sendo no sétimo dia.
O domingo é do diabo e será a marca da besta.
Eles entendem que Cl 2.16 se refere aos sábados cerimoniais.
O quarto mandamento
é sinaítico, e era uma
lei apenas para Israel.
Essa Lei não foi repetida para a Igreja, assim o como outras foram. O domingo é o dia da
adoração do NT, não no mesmo molde do sábado
é o dia do Senhor (Ap 1.10).
Para essa escola
Cl 2.16 é uma evidencia de sua rejeição ao sábado.


CONCLUSÃO

Portanto, dizer que o Adventismo é mais próximo da tradição protestante, por causa do assunto da Lei, é um disparate, pois assim podíamos dizer que eles são arminianos/wesleyanos, já que usam esse sistema para algumas explicações fazerem sentido na doutrina do santuário de 1844, nem mesmo podemos dizer que são eles pentecostais apenas porque defendem a continuidade dos dons, para sustentarem a crença em Ellen White!!!

Já que o adventismo oficialmente rejeita todos os demais postulados dos documentos reformados, a saber: A Trindade, a Doutrina da Escritura, dos Dons, do Batismo, da Alma, do Inferno, do Juízo, da Ressurreição, entre outros.

Na abordagem com o Adventismo, não devemos nos preocupar com a postura teológica plagiada (como Ellen White gostava disso!!) deles em relação a Lei de Deus, mas sim, no que leva eles a defenderem o que dizem respeito do sábado e sua mistificação – na verdade, só dizem o que Ellen White disse...

sábado, 7 de maio de 2016

Jesus não sabia o dia da sua vinda – 'por isso ele não era Deus'? Uma resposta às Testemunhas de Jeová

“Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai.” (Mateus 24.36 [Mc 13.32*]).

Diante desse texto, os seguidores do Corpo Governante da Torre de Vigia, repetem o discurso de que Jesus não pode ser Deus, como o Pai Jeová, visto que com isso prova que ele, Jesus Cristo, não teria todo conhecimento, sendo assim limitado:

“Tivesse Jesus sido a parte igual do Filho numa Divindade, teria sabido o que o Pai sabia. Mas Jesus não sabia, pois não era igual a Deus.” (Deve-se crer na Trindade, p. 19).

“Naturalmente, não seria assim se o Pai, o Filho e o Espírito Santo fossem coiguais em só Deus.” (Raciocínios, p. 402).


Ø  O que podemos responder diante dessas objeções?

Devemos reconhecer que esse é um texto aparentemente difícil dentro da abordagem da doutrina de Cristo, PORÉM, não pela objeção dos opositores da divindade de Cristo, mas pela doutrina bíblica da unidade da Pessoa de Cristo. No entanto, já que os opositores da deidade de Cristo usam esse texto, devemos, portanto, responder.

Primeiro, não há duvida de que a Bíblia ensina a Divindade absoluta de Cristo (Jo 1.1; Cl 2.9). Sua Deidade é comprovada abundantemente na Escritura Sagrada (Fl 2.5; Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.3,6,8,10). Ao mesmo tempo, a Bíblia, ensina que o Filho de Deus assumiu uma natureza humana, se revestiu de humanidade, tornando-se semelhante a nós:

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” Jo 1.14

“Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém.” Romanos 9.5

“Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.” Hebreus 2:17

Há muitos outros textos que confirmam isso, mas creio que os citados já são suficientes. Deus se fez carne. Ou seja, o Verbo, o Filho de Deus, assumiu outra natureza, unida à sua natureza divina. Porém, não temos duas pessoas, mas uma só Pessoa – a pessoa do Filho.

O Credo de Calcedônia exprime o ensino bíblico, sendo assim assumido por todas as igrejas cristãs:

“(...) Todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial [hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]; Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis;[1] a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.” (Site www.monergismo.com)

O Credo Atanasiano já dizia antes de Calcedônia:

“também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois mas um só Cristo. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua humanidade. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo.”

É possível Cristo ser uma única Pessoa – com duas naturezas, e ainda assim não saber o dia e hora de Seu retorno, visto que ele é Deus, e Deus sabe de todas as coisas?

A única explicação plausível é que é possível sim - segundo a sua humanidade. Observe que os Credos mostram que não houve mistura das duas naturezas, logo, cada uma continuou ser o que era – Deus e Homem. O grande teólogo Charles Hodge escreveu:

“[...] em relação à pessoa de Cristo consiste que nenhum atributo de uma natureza é transferido para outra.” (Teologia Sistemática, p. 773[grifo meu]).

Portanto, por um lado ilimitada, ao mesmo tempo que pelo outro, limitada. Como isso era processado em uma ÚNICA PESSOA, não é explicado na Bíblia, devemos apenas confessar assim (Dt 29.29). No texto em mira, Jesus podia estar falando em referencia à sua humanidade, o que é confirmada pelo contexto – no mesmo discurso Jesus, registrado por Mateus, se referiu ao Filho DO HOMEM nos versículos 27, 30, 37, 39 44; 25.13. 31.

“[Mc 13.32] sendo oculto nos conselhos do Pai de tal modo que o próprio Filho, na Sua aceitação voluntária das limitações da encarnação, não participa do segredo.” (O Novo Comentário da Bíblia, p. 1018[grifo meu]).

Não significa que quando Jesus usava o termo Filho do Homem ele estava se referindo à sua humanidade e dispensando a sua divindade, não em absoluto. Muito menos como sendo outra personalidade (Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 767). O que é dito de certa natureza é dito da Pessoa, e o que é dito da Pessoa é dito da natureza. Mas significava que sua humanidade era real e o que dela ele falava era de fato e em realidade, e que por homem, algumas coisas estavam incluídas – sua limitação por exemplo, naquela natureza, para que ela não fosse Divinizada, e assim ele deixaria de ser homem.

 Outra sugestão implícita é a missão do Filho. Segundo o teólogo Louis Berkhof essa passagem

“[...]provavelmente significa que este conhecimento não estava incluído na revelação que Ele, na qualidade de Mediador, tinha que realizar.” (Teologia Sistemática, p.649).

O uso de Mateus 24.36, pelo Corpo Governante, cai na classe da crítica do teólogo assembleiano Esequias Soares:

“Os grupos religiosos contrários à divindade absoluta de Jesus costumam usar fora de contexto, como ponta de lança, as passagens bíblicas que revelam as características humanas [de Cristo]. Isso vem desde os primeiros séculos da Era Cristã.” (Cristologia – a doutrina de Jesus Cristo, p. 50).


*Saber que o Senhor virá em data muito distante, poderia ser mal usada por nós, conforme explicou J. C. Ryle (Meditações em Marcos, p. 173,174).