Tenho assumido a postura de não postar muito
no blog críticas a sistemas cristãos dentro do arraial evangélico. Isso porque
entendo que erros e incoerências dentro de igrejas cristãs, não são erros que
condenam os indivíduos nem suas instituições. Concordo com Ferreira e Myatt:
“[...] devemos fazer uma distinção entre heresia e erro. A heresia
é uma negação do que é essencial para a salvação, tema este que nos distingue
como evangélicos. Já o erro é uma negação de algum aspecto da verdade revelada
que não é essencial a salvação. Por isso, a heresia e o erro devem ser
evitados, no entanto, somente a heresia deve ser considerada um obstáculo
intransponível para a comunhão.” (Teologia Sistemática, [Vida Nova] p. XXV).
Reafirmo assim o que coloquei no blog MCA
desde seu início – Bíblia inerrante,
infalível e suficiente, Trindade e Salvação pela graça por meio da fé, são
os temas centrais que tem guiado minha cosmovisão apologética no combate às
seitas, e até agora, não encontrei resistência plausível a essas três
abordagens. Preservo a classificação de heresia a temas que ferem a esses
princípios.
Por exemplo, recentemente um irmão me indagou a respeito do tema imortalidade da alma, onde alguns classificam isso como um ponto essencial, talvez como o seria a doutrina da Divindade de Cristo. Apesar de crer que seja um equívoco enorme, o aniquilacionista não é um herege como o é um antitrinitariano. Assim também creio, que o tema da postagem deve ser assim tratado, nessa perspectiva, de erro, um sério erro. Que deve ser abandonado e não propagado, mas não como uma ‘heresia infernal’.
O Dispensacionalismo é um sistema doutrinário recente no seio do cristianismo, tendo em vista seu sistema codificado. Possui vertentes brandas e exageradas. Equilibrados e extremados, isso no âmbito da Lei e da Escatologia. Vou tratar de um tema do dispensacionalismo, que não sei se é compartilhado por todos os dispensacionalistas*. A questão de se no Milênio haverá sacrifícios. Não posso delongar aqui outras informações a respeito do desenvolvimento desse sistema, e suas nuanças, pois não tenho toda essa bibliografia, nem tempo.
O Absurdo - O Templo, com seu sistema sacerdotal e sacrificial, serão restaurados no milênio! A interpretação nasce de um equívoco em considerar as profecias de Ezequiel, em sua maioria, literal e aplicando ao milênio.
I. O Templo: O dispensacionalista J. Dwight Pentecost, no Manual de Escatologia afirma a respeito da interpretação ‘correta’ das visões de Ezequiel: “[...] temos aqui uma previsão do templo construído na era milenar. Essa parece ser uma sequencia adequada e inteligente às profecias precedentes.” (p.519), cita então Merril F. Unger para corroborar sua posição de que: “O templo de Ezequiel é um santuário literal e futuro a ser construído na Palestina como esboçado durante o milênio.” (Manual de Escatologia, p.521).
As dimensões do templo das visões de Ezequiel são levadas a sua literalidade (p.521), sendo assim demonstrado que tal interpretação está bem definida nessa direção. Até o local para a sua construção, “uma montanha que será miraculosamente preparada para esse propósito” (Manual de Escatologia, p. 520)
II. O sistema sacerdotal: O sistema sacerdotal que será restaurado no milênio, segundo os dispensaccionalistas, é semelhante ao arônico, mas não necessariamente o mesmo. Existem diferenças e semelhanças. Que semelhanças são essas? J. D. Pentecost usa texto de Ezequiel e afirma:
“Existem certas semelhanças entre os sistemas arônico e milenar. No sistema milenar encontramos o centro
da adoração num altar (Ez 43.13-17), onde o sangue é aspergido (43.18), e são
oferecidos holocaustos, ofertas pelo pecado e culpa (40.39). A ordem levítica é
restituída, já que os filhos de Zadoque são escolhidos para o ministério
sacerdotal (43.19). A oferta de manjares está incorporada ao ritual (42.13).
Existem rituais prescritos para a purificação do altar (43.20-27), dos levitas
que ministram (44.25-27) e do santuário (45.18). Haverá observação das luas
novas e dos sábados (46.1). Sacrifícios serão oferecidos diariamente pela manhã
(46.13). Heranças perpétuas serão reconhecidas (46.16-18). A Páscoa será novamente
observada (45.21-15) e a festa dos tabernáculos torna-se um acontecimento anual
(45.25). O ano do jubileu observado (46.17). Há semelhanças nos regulamentos
dados para governar o modo de vida, o vestuário e o sustenta da ordem
sacerdotal (44.15-31). O templo no qual esse ministério é executado torna-se
novamente o local onde se manifesta a glória de Jeová (43.3-5). Percebemos
então que a forma de adoração no milênio terá grande semelhança com a velha
ordem arônica.” (Manual de Escatologia, pp. 524,525).
Embora segundo Pentecost, o que mais importa são as diferenças e não as semelhanças, mas ambas nos preocupam. Achar que por ter diferenças, torna mais sublime, é um meio de nublar toda a problemática. Até mesmo nas diferenças, algumas coisas estranhas são apresentadas. Pois sugerem até que tal Templo e sacerdócio terá um “rei-sacerdote da ordem de Melquisedeque, talvez Davi ressurreto [...]” (p. 529)!!!
III. O sistema sacrificial: Segundo os defensores desse erro, os sacrifícios serão comemorativos e não expiatórios. Diz J. D. Pentecost que nem no VT os sacrifícios eram expiatórios, pois apontavam a Cristo, assim também serão os sacrifícios no milênio dispensacional: “Que insensatez argumentar que um ritual poderia realizar no futuro o que nunca pôde ser realizar, ou realizou, ou foi projetado para realizar no passado.” (Manual de Escatologia, p. 530). Os sacrifícios, então, “serão memoriais quanto ao caráter” escreveu o dispensacionalista. Enquanto no VT era algo que apontaria para o futuro, os sacrifícios do milênio dispensacionalista, serão em retrospectiva (p. 531).
Os sacrifícios de animais durante o milênio, proposto na escola dispensacionalista, talvez guiado por Davi, exercerá uma mesma função semelhante da santa ceia. Veja:
“o pão e o vinho da ceia do Senhor são, para o crente, símbolos e
memoriais físicos e materiais da redenção já adquirida. E esse será o caso com
os sacrifícios reinstituídos em Jerusalém; eles serão comemorativos, como
sacrifícios antigos se davam em perspectivas.” (Manual de
Escatologia, p. 532).
Refutações:
1. A carta aos Hebreus capítulo 3 ao 10:18.
2. Nenhum texto sequer de Apocalipse 20.1-10 faz tal aplicação. A simples menção de Gogue e Magogue, não justifica a extensão além da própria menção do contexto de perseguição. Além disso, é claro, a própria cronologia dos fatos revelados em Ezequiel, que faria com que a menção do capítulo 38 e 39, sendo a introdução do Novo Templo, ficando assim uma inversão do relato em Apocalipse 20.1-10!
3. O problema seria totalmente resolvido se os dispensacionalistas aceitassem que o NT nunca fez uma aplicação dessas. Nem ao período de mil anos que aparece em Apocalipse, ou em qualquer outra passagem. A interpretação neotestamentária é totalmente diferente a respeito de realidades sacrificiais, sacerdotais e do templo, não tendo nunca um cumprimento futuro, em uma roupagem escatológica. Mas sempre como sombras, algo passageiro, envelhecido e que desapareceria.
4. A natureza da Nova Aliança deixa por completo tal proposta destruída. A Nova Aliança apresentou um cumprimento de profecias e modelos, e apresentou uma formatação nova de tudo aquilo para a ‘dispensação’ atual, que será substituída apenas após a volta de Cristo e seu julgamento sobre o mundo pelo que chamamos de Novos Céus e Nova Terra (Ap 21).
5. Qualquer menção que a Bíblia faça de reis e sacerdotes sobre a terra (Ap 5.10), e no chamado milênio (Ap 20.4-6), deve ser norteada pela revelação posterior a Ezequiel, que é o Novo Testamento.
6. A mesma palavra usada em hebraico usada em Ezequiel 45.15, etc., é usada em Levítico 16.6, etc. E o que sabemos, é que a palavra “expiar” significa “cobrir, reconciliar, propiciar, pacificar” (Dicionário Vine, p.122). Não significa, por certo, “celebrar, relembrar, comemorar”, como desejam os defensores do dispensacionalismo.
7. Por último, o NT classifica a Igreja como templo de Deus, seus membros como sacerdotes, seus serviços como adoração, seus sacramentos como memorial e sinal, o sacrifício de Cristo, como único e suficiente. Se todo o VT recebeu essa formatação, essa aplicação, por quais motivos as visões de Ezequiel estariam excluídas?
Lamento
profundamente que muitos de meus irmãos em Cristo, estão defendendo essa faceta
de interpretação totalmente equivocada da escola dispensacionalista.
[*Nota dia 01/08 - mais informações sobre as versões recentes dessa escola, veja em:
http://veritasimmutabilisest.blogspot.com.br/2009/02/dispensacionalismo-progressivo_6165.html , a crítica da postagem continua aos que adotam a postura em mira.]
[*Nota dia 01/08 - mais informações sobre as versões recentes dessa escola, veja em:
http://veritasimmutabilisest.blogspot.com.br/2009/02/dispensacionalismo-progressivo_6165.html , a crítica da postagem continua aos que adotam a postura em mira.]