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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Debate: Justificativas para o Ateísmo e para o Teísmo (Parte 5)

                                          (quem ver, entenda... hehe)
Parte 4
MODERADOR
Ateu, como são pontos amplos, concedo-lhe a oportunidade de escolher, caso queira, ponto a ponto para responder, em cada turno. Entretanto, todos deverão ser abordados. Fixo ainda o argumento central de Lucio Antônio de Oliveira : "mostrar que o ateísmo está calcado em pressuposições teístas (na ética, na metafísica, na epistemologia), e que ele tem de abdicar-se delas. Porém, ao fazê-lo, sua cosmovisão ruirá.". Aguardamos sua(s) resposta(s).

ATEU
Respondendo as questões:
1)” GOSTARIA que as coisas não acabassem aqui”
Vocês religiosos... eu tenho certeza que acaba aqui!

2). “Sim, se o ateísmo for verdadeiro, não há sentido em fazer coisa alguma.”
Vira e fala que não tem sentido fazer algo se não existir deus mostra que [você] não tem pensamento próprio. Está apenas sendo induzido por alguém. [acha que,] só porque você não consegue ter motivação que os outros não vão ter. E não é por não acreditar em um ser superior que não deve de fazer algo pra ajudar os demais! Humanidade não tem nada a ver com religião ou crença. Uma pessoa faz algo não por temer a deus e sim por Humanidade. Bem, o ditado 'não faça com o outro o que nao quer que faça com você' [é] simples. Uma criança de 5 anos entende isso. Exemplo: você não gosta que puxem seu cabelo, então por isso não vai puxar de outra pessoa. Simples.

“é simples. O todo não faz sentido, logo as partes também não”
Pode [está, no original, escrito: 'possa' ao invés do termo que usamos para substituir: 'pode' --'] ser que, para você é um ingrediente principal, mas na verdade não é!!!(vc foi condicionado para considerar como principal)

3) Cara, usei o misticismo pra generalizar o pensamento que coloca deus ou uma divindade “que não tem nada a ver com o teísmo” (ô se não tem....kkkkk) . “É verdade que temos na 'história' do pensamento quem tenha usado Deus para preencher lacunas. Mas isso não pode ser cotado como proposta da cosmovisão teísta em si."
Ate hoje ainda é usada.

4) "Podemos saber de todo tipo de verdade pelo método empírico?"
R: há outros métodos que usam a razão, a lógica ou a simples experimentação (como exemplos as ervas que os índios sabem que curam certos tipos de doenças).
“mas seria necessário definir o que você quer dizer com ser o empirismo a ‘principal’ forma de conhecimento.”
R: a resposta acima confirma ??
Em outras palavras: existem categorias de conhecimento que fogem à alçada do empirismo?
R: eu desconheço!
você é cientificista?
R:é a primeira vez que vejo esse termo... dei uma pesquisada e pelo que achei “ para designar a escola de pensamento que aceita apenas a ciência empiricamente verificável” é isso mesmo? (so posso afirma ou não quando entender o termo!)

5) “avanço da ciência para explicar a realidade nos leva ao ateísmo”
Então você afirma que quanto mais a ciência avança mais se mostra pro ateísmo??


LUCIO
Bom, pelo jeito teremos de nos deter com mais detalhes às questões, pois não estão sendo compreendidas por nosso adversário, e o nosso objetivo é mostrar tanto à ele quanto aos expectadores a irracionalidade do ateísmo.
Comecemos com o ponto 1. “eu tenho certeza que acaba aqui!”
Você tem certa? Isso é puro self-selling! E daí se você tem certeza? Bom, NÃO ESTAMOS LIDANDO COM CONVICÇÕES SUBJETIVAS. Então, insistir nesse argumento é perder tempo. Entretanto, nossa proposta é desmentir cada vírgula caluniosa do oponente. Portanto, não podemos deixar batido.
Essa é uma típica acusação feita pelo pseudo-intelectualismo característico do neo-ateísmo, que acusa uma cosmovisão sem a conhecer primeiro. Basta lermos o ‘Deus, um delírio’ de Richard Dawkins e adverti-lo que muitas de suas críticas passam longe de se referir ao que cremos. Parece que sua corja seguiu a linha... É como criticar o ateísmo tomando por base eminentes pensadores como o Tiririca (imaginando que ele fosse ateu, não sabemos), e então declarar o ateísmo um problema mental... Isso é a técnica do espantalho (também usada no ponto 3, como mostraremos adiante).
O adversário nos acusou de abraçarmos a fé como ‘muleta’ para com a realidade. Na verdade, essa não é uma motivação de todo equivocada. Realmente, pensadores existencialistas, após observar que não existem Razões para o ateísmo, vêem o caminho aberto para a fé (uma decisão de crer, motivada, sim, na existência futura). Peço que se observem os passos: não haver motivos para o ateísmo e decisão de crer (mesmo que não haja provas para a existência de Deus, ‘ausência de evidência não é evidência de ausência’, de modo que tomam por bem decidir crer). Outros entendem haver motivos para os dois lados, e que o indivíduo deve suspender essas ‘antinomias’ e ‘disputas’, e dar um salto de fé com base no conflito existencial.
Essas posições são interessantes. Mas jamais foram defendidas por nós. Não estamos, em momento algum, justificando o teísmo com base na esperança futura. Portanto, esse ponto é completamente supérfluo.
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Logo temos o ponto 2. Pelo jeito, nosso adversário não conseguiu entender o ponto abordado (não sei se por não ter lido direito, ou por não conseguir entender). Portanto, teremos de nos demorar um pouco mais na exposição deste argumento. O adversário disse que devemos, ao invés de gastar nosso tempo com atos litúrgicos (religiosos em geral), usar o tempo em algo mais produtivo, como ajudar o próximo e a humanidade.
Então, apontamos que esse discurso está recheado de pressuposições teístas, ou, pelo menos, injustificadas na cosmovisão ateísta. Antes de voltarmos a este ponto, queremos salientar um ponto que deixamos escapar.
Ele define algo produtivo como: “Que produz; proveitoso. Quando você cria ou constrói algo que se orgulha, algo que para você vale a pena”. Mas, de acordo com essa definição, um religioso poderia muito bem considerar suas ações litúrgicas como proveitosas, que ‘valem a pena’ pra ele. Se é o sujeito que define o que é mais produtivo, então ninguém pode apontar pro outro o que é mais ou menos produtivo. Tudo se resume a uma justificação subjetiva.

“Só porque você não consegue ter motivação que os outros não vão ter”
É, você não entendeu nada. Jamais apresentamos a questão como algo subjetivo (e esse é justamente o ponto em que se equivoca). Não estamos dando relatos de experiências de que não conseguimos, estamos dando um atestado, uma asseveração lógica e factual, de que, se Deus não existe, objetivamente não existe sentido, propósito e valores.
Para afirmarmos nossa primeira proposição, usemos da sapiência do dr. W. L. Craig: “Se cada pessoa deixa de existir quando morre, que sentido fundamental pode ser dado à sua vida? Realmente faz diferença se ela existiu ou não? Pode ser dito que sua vida foi importante porque influenciou outros ou afetou o curso da história. Mas isso mostra apenas um significado relativo da sua vida, não um sentido fundamental. Se todos os acontecimentos são, no final, sem sentido, que sentido há em influenciar qualquer um deles?” [Este texto é extraído do capítulo 2 do livro: ‘A veracidade da fé Cristã’. No momento, estamos sem um exemplar para dar referência completa]
“e não é por não acreditar em um ser superior que não deve de fazer algo pra ajudar os demais!”
Você usou a palavra correta. DEVE. Ela nos remete à noção de dever. Obrigação moral. Diante de nossos deveres, se não fizermos algo, teremos cometido um delito, um erro. Agora, para afirmarmos isso, devemos incluir uma crença de que existem coisas erradas e coisas certas. Quem define que algo é certo e algo é errado?
Ótimo, o imperativo categórico de Kant. Podemos explorá-lo. Será um prazer: “você não gosta que puxem seu cabelo, então por isso não vai puxar de outra pessoa. Simples”. Mas ainda subsiste a questão do porquê não podemos fazer com os outros o que não gostaríamos que fosse nos feito. E se, detentores de poder, quisermos fazer e, obviamente, não quisermos que façam conosco? Quem poderá nos dizer que é errado? Foi por aí que o Sr. Nietzsche caminhou na crítica ao pensamento ético kantiano.
Além disso, as palavras que o oponente usou para se expressar nos remetem a outro pensador ateísta: J. A. Ayer. O adversário usou o termo GOSTA. ‘você não gosta que puxem seu cabelo...’. Observem como a citação que faremos do dr. Geisler (expondo o emotivismo de Ayer e cia.) arremata a questão: “As declarações éticas são simplesmente emotivas. Sua relevância não é que declaram fatos ou mandamentos, mas, sim, que expressam o sentimento de quem fala. Por exemplo, a alegada declaração de mandamento ou "deve": "Você não deve furtar," realmente significa "Eu  não gosto  de furtar." Declarações tais como essa não são imperativas, mas, sim, meramente expressam os sentimentos de quem fala, e seu desejo de ver os outros sentirem da mesma maneira” [a citação está no capítulo 2 do livro ‘Ética Cristã’ de Norman Geisler. Também não o temos em mãos para uma referência completa]. Percebam que a ética proposta pelo ateísmo pode ser, no máximo emotivista, e isso torna a ética uma questão de gosto.
Aliás, é válido mencionar para todos os expectadores que eminentes filósofos ateístas concordam que, uma vez que Deus não existe, só nos resta o niilismo. Dentre eles temos Camus, Sartre, Russell e o próprio Nietzsche.
Já gastamos muito espaço para expor a fragilidade das afirmações e pretensões do nosso adversário. Se preciso, aprofundaremos a exposição. Por hora, vejamos como ele se dá com o que foi demonstrado, e que responda às nossas indagações.
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Ponto 3. Acusou o teísmo de misticismo. Mas, na sua definição de dicionário (diga-se de passagem, completamente fail), você se refere ao panteísmo. Portanto, nós não precisamos lidar com tal acusação.
Depois, o oponente usou uma definição para místico que na verdade pertence a mito. Portanto, as acusações de nosso oponente quanto ao teísmo ser místico comete pelo menos três notórios equívocos: primeiro, a generalização (ainda que nosso oponente não saiba, muitos teístas são místicos, em todos os sentidos válidos do termo, e não no sentido proposto pelo adversário. Mas, afirmar que, pelo fato de haver um grupo de teístas místicos, então todos são, é cometer falácia ‘que até uma criança de cinco anos’ pode perceber!); segundo: ele se confunde em suas próprias definições (numa ele fala de panteísmo, noutra fala de mitologia; ou seu discurso, em si, é contraditório) [Cabe perguntar ao adversário diretamente, para não haver evasivas: você notou que suas duas definições se contradizem?]; e, terceiro, nenhuma das acusações se enquadram no teísmo que estamos defendendo (nós mesmo não o abraçamos).

“ô se não tem....kkkkk”
O que é isso? Persuasões psicológicas são picaretagens intelectuais que não funcionarão conosco! Mas, já que se valeu da técnica da ridicularizarão, gostaria que demonstrasse que o teísmo, em todas as suas vertentes, é mitológico.
“Ate hoje ainda é usada” [referindo-se à falácia do ‘Deus das Lacunas’]. E daí? Até hoje tem ateu dizendo que existe valores morais objetivos sem que Deus exista... [um pouco de provocação não machuca ninguém... :D ]. Não nos interessa se existem pessoas que usam desse subterfúgio. A não ser que usemos, é perda de tempo fazer tal observação. O que estamos afirmando aqui é, portanto, que não é uma característica essencial do teísmo ser mitológico, fazendo as acusações do oponente serem completamente non-sense. [Notamos que estamos descendo ao nível do oponente e apenas fazendo alegações. Mas, no decorrer do debate, estaremos demonstrando isso. Além disso, é obrigação do oponente arcar com suas afirmações, e, por enquanto, estamos apenas aplicando ceticismo à suas afirmações].
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Ponto 4. Bom, epistemologicamente, também vemos que nosso adversário está em confusão. Primeiro, ele admite que existem outras formas de se obter conhecimento além da empírica (“há outros métodos que usam a razão, a lógica ou a simples experimentação” – e aqui comete a gafe de definir experimentação como algo diferente de um método empírico...).  Logo, quando perguntamos se existem categorias de conhecimento que fogem à alçada do empirismo, ele disse que desconhece! Mas, como então admitiu a obtenção de conhecimento pela razão e pela lógica? Evidentemente, ele se contradiz.
Para evitar confusão, gostaríamos que o oponente definisse razão.
E, não, as respostas não deixaram claro como é que o empirismo se torna a principal forma de conhecimento. Se admite-se que ele é apenas uma das formas, e que se restringe, naturalmente, a questões que descobrimos pelas vias sensoriais, só poderemos chamá-lo de principal condutor de conhecimento se considerarmos os objetos de sua alçada como os principais. Nos parece algo muito subjetivo usar o termo ‘principal’. Gostaríamos de uma mais rica exposição, para, então, aplicarmos nossa argumentação epistemológica contra o naturalismo e a favor do teísmo (a título de cosmovisão).
Quanto ao ‘cientificismo’, se conhecesse o termo nos pouparia tempo (espaço). Portanto, detenha-se nas outras questões, pois estamos explorando os aspectos que determinam se você coaduna com esta linha de pensamento e abandone essa questão. Teremos a resposta pelas outras.
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Por fim, ponto 5. Moderador (e demais expectadores), temos aqui de declarar que, ou somos completamente incompetentes em nos comunicarmos, ou nosso oponente não sabe ler e interpretar (pode, também, ter lido com pressa), ou, ainda, que ele está usando de desonestidade intelectual. Ele tirou nossas palavras do contexto, dando-lhe outro sentido.
Observem o que dissemos: “Ainda gostaríamos de ver como é que o avanço da ciência para explicar a realidade nos leva ao ateísmo.” [uma referência ao discurso inicial do oponente]. Observem o que o oponente apresentou (cortando o ‘ainda gostaríamos de ver como é que...’): “’avanço da ciência para explicar a realidade nos leva ao ateísmo’ então você afirma que quanto mais a ciência avança mais se mostra pro ateísmo??”. Evidentemente não foi isso que dissemos [aqui, corrigimos nossa fala, que apresentava o verbo na primeira pessoa do singular]!
Bom, sendo generosos ao supor que houve um equívoco hermenêutico, reforçaremos o desafio (que poderá ser acatado para o ponto 2, a segunda rodada, do adversário).  No discurso de apresentação, nosso adversário propôs o seguinte: “vou apontar argumentos positivos, mostrando que a medida que as ciências avançam, mais resposta se tem ( e menos misticismo), mostrando que o "misticismo" é apenas falta de resposta lógica, racional, bom senso...” É disso que inferimos ser sua base para crer no ateísmo. Portanto, o avanço da ciência coaduna (se não prova) o ateísmo, SEGUNDO afirma o oponente [não vá citar minha frase pelas metades, de modo que ganhe outro sentido!]. Não conseguimos perceber isso, e gostaríamos que fosse exposto. Sem mais.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

DEBATE: JUSTIFICATIVAS PARA O ATEÍSMO E PARA O TEÍSMO (Parte 2)



LUCIO
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Como nos foi dada a oportunidade (e desafio) de começar o debate, escolheremos um dentre os vários temas propostos para iniciar nosso diálogo.
Ao que parece, pelos pontos apresentados, o oponente confrontará um monstro de palha, um espantalho. Ele insiste em associar misticismo ao teísmo; aponta razões existenciais como as únicas que nos motivam a crer (inclusive, presume-se, acusando-as de serem utópicas, ingenuamente otimistas e injustificadas); e apresenta o avanço da ciência como a tocha olímpica da cognição humana (seria essa uma afirmação cientificista?).
Por isso, começaremos juntando nossos pontos ‘iii’, ‘iv’ e ‘v’, e aplicaremos uma abordagem cética sobre o discurso da oposição. Ou seja, mostraremos que tudo isso que ele disse não nos leva ao ateísmo; são acusações irrelevantes à cosmovisão teísta que abraçamos, e aos argumentos que defenderemos; e que as próprias propostas são imbutidas de conceitos injustificados na cosmovisão ateísta (talvez, aqui, já pendendo para a argumentação ‘ii’) [quero que percebam que montamos uma linha de raciocínio com uma certa interatividade entre os pontos].

Daremos início ao debate questionando algumas proposições, algumas asseverações e certificando-nos das posições do adversário.

Primeiro, com a seguinte proposição: “não tem sentido acreditar em Deus senão[sic.] o motivo de que há algo mais e será em descanso e prazeres no ‘paraíso’”, intenta-se dizer que a única razão que é apresentada pelos teístas é a esperança escatológica?

Segundo, existem algumas motivações teístas presentes nesta asseveração: “ao invéz de perder tempo adorando, usá-lo pra algo mais produtivo para sua vida e pro próximo, tornando melhor esse mundo que já está em decadência”. Porque devemos fazer algo produtivo (e o que é algo ‘produtivo’? O que se quer dizer com isso?) para nossa vida? Pior ainda, dentro de uma perspectiva ateísta, porque fazer algo em prol do próximo? Porque se importar com esse mundo de uma forma geral?

Terceiro, o que você quer dizer por misticismo? Como isso se relaciona ao teísmo?

Quarto, esta asseveração: “vou apontar argumentos positivos, mostrando que, na medida que as ciências avançam, mais respostas se têm”, parece pressupor que o método científico é a única ferramenta metodológica para se explicar tudo, e que a ciência terá, um dia, o poder para dar explicação para todas as coisas; inclusive, que esta tem jurisdição a todas as áreas do conhecimento humano. Outra proposição: “ao invés de recorrer ou misticismo, tentar compreender o que esta ao nosso redor de uma manera lógica, racional, bom senso” nos arremata para questões epistemológicas, das quais teremos prazer em adentrar. Aproveitamos para citá-las neste mesmo parágrafo, uma vez que acreditamos ser um momento pertinente. É o empirismo e/ou o método científico a única forma de descobrir verdades?

Ainda gostaríamos de ver como é que o avanço da ciência para explicar a realidade nos leva ao ateísmo. Esteja à vontade para expor sua argumentação.

Isso foi um self-selling: “- Neste debate espero abrir suas mentes para a verdade”.

“espero que esse debate abra os olhos de quem estiver errado e que saia aprendendo mais...”
Também detemos certas expectativas acadêmicas para com o debate. Esperamos que esteja mais preparado do que na última vez que debatemos, -->e que possamos aprender com esse diálogo.
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ATEU

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1º Que a unica razão de que terá conforto e paz eterna ao lado do "senhor" e para ganhar ajuda aqui na "terra". [Isso foi dito em resposta a: "intenta-se dizer que a única razão que é apresentada pelos teístas é a esperança escatológica?"]

2ª Que assim é mais produtivo. Se acha melhor, usa para você mesmo! [Em resposta a: "
Porque devemos fazer algo produtivo (e o que é algo ‘produtivo’? O que se quer dizer com isso?) para nossa vida? Pior ainda, dentro de uma perspectiva ateísta, porque fazer algo em prol do próximo? Porque se importar com esse mundo de uma forma geral?"]
3ª (para definir essas suas perguntas, recorrerei ao dicionário, pois entendo que ele representa muito bem.)
Místico é todo aquele que concebe a não-separatividade entre o Universo e os seres. A Essência primordial da vida, ou Consciência Cósmica, ou Deus como costumamos chamar – ao contrário do que se pensa – não está nem nunca esteve separado de qualquer coisa. O místico é aquele que busca ou que já mantém um contato direto com a realidade, sem intermediários. O místico procura a presença do Ser Supremo e Real, ou do inefável e incognoscível em si mesmo, nas profundezas de seu ser, e dessa forma, pode perceber todas as coisas como sendo parte de uma infinita e essencial Unidade de tudo o que existe.

4ª "Empirismo é um movimento que acredita nas experiências como únicas (ou principais) formadoras das ideias" sim é a principal forma!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

COSMOVISÕES parte 6: o teste da abrangência na prática (o pastor reformado e o espírita)


Por Lucio A. de Oliveira

Estivemos observando em artigos anteriores que nossas pressuposições são extremamente influentes em nossas interpretações dos fatos ( leia esta série para saber de alguns exemplos ), e que nossas pressuposições fazem parte de um grande corpo de ideias inter-relacionadas chamado cosmovisão ( leia sobre isso aqui ).
Pois bem, existem várias formas de confrontar uma cosmovisão ( veja a série sobre cosmovisões parte 3, 4 e 5 ). Podemos fazê-lo apontando contradições na cosmovisão rival (um movimento chamado reductio ad absurdum).  Um exemplo disso é o argumento epistemológico, no qual confronta a epistemologia com a metafísica antropológica do naturalismo ( um exemplo [note que, na época, eu estava envolvido com a apologética clássica] ).
Uma outra forma que observamos, foi o teste da abrangência. A cosmovisão deve ajudar-nos a explicar o mundo. Funciona como óculos. Se não usarmos um óculos bom, não vamos perceber direito o mundo ao nosso redor, e tropeços, encontrões e demais perigos nos esperam.
Dessa forma, minha cosmovisão deve lidar com os fatos, e não negá-los. Uma cosmovisão que não consiga explicar os fatos não é uma cosmovisão verdadeira.
Com essa perspectiva, convido-os a observar uma aplicação prática e bíblica desse princípio e método apologético ante uma experiência sobrenatural de um espírita. Pra deixar claro, minha cosmovisão precisa enquadrar o fato sem artifícios ad hoc, explicá-los.

Bom, vamos aos ‘fatos’.

Imaginem um personagem. Vamos nomeá-lo de João (qualquer semelhança é pura coincidência). João está no seu quarto, e sua mãe, viúva agora, lhe segreda algo. Ou melhor, imaginemos um diálogo em que João, pequeno, ouve sua mãe prometer que um dia o levaria pra conhecer a universidade de Princeton (ok, imaginemos também que João é nerd...hehe). Era uma promessa que ela fez só pra ele. Ela havia lhe contado que estava juntando um dinheiro pra isso, mas que ele não contasse pra ninguém.
Bom, quando sua mãe estava saindo do quarto, ela morre. Seja lá qual for o motivo imaginado. Sei lá, ela leva um tiro; tem um taque cárdia; explode uma bomba e deixa o João ferido e ela morta... enfim, ela morreu (em breve vão entender por qual motivo a matei agora).
Logo depois, um caridoso senhor espírita, amigo da família, vem à sua casa prestar condolências. Numa oportunidade, esse senhor começa a explicar para o garoto que seu espírito vai se reencarnar, blá blá blá... (o básico sobre o que ensinam os espíritas todos nós sabemos). Ok, João não acredita de imediato naquilo.
Passado alguns dias, João estava em casa, assistindo televisão, e eis que surge, na sua frente, um fantasma. Do nada! João fica um pouco desorientado, derruba algumas coisas com o susto, mas se recompõe, e, o que ele vê? Ninguém mais, ninguém menos, que sua mãe!
João resolve ser um pouco mais cético. Ele já tinha ouvido falar que isso não era de Deus. Mas o espírito se aproxima, com cautela, com delicadeza. Era o andar de sua mãe...
O espírito olha bem nos seus olhos, com um olhar amoroso, e diz:
_ Meu filhinho, não reconhece a mamãe?
Ao que João responde:
_ M... ma... mas como vou saber que é a senhora? – fala ele, gaguejando, trêmulo.
_ Bom... você contou aquilo que conversei com você, naquela última noite, pra alguém? – pergunta o espírito.
_ Não! Nunca falei com ninguém. Só eu sei! É mesmo! Me diga, se você é minha mãe, o que eu conversei com minha mãe naquele último dia? – pergunta João em tom triunfal. Aquela seria a prova cabal, pensa João. Se fosse ela, saberia responder. Somente eles dois sabiam!
O espírito delicadamente se aproxima, e com ternura materna diz:
_ Eu havia lhe prometido que o levaria à Princeton; e que eu estava juntando dinheiro pra isso.

Pronto. Depois disso, ela desaparece, ou eles conversam mais um pouco... não importa. Em determinado momento o ‘contato’ termina. João resolve procurar aquele senhor, que o identifica como um médium, ou alguma coisa assim, e lhe doutrina no espiritismo.

Depois de alguns anos, vem um pastor reformado, instruído na cosmovisão bíblica, conversar com João, tentando pregar o evangelho, e eis que surge o seguinte diálogo:
PASTOR: Mas João, o espiritismo não é de Deus, a Bíblia proíbe a consulta aos mortos...
JOÃO: Bom, a Bíblia proíbe, mas não diz que não existe. Se ela proíbe, é porque existe, não?
PASTOR: Não, não, de forma alguma. A Bíblia também diz em Êxodo 20:3 para não termos outros deuses diante de Deus. É uma proibição. Mas não quer dizer que existem, de fato, outros deuses. E isso é assumido pela Bíblia. Ela diz que os deuses das outras nações não eram deuses de verdade [Jeremias 2:11a, e.g., diz: ‘Acaso trocou alguma nação os seus deuses, que contudo não são deuses?’ ou Isaías 44:6 "Eu sou o primeiro e o último, e além de mim não há Deus"].
JOÃO: Ok, pastor, mas o senhor não sabe o que eu vi. Tenho a prova cabal de que eles existem e podem estabelecer contato conosco...
PASTOR: Antes, preciso corrigi-lo em um ponto. Não discordamos quanto à sua existência após a morte. Certamente eles existem. Mas como estão e o que lhes acontecerá no futuro é o ponto em que discordamos.
JOÃO: Pois bem, vou narrar-lhe uma experiência que autentica os ensinamentos que me foram dados. Eu já tive contatos com a minha mãe. Vai dizer que é mentira minha? Acredita?
PASTOR: Bom, eu e você sabemos que existem muitos charlatões por aí, alegando experiências místicas e tudo o mais, quando na verdade não viram nada. Mas, quanto a seu caso, não preciso negá-lo. Se você viu, está visto. Agora, que era sua mãe é outra história...
JOÃO: Bom, ela me provou ser ela! Antes dela morrer, me prometeu algo. Algo que só eu e ela sabíamos. Ela não havia contado pra ninguém, e nem eu. Estávamos só eu e ela ali no quarto, e quando ela saiu, morreu. Então, um dia, sua alma aparece a mim, e, ante meu ceticismo, fala daquele segredo, provando peremptoriamente ser minha mãe. Não tem como contestar!
PASTOR: João, perceba que, presumindo ter você realmente visto tudo isso, vou reinterpretar os fatos à luz de minha cosmovisão. Não negarei os fatos, só vou dar uma outra perspectiva dos mesmos. Quanto a qual perspectiva está correta, vai depender de qual cosmovisão é a correta. Por hora, vamos pensar se a cosmovisão cristã é capaz de abarcar sua experiência.
Bom, perceba que a Bíblia ensina sobre a existência de seres espirituais chamados ‘anjos’. Ela também ensina que uma parte deles caiu de seu estado de santidade, e agora servem ao líder da rebelião, que é Satanás. Esses anjos caídos são conhecidos como demônios. Perceba que eles são seres espirituais, e, portanto, não espaciais (o que não significa que são onipresentes) e invisíveis. Sob essa perspectiva, nada me impede de pensar no ente que lhe apareceu como um desses...
JOÃO: Mas isso é um absurdo! Demônios, segundo a concepção cristã, são criaturas terríveis. A que me apareceu era doce, delicada. Era minha mãe! Não era um espírito ruim. Me ensinou coisas boas, e me levou à prática da caridade. Como pode uma criatura dessas ser do mal?!
PASTOR: Acalme-se, João. A questão é que você parece estar interpretando o cristianismo segundo a teologia popular. Não há registros na Bíblia de que os demônios sejam parecido com monstros. Na verdade, seres espirituais não têm forma. Quando aparecem em uma, não passa de um modo de representação. Quanto a ser um ser de aparência boa, não há problemas. A Bíblia fala que Satanás se transforma até mesmo em anjo de luz! (2 Coríntios 11:14). E, em outra parte, Paulo, inspirado por Deus, afirma tacitamente que um anjo poderia vir com uma mensagem diferente da do Evangelho, e que, portanto, era maldito (Gálatas 1:8-9).  Portanto, não é a aparência que vai ditar sua natureza.
Agora, quanto ao teor benéfico dos ensinos que este espírito lhe instruiu, temos que fazer uma revisão. Primeiro, revisemos o que você entende por coisas boas. Partindo do pressuposto de que o objetivo de Satanás e suas hostes seja ‘roubar, matar e destruir’ (João 10:10), e de que isso  não poderia ser melhor concretizado fazendo outra coisa senão afastar o homem de Deus. Uma vez que o espiritismo confronta os ensinos da Palavra de Deus, ele leva, necessariamente, ao admiti-lo, à morte...
JOÃO: Então é errado praticar caridade?! Os espíritos nos instruem à prática do bem. Fazer o bem ao próximo, isso não e amor? Quem faz o bem não é de Deus?
PASTOR:  Novamente, recorro às Escrituras. Quero salientar que a moralidade não se restringe a ações para com os homens e demais criaturas. Ela se estende a Deus. Praticar cultos que ele abomina é completamente imoral. Percebemos isso ao notar que o primeiro e grande mandamento é amá-lo com todas as nossas faculdades mentais (Mateus 22:37). Amar o próximo é o segundo mandamento.
Respondendo à sua última questão, precisamos entender as motivações do coração. Primeiro, o que é o amor? Amor é sinônimo (ou inclui, as opiniões divergem) de altruísmo. A Bíblia fala que Deus prova seu amor, ou o evidencia, ao mandar Jesus (1 João 4:9, e.g.). Deus é auto-suficiente. Enviar Jesus foi algo sublime, que extrapola nosso entendimento. É o ato mais altruísta que se possa imaginar, um ser divino, auto-existente e auto-suficiente se colocar suscetível à dor e à morte por conta de criaturas rebeldes que o odeiam! E a teologia joanina prossegue dizendo que os únicos que conseguem praticar o amor semelhante a Deus são os cristãos. Perceba que a ética está não só na ação, como nas motivações. Paulo, em 1 Coríntios 13, versículo 3, diz que é possível distribuir todas as nossas posses, e até sermos queimados vivos sem que isso consista em uma atitude de amor! Agora, se não me engano, na caridade espírita não há nada de altruísta. A caridade que vocês fazem não seria uma forma de auto-ajuda, de auto-promoção? Com essa motivação, podem até dar tudo o que tem, como diria Paulo, nada disso tem proveito.
JOÃO: Tudo bem, pastor. O senhor acha, então, que o espírito que eu vi naquele dia não era minha, mãe; antes, era um demônio disfarçado, com a figura de minha mãe, buscando me levar para longe de Deus. Ele, como ser espiritual, poderia ter estado ali conosco enquanto minha mãe me segredava aquilo. Não é isso?
PASTOR: Exatamente. Essa seria a conclusão de minha argumentação.
JOÃO: Mas isso tudo é segundo a perspectiva da sua teologia. Estou de saída, pastor. Ainda não ficou provado que a Bíblia ensina algo diferente do que ensina o espiritismo...  uma hora a gente conversa sobre isso.
PASTOR: Ok. Fica para outra hora...