Infelizmente, muitos acham que pelo fato de Jesus ter sido
tentado, subentende-se que ele estava sujeito a cair em pecado. Isso não é apenas heresia da cabeça de Adventistas, Testemunhas de
Jeová, Mórmons, Espíritas e Teólogos Liberais. Cristãos genuínos podem falhar
nisso, espero que essa elucidação ajude a esses, visto que aqueles estão sob o
domínio de ‘seus profetas’ e espíritos malignos, até que Deus os livres (Jo
8.32).
“A impecabilidade de Cristo
Seria possível que Jesus pecasse? Sua tentação foi
genuína ou somente uma farsa? Podemos resumir, da seguinte forma, os
argumentos usados pelos defensores da pecabilidade de Jesus: (1) Por
ter uma verdadeira natureza humana, Jesus era capaz de pecar; (2) Por
ter sido realmente tentado, como o homem é tentado, Jesus era capaz de pecar; (3) A
tentabilidade exige a susceptibilidade ao pecado; (4) Se
Jesus foi realmente um segundo Adão, ele teria que ser capaz de pecar; (5) A
afirmação "ninguém é bom senão um, que é Deus" (Mt 19.17; Mc 10.18; Lc 18.19) sugere
que Jesus seria capaz de pecar; (6) O batismo de Jesus, feito por João, sugere que Jesus era capaz
de pecar; (7) Hebreus
5.7-8 sugere
que Jesus não era sempre obediente, portanto, era capaz de pecar.136
Podemos fazer as seguintes críticas àqueles que
defendem esta posição: (1) afirmam que Cristo é menos do que Deus; (2) afirmam
a possibilidade de conflito entre as suas duas naturezas santas; (3) pregam
um outro Cristo e (4) facilitam o aparecimento de outras heresias.137
Portanto, podemos concluir que não há qualquer argumento forte na Escritura que
dê base para a crença na pecabilidade de Cristo.
Por outro lado, as Escrituras dão testemunho da
impecabilidade de Cristo. Podemos observar isso no testemunho dos apóstolos
(cf. Jo 6.69; Hb 4.15; 7.26; 9.14; IPe 2.22; Uo 3.5; 2Co 5.21), no
testemunho de Cristo (cf. Jo 8.46) e no testemunho dos incrédulos (Mt 27.4, 19; Lc 23.41). Por
essa razão, precisamos atribuir a Cristo não somente integridade natural, mas
também perfeição moral, isto é, impecabilidade. Isso "significa não apenas
que Cristo pode evitar o pecado (potuit non peccare), e que
de fato evitou, mas também que Lhe era impossível pecar (non potuit
peccare), devido à ligação essencial entre as naturezas humana
e divina". Apesar de Jesus ter-se feito pecado representativamente (2Co 5.21), entretanto,
estava livre tanto do pecado hereditário como do pecado real.138 Por
isso, de acordo com o ensino bíblico, Jesus Cristo não era passível de cometer
pecado (non positpeccare), possuindo,
portanto, a impecabilidade.
Essa Pessoa teve acrescida sobre si uma natureza
humana (que, se pudesse estar isolada e independente da outra natureza,
concederia possibilidade de pecado em Jesus Cristo). Todavia, essa Pessoa não
somente não era manchada pelo pecado, como não poderia ser manchada por ele.
Portanto, a natureza humana de Jesus Cristo, que o torna sujeito à tentação,
não traz a possibilidade de ele ser sujeito ao pecado. Essa Pessoa não poderia
pecar em hipótese alguma. Aquele que não conheceu pecado não poderia conhecer o
pecado. Ele nada tinha a ver com o príncipe deste mundo, que o tentou
sobremaneira. Não havia algo, dentro ou fora de Jesus, que pudesse levá-lo a
pecar. Deus não deu a Jesus Cristo o que havia dado ao primeiro Adão, a saber,
a possibilidade de agir de forma contrária à sua natureza santa. Se o fizesse,
Deus daria a Cristo a possibilidade de deixar de ser aquilo que desde o ventre
materno ele foi: um ente santo (Lc 1.35), e ele não poderia ser o objeto de
nossa santa adoração.139
Podemos oferecer os seguintes argumentos para a
impecabilidade de Cristo: (1) O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o
atributo da santidade, torna-o absolutamente impecável, pois o pecado sugere o fato
de que sua natureza poderia ser alterada, o que o colocaria na mesma posição do
ser, como os seres humanos, uma criatura passível de mudança. Nesse caso, Deus
deixaria de ser Deus; (2) O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o
atributo de onisciência,
aponta também para a sua impecabilidade, pois a onisciência o
livra de pecar; (3) O fato
de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o atributo de onipotência, aponta
para o fato de ser impossível que
Jesus Cristo pudesse pecar; (4) O fato de Jesus Cristo ser Deus, possuindo o
atributo de onipresença, aponta para o fato de ele não ser passível de pecar.
(5) O fato de Jesus Cristo ser uma pessoa única que tem um desejo onipotente de
fazer a vontade do Pai implica que ele é impecável (cf. Jo 4.34; 5.30; 6.38;);
(6) O fato de Jesus ter sido enviado como oferta e sacrifício em lugar dos
homens implica que ele é impecável; (7) As próprias afirmações que Jesus fez de
si mesmo apontam para a sua impecabilidade.140
Por isso tudo,
concluímos que Cristo não somente não pecou, mas que ele não poderia pecar, em
virtude de quem ele é e do que veio fazer. Por outro lado, devemos destacar que
as tentações de Cristo foram reais, embora fossem insuficientes para vencê-lo,
pois a natureza divina torna a pecabilidade impossível. Mas será que uma pessoa
que não cai em tentação é, de fato, tentada? Podemos argumentar que a pessoa
que resiste à tentação conhece todo o poder da tentação. A impecabilidade de Cristo "aponta para uma tentação
muito mais intensa, não menos intensa". Alguém que cede à tentação não
sente todo o seu poder, pois cede enquanto a tentação ainda não chegou à sua
força total, não chegou ao seu extremo. Somente o homem que não cede a uma
tentação, "no que diz respeito àquela tentação em particular, é impecável,
[e] conhece aquela tentação em toda sua extensão".141
Mas uma pessoa que
não peca é realmente humana? Como Erickson destaca, "se dissermos não,
estamos sustentando que o pecado faz parte da essência da natureza
humana". Indo um pouco além, "tal concepção deve ser considerada uma
heresia por qualquer pessoa que creia que a humanidade
foi criada por Deus, já que Deus seria então a causa do pecado, o criador de
uma natureza essencialmente má".142 Como abordado no capítulo
11, segundo as Escrituras, o pecado não faz parte da essência da natureza
humana. Erickson destaca que a pergunta correta é: somos tão humanos quanto
Jesus? "Pois o tipo de natureza humana que cada um de nós possui não é a natureza
humana pura. A verdadeira humanidade criada por Deus foi, no nosso caso,
corrompida e danificada. No fim, só houve três seres humanos puros: Adão e Eva, antes da queda — e Jesus".143
Após a queda, os seres humanos não passam de versões corrompidas da humanidade.
Como Ericskson conclui: "Jesus não é apenas tão humano quanto nós; ele é
mais humano. Nossa humanidade não é um padrão pelo qual possamos medir a dele.
Sua humanidade, verdadeira e não adulterada, é o padrão pelo qual nós seremos
medidos".144
136Heber
Carlos de Campos, A pessoa de Cristo; união
das naturezas do Redentor, p. 370-379. 137Heber Carlos de Campos, A pessoa de Cristo;
união das naturezas do Redentor, p. 379-382. 138Louis Berkhof, Teologia
sistemática, p. 292. 139Heber Carlos de Campos, A pessoa de Cristo;
união das naturezas do Redentor, p. 370. 140Heber Carlos de Campos, A pessoa de Cristo; união das naturezas
do Redentor, p. 383-395. 141Leon Morris, Lord of heaven; a study
of the New Testament teaching on the deity and humanity of Jesus (Grand Rapids:
Eerdmans, 1958), p. 51-52, apud:
Millard J. Erickson, Introdução
à teologia sistemática, p. 296. l42Millard J. Erickson, Introdução à teologia sistemática, p. 296. l43Millard J. Erickson, Introdução à teologia sistemática, p. 296. l44Millard J. Erickson, Introdução à teologia sistemática, p. 297.
Fraklin Ferreira; Alan Myat - Teologia Sistemática, p.522,523.
Editora Vida Nova.