terça-feira, 18 de março de 2014

Apologética Pressuposicionalista e seus críticos

Estudo mais aquilo que pode ser classificado como ‘apologética religiosa’. Isto é, procuro me envolver com a disciplina heresiologia, naquilo que chamamos de apologética cristã – ou defesa da fé.  

Existe a apologética que trabalha numa área mais científica e filosófica, cuja faceta está mais voltada para os incrédulos, propriamente dito. Apologética clássica, ou evidencialista, e a pressuposicionalista (existe nuanças dentro de cada uma, sendo até mesmo classificada como distintas). 

Eu encaro todas as linhas apologéticas como úteis na evangelização de incrédulos. Todas elas possuem sua maior força para certos contextos. Franklin Ferreira informa que “Francis Schaerffer propôs um método hibrifdo, quando mostrou como os elementos evidencialistas e pressuposicionalista podem trabalhar em conjunto na evangelização.”(Teologia Sistemática [Ferreira e Myatt], p. 15).

A apologética pressuposicionalista denuncia a evidencialista como trabalhando em terreno inimigo, caído – a capacidade racional do ímpio. Por sua vez, evidencialistas dizem que o pressuposicionalismo não fala com o mundo.

O teísta evolucionista, [que dizem ser ele ‘calvinista’], Alister McGrath, não deixa por menos ao criticar Van Til dizendo que o pressuposicionalismo não é da tradição reformada mais antiga, está longe dos cânones da velha Princeton e, aqui pesa ainda mais, discorda do próprio Calvino. Segundo esse erudito, na verdade a apologética vantiliana é uma apologética baseada em A. Kuype, e não em bases históricas calvinistas.

Verificando essa observação de McGrath, e se ela for correta, encontro provavelmente no livro de Kuype Calvinismo, p. 66,67 um ‘sêmen’ vantiliano, quando escrevendo sobre o pecador ao ser iluminado pelo Espírito: “Tudo que está nele anseia pelo Pai de todas as Luzes e espíritos. Fora da Escritura ele descobriu somente sombras vagas. Mas agora [depois do testemunho interno do Espírito] ele olhou para cima, através do prisma das Escrituras, e redescobriu seu Pai e seu Deus.”. Agora se esse sistema não é embasado totalmente em Calvino, é algo que os especialistas devem provar a McGrath.

“[...] Calvino não diz em momento algum que esse conhecimento de Deus com base na ordem criada é algo exclusivo e restrito aos fieis cristãos.  É talvez nesse ponto que Karl Barth e Cornélius Van Til se veem impossibilitados de endossar integralmente os pensamentos de Calvino.” -“A posição de Van Til, portanto, é seriamente vulnerável, seja do ponto de vista histórico, seja do teológico.” (Apologética cristã no século XXI, p. 42,51. Da página 46 a 53 deste livro, o erudito McGrath desfere suas críticas ao sistema vantliano.)

Van Til de fato classifica os argumentos de Hodge & CIA como um ‘calvinismo inconsistente’, nas páginas 80-85 do livro Apologética Cristã. A crítica de Van Til a eles é que parece que Hodge olha para a razão como que ficando imune da depravação do pecado. Não sei ao certo se Hodge pensava assim mesmo a respeito da razão. Indiferente se sim ou não, Van Til direciona sua crítica como se esse fosse o caso.

Até mesmo outro pressuposicionalista, Gordon Clark, também critica o evidencialismo clássico, e o presssuposicionalismo de Van Til:

“Charles A. Hodge e Robert C. Sproul , insistem que o melhor caminho, na verdade o único caminho para provar a existência de Deus é estudar o crescimento de uma planta, , a tragetória de um planeta,  e o movimento de uma bola de gude.” “[...] certo cavaleiro [Van Til] nos quarenta anos passados, jamais tentou enunciá-lo [o argumento cosmológico!] de forma apropriada.” (Em defesa da Teologia, p. 31,33).

R. C. Sproul no livro Boa Pergunta! Página 17,18, ancorado em Rm 1, defende um argumento cosmológico para mostrar ‘a qualquer um’ que Deus existe. Na segunda citação acima, é curioso que o que McGrath diz que Van Til não faz, é exatamente o que Clark diz que Van Til afirma!

Além desses, a turma de R. C. Sproul, N. Geisler, W. Craig, encaram o sistema pressuposicionalista de Van Til como mudo, sem comunicação com as exigências lógicas do homem moderno. E embora Clark seja pressuposicionalista, seu sistema está ancorado na ‘lógica’ – visto que até tentou provar “logicamente” que Deus sendo o autor de tudo, até do mal, não faz dele responsável moral por isso (Deus e o Mal, ed. Monergismo). Portanto, ele ganha um respeito maior de alguns filósofos como Ronald Nash.

Van Til e Romanos 1

Não percebi em momento algum Van Til rejeitando a nossa capacidade lógica de perceber fatos da revelação natural. Até mesmo McGrath alerta dizendo que o sistema de Van Til ‘não é vazio de racionalidade’, como alguns dizem, ‘mas que deve existir um salto do racionalismo secular para o cristão’ (Apologética cristã no século XXI, p.117).

O que percebemos em Van Til é que o problema do pecador é interpretação incorreta e incapacidade volitiva, diante do testemunho da Criação. Devemos lembrar de um fato crucial; a revelação natural foi dada antes da Queda. Romanos 1 não deixa dúvidas que a revelação natural é um atestado da condenação do homem. No entanto, não de sua salvação! Van Til olha um homem, segundo a Escritura, caído em sua totalidade. Qualquer coisa que leve esse homem a Deus é contra sua natureza. Ainda que ele saiba de algo, testemunha algo, um passo adiante será suicídio de sua natureza pecaminosa e abandono das trevas. Van Til diz que isso só pode ser feito pelo Testemunho do Espírito nos pressupostos da Escritura.  

McGrath acha que existe muitos problemas nisso. Mas o que ele não faz é provar na Bíblia que tal perspectiva é errada. Para McGrath é possível chegar uma decisão teísta usando o raciocínio lógico mediante o testemunho da criação. Porém, a totalidade que ele aceita de Romanos 1.19 ele a rejeita de Romanos 1.21. Os mesmos que sabem que existe Deus são os mesmo que suprimem isso na essência da alma - TODOS. Existe exceção? Somente os cristãos!

Ou seja, o problema está na teologia estrita de Van Til, que acaba colocando-o em oposição aos defensores da teologia natural.  Para Van Til, não existe teísta que não seja Cristão. Se não for Cristão, a concepção é um ídolo, e não O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (Apologética Cristã, p. 64). A natureza convenceu alguns que existe um deus, um deus muito poderoso, até mesmo índios sabem disso. Estão eles salvos? Está aqui a diferença da apologética dele.

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