segunda-feira, 4 de julho de 2016

O cristão reformado pode curtir e praticar esportes violentos?

Infelizmente vivemos em uma época de relativização do pecado. O grande esforço do coração humano é - quão perto posso chegar do pecado, não o quanto longe devo ficar dele. Argumentos com assertivas justificadoras tentam fazer com que o obvio seja rejeitado, quando nos apegamos ao pecado, a santificação se torna um elemento abstrato, penas um item doutrinário distante da prática. Essa é a verdade na aceitação de muitos da prática e na admiração de esportes violentos. Enquanto, o futebol leva os crentes a serem idolatras (já postei sobre isso AQUI), praticar esportes violentos levam os crentes a serem maus, por nutrirem sentimentos animalescos, bárbaros e agressivos. Isaías advertiu com os seguintes dizeres:

“Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça [...] as suas teias não se prestam para as vestes, os homens não poderão cobrir-se com o que eles fazem, as obras deles são obras de iniquidades, obras de violência há nas suas mãos.”(Is 59.2,6).

Interessante, que as justificativas para assistirem, ou pior, praticarem tal esporte, ou ainda mais horrível, envolver igrejas nisso, são das mais infrutíferas possíveis. Há uns quatro anos atrás eu acompanhei por alguns meses algumas lutas. E sempre eu me perguntava – será Jesus praticaria um esporte desse...? Até que me deparei seriamente com algumas verdades bíblicas, pelo que então decidi, sob a graça de Deus, não assistir mais. E a amigos que frequentam academias, eu sempre falo que como crentes, não devem aprender esse tipo de esporte.

Qual a proibição bíblica e confessional, que Pastores Presbiterianos devem ensinar para que tais práticas pecaminosas não sejam encontradas no seio de uma Igreja Presbiteriana, e por extensão, qualquer Igreja Cristã?

1.      A Bíblia proíbe qualquer tipo de ódio que intente contra a integridade física do próximo
Em Mateus 5.21,22 o Senhor Jesus disse que qualquer que se irar e amaldiçoar seu irmão, será condenado ao inferno. A dose de ira é um elemento essencial para que um combate agressivo suba o nível de adrenalina. Ofensas e até desdém contra o oponente são vistos. Como apreciar tal tipo de esporte, diante desse texto? Temos um problema textual no texto citado, onde há a inclusão ou exclusão, de “sem motivo”, que aparece no texto, ou foi retirado dele. Se considerarmos a presença desse item ainda assim, não justifica de forma alguma agressões ou ofensas. Pois a Bíblia diz “ireis, mas não pequeis” – ou seja, ainda que tenhamos motivos para nos irritar, não devemos manifestar tal irritação em forma de agressões ou ofensas. Longo em seguida no texto (v.23-26), Jesus orienta o que deve ser feito. Ter paz com a pessoa.

Por mais que justifiquem, que é apenas um esporte, o que cabe aqui é que no momento de uma luta, a ferocidade das agressões, é estimulada pelo ódio e pela ânsia de alcançar uma vitória, ás custas de espancamentos. 

2.      A proposta do esporte é o espancamento
Vários esportes expõem os atletas a um tipo de risco. Isso é verdade em muitos casos. Porém, devemos fazer uma distinção entre o que pode ocorrer devido a um erro ou falha (um carro de corrida, por exemplo), ou mesmo uma maldade desonestamente praticada (um jogador de futebol machuca com uma entrada dura). Devemos destacar aqui que a justificativa invocada pelos crentes apaixonados por esportes violentos é nula, pois ambos os casos, não são as propostas estabelecidas, antes são acidentes. No caso de uma violência no futebol, ou no basquete, o agressor deve ser punido, enquanto no UFC e demais esportes violentos, o agressor é prestigiado.

A violência é determinante proibida na Escritura. Tanto que o “olho por olho e dente por dente”, era uma punição civil contra agressões e ferimentos – isto é, contra a violência, não uma manutenção dela. Jesus Cristo não estabeleceu a vingança como direito na Igreja, e em especial, quando proibiu seus seguidores a desferir a vingança pela causa de Cristo (Mt 5.38-42). A grande questão aqui, não era apenas o ódio em si, mas também o prejuízo físico causado, considerado como sério agravo, um atentado contra a santidade da vida e do corpo, criados por Deus. Percebemos esse princípio em Genesis 9.6; Tg 3.9.

3.      ‘É apenas um esporte!’ – mesmo?
Apesar de ser nítida a proposta violenta de esportes como o chamado UFC, Jiu-jitsu, muitos se escondem atrás da faixada de que apesar de violento, ainda assim é um esporte, em última instância. Em primeiro lugar, isso não anula em nada os efeitos nocivos desse esporte, porém, mesmo que aceitássemos tal desculpa (descabida), há um principio bíblico evidentemente claro que proíbe praticar coisas más por esporte, ou por brincadeira, ou mesmo por profissão:

“Como o louco que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira.” (Pv 26.18,19).

O prejuízo, ou mau, causado a alguém, em si mesmo, quer seja por esporte, brincadeira, ou profissão, é algo que a Bíblia proíbe. Derramar sangue, ferir o corpo, quebrar ossos e dentes, causar sequelas permanentes, não é algo que se justifica com a profissão ou esporte.

4.      Não estimula sentimentos pacíficos e mansos
Jesus ensinou que devemos aprender dele, pois ele é manso e humilde de coração (Mt 11.28-30). Ele disse que mansos e pacíficos herdarão o reino (Mt 5.5,9). O caráter cristão, não deve ser beligerante, agressivo, iracundo, como vemos constante a recomendação proibitiva da Escritura (Gl 5.16-26; Ef 4.25-5.2; Fl 4.8; Cl 3.12-17; Tg 3.17,18). Que estimulo ao amor há na pratica desse esporte? Que boa impressão se há quando acaba uma luta? Quais efeitos psicológicos haverá em nós em momentos de provocações, de zombarias? Somente pelagianos e semi-pelagianos, duvidariam tanto do poder do pecado sobre nossa natureza (Gn 4.7), sendo exposta a uma propaganda tão diabólica!!!

“Não tenhas inveja dos homens malignos, nem queira estar com eles, porque o seu coração maquina violência e seus lábios falam para o mal.” (Pv 24.1,2).

5.      A Confessionalidade Presbiteriana
De modo especial, pastores presbiterianos - TODOS ELES, incluindo demais oficiais, e os Concílios – TODOS ELES, tem a obrigação confessional de pregar contra essa prática carnal de esportes violentos. Como vimos a Bíblia apresenta essa proibição, porém, no caso dos presbiterianos, há uma interpretação Confessional direta desse assunto. O Catecismo Maior de Westminster, em suas respostas às perguntas 135,136 não deixa nenhuma duvida de que tal envolvimento esportivo é uma afronta ao que cremos, como aplicação do sexto mandamento:

Pergunta 135: “Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento?Resposta:Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo o cuidado e todos os esforços legítimos para preservar a nossa vida( Ef 5. 29; Mt 10. 23) e a dos outros( Sl 82. 4; Dt 22. 8), resistindo a todos os pensamentos e propósitos( Mt 5. 22; Jr 26. 15,16), subjugando todas as paixões( Ef 4. 26), e evitando todas as ocasiões( Pv 22. 24,25; I Sm 25. 32,33, tentações( Pv 1. 10,11,15; Mt 4. 6,7) e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém(I Rs 21. 9,10,19; G 37. 21,22; I Sm 24. 12; I Sm 26. 9-11; por meio de justa defesa dela contra a violência( Pv 24. 11,12; I Sm 14. 45); por paciência em suportar a mão de Deus( Lc 21. 19; Hb 12. 5) ; tranqüilidade mental( Sl 37. 8,11; I Pe 3. 3,4), alegria espiritual( Pv 17. 22; I Ts 5. 16) e uso sóbrio da  comida( Pv 23. 20; Pv 25. 16), bebida( Pv 23. 29,30; I Tm 5. 23), remédios( Mt 9. 12; Is 38. 21), sono( Sl 127. 2) , trabalho( II Ts 3. 10,12) e recreios( Mc 6. 31; I Tm 4. 8); por pensamentos caridosos(I Co 13. 4,5; I Sm 19. 4,5,) amor( Rm 13. 10; Pv 10. 12), compaixão(Zc 7. 9; Lc 10. 33,34), mansidão, benignidade, bondade(Cl 3. 12), comportamento e palavras pacíficas( Rm 12. 18), brandas e corteses(I Pe 3. 8,9; I Co 4. 12,13); longanimidade, prontidão, para ser reconciliados, suportando pacientemente e perdoando as injúrias, dando bem por mal(Cl 3. 13; Tg 3. 17; I Pe 2. 20; Rm 12. 20,21; Mt 5. 24); confortando e socorrendo os aflitos, e protegendo e defendendo os inocentes( ITs 5. 14; Mt 25. 35,36; Pv 31. 8,9; Is 58. 7).”

Pergunta 136: “Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?Resposta: Os pecados proibidos no sexto mandamento são: O tirar a nossa vida(At 16. 18) ou a de outrem( Gn 9. 6), exceto no caso da justiça pública( Nm 35. 31,33), da guerra legítima( Dt 20. 1-20), ou da defesa necessária( Ex 22. 2)a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida( Mt 25. 42,43; Tg 2. 15,16); a ira pecaminosa( Mt 5. 22), o ódio( I Jo 3. 15; Pv 10. 12), a inveja( Pv 14. 30), o desejo de vingança( Rm 12. 19); todas as paixões excessivas( Tg 4. 1; Ef 4. 31) e cuidados demasiados( Mt 6. 31,34); o uso imoderado de comida, bebida( Lc 21. 34), trabalho( Ex 20. 9,10) e recreios( I Pe 4. 3,4); palavras provocadoras( Pv 15. 1; Pv 12.18); a opressão( Is 3. 15; Ex 1. 14), contenda( Gl 5. 15), espancamentos, ferimentos(Nm 35. 16) e tudo o que tende à destruição da vida de alguém(Pv 28. 17 cfEx 21. 18-36).”


6.      O que significa o termo violência na bíblia?
Na maioria das vezes a Bíblia usa o termo “violência”, em sentido que deve ser entendido como homicídio. E em muitos contextos esse é o uso do termo – uma violência homicida. Ao consultarmos o uso do termo, porém, em si mesmo, não exclui a abrangência de espancamento, por motivos diversos. O sentido primário de violência no hebraico, inclui crueldade, dano, tratar com violência (Dicionário Hebraico do Antigo Testamento de James Strong, Anotado pela AMG, verbetes: n. 2554, 2555; W. E. Vine, p. 326). No Novo Testamento, todas as vezes que a palavra violência aparece, relacionado a pessoas, não está nem mesmo relacionada com assassinato, na maioria dos casos (Mc 1.26; 9.20; At 5.26; 21.35; 24.7; 27.15 [Concordância Fiel, vol. II, p. 728]). Interessante que uma das recomendações bíblicas aos pastor/presbítero, é que ele não seja “violento”(I Tm 3.3; Tt 1.7)!

A proibição bíblica clara de atos de violência, deveria nos afastar de qualquer coisa que nos aproxime dessas classificações, assim como devemos fazer em relação a tudo que nos aproxima do espiritismo, imoralidade sexual e idolatria.

7.      Em que circunstâncias isso é legitimo?
Será bom fazer uma ressalva importante, e bíblica. Soldados, policiais, seguranças, vigilantes, pela legitimidade do oficio, recebem do Estado, e este de Deus, autorização de usar a força física quando necessário (Rm 12.1-7). Creio, em conformidade com tal princípio, que nesses casos a capacitação em usar a força física é totalmente legitima e autorizada pela Escritura Sagrada. Assim sendo, o aprendizado para tal fim e finalidade, é permitido ao cristão ‘saber usar seus punhos’.

Conclusão
Que tais verdades bíblicas, nos conduza a nos parecer mais com Cristo...
“para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandecestes como luzeiros no mundo.” (Fl 2.15).


5 comentários:

  1. Concordo, cristãos não devem encontrar deleite nessa competição que é chamada hoje de ufc .
    Porém, creio que algumas coisas devem ser levadas em consideração :
    Aprender o esporte não vejo problema, em muitas academias o esporte é ensinado sem a necessidade de se quebrar a cara do próximo, nem alimentar ódio contra alguém no intuito de se usar das técnicas aprendidas.
    O direito de alto defesa não é somente dos oficiais, mais de todo cidadão, oro a Deus que isso não seja necessário, mais tais técnicas aprendidas podem me ajudar a defender minha familia.
    Pensando na resposta da pergunta 136, vemos uma proibição de se atentar contra a própria vida, e isso pode ser feito com alimento e bebida..hoje a medicina mostra por exemplo que o refrigerante é o pior alimento do mundo, e que trás sérios prejuízos a saúde, ou seja, levando se a risca, quem toma esse veneno está irado contra a própria saúde!
    Enfim, Paulo nos ensina que o exercício físico tem pouco proveito, o que nos diz que há nele um proveito, (benefícios que são inferiores aos benefícios do exercício espiritual)
    Não vejo problema no esporte, mais vejo como foi dito no artigo, uma contradição a vida cristã o uso do esporte ( qualquer que seja )para fazer mal a outra pessoa.

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    1. Que bom irmão ler sua reflexão, isso pode nos ajudar a amadurecer, ainda esteja eu ou vc certo, em qualquer nível.

      Mas enho algumas questões e quem sabe podemos prosseguir:

      Será mesmo que o aprendizado para uma possível (esperamos que não... Deus nos guarde) defesa é o que deve ser esperado? Por exemplo, quando alguém nos obriga a dar a capa, ou andar um milha, ou nos dar um tapa, qual foi a recomendação do Senhor? Perceba... eu já disse na postagem que as reações não são previstas, nem mesmo se vamos cumprir isso... mas o que está assentado pelo Senhor?

      Como podemos alinhar isso...?

      Quanto ao aprender livre e ódio ou intenções más, se isso ocorre, a proposta do esporte é essa? Ser pacifica?

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  2. Boa tarde irmão! !
    Então, me lembro bem da recomendação do nosso senhor quanto ao tapa, a capa e o andar a milha..Mais veja :
    A mesma bíblia diz que aquele que não zela pelos seus negou a fé e é pior do que o infiel (creio que o zelo aqui abrange não só o espiritual ou o sustento, mais também a segurança ) sabendo claramente que todas essas coisas provém inicialmente de Deus, porém, a mim como pai e sacerdote da casa foi me dado tais incumbências.
    Portanto, como eu lhe disse "que Deus nos guarde de tais situações " mais não tenha dúvida que se minha família estiver em risco e eu estiver em condições de agir fisicamente, assim farei.
    Não quero que pense que uso o esporte pra vingança (pois sei a quem ela pertence) ou pra coisas do tipo.
    Paulo recorreu à um direito de defesa (ainda que não fisica) quando recorreu a César..
    Paulo usou uma imprecacao em galatas 5:12.
    Pergunto ao irmão. .Jesus nos ensina a orar pelos inimigos, com um ente querido seu como refém de um bandido, qual seria sua oração ao Senhor?
    Pergunto pq isso é algo q já me foi perguntado e queria uma opinião de outro irmão.
    Que Deus nos abençoe e guarde meu irmão! !

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  3. Nos guarde sempre irmão Felipe...

    Todas essas questões apresentadas são realmente complexas. Reconheço que são delicadas para ser tratadas assim em um comentário. Tenho dum casal e sei como nos atormenta qualquer ameaça a eles, e à esposa.

    Mas creio que minha tentativa na postagem é focar a situação do esporte e das intenções em si, bem como seus resultados físicos. *Nesse ponto*, meu irmão, acho que não tenho duvidas de que, o crente deve deixar tal prática.

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  4. Nunca fui favorável a um cristão PratiCAR ou AssisTIR esportes agressivos, com a desculpas que é apenas uma pratica esportiva. Jesus trouxe como religião verdadeira amor e para a humanidade não tem como conciliar amor x violência seja onde ela for encontrada. vi em 2014 uma matéria do Fantástico sobre uma igreja nos EUA que depois do culto oferece lutas de MMA entre os seus membros (http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/10/igreja-nos-eua-oferece-mma-de-graca-e-conquista-novos-seguidores.html). Pura cegueira espiritual! Seria bom ler o conselho de Tiago 1:26. A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.

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