sábado, 28 de julho de 2018

TRÊS OBJEÇÕES CONTRA A DOUTRINA DO DECRETO RESPONDIDAS POR LOUIS BERKHOF.


Três objeções comuns lançadas contra a doutrina Bíblica Reformada dos Decretos Divinos [incluindo a Predestinação], são – “1. É incoerente com a liberdade humana?” “2. Elimina todos os motivos de esforços piedosos?” “3. Faz de Deus autor do pecado?” Com a palavra o renomado dogmático:

“1. É INCOERENTE COM A LIBERDADE MORAL DO HOMEM. O homem é um agente livre, com capacidade de autodeterminação racional. Ele pode refletir sobre uma inteligente escolha de certos fins, e também pode determinar sua ação com respeito a eles.1 Contudo, o decreto leva necessidade consigo. Deus decretou realizar todas as coisas, ou, se não as decretou, ao menos determinou que isso viesse a acontecer. Ele decidiu qual o curso da vida do homem por meio disso. Em resposta a esta objeção, pode-se dizer que a Bíblia certamente não parte da suposição de que o decreto divino é incoerente com a livre ação de homem. Ela revela claramente que Deus decretou os atos livres do homem, mas também que os seus fatores não são menos livres e, portanto, responsáveis por seus atos, Gn 50.19, 20; At 2.23; 4.27, 28. Foi determinado que os judeus levassem a efeito a crucificação de Jesus; todavia, foram perfeitamente livres em seu procedimento, e foram responsabilizados por este crime. Não há nem uma só indicação na Escritura de que os escritores vêem alguma contradição quanto a esses pontos. Eles jamais procuram harmonizar ambos. Isto bem poderia levar-nos a conter-nos, não supondo uma contradição aqui, mesmo que não consigamos conciliar as duas verdades. Além disso, deve-se em mente que Deus não decretou realizar por Sua ação pessoal e direta o que quer que venha a acontecer. O decreto divino só dá certeza aos eventos, mas não implica que Deus os realizará ativamente, de modo que a questão se reduz a isto: se a certeza prévia se coaduna com a livre ação. Ora, a experiência nos ensina que podemos estar razoavelmente certos quanto ao curso de ação que alguém que conhecemos seguira, sem infringir em nada a sua liberdade. O profeta Jeremias predisse que os caldeus tomariam Jerusalém. Para ele, o evento por vir era uma certeza e, contudo, os caldeus seguiram livremente os seus desejos ao cumprirem a predição. Essa certeza é, na verdade, incoerente com a liberdade da indiferença, no conceito pelagiano, segundo o qual a vontade do homem não é determinada de modo algum, mas é inteiramente indeterminada, de sorte que, em cada volição, ela pode decidir, não somente face a toda indução externa, mas também a todos os desejos, inclinações, julgamentos e considerações internos, e mesmo a todo o caráter e estado interior do homem. Mas agora se reconhece em geral que tal liberdade da vontade é uma ficção psicológica. Todavia, o decreto não é necessariamente incoerente com a liberdade humana no sentido de autodeterminação racional, segundo a qual o homem age livremente em harmonia com os seus pensamentos e julgamentos anteriores, suas inclinações e desejos, e com todo o seu caráter. Esta liberdade também tem suas leis, e quanto mais familiarizados estivermos com elas, mais seguros poderemos estar do que um agente livre fará em certas circunstâncias. Foi Deus que estabeleceu essas leis. Naturalmente, devemos precaver-nos contra todo determinismo - materialista, panteísta e racionalista – em nossa concepção da liberdade no sentido de autodeterminação racional. O decreto não é mais incoerente com a livre ação que a presciência e, contudo, os seus oponentes, que geralmente são dos tipos semipelagiano e arminiano, professam a fé na presciência divina. Por Sua presciência Deus conhece desde toda a eternidade a futurição certa de todos os eventos. Ela está baseada em Sua predeterminação, pela qual Deus determinou a certeza futura deles. Naturalmente, o arminiano dirá que não acredita numa presciência baseada num decreto que torna certas todas as coisas, mas numa presciência de fatos e eventos contingentes, que dependem do livre arbítrio do homem e, portanto, são indeterminados. Pois bem, tal presciência das livres ações do homem é possível, se o homem, mesmo com a sua liberdade, age em harmonia com as leis divinamente estabelecidas, o que de novo introduz o elemento de certeza; mas, ao que parece, é impossível conhecer antecipadamente eventos que dependem por completo da decisão casual de uma vontade alheia a principio que podem em qualquer ocasião, independentemente do estado de espírito, das condições existentes, e dos motivos que se apresentam à mente, seguir diferentes direções. Eventos dessa natureza só podem ser conhecidos previamente como puras possibilidades. (1 Cf. Watson, Theological Institutes, Part II, Chap. XXVIII; Miley, Systematic Theology, II, p.271 s.)

2. O DECRETO ELIMINA TODOS OS MOTIVOS PARA ESFORÇO. Esta objeção tem que ver com aquelas pessoas que dizem com naturalidade que, se todas as coisas têm que acontecer como Deus as determinou, elas não necessitam preocupar-se com o futuro e não precisam fazer nenhum esforço para obter a salvação. Mas isso não está certo. No caso das pessoas que falam desse modo, geralmente a coisa não passa de mera desculpa para indolência e desobediência. Os decretos divinos não são dirigidos aos homens como uma regra de ação, e não podem constituir uma regra assim, visto que o conteúdo deles só se torna conhecido pela sua concretização, e depois desta. Há, porem, uma regra de ação incorporada na Lei e no Evangelho, e essa regra dá aos homens a obrigação de empregar os meios que Deus ordenou. Esta objeção também ignora a relação lógica, determinada pelo decreto de Deus, entre os meios e o fim a ser obtido. O decreto inclui não somente os diversos fatos da vida humana, mas também as livres ações humanas, logicamente anteriores aos resultados e destinadas a produzilos. Era absolutamente certo que os que estavam no navio com Paulo (At 27) seriam salvos,mas era igualmente certo que, para assegurar este fim, os marinheiros tinham que permanecer a bordo. E desde que o decreto estabeleceu uma interrelação entre os meios e os fins, os fins são decretados somente como resultados dos meios, o decreto incentiva esforço, em vez de desestimula-lo. A firme crença no fato de que, segundo o decreto divino, o sucesso será a recompensa do labor, estimula esforços corajosos e perseverantes. Com base direta no decreto, a Escritura nos concita a utilizar diligentemente os meios designados, Fp 2.13; Ef 2.10.

3. O DECRETO FAZ DE DEUS O AUTOR DO PECADO. Esta, se fosse verdadeira, seria naturalmente uma objeção insuperável, pois Deus não pode ser o autor do pecado. Isto se infere igualmente na Escritura, Sl 92.15; Ec 7.29; Tg 1.13; 1 Jo 1.5, da lei de Deus que proíbe todo 98 pecado, e da santidade de Deus. Mas a acusação não é verdadeira; o decreto simplesmente faz de Deus o Autor de seres morais livres, eles próprios os autores do pecado. Deus decreta sustentar a livre agencia deles, regular as circunstâncias da sua vida, e permitir que a livre agencia seja exercida numa multidão de atos, dos quais alguns são pecaminosos. Por boas e santas razões, Ele dá certeza ao acontecimento desses atos, mas não decreta acionar efetivamente esses maus desejos ou más escolhas no homem. O decreto concernente ao pecado não é um decreto efetivo mas permissivo, ou seja, um decreto para permitir o pecado, em distinção de um decreto para produzir o pecado sendo Deus a sua causa eficiente. Não há dificuldade ligada ao decreto que não se ligue a uma simples permissão passiva daquilo que Ele poderia muito bem impedir, como os arminianos, que geralmente levantam essa objeção, supõem. O problema da relação de Deus com o pecado continua sendo um mistério para nos, mistério que não somos capazes de resolver. Pode-se dizer, porem, que o Seu decreto para permitir o pecado, embora as segure a entrada do pecado no mundo, não significa que Ele tem prazer nele; significa somente que Ele considerou sábio, com o propósito da Sua auto-revelação, permitir o mal moral, por mais detestável que seja à Sua natureza.”

Fonte: Teologia Sistemática, pp. 100, 101,102


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Os críticos desesperados – segundo Leandro Quadros


Leandro Quadros escreveu um artigo (http://novotempo.com/namiradaverdade/porque-os-criticos-se-desesperam-quando-afirmamos-que-moises-ressuscitou/)  intitulado “Porque os críticos se desesperam quando afirmamos que Moisés ressuscitou” afirmando o seguinte:

“Ao participar de dois debates na RIT TV sobre a ressurreição de Moisés percebi que imortalistas fazem de tudo para negarem tal ressurreição porque, se provarmos que Moisés ressuscitou, provamos que ninguém pode ir para o Céu apenas com sua alma. Veja nossa linha de raciocínio baseada na Bíblia: Enoque foi trasladado para o Céu com o corpo (Gn 5:24; Hb 11:5). Elias foi trasladado para o Céu com o corpo (2Rs 2:9-14). Logo, se Moisés foi ressuscitado (Jd 1:9; Mt 17:1-8; Lc 9:28-36), isso prova que ele também foi para o Céu com o corpo. Portanto, é impossível, à luz da Bíblia, existir algum “espírito” ou “alma desencarnada” que esteja desfrutando da eternidade ou “castigo eterno” sem antes ressuscitar dos mortos (1Ts 4:13-18; Jo 5:28-29). Isso prova que a morte é um “sono” até a volta de Jesus (Jr 51:57; Dn 12:2, 12; Jo 11:11-14; 1Co 15:18, 51, etc) e que os imortalistas da atualidade precisam rever seus conceitos, assim como têm feito muitos outros teólogos protestantes e católicos. A Ressurreição de Moisés é um duro golpe na doutrina da imortalidade natural da alma, porque ela confirma que não existe ninguém no Céu “em espírito” ou com sua alma (sem o corpo). É por esse motivo que os críticos se desesperam para provar que a presença de Moisés no Monte da Transfiguração foi apenas “uma visão”, ou que ele apareceu “em espírito” (o que não deixaria de ser um espiritismo disfarçado de judaísmo cristão). Quero lhe dar de presente um e-book que preparei para refutar as alegações dos críticos. Com a leitura do material você terá a certeza de que a doutrina bíblica holística sobre a natureza humana – que ensina que não existe redenção fora do corpo (ler 1Co 15) – está em total harmonia com a esperança apostólica de receber a recompensa eterna somente no dia da segunda vinda de Cristo: Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará NAQUELE DIA; e não somente a mim, mas também a todos os que amam A SUA VINDA” (2 Timóteo 4:8).”

Argumentos frágeis e até estranhos. Vamos lá:

1. Os ‘imortalistas’ não teriam nenhuma dificuldade com a doutrina bíblica da imortalidade da alma (Lc 16.19-31, etc, etc) se o caso da transfiguração fosse mesmo conforme o Adventismo defende. Seria um caso de alguém que ressuscitou, foi para céu em um tempo passado e voltou com seu corpo e apareceu ali – qual a dificuldade disso com a imortalidade da alma? Ah sim, tem uma linha de raciocínio... vamos lá

   1.1. Enoque, Elias, foram para o céu com seus corpos [não vou entrar nesse debate aqui, mas assumamos que seja esse o fato para efeitos de sintonia com o argumento de Leandro Quadros] e o que isso depõem contra a doutrina da imortalidade da alma? Não existe nenhuma conexão que provaria tal disparidade nesses casos com essa doutrina claramente ensinada no NT.

2. Diante disso ele conclui vitoriosamente: “Portanto, é impossível, à luz da Bíblia, existir algum “espírito” ou “alma desencarnada” que esteja desfrutando da eternidade ou “castigo eterno” sem antes ressuscitar dos mortos...”

 Será mesmo que é à luz da Bíblia? Vejamos apenas alguns textos -

“Jesus lhe respondeu: "Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso".
... Jesus bradou em alta voz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Tendo dito isso, expirou.” Lc 23.43, 46

“Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que deram.Apocalipse 6:9

“Vi as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus.” Apocalipse 20:4

O ‘portanto’ dele não possui “tanto” assim! Na verdade Leandro tem que seguir a sua profetisa que diabolizou essa doutrina bíblica:

... a declaração da serpente a Eva, no Éden – ‘Certamente não morrereis’ – foi o primeiro sermão pregado acerca da imortalidade da alma. Todavia, essa declaração repousando apenas na autoridade de Satanás, ecoa dos púlpitos da cristandade, e é recebida pela maior parte da humanidade tão facilmente como o foi pelos nossos primeiros pais [...] depois da queda, Satanás ordenou a seus anjos que fizessem um esforço especial a fim de inculcar a crença da imortalidade inerente do homem [...]” (Grande Conflito, p. 539,540).

Já que é um ensino bíblico – como vimos nos textos acima, e essa senhora blasfemou a doutrina de tal forma, e se Leandro Quadros a segue, creio que ele corre o risco de estar enquadrado dentro de uma verdade bíblica muito séria:

“Ele [o diabo] fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça.” 2 Tessalonicenses 2:10-12

Nota - Ressurreição e Estado Intermediário, são contraditórios? Os Adventistas e as Testemunhas de Jeová pensam que sim. Temos que começar nossa resposta mostrando que apesar da insatisfação de alguns, não existe tensão entre esses ensinos, de maneira alguma. No estado intermediário temos uma prévia demonstração ao espírito/alma, do que ele receberá após a ressurreição juntamente com o corpo. Em nenhum caso é a retribuição plena do que foi estabelecido para ele, mediante sua fé ou não no Evangelho, segundo a graça de Deus (Jo 3.16,36). É um estado de espera (Hb 12.23; Ap 6.9,10). Em segundo lugar, devemos destacar que o estado intermediário não é apresentado como esperança escatológica na Bíblia. Tal como a morte ‘não era’ do plano de Deus, em sua proposta no pacto de obras com Adão, o estado intermediário é um esquema temporário a isso que surgiu por causa da morte (Gn 3.19; Ec 12.7 [veja Mt 25.41]). Em terceiro, destaco que é impossível uma alma sem corpo desfrutar do Novo Céu e da Nova Terra, sem ter seu corpo glorificado. Somos pessoas com alma/espírito e corpo. Um todo, e não apenas partes, é a imagem de Deus. De igual maneira, é impossível uma punição plena aos ímpios, sem deflagrar também contra o instrumento da alma – o corpo (Mt 10.28; I Co 6.13). Não temos muitas evidências bíblicas de como serão os corpos dos ímpios, mas Cristo prometeu que os ímpios ressuscitarão (Lc 11.29-32). Portanto, a promessa escatológica só pode ser desfrutada após o retorno do Senhor Jesus, quando Ele glorificar os santos – dando-lhes um corpo glorificado- unindo a alma e o corpo (I Ts 4.16-18 Ap 20.4). Então, ele será capaz de desfrutar da presença de Deus de uma maneira que sua alma não podia. Afinal, agora ele está com um corpo semelhante ao que o Senhor Jesus tem! (I Jo 3.2). Já que o céu é chamado de paraíso na Bíblia (Lc 23.43; II Co 12.4; Ap 2.7) é correto dizer que quando um cristão morre ele vai para o paraíso. Ou mesmo dizer “estar com Cristo” é aceitável nos dizeres bíblicos (Fl 1.23). Os termos “descanso” ou “sonos dos justos” (I Ts 4.13) são linguagens figuradas que representam o descanso que nosso corpo recebe em relação aos trabalhos e sofrimentos na existência terrena atual [nesse caso, até mesmo o ímpio], e a completa inconsciência de nossa alma para com as tribulações desse mundo (Ec 9.4-6,10).
                          
                                    
                                Desta maneira, não existe desespero algum, caro Leandro Quadros...