terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Anthony Hoekema e o estado do não regenerado em Romanos 7 – Parte 1


“Vimos que o Novo Testamento ensina o crente a se ver como um novo homem, liberto da escravidão do pecado, uma nova criação, alguém que é mais que vencedor por meio de Cristo, que o ama.


Nesse ponto, alguém poderia dizer: — Tudo isso parece muito bom, mas... como fica Romanos 7? Paulo não ensina nesse capítulo que mesmo nós, cristãos, não fazemos o bem que queremos fazer, e acabamos fazendo o mal que não queremos? Ele não ensina que, mesmo querendo fazer o que é certo, nós não conseguimos? Ele não deixa certo que embora possamos, no íntimo, ter prazer na lei de Deus, existe uma outra lei nos nossos membros, que nos faz prisioneiros do pecado? Se este capítulo descreve uma pessoa crente, como pode alguém frustrado assim ter uma auto-imagem positiva? Como considerasse um vencedor em Cristo, estando vez após vez sendo derrotado pelo pecado? Como encarar-se como uma nova criatura, quando ainda existe nele tanto do que é velho?


O problema aqui está ligado principalmente à interpretação de Romanos 7.13-25. Será que essa passagem descreve a situação da pessoa regenerada? Será que essas palavras nos retratam luta contra o pecado que ocorre diariamente na vida de cada crente? Será que essa passagem é uma descrição da vida cristã normal?


É verdade que um grande número de intérpretes, antigos e recentes, têm entendido assim essas palavras. Mas deve-se dizer também que há diversos eruditos bíblicos que têm uma opinião diferente sobre essa passagem.


Eu penso que o que temos aqui em Romanos 7.13-25 é uma descrição não do homem regenerado, mas do homem não regenerado que está tentando enfrentar o pecado apenas com a lei, sem o poder do Espírito Santo. Certo, é um retrato do homem não regenerado feito pela ótica de um homem regenerado, já que Paulo escreveu essas palavras após sua conversão. Isso nos ajuda a comprender a maneira vívida e nítida como é descrito o pecado. Mas o que está descrito aqui é a luta do homem não regenerado (ou do homem regenerado que resolve "se virar sozinho"), não a vida normal do crente.


Minhas razões para interpretar assim essa passagem são as seguintes:


(1) Romanos 7.13-25 reflete a situação descrita em 7.5, desenvolvendo-a. Em 7.4, lemos:


"Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, e deste modo frutiquemos para Deus".


Vocês, crentes — é o que Paulo está dizendo — morreram para a lei porque foram crucificados com Cristo; estando unidos a Cristo não apenas em Sua morte, mas também em Sua ressurreição, agora vocês foram entregues a Cristo — casados com ele, pode-se dizer — para darem fruto para Deus. No verso seguinte, porém (5), Paulo prossegue, dizendo: "Quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte". Obviamente, o que se descreve aqui é um estado anterior à conversão, quando nós, crentes, ainda "vivíamos segundo a carne". Naquela época nós não guardávamos a lei, mas descobrimos que, ao invés,a lei punha em realce as nossas paixões pecaminosas; e o resultado é que estávamos dando fruto não para Deus, mas para a morte.

 
Deixando de lado, por enquanto, o verso 6, veremos que as condições descritas no verso 5 são exatamente as mesmas que se refletem nos versos 13 a 25. O verso 13 resume a situação descrita no verso 5: "Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum; pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte; a fim de que pelo mandamento se mostrasse sobremaneira maligno". O verso seguinte, o 14, começa com a palavra "porque": "Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado", É importante também observar o "porque" e o "pois" do próximo verso: "Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto". Através dessas conjunções, Paulo liga o que se segue com o que ele disse antes. Assim, o restante do capítulo 7 é um desenvolvimento das condições descritas no verso 5. Lembramos que o que está descrito no verso 5 é um estado anterior à conversão, em que as pessoas descritas estavam vivendo "segundo a carne" ainda.”

Continua...
Fonte: Livro O cristão toma consciência do seu valor


2 comentários:

  1. Esse assunto é realmente muito legal e deve ser discutido com muita sabedoria para não ser mal entendido por alguns que creem que prega a impecabilidade do cristão. Espero que muitos possam comentar e colocarem a suas opiniões nesse artigo. Deus abençoe a todos os irmãos em Cristo.

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