por Nelson
Ferreira
"Fazer apologia
(defesa) de suas convicções é uma atividade inerente ao homem como ser
pensante. Não praticá-la é deixar-se
enfeitiçar por amontoado de erros pestíferos como diria
Calvino. Nossos primeiros pais fracassaram porque não defenderam a verdade de
Deus, e se deixaram levar pela falácia do inimigo, que disse: “é certo que não morrereis” (Gn 3.4)
quando, na verdade, Deus havia dito exatamente o contrário: “certamente
morrerás” (Gn 2.17).
Como o diabo e seus seguidores são especialistas em mudar a
verdade de Deus em mentira, o exercício apologético torna-se fator de extrema
importância para aqueles que querem viver segundo os padrões da Palavra de
Deus.
No início do segundo século, os pais apologetas desenvolveram papel fundamental na defesa da fé e
no desenvolvimento da teologia, lutando contra as heresias, e, especialmente,
contra os governantes e classes intelectualizadas que faziam sérias acusações
contra os cristãos[1].
Nos dias de hoje, a apologética continua tendo papel
fundamental diante dos falsos ensinos e dos falsos Cristos que têm surgido e
ainda continuarão surgindo. Cabe, portanto, a cada cristão, arrazoar com todo
aquele lhe pedir razão da sua esperança. (1Pe 3.15).
Feita essa abordagem inicial, é preciso dizer, entretanto,
que a apologética deve ser praticada com ética e honestidade por tratar-se de
um confronto direto da verdade contra a mentira e o engano.
O problema é que muitas vezes, no afã de “caçar os hereges”,
muitos desses “defensores da fé” apontam suas “metralhadoras teológicas”
indistintamente contra tudo e contra todos, mesmo para aqueles que estão
lutando juntamente conosco pela fé evangélica.
No livro Ouro de Tolo?
(FIEL 2006) há um artigo de Nathan Busenitz intitulado “Um Senso de Propósito: Avaliando as Alegações de ‘Uma Vida com
Propósitos[2]” onde o autor “desconstrói” as teses de
Warren, porque entende que Uma vida com
Propósitos[3]
apresenta algumas “armadilhas” para os leitores (p. 49). Quem leu o livro de
Rick Warren saberá que Busenitz foi tendencioso em sua avaliação crítica pelos
motivos que tentarei mostrar a seguir:
Na página 49 Busenitz diz que “Warren oferece textos como prova de sua argumentação, sem qualquer
suporte exegético ou contextual”. Eu diria que em assuntos temáticos, os
textos-prova são necessários, até porque, não se baseia um ensino em apenas um
texto, mas faz-se o uso da analogia da fé. Se esse critério não for válido, o
que dizer dos compêndios de teologia sistemática e mesmo da CFW? O que dizer de
tantos outros livros de autores Reformados que não usam esse recurso?
Na página 52 Busenitz diz que “Warren confundiu descrição com prescrição. Os crentes jamais receberam
um mandamento de seguir um programa de 40 dias”. Eu diria que Warren não
está dizendo em lugar nenhum que há um mandamento bíblico para uma jornada de
40 dias, é apenas uma sugestão para um plano pessoal de mudanças de hábitos, o
que é válido.
Busenitz, na página 52 diz: “Em vez de ensinar: ‘Sempre que Deus queria preparar alguém para seus
propósitos, Ele usava 40 dias’ é mais correto dizer que, às vezes, Deus usava
40 dias, mas Ele não os usava sempre, nem mesmo na maioria das vezes”. Eu
diria que Warren não diz que nossa maturidade se desenvolve em apenas 40 dias,
pelo contrário. No capítulo 28 diz: “Ao
contrário dos títulos de livros populares, não existem passos fáceis para a
maturidade ou segredos da santidade instantânea. Quando Deus quer fazer um
cogumelo, ele o faz da noite para o dia; mas quando quer fazer um carvalho
gigante, leva cem anos. Grandes almas são desenvolvidas através de lutas,
tempestades e períodos de sofrimento. Tenha paciência com o processo”[4].
Na página 53, Busenitz diz que Warren despreza temas como
ira de Deus. Eu diria que No capítulo 29 – Aceitando sua missão – Warren fala
que todos prestarão contas diante de Deus, e cita passagens importantes como
Romanos 14.12 “Assim, pois, cada um de
nós dará contas de si mesmo a Deus” e Romanos 2.8 “mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e
obedecem à injustiça”. Ou Busenitz não leu esta parte ou simplesmente a
ignorou para dar força aos seus argumentos.
Mas o que achei pior de tudo foi a acusação de Busenitz com
relação à “Proeminência exagerada” que, segundo ele, “alguns dos leitores de ‘Uma Vida com Propósitos’ promoveram o livro a
um lugar de proeminência que deve ser reservado apenas às Escrituras”[5].
Eu diria que uma acusação desse tipo é totalmente
desonesta, pois um escritor não pode ser responsabilizado pela reação
equivocada de seus leitores. Não temos como responsabilizar Calvino, por
exemplo, pela proeminência que alguns “Calvinistas”, dão às suas obras em
detrimento das escrituras. Note que escrevi “Calvinistas” entre aspas, pois o
verdadeiro estudante de Calvino jamais faria isso, no entanto, conheço
gente que faz!
Na conclusão, Busenitz diz: “Enfatizamos novamente: Uma Vida com Propósitos não é uma heresia
completa”, então ele admite que o livro é herético em alguma medida, embora
ele não tenha mostrado em momento algum aonde está exatamente essa heresia,
considerando que do ponto de vista cristão, o herege é o indivíduo que se
afasta da verdade revelada e adota suas próprias ideias.
No final, Busenitz recomenda: “acreditamos que Uma Vida com Propósitos deve ser lido
com discernimento” (p. 62). Eu diria que tudo o que lemos devemos ler com discernimento,
e não apenas o que lemos, mas o que lemos, ouvimos e vemos deve estar submisso
ao escrutínio das Escrituras Sagradas.”
Nota MCA - Em um vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=C9d6JCqy79Q),
o famoso pregador John MacArthur faz uma dura crítica ao livro em tela. Ele diz
que em todo esse livro ‘falta a advertência ao arrependimento’. Embora não
estou satisfeito com essa ausência, acredito que é uma exigência estranha, pois
o Evangelho de João também não aparece a palavra arrependimento- o que não
levaria ninguém acreditar que tal ideia não está pressuposta. Uma Vida Com Propósitos, é um bom recurso
para evangelização, que pode em suas limitações, ser suprido pela Igreja, Evangelista, Pastor, Professor, etc que o
usa. Lembrando que todos livros tem suas limitações e falhas, até mesmo os dos
autores que o criticaram. Obviamente, não estamos aqui fazendo apologia ao modo
de Warren desenvolver a Igreja que pastoreia, nem mesmo dizendo que o livro
dele é infalível e suficiente, mas simplesmente olhando com mais madureza ao
que ele, pela graça de Deus, ofereceu aos leitores por meio do livro Uma Vida com Propósitos.
[1]
Os mais importantes entre eles
foram: Justino, Taciano, Atenágora e Teófilo de Antioquia.
[2]
O referido artigo tem como
título: “Um Senso de Propósito: Avaliando as Alegações de ‘Uma Vida com
Propósitos’". In: MACARTHUR, John. OURO DE TOLO? Discernindo a verdade em
uma época de erro. São Paulo, FIEL 2006,
p.45
[3]
WARREN, Rick. Uma vida com propósitos. São Paulo: Vida, 2003
[4]
Ver: WARREN, Rick. Uma vida com
propósitos. São Paulo: Vida, 2003, p. 192
[5]
Ver: MACARTHUR, John. OURO DE
TOLO? Discernindo a verdade em uma época de erro. São Paulo, FIEL 2006, p.58
Eu tenho esse livro "Ouro de Tolo" mas ainda não li. Emprestei a uma irmã que me veio contar sobre essa críticas que fizeram ao livro do pastor Rick Warren. Achei estranho. É que foi esse livro que contribuiu para a minha conversão
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