A defesa da
fé no arraial Reformado está voltada para duas áreas mais especificas. No debate doutrinário com arminianos. A
natureza da eleição, depravação total, etc, faz com que os que defendem o
sistema Reformado se envolvam muito nesse debate. Depois o Reformado discute no
campo filosófico, aí voltado mais para o ateísmo, gira em torno se é de fato verdadeira a negação de Deus por parte dos
ateus. No mais, especialmente no Brasil – os Reformados não se preocuparam
muito com as seitas e falsas religiões no decurso dos anos. Com a raríssima
exceção de trabalhar contra as práticas sincretistas do neopentecostalismo, os
Reformados no Brasil dependem muito do trabalho de apologistas de outros
seguimentos evangélicos. Os pentecostais tradicionais produziram farto material
a respeito das seitas, e institutos para-eclesiásticos quase que assumiram essa
guerra nas últimas décadas.
Apesar de
que desde o advento da internet muitos Reformados tenham trabalhado bem com a
defesa da fé, vez por outra confrontando os movimentos heréticos tradicionais,
ainda notamos que o material é dependente de pesquisas de outros, ou mesmo o
conteúdo não reflete tanta pesquisa quando comparado com a defesa dos cinco
pontos do calvinismo.
A Teologia Sistemática de Franklin
Ferreira e Alan Myatt é uma raridade que deve ser apreciada. Em quase todos os
capítulos, os autores (parece que Myatt seja o autor especifico dessas partes)
interage o foco doutrinário com o que as seitas e falsas religiões ensinam a
respeito. Não é incomum a citação das principais seitas, como Adventismo,
Jeovismo, Mormonismo e Espiritismo (e também suas versões afros), receberem
atenção específica. Além de religiões animistas, orientais, bem como o
Catolicismo e o Islamismo. Fora essa obra erudita, percebemos que o material a
respeito de como trabalhar com as seitas, tendo uma perspectiva Reformada, é
algo escasso em nosso território nacional.
QUAL A DIFERENÇA?
Visto que os
problemas com as seitas são no campo ortodoxo histórico - em contrapartida com todas as denominações cristãs, que diferença há entre ser munido de uma apologética Reformada?
Existe uma vantagem significativa, não necessariamente no esquema geral, mas
nas bases, os pressupostos, que levam a formar o conteúdo, a sua eficácia e
qualidade. Vou citar alguns exemplos para que você entenda o que estou querendo
dizer, usando assuntos selecionados.
1º Profetismo/Apostolado/Papismo: O
Apologista Reformado leva o “somente a Escritura” até as suas últimas consequências,
quer essas sejam latentes ou patentes. Com base na Bíblia (II Tm 3.15-17),
sabemos que ‘cessaram aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade’(CFW
cap. I). Portanto, nosso debate com os Mórmons, Adventistas, Católicos,
Tabernáculo da Fé, é na base fundamental
da heresia, não em seus efeitos ou evidências. Um apologista pentecostal
precisará, evidentemente, sofrer com decepções proféticas dentro de seu
movimento, pois existe em ambos os sistemas falsas profecias e acertos. Depois
ele ainda terá que perceber que seus argumentos serão semelhantes a respeito do
chamado ‘graus de inspiração’ – que
algumas seitas usam também, onde diz que a inspiração atual é menor que a
Bíblia! Para o Apologista Reformado, se certa profecia de um líder herético deu
certo ou não, não resolverá finalmente a questão, já que para ele, não é isso
que está em jogo, mas sim a suficiência
da Escritura.
2º Salvação/Méritos/Sacramentos: nesse
caso, o Apologista Reformado está em evidente segurança, pois não há nada, na
construção confessional Reformada, que dependa de alguma ação humana para ser
salvo – nem mesmo o sim do
pecador ou a sua perseverança,
que infelizmente, acaba desbocando em alguma impressão de virtude no indivíduo.
Nem mesmo o fato de estar em uma Igreja Reformada,
determina ao Apologeta Reformada se certo individuo está ou não salvo. O
salvo deve estar em Cristo, e
o que assegura isso é a eleição, não a decisão humana, méritos, decisões, etc
(Rm 11.6). Assim, quando um Mórmon diz para um reformado que ele deve receber o
batismo para ser salvo, essa afirmação está inócua e prejudicada, pois a Bíblia
ensina outra coisa - anteriormente, no tempo e no espaço quem decidiu a
salvação ou não dos que seriam batizados, se eles estão em Cristo é por decisão soberana* (Ef 1.1-11).
Isso eleva a
questão da Igreja Invisível a um
patamar real e verdadeiro. ‘Deus sabe os que lhe pertence’, pois os introduziu
em Cristo. Insistir com um Reformado a respeito de uma igreja verdadeira visível, é chover no molhado, visto
que o Reformado sabe que a Igreja verdadeira é algo invisível, e está no rol de
membros do céu, os tais foram lavados por Cristo de fato e de verdade. O que
piora o discurso herético, é que a fé Reformada reconhece que todas as igrejas fieis possuem erros,
mas esses erros não podem ser de caráter essencial, pois assim, deixam de ser
‘igrejas verdadeiras’ e passam a ser seitas, sinagogas de Satanás.
[*As seitas
são racionalistas, em sua maioria esmagadora. E como tal, não raro, preferem
caminhar com o livre-arbítrio como pressuposto. Na verdade nem todas podem ser
classificadas como “arminianas clássicas”, flertam mais com o semi-pelagianismo
do que com o arminianismo. E não é incomum rejeitarem a doutrina da imputação da Queda.]
3º Deus/Atributos: O Deus
Bíblico é Trino, e ninguém mais que os Reformados preservam a doutrina da
Trindade, conforme delineada nos credos históricos, como o Reformado. Outros
podem até ser semelhantes, mas melhor compreensão da Trindade não existe:
“Pergunta 8: “Há mais de um Deus? Resposta: Há um só Deus, o Deus
vivo e verdadeiro (Dt. 6. 4; Jr 10. 10; I Co8. 4).”
“Pergunta 9: “Quantas pessoas há na
divindade? Resposta: Há três pessoas na divindade: O Pai, o Filho e o Espírito
Santo; estas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma
substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades
pessoais”(Mt 3. 16-17; Mt 28.19; II Co 13. 13; Jo 10. 30).” (Catecismo
Maior de Westminster) Percebemos que o modelo reformado reflete os Credos
Históricos da Trindade.
Com isso, o
Apologeta Reformado já sabe que os Mórmons, Testemunhas de Jeová, etc, não
falam com o mesmo Deus em mente, causando assim um descompasso total na
avaliação de quem É Deus e de tudo que revelou de Si na Escritura. O Reformado
sabe que os tais oferecem um falso deus. Além disso, com a perspectiva correta
da doutrina da trindade, o Apologeta Reformada vai rapidamente identificar
caricaturas, e não uma definição exata.
O Deus Bíblico
- da Fé Reformada também é um ser ilimitado no conhecimento, no domínio
no tempo e no espaço, e mesmo assim a Fé Reformada diz que Deus é “simples” e
pessoal. Neste ponto, as seitas deixam de lograr disputa. Um deus que
não sabe de tudo, como é dos Testemunhas de Jeová; um deus complexo como o é
dos Espíritas; três espíritos corporalmente distintos sendo Deus como ensina o
Adventismo; três deuses sendo que dois tendo corpo e um não como ensinam os
Mórmons não pode ser o Deus da Escritura. A Fé Reformada ensina como diz a
Bíblia:
“Pergunta 07: “Quem é Deus? Resposta: Deus é Espírito (4.24), em
si e por si infinito em seu ser (I Rs 8. 27), glória, bem-aventurança e
perfeição (Ex 3. 14); todo-suficiente (At 17. 24, 25), eterno (Sl 90. 2),
imutável (Ml 3. 6), insondável (Rm 11. 33), onipresente (Jr 23. 24),
onipresente (Ap 4. 8), infinito em poder,(Hb 4. 13), sabedoria (Rm 16. 27),
santidade( Is 6. 3), justiça( Dt 32. 4), misericórdia e clemência, longânimo e
cheio de bondade e verdade”( Ex. 34. 6).” (Catecismo
Maior de Westminster).
4º Vida Cristã: em um quarto campo está o
debate a respeito de como a vida cristã é exercida. Mais uma vez o Apologeta
Reformado tem uma vantagem. Quando dizemos o lema protestante que “A Bíblia
é a nossa única regra de fé e prática” isso é verdadeiro em nosso
caso. A Bíblia inteira e não o apenas
o Novo Testamento! Claro, é o Novo que interpretou e cumpriu o Velho, mas não
estamos reféns como estão os dispensacionalistas, e cedem campo considerável
para algumas seitas, especialmente os Adventistas criticarem virtualmente essa
posição. O Novo Testamento usou os Dez Mandamentos, expandindo, melhorando,
substituindo, mas nunca rejeitando. O Espírito Santo demonstrou isso quando
várias vezes usou o decálogo e/ou o VT, como fonte de instrução para a Igreja
na Nova Aliança (Ef 6.1,2,3). Com a mesma certeza, para o Apologeta Reformado o
Novo Testamento revelou luz maior - notamos que o Senhor Jesus substituiu Moisés e Arão, os Apóstolos substituíram os Profetas, A Igreja substituiu Israel, o Batismo substituiu Circuncisão, a Santa Ceia substituiu a Páscoa e o Domingo substituiu o sábado, o culto simples substituiu as cerimonias do VT. Nesse
sentido, não abandonamos o Velho Testamento, e podemos dizer que a Bíblia é a
nossa regra em seus 66 livros, enquanto interpretados pela Nova Aliança.
CONCLUSÃO
A melhor
apologética contra as heresias, é um bom domínio da Dogmática Reformada, isso
sem vias de dúvidas. Nossos irmãos de outras tradições cristãs, embora tenham
feito bom trabalho, ainda sim podem estar labutando em pontos prejudicados por
causa de alguns pressupostos. A cadeia de doutrinas defendida pela fé
Reformada, como aponta Van Til, serve como um diagnóstico e execução (AQUI), para
identifica uma seita e destruir sofismas, pois nossas armas não são carnais mas
poderosas em Deus (II co 10.5).
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