Escrever
esse texto é um desafio, pois sempre esse assunto - de calvinismo e
arminianismo, gera reações das mais variadas. De todas as formas possíveis e de
todos os lados. Algumas manifestações arrogantes e desproporcionais são vistas
de ambas as partes. A priori, esse artigo pode até interessar os irmãos
arminianos, que estão engajados nesse debate. Mas definitivamente ele está voltado aos calvinistas. Esse é um
tema que é espinhoso dentro dos burgos calvinistas.
A doutrina
Reformada Confessional – infralapsariana; o
supralapsarianismo não é pressuposto na CFW, portanto, é uma posição marginal
segundo a essência da CFW - ensina com evidências bíblicas claras, que Deus elegeu na eternidade ‘passada’, um
número de pessoas dentre a massa humana caída em Adão, as que serão salvas,
portanto irresistivelmente chamadas (Ef 1.1-11; Rm 8.29, etc). Os demais
são deixados no estado que voluntariamente escolheram em Adão, que a cada dia
em sua vida, demonstram seguir essa escolha Federativa. A Bíblia ensina a
doutrina da imputação de forma inequívoca:
“... pois já
temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo
do pecado” (Rm 3.9).
“Pois assim
como uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para a condenação
[...]” (Rm 5.18).
No escopo
calvinista existe um debate a respeito da oferta
do evangelho. Alguns acreditam que essa oferta é apenas para condenar os
que não foram eleitos, não tendo nela nenhuma disposição divina para com os
reprovados. Essa posição é chamada de “hipercalvinismo”.
E pelo que tenho notado, tem mais campo no arraial Supralapsariano.
Por outro
lado, existem os calvinistas que fazendo uso daquilo que lhe é tão comum em seu
sistema doutrinário, confessar paradoxos
(Trindade, duas naturezas Cristo, etc.) diante do testemunho bíblico, não
reluta em aceitar o que a Escritura diz a respeito do oferecimento do
Evangelho, conforme orientado por Deus na Escritura. Esses falam, apesar de ter
a doutrina da eleição, igualmente temos a oferta sincera de Deus também todos.
Vincent
Cheung, a pior influencia calvinista desse século, o mais agressivo calvinista
que conheço de minha geração, cujos escritos apenas fomentou em iniciantes no
calvinismo, ira, arrogância, discórdia – sentimentos esses que os calvinistas
há muito se desvencilharam de seu período intolerante inicial – [digo isso não como
um crítico que desconhece o referido autor, mas como alguém que fez questão no
passado de imprimir e ler seus escritos e por
muito tempo estive envenenado com o ódio que ele deixa escorrer pelos seus
dedos...] escreveu a respeito da livre oferta do evangelho:
“ela faz de Deus um tolo esquizofrênico. Ela é antibíblica e
irracional, e assim, deve ser rejeitada e combatida.” (O autor do
pecado, p.33 [pdf]).
Na verdade,
a livre oferta do evangelho é negada por muitos que não tem a mesma índole do
autor acima. Negam que esse ensino seja bíblico e reformado. Muitos, obviamente
tratam o assunto também no viés lógico, que impossibilita a digestão de tão
pensamento. Um dos nomes eruditos que é sempre citado no escopo desse debate como opositor
dessa posição é Herman Hoeksema.
Gostaria de
listar aqui, quem no seio Reformado defende a oferta sincera do evangelho. Mas
antes de citá-los, para os que carregam consigo mesmo a regra da lógica, e já
caminham lendo esse artigo debaixo desse jugo, passo um recado ‘lógico’ aqui. O que é evangelho? A boa notícia da
reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo. Se Deus mandou dizer,
mesmo que apenas universalmente, uma boa notícia que essencialmente é uma
notícia de perdão que chega aos ouvidos dos não eleitos, e não apenas de
condenação, - como que se a ameaça não chegasse aos ouvidos dos eleitos que por
hora são também filhos da ira (Ef 2.1-3) - claro fica que você também não pode estribar-se na
lógica para qualquer coisa nesse debate...
Os REFORMADOS
que pensam na sincera oferta do evangelho:
João Calvino
-
“Não há nada que Deus deseja mais
ardentemente do que, que aqueles que estejam perecendo e correndo para a
destruição retornem o caminho de segurança” “Se alguém mais contestar – isso é fazer Deus agir com duplicidade – a
resposta está preparada, que Deus sempre quer a mesma coisa, embora por
diferentes meios e modo inescrutável para nós.” (Citado em
Evangelização Teocêntrica, p. 30).
“Afirmamos que Deus não quer a morte do pecador, uma vez que ele chama todos
igualmente ao arrependimento e promete a si mesmo estar preparado para
recebê-los se eles seriamente se arrependerem. Se alguém objetasse – então
não há eleição de Deus pela qual ele predestinou um número fixo para a salvação
– a resposta estaria à mão: o Profeta não fala aqui do conselho secreto de Deus,
mas só chama do desespero homens miseráveis, para que eles se apreendam a
esperança de perdão, e se arrependam e abracem a salvação oferecida.” (Citado em
Salvos Pela Graça, pp. 80,81).
Herman
Bavinck -
“ o
chamamento, não obstante, é de grande valor e significação também para aqueles
que o rejeitam. Para todos, sem exceção,
é prova do infinito amor de Deus, e sela a declaração de que Ele não tem prazer
na morte do pecador, mas que ele se volte e viva.” ( Dogmatick, IV, 7 –
citado em Evangelização Teocêntrica, p. 31).
R. B. Kuiper
-
“O Deus
de amor dispôs que o Evangelho será pregado em toda parte, e Ele nos informa em
Sua Palavra que deseja a salvação de
todo pecador alcançado pelo Evangelho.” (Evangelização Teocêntrica, p.
21)
“Fato da maior importância é que a Palavra de
Deus ensina inequivocamente, tanto a reprovação divina, como a universalidade e
a sinceridade do oferecimento do
Evangelho.” (Evangelização
Teocêntrica, p. 29).
“[o] sincero
oferecimento do Evangelho é firme e ensinado em Ezequiel 33.11, 2 Pedro 2.9 e
em outra partes mais.” (Evangelização
Teocêntrica, p. 29).
John Murray
–
“O amor ou benignidade por detrás dessa oferta, não é nada menos que a
vontade para essa salvação.” (http://www.monergismo.com/textos/evangelismo/prefacio-hipercalvinismo_gerstner.pdf).
Antony Hoekema
–
“ [...] a pregação do evangelho é uma
bem-intencionada oferta do evangelho, não só da parte do pregador, mas da parte
de Deus, a todos que ouvem; e que Deus
séria e honestamente deseja a salvação de todos aos quais o convite do
evangelho chega.” (Salvos Pela Graça, p. 80).
Sínodo de
Dort -
“Todos os que são chamados pelo evangelho são seriamente chamados. Séria e
genuinamente Deus faz conhecido na sua Palavras aquilo que o agrada: que
aqueles que são chamados se acheguem a ele. Seriamente promete também descanso
para a alma e vida eterna a todos que venham a ele e creiam.” Cânones de
Dort, III, 8.
O Catecismo
Maior de Westminster perguntas 67 e 68 mostra que a diferença está no tempo de
Deus, na eficácia da oferta por Ele mudar o individuo, e não na sua
sinceridade. Pois os homens ímpios “pela
sua negligência e o desprezo voluntário
da graça que é oferecida, são justamente deixados na sua incredulidade e nunca se chegam sinceramente a
Jesus Cristo.”
O Antony
Hoekema mostra que os textos de Ezequiel 18. 23, 33; 33.11; Atos 17.30; Mateus 23.37;
II Coríntios 5.20; II Pedro 3.9, Apocalipse 22.17, entre outros, são provas
irrefutáveis para mantermos a Sincera Oferta do Evangelho. Eu
acrescento encontro de Jesus com o Jovem Rico em Mc 10.21.
Desta forma,
espero ter deixado claro que muitas posições calvinistas lidas hoje, não é um
calvinismo necessariamente confessional. Muito menos, a única faceta calvinista
existente. E reafirmo que a posição Reformada é que tem mais coesão com as
doutrinas da Soberania de Deus, da Onisciência Divina, da Providência e do
Pecado. Ser “Calvinista Moderado” é ler a Bíblia sem régua humana, sem
submetê-la ao “crivo lógico” (de limitada mente humana) - é ler e aceitar o
testemunho do Espírito Santo, que fala Na
e por meio Da Escritura
Sagrada (Jo 16.13).
É um tema muito interessante e complicado para a mente humano. Eu creio que devemos pregar o evangelho a todos e Deus salvará os que ele elegeu. Deus é soberano, salvará quem Ele quiser salvar, mas nós não sabemos quem são os eleitos, por isso, devemos pregar para todos.
ResponderExcluirConcordo contigo, existem alguns calvinistas extremados. Para mim, um grande exemplo de calvinista bíblico foi Charles Spurgeon, que amava as doutrinas da graça, mas condenava o hipercalvinismo. Seu sucessor atual no Tabernáculo de Londres, Peter Masters, segue a mesma linha equilibrada de Spurgeon. Entendo que a igreja deve pregar as doutrinas da graça, a eleição, mas também deve ofertar o evangelho a todos os homens, anunciando a todos que se convertam. Paulo pregava a todos, mesmo sabendo que Deus só salvaria os que Ele quisesse salvar. Paz e graça, meu irmão.
Irmão, comentário sábio.
ExcluirPrezado Luciano Sena, deixa ver, respeitosamente, se eu compreendi:
ResponderExcluirVocê afirmou em determinado lugar do texto o seguinte:
“Mas antes de citá-los, para os que carregam consigo mesmo A REGRA DA LÓGICA (sic), e já caminham lendo esse artigo debaixo DESSE JUGO (sic), passo um recado ‘LÓGICO’ (sic – você inseriu aspas) aqui (...)”.
Noutro lugar você foi peremptório e assim concluiu:
Ser “Calvinista Moderado” é ler a Bíblia SEM RÉGUA HUMANA (sic), sem submetê-la ao “CRIVO LÓGICO” (DE LIMITADA MENTE HUMANA - sic) - é LER (sic) e ACEITAR (sic) O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO (sic), que fala Na e por meio Da Escritura Sagrada (Jo 16.13).
Pois bem.
Indago eu:
A capacidade inata à cognição humana de empreender juízo de valor, de apreender pelo raciocínio puro e simples se a coisa é verdadeira ou falsa; de se chagar a enunciados lógicos pela operação mental, i.e., racional, via apreensão cognitiva da coisa é um jugo? É um fardo?
Mas como é que pode ser isso se o simples ato de escrever esse texto você teve de empreender elucubrações racionais a fim de exteriorizar um pensamento com arcabouço lógico (incluindo aí começo, meio e fim) para de ser compreendido por nós outros?
Você não percebeu, por isso indago mais:
Essa operação mental racional tratou-se de um jugo, de um fardo a você?
Ou ela – sua operação mental a fim de se comunicar racional e logicamente na feitura do texto – deu-se automaticamente assim como que tendo alguém a inserido previamente em sua capacidade de pensar os elementos que possibilitam à ordenação coerente e racional do ato pensante ou realmente o tal “crivo lógico” de o seu pensamento o qual procurou externar no texto foi um “jugo”, assim um “fardo” sentido e percebido por você?
Mais ainda: se eu afirmasse que a coisa gélida como a neve fosse quente como o fogo e alguém, pela constatação puramente racional, dissesse a mim que eu estaria equivocado, essa constatação, esse critério lógico e essa regra lógica de refutação à minha afirmação seriam inadequados? Então o que valeria, seria a minha afirmação de que a coisa gelada é quente, mesmo em detrimento do raciocínio lógico, da regra lógica, do critério lógico desse alguém que a refutou; é isso?
Estou errado em concluir que desse seu desprezo ao ‘critério lógico’, qualquer afirmação sobre determinada coisa seria válida já que o critério racional, lógico seria dispensável? Ou melhor: eu sempre e sempre dependeria do “testemunho do Espírito Santo” para atestar que o gelado não pode ser quente, é isso?
continua
Agora, mesmo os termos soteroLÓGICO ou teoLÓGICO, você não percebeu, mas inescapáveis são, quanto a sua compreensão humana, à regra eminentemente racional ou lógica por definição meu Deus do céu!
ResponderExcluirNesses mesmos termos existem uma ordenação racional e uma conclusão lógica na exposição do cerne da salvação da alma ao Ser Humano e pelo Ser Humano!
Então que história é essa de “ler a Bíblia SEM RÉGUA HUMANA (sic), sem submetê-la ao “CRIVO LÓGICO” (DE LIMITADA MENTE HUMANA - sic) - é LER (sic) e ACEITAR (sic) O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO (sic), que fala Na e por meio Da Escritura Sagrada”?
“Calvinismo moderado” então é puro fanatismo? É uma fé religiosa desprovida de um mínimo de razão, de sentido quanto à sua exposição e compreensão? É isso?
Pior: quando o Espírito Santo dá testemunho Ele o dá as pessoas desprovidas de razão, de capacidade cognitiva, incapazes de pensar logicamente, a um bando de mentecaptos? É isso?
Aliás, veja só que coisa desprovida de lógica, de racionalidade e de coerência na seguinte expressão:
“Paulo pregava a todos, mesmo sabendo que Deus só salvaria os que Ele quisesse salvar”.
Essa expressão é eminentemente calvinista, mas e o que fazer com a Bíblia Sagrada?
“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é LONGÂNIMO (grifei) para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que TODOS (g.n.: TODOS, TODOS, TODOS, TODOS, TODOS, TODOS...) venham a arrepender-se. 2 Pedro 3:9”.
Lógica e racionalmente falando, sobressai-se da leitura teoLÓGICA, soteroLÓGICA, que o Espírito Santo, inspirando via cognição de homens que escreverem as Escrituras Sagradas e falando a homens com capacidade de raciocínio lógico, que Deus não salva quem não quer ser salvo e que não existe essa de uma vez salvo sempre salvo (por uma questão lógica, racional mesmo ora essa)!
Tanto é assim que, logicamente falando, mesmo com a Graça, com tamanha obra salvívica, mesmo com a atuação do Espírito Santo no convencimento do Homem, as palavrinhas racionais e lógicas (são assim para serem compreendidas pelo ser humano), QUEM CRER SERÁ SALVO E QUEM NÃO CRER SERÁ CONDENADO permanecem lógica e racionalmente FIRMES E FORTES na BÍBLIA como condição à salvação (soteroLÓGICA), não foram abolidas ou riscadas da Bíblia, ao menos isso dá para se inferir pela própria razão, pela inferição lógica...
Libertas vera est, Christo Servire
Agostinho Antialienação