terça-feira, 2 de setembro de 2014

A Sincera Oferta do Evangelho aos que não são eleitos – que bicho é esse?

Escrever esse texto é um desafio, pois sempre esse assunto - de calvinismo e arminianismo, gera reações das mais variadas. De todas as formas possíveis e de todos os lados. Algumas manifestações arrogantes e desproporcionais são vistas de ambas as partes. A priori, esse artigo pode até interessar os irmãos arminianos, que estão engajados nesse debate. Mas definitivamente ele está voltado aos calvinistas. Esse é um tema que é espinhoso dentro dos burgos calvinistas.

A doutrina Reformada Confessional – infralapsariana; o supralapsarianismo não é pressuposto na CFW, portanto, é uma posição marginal segundo a essência da CFW - ensina com evidências bíblicas claras, que Deus elegeu na eternidade ‘passada’, um número de pessoas dentre a massa humana caída em Adão, as que serão salvas, portanto irresistivelmente chamadas (Ef 1.1-11; Rm 8.29, etc). Os demais são deixados no estado que voluntariamente escolheram em Adão, que a cada dia em sua vida, demonstram seguir essa escolha Federativa. A Bíblia ensina a doutrina da imputação de forma inequívoca:

“... pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado” (Rm 3.9).

“Pois assim como uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para a condenação [...]” (Rm 5.18).

No escopo calvinista existe um debate a respeito da oferta do evangelho. Alguns acreditam que essa oferta é apenas para condenar os que não foram eleitos, não tendo nela nenhuma disposição divina para com os reprovados. Essa posição é chamada de “hipercalvinismo”. E pelo que tenho notado, tem mais campo no arraial Supralapsariano.

Por outro lado, existem os calvinistas que fazendo uso daquilo que lhe é tão comum em seu sistema doutrinário, confessar paradoxos (Trindade, duas naturezas Cristo, etc.) diante do testemunho bíblico, não reluta em aceitar o que a Escritura diz a respeito do oferecimento do Evangelho, conforme orientado por Deus na Escritura. Esses falam, apesar de ter a doutrina da eleição, igualmente temos a oferta sincera de Deus também todos.

Vincent Cheung, a pior influencia calvinista desse século, o mais agressivo calvinista que conheço de minha geração, cujos escritos apenas fomentou em iniciantes no calvinismo, ira, arrogância, discórdia – sentimentos esses que os calvinistas há muito se desvencilharam de seu período intolerante inicial – [digo isso não como um crítico que desconhece o referido autor, mas como alguém que fez questão no passado de imprimir e ler seus escritos e por muito tempo estive envenenado com o ódio que ele deixa escorrer pelos seus dedos...] escreveu a respeito da livre oferta do evangelho:

“ela faz de Deus um tolo esquizofrênico. Ela é antibíblica e irracional, e assim, deve ser rejeitada e combatida.” (O autor do pecado, p.33 [pdf]).

Na verdade, a livre oferta do evangelho é negada por muitos que não tem a mesma índole do autor acima. Negam que esse ensino seja bíblico e reformado. Muitos, obviamente tratam o assunto também no viés lógico, que impossibilita a digestão de tão pensamento. Um dos nomes eruditos que é sempre citado no escopo desse debate como opositor dessa posição é Herman Hoeksema.

Gostaria de listar aqui, quem no seio Reformado defende a oferta sincera do evangelho. Mas antes de citá-los, para os que carregam consigo mesmo a regra da lógica, e já caminham lendo esse artigo debaixo desse jugo, passo um recado ‘lógico’ aqui. O que é evangelho? A boa notícia da reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo. Se Deus mandou dizer, mesmo que apenas universalmente, uma boa notícia que essencialmente é uma notícia de perdão que chega aos ouvidos dos não eleitos, e não apenas de condenação, - como que se a ameaça não chegasse aos ouvidos dos eleitos que por hora são também filhos da ira (Ef 2.1-3) - claro fica que você também não pode estribar-se na lógica para qualquer coisa nesse debate...

Os REFORMADOS que pensam na sincera oferta do evangelho:

João Calvino -

“Não há nada que Deus deseja mais ardentemente do que, que aqueles que estejam perecendo e correndo para a destruição retornem o caminho de segurança” “Se alguém mais contestar – isso é fazer Deus agir com duplicidade – a resposta está preparada, que Deus sempre quer a mesma coisa, embora por diferentes meios e modo inescrutável para nós.” (Citado em Evangelização Teocêntrica, p. 30).

“Afirmamos que Deus não quer a morte do pecador, uma vez que ele chama todos igualmente ao arrependimento e promete a si mesmo estar preparado para recebê-los se eles seriamente se arrependerem. Se alguém objetasse – então não há eleição de Deus pela qual ele predestinou um número fixo para a salvação – a resposta estaria à mão: o Profeta não fala aqui do conselho secreto de Deus, mas só chama do desespero homens miseráveis, para que eles se apreendam a esperança de perdão, e se arrependam e abracem a salvação oferecida.” (Citado em Salvos Pela Graça, pp. 80,81).

Herman Bavinck -

 “ o chamamento, não obstante, é de grande valor e significação também para aqueles que o rejeitam. Para todos, sem exceção, é prova do infinito amor de Deus, e sela a declaração de que Ele não tem prazer na morte do pecador, mas que ele se volte e viva.” ( Dogmatick, IV, 7 – citado em Evangelização Teocêntrica, p. 31).

R. B. Kuiper -

 “O Deus de amor dispôs que o Evangelho será pregado em toda parte, e Ele nos informa em Sua Palavra que deseja a salvação de todo pecador alcançado pelo Evangelho.” (Evangelização Teocêntrica, p. 21)

“Fato da maior importância é que a Palavra de Deus ensina inequivocamente, tanto a reprovação divina, como a universalidade e a sinceridade do oferecimento do Evangelho.” (Evangelização Teocêntrica, p. 29).

“[o] sincero oferecimento do Evangelho é firme e ensinado em Ezequiel 33.11, 2 Pedro 2.9 e em outra partes mais.” (Evangelização Teocêntrica, p. 29).

John Murray –

“O amor ou benignidade por detrás dessa oferta, não é nada menos que a vontade para essa salvação.” (http://www.monergismo.com/textos/evangelismo/prefacio-hipercalvinismo_gerstner.pdf).

Antony Hoekema –

“ [...] a pregação do evangelho é uma bem-intencionada oferta do evangelho, não só da parte do pregador, mas da parte de Deus, a todos que ouvem; e que Deus séria e honestamente deseja a salvação de todos aos quais o convite do evangelho chega.” (Salvos Pela Graça, p. 80).


Sínodo de Dort -

“Todos os que são chamados pelo evangelho são seriamente chamados. Séria e genuinamente Deus faz conhecido na sua Palavras aquilo que o agrada: que aqueles que são chamados se acheguem a ele. Seriamente promete também descanso para a alma e vida eterna a todos que venham a ele e creiam.” Cânones de Dort, III, 8.

O Catecismo Maior de Westminster perguntas 67 e 68 mostra que a diferença está no tempo de Deus, na eficácia da oferta por Ele mudar o individuo, e não na sua sinceridade. Pois os homens ímpios “pela sua negligência e o desprezo voluntário da graça que é oferecida, são justamente deixados na sua incredulidade e nunca se chegam sinceramente a Jesus Cristo.”

O Antony Hoekema mostra que os textos de Ezequiel 18. 23, 33; 33.11; Atos 17.30; Mateus 23.37; II Coríntios 5.20; II Pedro 3.9, Apocalipse 22.17, entre outros, são provas irrefutáveis para mantermos a Sincera Oferta do Evangelho. Eu acrescento encontro de Jesus com o Jovem Rico em Mc 10.21.

Desta forma, espero ter deixado claro que muitas posições calvinistas lidas hoje, não é um calvinismo necessariamente confessional. Muito menos, a única faceta calvinista existente. E reafirmo que a posição Reformada é que tem mais coesão com as doutrinas da Soberania de Deus, da Onisciência Divina, da Providência e do Pecado. Ser “Calvinista Moderado” é ler a Bíblia sem régua humana, sem submetê-la ao “crivo lógico” (de limitada mente humana) - é ler e aceitar o testemunho do Espírito Santo, que fala Na e por meio Da Escritura Sagrada (Jo 16.13).




4 comentários:

  1. É um tema muito interessante e complicado para a mente humano. Eu creio que devemos pregar o evangelho a todos e Deus salvará os que ele elegeu. Deus é soberano, salvará quem Ele quiser salvar, mas nós não sabemos quem são os eleitos, por isso, devemos pregar para todos.
    Concordo contigo, existem alguns calvinistas extremados. Para mim, um grande exemplo de calvinista bíblico foi Charles Spurgeon, que amava as doutrinas da graça, mas condenava o hipercalvinismo. Seu sucessor atual no Tabernáculo de Londres, Peter Masters, segue a mesma linha equilibrada de Spurgeon. Entendo que a igreja deve pregar as doutrinas da graça, a eleição, mas também deve ofertar o evangelho a todos os homens, anunciando a todos que se convertam. Paulo pregava a todos, mesmo sabendo que Deus só salvaria os que Ele quisesse salvar. Paz e graça, meu irmão.

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  2. Prezado Luciano Sena, deixa ver, respeitosamente, se eu compreendi:

    Você afirmou em determinado lugar do texto o seguinte:

    “Mas antes de citá-los, para os que carregam consigo mesmo A REGRA DA LÓGICA (sic), e já caminham lendo esse artigo debaixo DESSE JUGO (sic), passo um recado ‘LÓGICO’ (sic – você inseriu aspas) aqui (...)”.

    Noutro lugar você foi peremptório e assim concluiu:
    Ser “Calvinista Moderado” é ler a Bíblia SEM RÉGUA HUMANA (sic), sem submetê-la ao “CRIVO LÓGICO” (DE LIMITADA MENTE HUMANA - sic) - é LER (sic) e ACEITAR (sic) O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO (sic), que fala Na e por meio Da Escritura Sagrada (Jo 16.13).

    Pois bem.

    Indago eu:

    A capacidade inata à cognição humana de empreender juízo de valor, de apreender pelo raciocínio puro e simples se a coisa é verdadeira ou falsa; de se chagar a enunciados lógicos pela operação mental, i.e., racional, via apreensão cognitiva da coisa é um jugo? É um fardo?

    Mas como é que pode ser isso se o simples ato de escrever esse texto você teve de empreender elucubrações racionais a fim de exteriorizar um pensamento com arcabouço lógico (incluindo aí começo, meio e fim) para de ser compreendido por nós outros?

    Você não percebeu, por isso indago mais:

    Essa operação mental racional tratou-se de um jugo, de um fardo a você?

    Ou ela – sua operação mental a fim de se comunicar racional e logicamente na feitura do texto – deu-se automaticamente assim como que tendo alguém a inserido previamente em sua capacidade de pensar os elementos que possibilitam à ordenação coerente e racional do ato pensante ou realmente o tal “crivo lógico” de o seu pensamento o qual procurou externar no texto foi um “jugo”, assim um “fardo” sentido e percebido por você?

    Mais ainda: se eu afirmasse que a coisa gélida como a neve fosse quente como o fogo e alguém, pela constatação puramente racional, dissesse a mim que eu estaria equivocado, essa constatação, esse critério lógico e essa regra lógica de refutação à minha afirmação seriam inadequados? Então o que valeria, seria a minha afirmação de que a coisa gelada é quente, mesmo em detrimento do raciocínio lógico, da regra lógica, do critério lógico desse alguém que a refutou; é isso?

    Estou errado em concluir que desse seu desprezo ao ‘critério lógico’, qualquer afirmação sobre determinada coisa seria válida já que o critério racional, lógico seria dispensável? Ou melhor: eu sempre e sempre dependeria do “testemunho do Espírito Santo” para atestar que o gelado não pode ser quente, é isso?

    continua

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  3. Agora, mesmo os termos soteroLÓGICO ou teoLÓGICO, você não percebeu, mas inescapáveis são, quanto a sua compreensão humana, à regra eminentemente racional ou lógica por definição meu Deus do céu!

    Nesses mesmos termos existem uma ordenação racional e uma conclusão lógica na exposição do cerne da salvação da alma ao Ser Humano e pelo Ser Humano!

    Então que história é essa de “ler a Bíblia SEM RÉGUA HUMANA (sic), sem submetê-la ao “CRIVO LÓGICO” (DE LIMITADA MENTE HUMANA - sic) - é LER (sic) e ACEITAR (sic) O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO (sic), que fala Na e por meio Da Escritura Sagrada”?

    “Calvinismo moderado” então é puro fanatismo? É uma fé religiosa desprovida de um mínimo de razão, de sentido quanto à sua exposição e compreensão? É isso?

    Pior: quando o Espírito Santo dá testemunho Ele o dá as pessoas desprovidas de razão, de capacidade cognitiva, incapazes de pensar logicamente, a um bando de mentecaptos? É isso?

    Aliás, veja só que coisa desprovida de lógica, de racionalidade e de coerência na seguinte expressão:
    “Paulo pregava a todos, mesmo sabendo que Deus só salvaria os que Ele quisesse salvar”.

    Essa expressão é eminentemente calvinista, mas e o que fazer com a Bíblia Sagrada?

    “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é LONGÂNIMO (grifei) para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que TODOS (g.n.: TODOS, TODOS, TODOS, TODOS, TODOS, TODOS...) venham a arrepender-se. 2 Pedro 3:9”.

    Lógica e racionalmente falando, sobressai-se da leitura teoLÓGICA, soteroLÓGICA, que o Espírito Santo, inspirando via cognição de homens que escreverem as Escrituras Sagradas e falando a homens com capacidade de raciocínio lógico, que Deus não salva quem não quer ser salvo e que não existe essa de uma vez salvo sempre salvo (por uma questão lógica, racional mesmo ora essa)!

    Tanto é assim que, logicamente falando, mesmo com a Graça, com tamanha obra salvívica, mesmo com a atuação do Espírito Santo no convencimento do Homem, as palavrinhas racionais e lógicas (são assim para serem compreendidas pelo ser humano), QUEM CRER SERÁ SALVO E QUEM NÃO CRER SERÁ CONDENADO permanecem lógica e racionalmente FIRMES E FORTES na BÍBLIA como condição à salvação (soteroLÓGICA), não foram abolidas ou riscadas da Bíblia, ao menos isso dá para se inferir pela própria razão, pela inferição lógica...

    Libertas vera est, Christo Servire

    Agostinho Antialienação

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