terça-feira, 30 de abril de 2019

As Testemunhas de Jeová e a Divindade de Cristo - Colossenses 2.9

A seita que mais milita contra a doutrina da Trindade e a Divindade de Cristo, é a religião da Torre de Vigia. É incrível como que em quase todos os textos bíblicos que eventualmente e/ou claramente, ensinam e fazem alusão a essas doutrinas, é vertida na tradução da Torre de Vigia de uma maneira que procura enfraquecer ou mesmo rejeitar as doutrinas históricas do cristianismo relativas à doutrina de Deus.

Antes da Tradução do Novo Mundo ser lançada, as Testemunhas de Jeová se viam em um constante dilema, um problema em seu trabalho. Usavam e reproduziam traduções que tinham o nome de Deus “Jeová” no VT, mas ao mesmo tempo, sofriam com o Novo Testamento, quando esse trazia textos como João 1.1; At 20.28; Rm 9.5; Fl 2.6; Cl 2.9; Hb 1.6,8, entre outros.


“As Testemunhas de Jeová reconhecem a sua dívida para com todas as muitas versões da Bíblia que ela tem usado no estudo da verdade da palavra de Deus. Entretanto, todas essas traduções, mesmo as mais recentes, têm suas falhas. Existem incoerências ou trechos insatisfatórios, que estão contaminados por tradições sectárias ou filosofias mundanas, e, portanto, não estão em plena harmonia com as verdades sagradas de que Jeová registrou em sua Palavra. (Toda Escritura, p. 324).

No fim da década de 40, resolveram começar o projeto de tradução da Bíblia, finalizando todo o trabalho no início da década de 60. Segundo um livro de história das Testemunhas de Jeová, isso resultou no crescimento numérico:

“Com que resultado? No Brasil,  acima de 11 vezes mais louvadores ativos de jeová; e, em Portugal, 22 vezes mais.” (Proclamadores d Reino, p.612 – na página 613 o livro mostra um gráfico do crescimento em outros países, tudo em decorrência do lançamento da TNM).


  • Portanto, o lançamento da TNM serviu para os propósitos proselitistas da seita, não porque a Palavra de Deus chegou às mãos das pessoas, mas porque as pessoas passaram a ler as doutrinas das Testemunhas de Jeová, na (suposta) Bíblia.

Tradução do Novo Mundo passou por algumas revisões, mas em todas elas, a tradução de textos que tratam da divindade de Cristo, permaneceram, como desde o primeiro lançamento. Vejamos o texto de Colossenses 2.9, que é o foco da postagem, em algumas revisões da TNM:

“porque é nêle que mora corporalmente toda a plenitude da qualidade divina.” – TNM Versão de 1961.

“porque é nele que mora corporalmente toda a plenitude da qualidade divina.” - TNM Revisão de 1986.

“porque é nele que toda a plenitude da qualidade divina mora corporalmente.” – TNM Revisão de 2013.

Qual o problema com essa tradução? Vejamos o que outras traduções nos mostram:

“porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Almeida Corrigida Fiel).

 “Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Novo Testamento, tradução oficial da CNBB).

“Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Nova Versão Internacional).

“Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Novo Testamento, Ed. Vozes).

“Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade.” (Tradução Brasileira, primeira edição e edição de 2010).

 “É em Cristo, que habita em forma corporal, toda a plenitude da divindade.” (Edição Pastoral).

“porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Almeida Revisada).

“Pois somente em Cristo habita corporalmente toda plenitude de Deus.” (King James – Atualizada).

Pelo que podemos notar, a Tradução do Novo Mundo acrescenta a palavra “qualidade”, na tradução – o que não foi feito nas traduções mais respeitadas. Também, os tradutores jeovitas não colocaram a palavra “qualidade” em colchetes, conforme usado nas primeiras versões da TNM em outros textos. A Revisão de 2013 não usa mais os colchetes em outros casos. Isso, pelo que entendemos, significa que os tradutores assumem que a palavra acrescentada é necessária para a tradução. No caso de Colossenses 2.9, o texto grego literal reza assim:

“porque em ele habita toda a plenitude da divindade corporalmente.” (Novo Testamento Interlinear, grego-português – SBB).

De modo simples e direto, qualquer que seja a interpretação do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, ao acrescentar o termo “qualidade”, ele diluiu a proposta e leitura do autor original, que não disse isso. É verdade que em Cristo também habita toda a qualidade divina – Seus atributos, mas o texto está dizendo mais do que isso.

“O tempo presente indica o estado contínuo e aponta para a realidade presente (Lohse) ... natureza divina, divindade. A palavra difere da expressão “ser divino” em Rm 1.21 porque enfatiza mais a natureza ou essência divina, e não tanto os atributos divinos. Em Jesus não estavam apenas os “atributos” da divindade que, temporariamente, O iluminaram e o exaltaram com esplendor; pelo contrário, Ele mesmo era e é o Deus perfeito e absoluto.” (Chave Linguistica do Novo Testamento Grego, p. 425).

“(Cl 2.9), Paulo está declarando que no Filho habita toda a plenitude, a abundância da deidade absoluta; eles não eram meros raios da glória divina que enfeitavam, iluminando Sua Pesso por um período de tempo e com um esplendor não dEle mesmo. Mas Ele era, e é, o Deus absoluto e perfeito; e o apóstolo Paulo usa o termo theotes para expressar esta Deidade essencial e pessoal do Filho (New Testament Synonims, de Trench, S ii). A palavra theotes indica a essência “divina” da divindade, a personalidade de Deus; a palavra theites, os atributos de Deus, a Sua natureza e propriedades divinas.” (Dicionário Vine, pp. 573,574).

Um site não autorizado de defesa da Tradução do Novo Mundo, pasmem, chega a dizer:

“[...] uma avaliação semântica de theótes revela que a Tradução do Novo Mundo está bem a frente no entendimento etimológico de palavras. Superando até mesmo léxicos bastante conhecidos.”

Fica difícil imaginar qual o arcabouço mental e religioso de alguém que escreve algo assim...

O texto de Colossesnses 2.9, prova além de dúvida, que em Jesus Cristo tem TUDO de Deus. E parece que isso deve ser interpretado, mesmo em sua encarnação, isto é, quando desde quando veio ao mundo por meio da virgem (Comentário Bíblico NVI, p. 2024). Quando O Filho Eterno se revestiu de Humanidade, e abriu mão de Sua glória (Fl 2.5,6), ele voluntariamente deixou toda a obra que devia ser realizada Nele nas mãos do Pai. Percebemos isso em João 17.5. Por ser homem, ele pôde ser tudo que foi, e passou de modo real – fome, tentação, dor, tristeza e morte (Mt 4.1-11). Mas em momento algum, ele deixou de ser o que ele É. Por habitar em Cristo Jesus a plenitude da divindade, é que ele poderia ser adorado, mesmo na terra, e ainda assim, o adorador não incorrer em idolatria (Mt 2.11; 8.2, etc). Por habitar em Cristo Jesus a plenitude da divindade, ele podia dizer tudo que disse a respeito de si mesmo e não blasfemar (Jo 5.23; 10.30). 

Infelizmente, as Testemunhas de Jeová seguem um falso Cristo, um falso deus, baseadas em uma falsa Bíblia, que por fim, resultará em uma falsa salvação. E quando a salvação não é verdadeira, o que se recebe é a perdição. Que o Espírito Santo abra os olhos dessas pessoas (Jo 16.7-15).

segunda-feira, 22 de abril de 2019

O CREDO ATANASIANO - A DEFINIÇÃO DA DOUTRINA DA TRINDADE

ORIGEM

"O Credo de Atanásio, subscrito pelos três principais ramos da Igreja Cristã, é geralmente atribuído a Atanásio, Bispo de Alexandria (século IV), mas estudiosos do assunto conferem a ele data posterior (século V). Sua forma final teria sido alcançada apenas no século VIII. O texto grego mais antigo deste credo provém de um sermão de Cesário, no início do século VI.

O Credo de Atanásio, com quarenta artigos, é um tanto longo para um credo, mas é considerado "um majestoso e único monumento da fé imutável de toda a igreja quanto aos grandes mistérios da divindade, da Trindade de pessoas em um só Deus e da dualidade de naturezas de um único Cristo."2

TEXTO3

  1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal.
  2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para sempre.
  3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade.
  4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância.
  5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo outra.
  6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-eterna majestade.
  7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo.
  8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado.
  9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado.
  10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
  11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno.
  12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado.
  13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.
  14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
  15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.
  16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus.
  17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor.
  18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor.
  19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores.
  20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado.
  21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado.
  22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.
  23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
  24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor.
  25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada.
  26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade.
  27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo.
  28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem.
  29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe.
  30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana.
  31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade.
  32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois, mas um só Cristo.
  33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua humanidade.
  34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa.
  35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo.
  36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia.
  37. Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos e os mortos.
  38. Em cuja vinda, todos os homens ressuscitarão com seus corpos, e prestarão conta de suas obras.
  39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o mal, para o fogo eterno.
  40. Esta é a fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser salvo.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Louis Berkhof: O Filho, a segunda pessoa da Trindade (Parte 1)

"O nome “Filho” em sua aplicação à segunda pessoa. A segunda pessoa da Trindade é chamada “Filho” ou “Filho de Deus” em mais de um sentido do termo.

(1) Num sentido metafísico. Deve-se sustentar isto contrariamente aos socinianos e aos unitários, que rejeitam a ideia de uma Divindade tripessoal, vêem em Jesus apenas um homem, e consideram o nome “Filho de Deus” a Ele aplicado, primariamente como um título honorário conferido a Ele. É muito evidente que Jesus Cristo é apresentado como o Filho de Deus na Escritura, independentemente de Sua posição e obra como Mediador. (a) Ele é mencionado como o Filho de Deus do ponto de vista da pre-encarnação, por exemplo em Jó 1.14, 18; Gl 4.4. (b) É chamado o “unigênito” Filho de Deus ou do pai, expressão que não se aplicaria a Ele, se Ele fosse o Filho de Deus somente num sentido oficial ou ético, Jo 1.14, 18; 3.16,18; 1 Jo 4.9. Comparar com 2 Sm 7.14; Jó 2.1; Sl 2.7; Lc 3.38; Jo 1.12. (c) Nalgumas passagens o contexto evidencia muito bem que o nome indica a divindade de cristo, Jô 5.18-25; Hb 1. (d) Embora Jesus ensine os Seus discípulos a falarem de Deus e a dirigir-se a Ele como “Pai nosso”, Ele mesmo fala dele chamando-lhe simplesmente “pai” ou “meu Pai”, e com isso mostra que estava cônscio de uma relação única, singular, com o Pai, Mt 6.9; 7.21; Jo 20.17. (e) De acordo com Mt 11.27, Jesus, como o Filho de Deus, arroga-se um conhecimento único de Deus, conhecimento que ninguém mais pode possuir. (f) Os judeus certamente entendiam que Jesus afirmava que era o Filho de Deus num sentido metafísico; pois consideravam blasfêmia o modo como Ele falava de Si mesmo como o Filho de Deus, Mt 26.63; Jo 5.18; 10.36. - 

(2) Num sentido oficial ou messiânico. Nalgumas passagens este sentido é associado ao sentido mencionado acima. As passagens subseqüentes aplicam o nome “Filho de Deus” a Cristo como Mediador, Mt 8.29; 26.63 (onde este sentido vem ligado ao outro); 27.40; Jo 1.49; 11.27. Naturalmente, esta filiação e a messianidade se relacionam com a filiação originária de Cristo. É somente porque Ele era o Filho de Deus essencial e eterno, que podia ser chamado Filho de Deus como Messias. Além disso, a filiação e a messianidade refletem a filiação eterna de Cristo. É do ponto de vista desta filiação e messianidade que até Deus é chamado Deus do Filho, 2 Co 11.31; Ef 1.3, e às vezes é mencionado como Deus em distinção do Senhor, Jo 17.3; 1 Co 8.6; Ef 4.5, 6. 

(3) Num sentido natalício. Também se dá a Jesus o nome “Filho de Deus” em vista do fato de que deveu o Seu nascimento à paternidade de Deus. De acordo com a Sua natureza humana, ele foi gerado pela operação sobrenatural do Espírito Santo, e nesse sentido é o Filho de Deus. Lc 1.32, 35 o indica claramente, e provavelmente se pode inferir também de Jo 1.13." 

(Teologia Sistemática, Louis Berkhof, p. 94, 95).

domingo, 3 de março de 2019

A vantagem da Fé Reformada na apologética contra as seitas


Cornelius Van Til define apologética como “a vindicação (defesa) da filosofia de vida cristã em contraste com as várias formas de filosofia de vida não cristã.” (Apologética Cristã, p. 19).  Como a Fé Reformada é útil no debate com as seitas? O campo da apologética que tenho aqui em mente é aquela que lida com a Heresiologia. Pois muito da apologética reformada lida cosmovisão filosófica, e com a defesa da soteriologia contra arminianos, e semi-pelagianos. Isso tem levado muitos apologistas e até pastores reformados, a se preocuparem desnecessariamente com quem está salvo em Cristo – em corrigir sua visão a respeito das doutrinas da graça.

Antes de apontar quatro temas em que a Apologética Reformada tem vantagens sobre outros sistemas filosóficos cristãos, é fundamental destacar que muitas seitas são racionalistas. E como tal, não raro, preferem caminhar com o livre-arbítrio como pressuposto. Na verdade nem todas podem ser classificadas como “arminianas clássicas”, flertam mais com o semi-pelagianismo do que com o arminianismo. E não é incomum rejeitarem a doutrina da imputação da Queda.

1º Profetismo/Apostolado/Papismo: O Apologista Reformado leva o “somente a Escritura” até as suas últimas consequências, quer essas sejam latentes ou patentes. Com base na Bíblia (II Tm 3.15-17), sabemos que ‘cessaram aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade’(CFW cap. I). Portanto, nosso debate com os Mórmons, Adventistas, Católicos, Tabernáculo da Fé, é na base fundamental da heresia, não em seus efeitos ou evidências. Um apologista cristão pentecostal precisará, evidentemente, sofrer com decepções proféticas dentro de seu movimento, pois existe em ambos os sistemas falsas profecias e acertos. Depois ele ainda terá que perceber que seus argumentos serão semelhantes a respeito do chamado ‘graus de inspiração’ – que algumas seitas usam também, onde diz que a inspiração atual é menor que a Bíblia! Para o Apologista Reformado, se certa profecia de um líder herético deu certo ou não, não resolverá finalmente a questão, já que para ele, não é isso que está em jogo, mas sim a suficiência da Escritura (I Tm 3.15-17).

2º Salvação/Méritos/Sacramentos: Nesse caso, o Apologista Reformado está em evidentemente seguro, pois não há nada, na construção Confessional Reformada, que dependa de alguma ação humana para ser salvo como princípio essencial e regente – nem mesmo o sim do pecador, que infelizmente, acaba desbocando em alguma impressão de virtude no indivíduo, nos modelos não Reformados. Nem mesmo o fato de estar em uma Igreja Reformada, determina ao Apologista Reformado se certo individuo está ou não salvo. O salvo deve estar em Cristo, e o que assegura isso é a eleição, não a decisão humana, méritos, decisões, ou obras, etc (Rm 11.6). Assim, quando um Mórmon diz para um Reformado que ele deve receber o batismo para ser salvo, essa afirmação está inócua e prejudicada, pois a Bíblia ensina outra coisa - anteriormente, no tempo e no espaço quem decidiu a salvação ou não dos que seriam batizados, se eles estão em Cristo é por decisão soberana (Ef 1.1-11).

Isso eleva a questão da Igreja Invisível a um patamar real e verdadeiro. ‘Deus sabe os que lhe pertence’, pois os introduziu em Cristo. Insistir com um Reformado a respeito de uma igreja verdadeira visível, é chover no molhado, visto que o Reformado sabe que a Igreja verdadeira é algo invisível, e está no rol de membros do céu, os tais foram lavados por Cristo de fato e de verdade. O que piora o discurso herético, é que a fé Reformada reconhece que todas as igrejas fieis possuem erros, mas esses erros não podem ser de caráter essencial, pois assim, deixam de ser ‘igrejas verdadeiras’ e passam a ser seitas, sinagogas de Satanás.

3º Deus/Atributos: O Deus Bíblico é Trino, e ninguém mais que os Reformados preservam a doutrina da Trindade, conforme delineada nos credos históricos, como o Reformado. Outros podem até ser semelhantes, mas melhor compreensão da Trindade não existe:

“Pergunta 8: “Há mais de um Deus? Resposta: Há um só Deus, o Deus vivo e verdadeiro (Dt. 6. 4; Jr 10. 10; I Co8. 4).” “Pergunta 9: “Quantas pessoas há na divindade? Resposta: Há três pessoas na divindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo; estas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais”(Mt 3. 16-17; Mt 28.19; II Co 13. 13; Jo 10. 30).” (Catecismo Maior de Westminster) Percebemos que o modelo reformado reflete os Credos Históricos da Trindade.

Com isso, o Apologista Reformado já sabe que os Mórmons, Testemunhas de Jeová, etc, não falam com o mesmo Deus em mente, causando assim um descompasso total na avaliação de quem É Deus e de tudo que revelou de Si na Escritura. O Reformado sabe que os tais oferecem um falso deus. Além disso, com a perspectiva correta da doutrina da trindade, o Apologeta Reformada vai rapidamente identificar caricaturas, e não uma definição exata.

O Deus Bíblico - da Fé Reformada também é um ser ilimitado no conhecimento, no domínio no tempo e no espaço, e mesmo assim a Fé Reformada diz que Deus é “simples” e pessoal. Neste ponto, as seitas deixam de lograr disputa. Um deus que não sabe de tudo, como é dos Testemunhas de Jeová; um deus complexo como o é dos Espíritas; três espíritos corporalmente distintos sendo Deus como ensina o Adventismo; três deuses sendo que dois tendo corpo e um não como ensinam os Mórmons não pode ser o Deus da Escritura. A Fé Reformada ensina como diz a Bíblia:

“Pergunta 07: “Quem é Deus? Resposta: Deus é Espírito (4.24), em si e por si infinito em seu ser (I Rs 8. 27), glória, bem-aventurança e perfeição (Ex 3. 14); todo-suficiente (At 17. 24, 25), eterno (Sl 90. 2), imutável (Ml 3. 6), insondável (Rm 11. 33), onipresente (Jr 23. 24), onipresente (Ap 4. 8), infinito em poder,(Hb 4. 13), sabedoria (Rm 16. 27), santidade( Is 6. 3), justiça( Dt 32. 4), misericórdia e clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade”( Ex. 34. 6).” (Catecismo Maior de Westminster).

4º Vida Cristã: em um quarto campo está o debate a respeito de como a vida cristã é exercida. Mais uma vez a Apologética Reformada tem uma vantagem. Quando dizemos o lema protestante que “A Bíblia é a nossa única regra de fé e prática” isso é verdadeiro em nosso caso. A Bíblia inteira e não o apenas o Novo Testamento! Claro, é o Novo que interpretou e cumpriu o Velho, mas não estamos reféns como estão os dispensacionalistas, e cedem campo considerável para algumas seitas, especialmente os Adventistas criticarem virtualmente essa posição. O Novo Testamento usou os Dez Mandamentos, expandindo, melhorando, substituindo, mas nunca rejeitando. O Espírito Santo demonstrou isso quando várias vezes usou o decálogo e/ou o VT, como fonte de instrução para a Igreja na Nova Aliança (Ef 6.1,2,3). Com a mesma certeza, para o Apologeta Reformado o Novo Testamento revelou luz maior - notamos que o Senhor Jesus substituiu Moisés e Arão, os Apóstolos substituíram os Profetas, A Igreja substituiu Israel, o Batismo substituiu Circuncisão, a Santa Ceia substituiu a Páscoa e o Domingo substituiu o sábado, o culto simples substituiu as cerimonias do VT. Nesse sentido, não abandonamos o Velho Testamento, e podemos dizer que a Bíblia é a nossa regra em seus 66 livros, enquanto interpretados pela Nova Aliança.

sexta-feira, 1 de março de 2019

A Lei da não contradição NÃO se aplica em Deus

“O catolicismo romano [acho que muitos protestantes também]pressupõe que Deus e o homem possuem exatamente o mesmo tipo de relação com alei da não contradição. Pressupõe que a fim de pensarem e conhecerem verdadeiramente, tanto o homem quanto a Deus devem ter seu pensamento conformado a esta lei, como uma abstração da natureza de ambos.

As consequências desse tal raciocínio são novamente fatais, tanto para a teologia sistemática quanto para a apologética. Para a teologia sistemática significa que a verdade não consiste, em última instância, na correspondência com a natureza internamente completa de Deus e com o conhecimento ele tem de si mesmo e de toda a realidade criada. Daí, as ações do homem no campo da verdade se dão em última instância, não em relação a Deus, mas em relação a uma abstração que está acima de Deus, a Verdade em si. Para a apologética isso significa que o princípio básico da concepção não cristã de verdade não pode ser desafiado. De acordo com essa pressuposição mais básica, o ponto final de referência de toda predicação é o homem, e não Deus. A ideia de verdade no abstrato está em harmonia com essa suposição. De fato, a ideia de Verdade no abstrato está baseada nessa suposição.”


Fonte: Apologética Cristã, p. 30

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Aniquilacionismo, uma Doutrina Grega e Pagã

"Aniquilacionismo, uma Doutrina Grega e Pagã
Os adventistas costumam alegar que a doutrina da imortalidade da alma é uma doutrina originada na filosofia grega, portanto pagã.
Mas a questão colocada nestes termos além de ser simplória, é enganosa. Estamos falando de qual filosofia grega, afinal?
Antes de aparecer a filosofia, a religião grega apresentava duas expressões de crença: uma pública e outra privada.
1) A religião pública – baseada nos poemas de Homero – cuja antropologia era naturalista e acreditava na mortalidade do homem, é um exemplo de que os gregos nem sempre foram favoráveis à ideia da imortalidade inata da alma.
Afirma certo estudioso no assunto que: “Nos poemas homéricos (c. séc. VIII a.C.), os usos do termo psyché (ψυχή) podem ser reduzidos a basicamente dois: sombra (σκιά) e força vital, que se extingue com a morte e é aplicável somente aos humanos.” (ROBINSON, T. As Origens da Alma: os Gregos e o Conceito de Alma de Homero a Aristóteles. Anna Blume Editora, São Paulo, 2010., pp. 17–18)
2) A religião dos mistérios – “Orfismo” – que fazia separação entre alma e corpo. Era o fundamento da religião privada. O Orfismo acreditava na sobrevivência da alma e na reencarnação. É ela que irá influenciar posteriormente muitos filósofos gregos.
Filosofia
Na filosofia não era diferente, já que havia partidários das duas crenças:
3) A filosofia pré-socrática e clássica – com ênfase na imortalidade da alma. Essa de fato acreditava numa imortalidade inerente à alma. Essa doutrina foi melhor desenvolvida por Platão.
Mas a filosofia grega não se resumia apenas à filosofia de Platão. O que os adventistas não revelam é que a crença aniquilacionista também tem seus pés fincados na filosofia grega dos materialistas epicureus e estoicos.
4) Filosofia holística e materialista – escolas filosóficas que rejeitavam a imortalidade da alma. Entre elas estavam os seus maiores representantes: Epicureus  e Estoicos que influenciaram bastante a filosofia.
O que criam os Estoicos?
Os Estoicos, apesar de acreditarem em um tipo de alma corporal, ensinavam que, no final de tudo, ela seria extinta. Vejamos melhor essa crença nas palavras de certo estudioso:
“Pelo fato mesmo de não terem a natureza da alma, os estoicos antigos não são claros quanto à imortalidade da alma. Afirmam que não é espírito inato, que é corpórea, que é corruptível, mas permanece depois da morte […] Cleanto afirma que todos permanecem até “o incêndio do mundo”, mas Crisipo acha que subsistem só as almas dos sábios” (LAÊRTIOS, Diôgenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução de Mário da Gama Kury. UNB, 1977. LAÊRTIOS, Diôgenes. Ibidem, VII, 107)
O que criam os seguidores de Epicuro?
“Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade […] A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui.” (Epicuro – Carta a Meneceu – destaque meu)
O epicurista romano, Titus Lucretius Carus, em sua De Rerum Natura foi além e afirmou que a alma é de natureza corpórea e está sujeita à morte. A alma do homem consiste em átomos diminutos que se dissolvem com o húmus quando este morre, dando, posteriormente forma às rochas, lagos ou flores.
“[…] ora, não vamos acreditar que as almas fogem do Aqueronte ou que espectros voejam entre vivos, ou que alguma coisa de nós pode ficar depois da morte, visto que o corpo e a substância da alma, aniquilados ao mesmo tempo, se dispersam nos seus elementos respectivos.” (LUCRÉCIO. Da natureza IV, 40-45– destaque meu)
E mais: “Assim, a substância do espírito não pode surgir sozinha sem o corpo nem pode estar afastada dos nervos e do sangue. Se, efetivamente, o pudesse, muito antes a própria força da alma poderia residir na cabeça ou nos ombros ou nas extremidades dos calcanhares e nascer em qualquer parte do corpo, visto que no fim ficaria no mesmo homem e no mesmo vaso. Ora, como parece haver no nosso corpo um lugar certo e determinado onde podem residir e crescer por si o espírito e a alma, é esta mais uma razão para negar que possam viver fora do corpo e duma forma viva, quer nas friáveis glebas da terra, quer no fogo do sol, quer na água, quer nas altas regiões do ar. Todos estes corpos não contêm qualquer sensibilidade divina, visto que nem sequer podem ser animados por uma alma.” (LUCRÉCIO. Da natureza V, 127-145– destaque meu)
Uma teologia condicionalista no épico sumeriano de Gilgamesh
Neste épico os deuses são os que detêm a imortalidade. Gilgamesh implora para que a imortalidade lhe seja concedida pelos deuses, mas Utnapishtim (o Noé da epopeia), o único humano que a possui, esclarece a Gilgamesh o seguinte:
Ó Gilgamesh, foi-te dada a realeza segundo o teu destino.
A vida eterna não era teu destino.
Quando os deuses criaram o homem
deram-lhe como atributo a Morte,
mas a Vida, a Vida Eterna, essa, só ficou para eles.
Ao contrário dos gregos que postulavam uma imortalidade inata da alma, aqui a imortalidade é condicionada à benevolência dos deuses. No caso, Utnapishtim a possuía, mas a Gilgamesh, foi-lhe negada. Resguardada as devidas proporções, esse conto pagão parece muito com a ideia condicionalista.
Influência da Filosofia Grega no ateísmo moderno
A crença aniquilacionista da filosofia grega sobre a alma influenciou diretamente um grande pensador ocidental moderno e suas ideias ateístas.
Mas lá pelo século II d.C, Tertuliano já denunciava alguns cristãos influenciados pelas ideias gregas aniquilacionistas dos epicureus:
“E  se  há  os  que  afirmam  que  a  alma  é  mortal,  é  porque  o  aprenderam  dos  epicureus;  se  há  os  que negam  a  ressurreição  do  corpo,  é  porque  o  tomaram  de  todas  as  escolas filosóficas  reunidas;  se  a  matéria  é  equiparada  a  Deus,  é  porque  tal  é  a  doutrina  de  Zênon;  e,  quando  se  fala  de  um  Deus  de fogo, isto se deve a Heráclito.  Hereges e filósofos soem tratar dos mesmos assuntos. Que  tem  a  ver  Atenas  com  Jerusalém?  Ou  a  Academia  com  a  Igreja? Ou os  hereges com os cristãos?  A  nossa  doutrina  vem  do  pórtico  de  Salomão,  que  nos  ensina  a  buscar  o  Senhor  na simplicidade  do  coração.    Que  inventem,  pois,  se  o  quiserem,  um  cristianismo  de  tipo  estoico, platônico  e  dialético! Quanto a  nós,  não  temos  necessidade de  indagações depois  da  vinda  de Cristo  Jesus, nem de pesquisas depois do Evangelho.” (De  Praescriptione Haereticorum, c.7)
A filosofia materialista de Epicuro também influenciou um jovem alemão por nome Marx, que viria ser um dos maiores ícones do ateísmo moderno do século XX.
O ateísmo de Marx foi em parte influenciado pela filosofia de Epicuro. A tese de doutorado de Marx teve como título “A diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro.”
Mas outro autor muito influente no ateísmo de Marx foi o filósofo alemão materialista Ludwig Andreas Feuerbach. O primeiro livro de Feuerbach teve como título “Pensamentos sobre Morte e Imortalidade”. Nesse trabalho ele ataca a ideia da imortalidade, sustentando que, após a morte, as qualidades humanas são absorvidas pela natureza, semelhante ao que disse Lucrécio."