O reverendo
Ageu é ministro presbiteriano desde 1998, recebeu de Deus uma família (esposa e
três filhos), pastoreia uma Igreja Presbiteriana na capital paulista, e é presidente
de Sínodo. Também tem o privilégio de ser diretor do reconhecidíssmo Seminário
Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, o JMC.
As perguntas
ao Reverendo Ageu são indagações de um ponto de vista leigo, a um pastor presbiteriano que responderá tendo suas
perspectivas sobre cada aspecto, levando em consideração seu conhecimento das
interpretações da IPB a respeito de cada tema. A voz dele não é a voz da IPB,
que se pronúncia por meio da sua Presidência e Comissão Executiva.
Minhas
questões estarão em itálico e as respostas
dele em negrito.
1. Reverendo Ageu, desde quando o Sr. é presbiteriano?
R: Eu tive o privilégio de nascer em um lar presbiteriano. Meu
Tataravô, Joaquim Cândido de Sena, católico praticante, no sertão do Ceará,
começou a ler uma Bíblia na biblioteca do padre e converteu-se ao
protestantismo. A história inteira desta conversão é maravilhosa, mas,
resumindo, desde esta conversão, pela graça de Deus, eu sou o oitavo pastor da
família.
2. O que mais te impressiona nesse sistema teológico chamado
presbiteriano, ou Reformado?
R: A fidelidade às Escrituras. Tudo no sistema reformado tem de
ter base bíblica. É certo que há denominações que também advogam ter esta base,
mas estão por caminhos estranhos. Creio que isso se deve a uma forma equivocada
de interpretar as Escrituras. No nosso sistema, até o método de interpretação
(hermenêutica) está submisso à Palavra. A regra principal é que as próprias
Escrituras interpretam as Escrituras.
3. O presbiterianismo brasileiro, pela graça de Deus, não caiu no
liberalismo teológico. O que mais Deus tem usado para nos manter firmes na
ortodoxia cristã?
R: Sem dúvida alguma a subscrição confessional. Denominações que se
desvincularam de Confissões de Fé reformadas ou relativizaram sua importância,
aos poucos caíram no liberalismo.
4. Isso não significa que não existam ameaças nessa direção. O
liberalismo teológico sempre ‘ronda os seminários’. A IPB toma decisões
enérgicas a respeito?
R: Sim. Sempre que sobem documentos ao Supremo Concílio com
denúncias de liberalismo, providências são tomadas. O problema é a omissão dos
concílios que, muitas vezes, não querem se envolver no problema.
5. O movimento de ‘Falar em línguas’ já foi um assunto febril no
ceio presbiteriano, até que os neopentecostais cresceram vertiginosamente, sem
a ênfase de falar em línguas, o que levou os da ‘renovação carismática’ a
perderem o discurso de que precisamos de “poder”. Depois veio o movimento da
Batalha Espiritual, que foi solapado, especialmente, pelo Rev. Nicodemus, entre
outros. Hoje, são os movimentos das “Comunidades Presbiterianas”. Por qual
motivo muitos não confiam na sua identidade Reformada e sempre ficam
contrabandeando métodos questionáveis?
R: É muito louvável o impulso evangelístico das comunidades
presbiterianas. É piedoso o desejo de ver igrejas crescendo e mais gente
recebendo a Cristo como Salvador. O equivocado, a meu ver, é a confiança em métodos.
Estes irmãos, ao buscarem crescimento de suas igrejas importando métodos norte-americanos,
acabam desconsiderando o poder do Evangelho. Como disse o Rev. Hernandes Dias
Lopes, citando E. M. Bounds, “Nós estamos procurando melhores métodos. Deus
está procurando melhores homens. Deus não unge métodos, Deus unge homens."
Além disso, a metodologia empregada é antropocêntrica. A eclesiologia é remodelada.
O culto, por exemplo, deixa de ter o objetivo principal de reunir o corpo de
Cristo para comunhão e passa a ser um encontro que visa atingir o não crente,
com linguagem e tema voltados para ele. Não é isso o que a Bíblia nos ensina. A
igreja deve equipar os crentes para buscarem os perdidos fora da igreja e não
dentro dela. E aquele que se converte verdadeiramente a Jesus Cristo, seja em
um grupo nos lares ou em um discipulado, quando chega à igreja, pouco se
importa se ela tem arquitetura do século 16 ou do século atual. Ele não estará
ali pela estética, mas porque foi salvo pela graça de Deus e precisa de Cristo.
6. O que acha desse meu ‘sonho’: disponibilizar os Símbolos de Fé
de Westminster, em formato de revista da EBD a todo presbiteriano?
R: Acho muito boa a ideia. A Confissão de Fé e os Catecismos são
verdadeiros tesouros. Todo crente deveria tê-los em mãos.
7. Os pastores presbiterianos passam de 4 a 5 anos sendo
‘ensinados e examinados’, até serem ordenados. Já não passou da hora dos outros
‘pastores’, os presbíteros, serem sabatinados com alguma orientação teológica,
como pressupõem a Constituição da IPB?
R: Sim. É isso o que prescreve o Art. 28 da Constituição. Tanto
presbíteros quanto diáconos devem crer nas Escrituras como Palavra de Deus e
nos Símbolos de Fé como sistema expositivo de doutrina e prática.
8. Não temos uma voz de reconhecimento público, no contexto
político e da mídia. Obviamente, não significa que não temos locutor com tal
calibre. Grandes questões sociais que nos interessam dogmaticamente estão, pela
graça de Deus, sendo defendidas pelo Dep. e Pr. Marcos Feliciano e Silas
Malafaia. Por quais motivos o calvinismo não mostrou sua força nessas áreas
aqui no Brasil?
R: Não sei responder. No passado o Caio Fábio foi um calvinista
ouvido pela sociedade, mas foi sabotado pela política e sua vida pessoal deixou
de ser modelo de piedade. Hoje o Marcos Feliciano e o Malafaia aparecem mais
pela polêmica do que pela fidelidade às Escrituras. Quando comparados a John
Newton, William Wilberforce e a Abraham Kuyper percebemos o quão distantes
estamos de um homem de fé com influência real na sociedade.
9. Reverendo, o acumulo de pastores presbiterianos em grandes
centros, e a necessidade sempre premente de obreiros em campos missionários,
não revela-nos que estamos tendo na IPB uma crise vocacional? Entre os vários
motivos, concorda com muitos irmãos que o “academicismo” tem sido um dos
fatores contribuintes para esse cenário?
R: Eu creio que os seminários são responsáveis em incutir na mente
do candidato, contra a tendência do século, que ele deve ir aonde Deus enviar. O
pastor não deve buscar conforto para si, mas ser fiel ao chamado de Deus. De
fato, o academicismo pode representar um perigo para a igreja. Os títulos
acadêmicos devem ser utilizados para o benefício do Reino e o aperfeiçoamento
das ovelhas de Cristo. Se usados para envaidecimento, se tornam uma maldição.
10. EBD é instrumento de ensino eficaz no contexto presbiteriano,
não apenas pela viabilidade, mas por princípios de fé, já que é no Dia do
Senhor. Existe algo que podemos fazer para que essa bendita escola continue
forte [e seja resgatada em algumas igrejas]?
R: O treinamento dos professores da Escola Dominical é essencial.
Material de qualidade tem sido produzido pela nossa Editora Cultura Cristã,
porém, um professor que ministra a aula apenas lendo a revista, terá
dificuldades no processo de ensino. O ideal é que as Escolas Dominicais tenham
bom material didático, com linha teológica sadia, e professores dedicados,
criativos e tementes a Deus, para que o processo todo seja abençoado.
11. Por falar em Domingo, a editora lançou uma recente edição com
notas da Constituição da IPB. Não existe
nenhum apontamento a respeito desse assunto, como que se não fosse um assunto
largamente desobedecido na IPB. Eu sei que a maioria dos pastores
conscientes desse assunto é mais ‘calvinista’ do que ‘puritana’. Até quando a
IPB vai omitir-se de debater a respeito?
R: Eu fiz parte da comissão que produziu o Manual Presbiteriano
com Notas Remissivas e o foco da comissão não foi teológico, mas legal. Nossa
missão foi restaurar os diplomas legais da IPB e inserir notas relacionando
decisões do Digesto Presbiteriano aos artigos do Manual. De fato, o 4º
mandamento talvez seja o mais esquecido em nossos dias. Quanto aos pastores que
discordam dos Símbolos de Fé neste ponto, apelando para Calvino, eu
recomendaria a leitura do artigo “Os Puritanos e o Dia do Senhor” de J.I.
Packer, no livro “Entre os Gigantes de Deus”, Editora Fiel. Packer analisa os
dois pensamentos.
12. Outro assunto espinhoso – dízimo ao Supremo Concílio. Por qual
motivo presbitérios e igrejas ainda mostram-se desobedientes,
constitucionalmente, e não enviam o que devem enviar ao SC? Tais ministros que
estão na presidência desses Concílios não percebem o mal que fazem e a
incoerência que vivem, já que é esta mesma Constituição lhes dá a proteção
necessária?
R: Realmente trata-se de desobediência à Constituição da IPB, uma
quebra do pacto federativo. Como podem estes Conselhos instar os membros da
Igreja a serem fiéis nos dízimos e ofertas se o próprio Conselho não cumpre
suas obrigações conciliares?
13. Deus é dono da IPB. Ano que vem teremos eleição,
independentemente do acontecer, quais desafios a IPB tem pela frente?
R: Na minha limitada visão, os desafios são grandes. Muitas
igrejas têm enfraquecido por desconsiderar os meios de graça. É preciso um
esforço nacional para que os crentes voltem a ler a Bíblia, a orar e a evangelizar.
A partir desta mudança, as demais áreas da denominação seriam impactadas.
14. Só uma curiosidade, qual seu autor preferido?
R: Permita-me citar alguns: Agostinho, Calvino, Pink, Packer,
MacArthur e Joel Beeke.
15. No currículo dos Seminários da IPB, não tem heresiologia? Sei
que com o ensino de uma boa teologia sistemática, obviamente as heresias serão
identificadas, mas não acredita que conhecer as seitas principais seria uma
proteção para o ministério pastoral?
R: Com certeza este estudo é necessário. No currículo atual, na
grade de disciplinas eletivas, temos Apologética, Neopentecostalismo,
Catolicismo Popular e Culto Afro-brasileiro e Denominações e Seitas.
16. Deixe uma mensagem para causa apologética:
Os apologistas têm sido usados por Deus no decorrer da história. A
atuação deles nos primeiros séculos da Igreja, produzindo credos e confissões,
foi vital para a condenação das heresias, e o
fortalecimento e expansão da Igreja. Minha mensagem a vocês que lidam nesta
área é de encorajamento. Não se intimidem com as pressões e continuem
denunciando o erro. Há eleitos de Deus, neste momento, sendo enganados pelas
seitas. Um dia Deus abrirá seus olhos conduzindo-os à verdade. Os institutos
apologéticos podem ajudar muito neste processo. Que Deus os abençoe.
Boas perguntas com igualmente boas respostas. Que Deus os abençoe e continue dando discernimento.
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