Deus escolheu livremente e
antecipadamente aqueles que irão ser salvos, e só esses crerão corretamente no
Evangelho. Os demais não crerão verdadeiramente, e não serão salvos (Rm 9.18).
O homem escolhe livremente se aceitará ou
não o Evangelho. Deus convida-o sinceramente a fazer isso e o responsabiliza
por rejeitar, lançando os que rejeitarão no inferno (Ap 22.17).
Existe um esforço por parte dos mestres em
teologia em conciliar essas duas proposições bíblicas. Os caminhos racionais
apresentados para solucionar o problema entre os Reformados são variados, mas
essencialmente o mesmo.
1. É um mistério. 2. É um paradoxo. 3. É
um antinomismo.
A solução teológica apresentada é: ‘Para nossa mente limitada isso é
irreconciliável, mas para mente divina está harmoniosamente claro’.
1. Mistério na Bíblia é um assunto que ainda será
revelado (Ap 10.7), mas que é conhecido apenas em informações limitadas ou em
símbolos e enigmas (Ef 5.32). A Bíblia até fala de ‘compreendermos plenamente o
mistério de Deus, Cristo’(Cl 2.3). Os mistérios na Bíblia TAMBÉM não
representam contradições lógicas e terminológicas. Para nós, culturalmente,
mistério é um enigma que precisa ser solucionado.
Existe outra
maneira de usarmos o termo mistério como sendo um dogma religioso. De profunda
introspecção e de algo não comum. Chamarmos a soberania e responsabilidade de
mistério neste sentido é aceitável “A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser
tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à
vontade revelada em sua palavra e prestando obediência a ela, possam, pela
evidência da sua vocação eficaz, certificar-se da sua eterna eleição.” CFW- 3: 8
O assunto em mira, soberania e
responsabilidade, não coaduna com mistério definido da primeira maneira. A Bíblia não diz que será esclarecido,
muito menos que teremos a mente divina. Um detalhe necessário aqui. Se
nesse mundo não conseguimos conciliar os temas que são obviamente irreconciliáveis (não
adversários), então é uma contradição para nós aqui e agora!
2. A Doutrina da Trindade é um paradoxo. Quando você diz que
Deus é um e é três ao mesmo tempo, é uma contradição aparente, logo, é um paradoxo. Visto que Deus não é um e três no mesmo sentido.
A solução racional é satisfatória. A soberania e responsabilidade não podem ser
conciliadas assim. Deus é soberano em um sentido e o homem é responsável
em outro? A soberania de Deus, conforme definida na
Bíblia (que apenas os calvinistas fazem justamente) é determinante para as decisões dos homens. A soberania está
diretamente relacionada com a liberdade humana. Qual é a maneira de olharmos corretamente
esse assunto para entender que ele é um paradoxo? Não existe. Ele não é um
paradoxo.
3. É uma antinomia? Esse termo é apresentado como solução do
problema. É algumas vezes aplicado como sinônimo de paradoxo e contradição. Mas
em última instância, ele significa:
“De uma forma
geral, antinomia designa um conflito entre duas ideias,
proposições, atitudes, etc.. Fala-se, por exemplo, de antinomia entre
fé e razão, entre amor e dever, entre moral e política. Num sentido mais restrito, antinomia designa
um conflito entre duas leis. Muitas vezes, usam-se as palavras paradoxo e antinomia como
sinônimos ou então consideram-se as antinomias como uma classe especial de paradoxos: os
resultantes de uma contradição entre duas proposições, em que cada uma delas é
racionalmente defensável. O termo antinomia é,
por vezes, utilizado para designar um conflito entre duas proposições, ou entre
as consequências que delas advêm. A antinomia de duas proposições difere da contrariedade. Duas proposições
podem ser contrárias sem que constituam uma antinomia,
no entanto, ela surge quando se pretende provar a validade de cada uma delas." (http://www.dicionarioinformal.com.br/antinomia/)
J. I. Packer fez uma permanente contribuição para a Fé
Reformada, ao aplicar esse termo ao assunto espinhoso da teologia: soberania e
responsabilidade. Mas não resolve a questão como alguns imaginam, como veremos mais adiante.
4. A CFW admite a antinomia, é isso que parece
ao ler: “I. Desde toda a
eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente
tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem
violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência
das causas secundárias, antes estabelecidas.” CFW 3
Se ele ordenou TUDO que acontece e não
violenta a vontade daqueles que ele ordenou (organizou, pressupôs) a fazer o
que ELE ordenou, ao mesmo tempo não sendo o autor do pecado, para muitos,
existe uma contradição. Para muitos Reformados, isso não é uma contradição. É um
mistério, religiosamente falando, é uma antinomia teológica.
5. Aceitar as duas proposições juntas é
aceitar a Bíblia. Veja um texto claro sobre os dois assuntos, dentre tantos
outros:
“Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu
ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os
povos de Israel; Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho
tinham anteriormente determinado que se havia de fazer.” (Atos 4:27-28)
Esse texto é uma das provas conclusivas
para o que coloquei da CFW acima. Tentar resolver isso é dizer que Deus é autor do pecado e do mal.
PORÉM, uma antinomia não é uma negação que de que não existam visões conflitantes, antes é a confirmação de que ambas as posições são verdadeiras. Acontece, que
quando existe algo contraditório, está em jogo algo que é verdade com algo que
não é. Uma teoria derrubaria a outra. Uma antinomia só não leva as duas teses em
conflito, opostos, para ver quem é que se mantém de pé. Mas continua sendo uma contradição! Portanto, creio nessa contradição.
ISSO É UM SUICÍDIO RACIONAL?
Em primeiro lugar, é por causa da lógica que
cheguei a essa conclusão. Então significa que ela é importante. Segundo, as regras da lógica
não são leis para Deus. Como afirma Cornélius Van Til, não nos relacionamos com essas leis
tal como Deus, soberanamente sábio. Em terceiro lugar, não estou dizendo que creio em
contradição em nossos relacionamentos com nossos iguais. Estou dizendo que uma
verdade suprarracional confronta meus padrões do que é lógico. Quarto, e definitivo, o limite de qualquer ciência é a
Escritura, isto é, a Voz de Deus.
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