Lendo a
Teologia de A. Myatt e Franklin Ferreira, me deparei com uma ‘polêmica’: O Filho de Deus, sempre foi, é, e será eternamente subordinado ao Pai?
Ferreira ‘acusa’
Wayne Grudem como defendendo uma séria falha de interpretação. Wayne Grudem é
um autor calvinista pentecostal e batista. Franklin e Myatt, são batistas e
calvinistas.
Antes de tudo, precisamos esclarecer que não se trata de heresia, propriamente dita. Não se questiona a divindade essencial do Filho. Na verdade, a questão é: A Escritura ensina que o Filho
é sujeito e subordinado ao Pai. Mas essa subordinação funcional foi restrita
apenas no seu trabalho Messiânico? Isto é, em sua encarnação e ofícios
relacionados? Ou a própria alegação de ser Filho Eterno em si mesmo revela a
necessidade de subordinação?
Wayne Grudem diz:
“Na obra da redenção também há
funções distintas. Deus Pai planejou a redenção e enviou seu Filho ao mundo (Jo
3.16; Gl 4.4; Ef 1.9-10). O
Filho obedeceu ao Pai e realizou a redenção para nós. Assim podemos dizer que o
papel do Pai na criação e na redenção foi planejar, dirigir e enviar o Filho e
o Espírito Santo. Isso não é de admirar, pois mostra que o Pai e o Filho se
relacionam um com o outro como pai e filho numa família humana: o pai dirige e tem autoridade sobre o filho, e o
filho obedece e é submisso às ordens do pai. O
Espírito Santo é obediente às ordens tanto do Pai quanto do Filho.
Quando
as Escrituras falam da criação, novamente falam que o Pai criou por intermédio do Filho, indicando uma
relação anterior ao princípio da criação. Portanto, as diferentes funções que
vemos o Pai, o Filho, e o Espírito Santo desempenharem são simplesmente ações exteriores
de uma relação eterna entre as três pessoas, relação essa que sempre existiu e existirá por toda
a eternidade. Deus sempre existiu como três pessoas distintas:
Pai, Filho e Espírito Santo. Essas distinções são essenciais à própria natureza
de Deus e não poderiam ser diferentes.
Para Grudem entender assim é essencial para uma construção correta da
doutrina trinitariana:
Se não
há igualdade ontológica, nem todas as pessoas são plenamente Deus. Mas se não
há subordinação econômica, então não existe diferença
inerente no modo como as três pessoas se relacionam umas com as outras, e conseqüentemente não
temos as três pessoas distintas que existem como Pai, Filho e Espírito Santo
por toda a eternidade. Por exemplo, se o Filho não está eternamente subordinado ao
Pai no seu papel, então o Pai não é eternamente "Pai", nem o Filho
eternamente "Filho". Isso significaria que a Trindade não existe desde a eternidade.
Myatt e Ferreira respondem:
“São
vários os problemas com o argumento de Grudem. Ele começa a partir de dois
enunciados que são corretos, a
saber: (a) as três pessoas da Trindade são distintas e (b) elas cumprem papéis
diferentes em relação à criação e redenção. Porém, ele erra ao asseverar que
isso implica que (c) as relações entre as três são da qualidade de uma
hierarquia, ou cadeia de comando eterna. O enunciado "c" simplesmente
não se segue dos enunciados "a" e "b".
O problema começa quando Grudem
confunde a idéia de distinção com submissão, de modo que ele não
consegue entender como uma pode existir sem a outra. Mas não há razão lógica
para levar alguém a supor que a distinção de papéis não possa existir sem uma
subordinação de uma pessoa à outra. Tais relações são comuns. A confusão de
Grudem ocorre pela aplicação errônea da
analogia da família humana. Porém, mesmo essa analogia serve para ilustrar que
é perfeitamente normal existir distinção de papéis sem subordinação. É verdade
que, numa família bem ajustada, os filhos são submissos ao pai. Numa família
saudável o pai orienta e o filho obedece, enquanto ainda é criança. Ao se tornar adulto, a
natureza do relacionamento entre o pai e o filho muda de submissão e obediência
para respeito e cooperação mútua. Como criança, o filho tem a responsabilidade
de obedecer. Como adulto, essa cadeia de comando não existe mais, embora a
relação entre ambos ainda permaneça como uma relação de pai e filho. O filho
não é menos filho por ser adulto. A existência da relação paternal e filial não
depende de obediência e submissão. Portanto, a analogia mostra que é
perfeitamente possível uma relação eterna de paternidade e filiação entre Deus
Pai e Deus Filho sem subordinação eterna.”
Fica difícil
julgar a questão, quando avaliamos os 'oponentes'. Franklin Ferreira, e os demais citados, tem autoridade suficiente para questionar
Grudem, assim como este também tem. O problema engrossa no fato de que Grudem
cita Charles Hodge e A. Strong como defensores de uma subordinação eterna. Daí,
é luta de gigantes (Teologia Sistemática de W. Grudem, p. 186).
Por sua
vez, Ferreira e Myatt dizem que a posição de Atanásio é contra uma subordinação eterna, que concerne ao Filho.
Quanto a F. Ferreira, por quem temos profunda admiração, por ser obviamente uma das maiores autoridades calvinistas de nosso país; se ele
mostrasse o que Atanásio disse sobre esse tema, acredito que a palavra final
seria dada. Isso, infelizmente, por falta de espaço talvez, não mostrou em sua
Sistemática. Mas eles citam autores, teólogos, de nome Gilles, Spencer e Gill,
que fizeram pesquisas nessa área, e os mesmos garantem que essa é a posição
ortodoxa dos Credos e dos Reformadores. Um desses autores diz que a subordinação eterna é semi-ariana!!!
O Credo
Atanasiano, pelo que percebo, não trata exaustivamente da questão. Apesar de
dizer algo nessa direção nos seguintes dizeres: ‘Igual ao Pai quanto à divindade,
menor que o Pai quanto à humanidade’. Obviamente não é negado nem
estabelecido o assunto. Isso qualquer um que crê na subordinação eterna também
diz. Por outro lado, O Credo estaria com ‘humanidade’ aludindo também para sua
obra Messiânica? O que incluiria os seus ofícios? Se sim, neste caso, Ferreira e
Myatt estão certos e Grudem, Hodge e Strong, errados.
Ferreira e Myatt concluem com palavras de
advertências: “A nossa conclusão é que a doutrina da subordinação
eterna do Filho ao Pai não é bíblica e entra em choque com o ensino ortodoxo da
igreja através da história. Portanto, deve ser rejeitada, como um perigoso
caminho em direção à negação da Trindade."
(TeologiaSistemática – Cap. 13, A pessoa de Jesus Cristo: O subordinacionismo, p. 525-528)
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ResponderExcluirPodemos perceber que YHWH O Único Deus Verdadeiro é composto, plural, conforme revelou-se à Moisés e à Seu povo. ( Dt.6.4 ). Hb. Echad. Tanto no Antigo como no Novo Testamento esta revelado a Triunidade deste Deus Monoteísta , que subsiste em 3 ( Três ) " Pessoas " distintas de mesma natureza, essência , substância, atributos, caráter. Ontologicamente não há dúvidas de que as " Pessoas " são iguais.
ResponderExcluirA subordinação de atividades no plano da criação e redenção é que há uma subordinação de funções como já colocado com toda propriedade na postagem.
Quanto a subordinação eterna das funções , cremos que seria interessante verificarmos os textos Bíblicos , os quais nossos professores de teologia se baseiam para defender suas teses.
Não sei se é possível conseguirmos com facilidade estas informações. Creio que com estes dados poderemos analisar melhor a base de cada um e assim fazermos os comentários, que com certeza nos edificará.
Particularmente vejo a posição de que a subordinação econômica como Filho do Homem com o corpo glorificado, o qual todas Suas ovelhas receberão, será por toda a eternidade, pois o Filho entregará o Reino ao Pai, porém a Pessoa do Filho Unigênito , que é 100% Divina não estará como nunca esteve subordinado ao Pai, pois Ele e O Pai a nível de natureza é Um e não podemos separar esta natureza ou substância.
A nível de comentário , na postagem , demos o " ponta pé " inicial, para nosso diálogo respeitoso com o propósito de nos mantermos fiéis a Sã Doutrina apostólica.
Ajudemo-nos multuamente, para nossa edificação e Glória de Deus nosso Pai.
YHWH nos ilumine
Em Cristo
Wilton
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ResponderExcluir(acho que o outro comentário cortou a parte inicial rs):
ResponderExcluirEu vi dois argumentos de Letham a favor dasubordinação eterna, um a partir da união hipostática e outro a partir da primeira parte da Regra de Rahner:
*ARGUMENTO A PARTIR DA UNIÃO HIPOSTÁTICA
1. O sujeito de todas as ações de Jesus, mesmo aquelas feitas em razão da sua natureza humana, é a Pessoa divina do Logos.
2. Jesus, de sua encarnação até a sua morte, se humilhou em subordinação ao Pai.
3. Logo, foi a Pessoa divina do Filho quem se subordinou ao Pai.
Estabelecido que quando o Credo Atanasiano afirma que Jesus se subordinou "segundo a carne" (31. "...menor do que o Pai com relação à sua humanidade." ) isso implica, por causa da união hipostática, que não só a natureza humana, mas a "pessoa divina" (não a natureza divina! - o que seria subordinacionismo) se subordinou ao Pai, poderia se dizer corretamente que "Deus Filho se subordinou ao Deus Pai". Dessa conclusão caminharíamos à primeira regra de Rahner:
*ARGUMENTO A PARTIR DA PRIMEIRA PARTE DA REGRA DE RAHNER
1. Deus Filho se subordinou ao Pai na Trindade Econômica
2. “A Trindade ‘econômica’ é a Trindade ‘imanente’”, Isto é, as relações econômicas de Deus na criação refletem as relações eternas que nEle existem na atemporalidade.
3. Logo, uma subordinação eterna do Filho ao Pai na Trindade Econômica seria a base para a subordinação temporal do Pai ao Filho na Trindade Econômica.
Letham afirma que se não foi contrário à divindade do Filho que ele se subordinasse ao Pai na Trindade Econômica, não deveria ser contrário a sua divindade que Ele se subordinasse ao Pai na Trindade Imanente, visto que quem se subordinou foi a "pessoa divina" do Filho
Além de Grudem, outros evangélicos como, Robert Letham,John Dahms, Peter Schemm, Bruce Ware, J. Scott Horrell, Andreas J. Köstenberger, Scott R. Swain e me parece que também Norman Geisler (cf. TS1, p.801: "Uma palavra final sobre a natureza e duração dessa subordinação na divindade. Não é somente temporal e econômica; é essencial e eterna"). A maneira como a Confissão de Fé de Westminster anuncia as pessoas divinas já me parece sugerir ou insinuar (mas sem afirmar) a eternidade dessa subordinação, por dois motivos: (1) Ela coloca as três pessoas numa ordem, primeiro o Pai, depois o Filho e depois o Espírito e em seguida afirma as propriedades eternas das pessoas como base das distinções entre elas (CFW II.III); (2) Ela usa a numeração "Segunda Pessoa da Trindade" em relação ao Filho (CFW VIII.II), e Franklin Ferreira é contra essa numeração.
Agora. não resta dúvidas de que o subordinacionismo ontológico (a ideia de que a natureza divina do Filho é inferior à do Pai ou que alguma pessoa da Trindade é essencialmente menor ou maior do que outra) é uma heresia ("E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor." Credo Atanasiano, 24), mas afirmar uma subordinação nas relações eternas não é o mesmo que afirmar um subordinacionismo na essência divina.
Obrigado pelas informações Bruno.
ExcluirEu tenho algumas impressões de que a subordinação eterna é o fato bíblico que devemos sustentar.
Sei da objeção de Ferreira quanto a questão de que quando o filho fica adulto ele não é mais sujeito. Porém, o que ele, me parece, desconsidera nesse ponto, é que todas as vezes que Jesus fala de si mesmo, "O Filho", ele fala como sendo subordinado ao Pai. E nos três estágios - pré, encarnação e ascensão. Nesse aspecto, devemos lembrar que, se ele foi enviado pelo Pai antes da encarnação, é por que essa sujeição funcional existia. Depois da encarnação e agora por toda eternidade, ele será homem glorificado, e portanto assim, sujeito também.
A meu ver, se O Pai é Pai desde sempre, fato é que O Filho é Filho, distinto e sujeito, desde sempre.
Estamos falando do mesmo Deus numérico, nem há necessidade de ressaltar que isso não é sujeição ontológica, já que Deus é UM.
Sistematizei a questão em um artigo, poderá gostar:https://bereianos.blogspot.com.br/2017/11/a-doutrina-da-geracao-eterna-do-filho.html
ExcluirEm essência, não existe qualquer hierarquia entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.Mas há alguns textos bíblicos que parecem indicar que existe uma certa hierarquia entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.(1 Coríntios 11:3 e João 14:28). Infelizmente, algumas seitas acabam usando esses textos negarem a plena divindade de Cristo.Trindade em dois aspectos diferentes. São eles: ontológico e econômico. No primeiro não há hierarquia entre o Pai, o Filho e o Espírito; enquanto no segundo há uma certa organização hierárquica.
ResponderExcluirPortanto,ponto de vista da divindade, são Co-iguais, Co-existentes. Mas, a diferença está apenas na posição, na função e nao na essência. Hierarquia nunca foi desigualdade do ponto de vista da natureza. Ora, ao dizer que o marido é a cabeça da mulher Deus não está querendo dizer com isso que o marido é maior que a mulher em natureza, mas somente em posição e função
Paz e Graça
ResponderExcluirParabéns pelo excelente blog !
POR FAVOR, AJUDE-ME COM UMA DÚVIDA.
Quando se cumpriu Salmos 2:7? Teria siso na encarnação, quando segunda pessoa da Trindade,
que é Deus eterno, João 1:1; recebeu corpo humano perfeito ao ser gerado pelo Espírito Santo dentro de Maria em um dia específico, quando a Palavra eterna passou a ser o Filho unigênito de Deus? Parece que Paulo vê cumprimento na ressurreição de Jesus Atos 13:33:
as quais Deus cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, assim como está escrito no segundo Salmo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei’.
Mas é estranho,porque ressurreição e gerar tem significados diferentes.
Paz,
ExcluirPelo contexto do salmo 2 e da citação tanto em Atos como em Romanos (1.4) a referência é a ressurreição de Jesus. Dizer hoje te gerei (ainda que possa alguém lembrar da encarnação), diz repeito a sua vida agora glorificada, após a ressurreição, para voltar ao céu como Filho do Homem glorificado.
Irmão, não são significados diferentes, são facetas diferentes da ressurreição. Jesus recebeu na ressurreição uma forma glorificada de seu corpo e um outra postura agora em sua missão.
Excluir"F. Ferreira tem autoridade suficiente para questionar Grudem". Acha mesmo?
ResponderExcluirMas é claro...
ExcluirQuando comparamos os dois currículos, penso que F. Ferreira não tem todo o cabedal reunido em Grudem. Também penso que não tem autoridade suficiente para questionar Grudem. Talvez alguém desenvolva o assunto de maneira exaustiva apresentando citações de todos os autores envolvidos incluindo "tudo" o que Atanásio disse, e assim por diante. O assunto é vasto, mas muito relevante.
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