segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre ciência e fé... 2

por Lucio A. de Oliveira

Continuando a proposta anterior, vamos mostrar mais alguns passos de fé que precedem toda teorização científica. Ou seja, pressuposições metafísicas, que não encontram justificativa em qualquer cosmovisão (talvez só encontrem justificativas na cosmovisão cristã!).
Portanto, mais alguns passos písticos da ciência:


2. Mundo Exterior


Outra suposição que naturalmente admitimos, é a de que existe um mundo exterior.  Esse problema entra em voga no século 17. Ronald Nash expõe com êxito a problemática:

os objetos imediatos do conhecimento são ideias que existem na mente. Em outras palavras, quando eu percebo uma mesa marrom no outro lado da sala, aquilo de que estou imediatamente consciente não é a mesa, mas uma ideia da mesa. Ainda que a mesa, presumivelmente, exista fora de minha mente, no mundo exterior, a ideia da mesa existe em minha mente [...]... a existência de uma cadeira e de todos os móveis de uma sala do chamado mundo exterior (o mundo que, supostamente, existe fora de nossa mente) torna-se algo problemático; tanto que alguns filósofos se sentiram obrigados a produzir argumentos, provando que o mundo fora de nossa mente continua a existir ainda quando nenhum humano o está percebendo (NASH, 2008, p.276).

Sire, comentando sobre as consequências de uma cosmovisão que principia com a soberania (inclusive metafísica) do eu, coloca a questão de maneira bem vívida e chocante, (observando o que exploraremos mais tarde, a saber, a semelhança entre o solipsismo  [“que é a crença de que o eu é tudo o que existe ou é capaz de ser conhecido” (CRAMPTON; BACON, 2009, p.36)]e a demência):

...talvez esse universo seja o que criamos, e nós mesmos nos encontramos em um quarto ou canto do hospital, inconscientemente sonhando que estamos lendo esse livro, que, na verdade, criamos por meio de nosso maquinário de projeções de realidade do inconsciente. A maioria das pessoas não segue essa rota, pois fazê-lo seria retroceder os corredores de infinitos regressos (SIRE, 2009, p.260).

O fato é que há a necessidade de que um axioma garanta a existência do mundo exterior. Caso contrário, não temos justificativa alguma em crer que ele exista fora de nossa mente, que seja algo diferente de uma ilusão criada por nós mesmos. Até mesmo as sensações poderiam ser criadas em nosso próprio cérebro. Estaríamos de mãos dadas com o solipsismo (doravante veremos qual o problema em cair em solipsismo).


3. Outras Mentes

Muitos filósofos (notória e recentemente, Alvin Plantinga) também observam que, abarcado pelo problema supracitado, também pressupomos a existência de outras mentes. Mas uma vez com Nash:

...as relações dentro de nossa mente (pensamentos, imagens e outros itens dos quais estamos conscientes) parecem imediatas e negáveis. Minha consciência de uma mesa marrom é mediada por outras coisas. Eu não percebo a própria mesa imediatamente. Mas minha consciência da ideia de tal mesa é direta e imediata. Embora eu possa achar que é possível duvidar da existência da mesa (posso estar sonhando ou alucinado), é impossível duvidar da minha consciência da ideia da mesa. Assim, é fácil acreditar que eu tenha uma mente. Mas como eu sei que tenho uma mente? Muitos filósofos fornecem muitos argumentos, tentando provar que as outras pessoas têm mentes, mas seus argumentos são falhos [Nash sugere um livro de Alvin Plantinga chamado ‘God and Other Minds’] (NASH, 2008, 277).

Então Sire observa conclusivamente: “Assim, optamos pela existência não apenas de nosso eu, mas do eu dos demais e, portanto, exigimos um sistema que trará não somente unidade ao nosso mundo, mas igualmente conhecimento” (SIRE, 2009, p.260).

continua...
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BIBLIOGRAFIA



CRAMPTON, W. Gary; BACON, Richard E. Em direção a uma cosmovisão cristã. Tradução de Felipe Sabino de Araújo Neto. Brasília: Monergismo, 2009. 112 p.
NASH, Ronald H. Questões Últimas da vida: uma introdução à filosofia. Tradução de Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 448 p.
SIRE, James W. O universo ao lado: um catálogo básico sobre cosmovisão. Tradução de Fernando Cristófalo. 4. Ed. São Paulo: Hagnos, 2009. 384 p.

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