sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A INCOMPATIBILIDADE ENTRE O FEMINISMO E O CRISTIANISMO


Ainda que sejam totalmente incompatíveis e opostos entre si, desde sua origem, o feminismo tem assediado o cristianismo, confrontando seus valores, corrompendo sua verdade e ao mesmo tempo se colocando como vítimas do “cristianismo opressor”. Entretanto, não são poucos os cristãos que flertam com a causa feminista, outros que lhes são simpáticos e ainda temos aqueles que temem o feminismo devido ao seu discurso vitimista.

De início, uso as palavras de Jones para expressar algo importante sobre o feminismo em relação a fé cristã: “Os cristãos devem entender que o movimento religioso feminista carrega em si um ataque frontal à normatividade da heterossexualidade criacional e, além disso, ao próprio Deus como o Criador.” (JONES, 2002, p.235). Julgo necessário estabelecer tal premissa para deixar claro que não pode haver diálogo entre feminismo e fé cristã genuína.

Dito isto, podemos voltar nos primórdios do movimento feminista para mostrarmos que desde sua origem a sua ideologia busca o confronto com o cristianismo e com sua Regra de Fé e prática, que é a Bíblia Sagrada. A Convenção dos Direitos da Mulheres apresentaram como parte de suas reivindicações a participação das mulheres na igreja:

O homem permite à mulher, na igreja assim como na sociedade, apenas uma posição subordinada, afirmando autoridade apostólica para sua exclusão do ministério, e, com algumas exceções, de qualquer participação pública nas questões da igreja [...]. Resolve-se que, por muito tempo, a mulher permaneceu satisfeita nos limites circunscritos que costumes corrompidos e uma aplicação pervertida das Escrituras estabeleceram para ela, e que é hora para que ela se mova em direção à esfera abrangente que o grande Criador lhe designou. (MAcCULLEY, 2017, p.50, 51)

Mediante esta citação, fica claro as intenções do feminismo desde seus primórdios. Reinterpretar as Escrituras para fazê-la favorável ao ministério feminino. Ainda sobre este assunto, as conquistas e reivindicações da primeira onda do movimento feminista, MacCulley (2017, p.52) afirma: “[...] misturado àquelas reformas sociais necessárias estava um desafio para o cristianismo – o governo da igreja, o ensinamento bíblico e o culto público.” O problema é que parece que a igreja não atentou-se para isso como deveria. Pois “[...] embora as conquistas triunfantes da primeira onda do movimento feminista tenha sido as reformas legais na cobertura e no sufrágio, o escritos de Stanton revelam que o contínuo alvo era a autoridade da Escritura.” (MAcCULLEY, 2017, p.57, 58).

Pensando um pouco adiante, Lopes (2014) acredita que “[...] o livro de Katherine Bliss, The Service and Status of Women in the Church (O Trabalho e o Status da Mulher na Igreja, 1952) como o marco inicial do moderno movimento feminista dentro da cristandade.” Ela questionou os papeis do homem e da mulher dentro da igreja e propôs a reavaliação dos mesmos. Em 1961 as ativistas cristãs associam-se com as feministas de segunda onda para buscarem juntas uma participação mais significativa em suas respectivas esferas. Devemos lembrar que, nesta altura, as feministas de segunda onda questionavam o patriarcado considerando-o como mera construção social. Questão que rapidamente foi incorporada aos debates conciliares, inclusive no Concilio Mundial de Igrejas de 1961. Lopes (2014) afirma que: “Muitos católicos, metodistas, batistas, episcopais, presbiterianos, congregacionais e luteranos concordaram: a mulher na Igreja precisa de libertação.” Isso as colocou no caminho para a busca da ordenação feminina. E sem qualquer base Escriturística, assumiram a máxima de que os padrões bíblicos eram sexistas, influenciados pela cultura, e deveriam ser mudados.

Depois desta abertura, Lopes (2014) nos mostra que “[...] as feministas cristãs passaram a afirmar que a Bíblia dava suporte à plena igualdade das mulheres e que os homens haviam negligenciado estes conceitos bíblicos.” Isso é a expressão do igualitarismo, idêntico ao defendido pelo feminismo de segunda onda. Os efeitos nocivos do igualitarismo na sociedade já foram apresentados. Mas dentro do cristianismo seus efeitos são ainda mais catastróficos. Wayne Grudem, em seu livro “Feminismo Evangélico: Um novo caminho para o liberalismo”, nos chama a atenção para o fato do feminismo evangélico ter se tornado uma brecha para o liberalismo teológico. (GRUDEM, 2009, p.15) E é fácil perceber porque o igualitarismo conduz ao liberalismo: “A ordenação das mulheres requer o desenvolvimento de uma nova teologia, de uma nova visão sobre Deus, sobre a Bíblia, o culto e o mundo. A teologia deve se redefinir, alinhando-se com o ponto de vista feminino.” (LOPES, 2014).

Com isso, a autoridade bíblica fica enfraquecida e relativizada para atender uma causa ao invés de mostrar a verdadeira Revelação divina. É verdade que nem todos aqueles favoráveis a ordenação feminina sejam liberais. Mas independente disto, a ordenação feminina força a interpretação de textos bíblicos e abrem precedente para questionamentos posteriores. Tokashiki (2017) afirma que a Hermenêutica Feminista é resultado do abandono da autoridade final da Escritura. Pra ele, “A Teologia Feminista é um ramo dentro da conhecida Teologia da Libertação.” Veja como Tokashiki (2017) define a leitura feminista das Escrituras:

A interpretação feminista das Escrituras tem o seu ponto de partida num dos seus pressupostos básicos: a teologia deve fundamentar-se sobre a análise da realidade sociopolítica. Ela não começa com o texto e contexto da Escritura Sagrada, mas com o contexto social da mulher, como sendo oprimida numa sociedade de cosmovisão machista.

Isso evidencia o fato de que o feminismo não parte do princípio que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada para assim interpretá-la, mas abraçam o subjetivismo sob a óptica do oprimido montar todo o seu sistema interpretativo. Tokashiki (2017) ainda afirma: “Na nova hermenêutica a interpretação e sistematização do ensino não é algo extraído das Escrituras, mas da experiência subjetiva do intérprete que impõe sobre o texto sagrado a sua opinião.”

Com tal ponto de vista hermenêutico fica fácil entender o que Grudem (2009, p.26, 27) aponta: “Se olharmos para as denominações que aprovaram a ordenação de mulheres, de 1956 a 1976, vamos descobrir que algumas delas, [...] têm grandes contingentes pressionando para a aprovação da conduta homossexual [...] e a aprovação da ordenação de homossexuais.”  Para este autor existe um caminho obvio traçado por aqueles que abandonam a visão Reformada das Escrituras:

1 deixar de crer na inerrância da Bíblia;
2 aprovar a ordenação de mulheres;
3 abandonar os ensinos da Bíblia sobre o homem como cabeça no casamento;
4 excluir os clérigos que se opõem à ordenação de mulheres;
5 aprovar o comportamento homossexual como moralmente válido em alguns casos;
6 aprovar a ordenação de homossexuais;
7 ordenação de homossexuais para posições de alta liderança na denominação; (GRUDEM, 2009, p.27)

Depois de compreendermos as implicações do feminismo em relação às Escrituras, especialmente sua relativização e o comprometimento desta como inerrante Palavra de Deus, há outros sérios problemas causados pelo feminismo dentro da igreja e das famílias que a compõe.

No campo teológico, a identidade de Deus Pai e de seu Filho, Jesus Cristo são atacadas. John M. Frame, no artigo Deus e Gênero: Macho e Fêmea, apresenta uma discussão levantada por feministas, as quais advogam que também devemos atribuir a Deus gênero feminino. Depois de expor os argumentos feministas, Frame os refuta de uma clara e objetiva perspectiva reformada. Mas ele não é o único a apresentar e tratar deste problema. Wayne Grudem também aponta o fato de que igualitaristas tendem a obscurecer e negar a identidade de Deus como Pai, chamando-o de mãe. Nesse interim, ele explica: “Chamar Deus de ‘Mãe’ é mudar a descrição que o próprio Deus faz de si na Bíblia. É chamar Deus por um nome que ele não tomou para si.” (GRUDEM, 2009, p.197). Todavia isso não é problema para as teólogas do feminismo. Pois, em última análise, isso não passa de uma construção social machista e precisa ser mudada. Assim, Grudem fecha essa questão dizendo:

O igualitarismo leva à abolição de qualquer coisa distintamente masculina. Um Adão andrógino. Um Jesus cuja masculinidade não é importante – apenas sua ‘humanidade’. Um Deus que é ao mesmo tempo Pai e Mãe, e então um Deus que é Mãe, mas não pode ser chamado de Pai. (GRUDEM, 2009, p.198)

Lopes (2014) nos mostra o quão longe a audácia feminista pode chegar, e os absurdos que são capazes de produzir a partir de uma hermenêutica fraudulenta:

O passo mais ousado dado pelo movimento feminista cristão radical foi a "reinvenção de Deus". Mais de 800 feministas, gays e lésbicas do mundo inteiro reuniram-se nos Estados Unidos em 1998 num Congresso chamado Reimaginando Deus. Os participantes chegaram a conclusões tremendas: o verdadeiro deus de Israel era uma deusa chamada Sofia, que os autores masculinos transformaram no deus masculino Javé, homem de guerra. Jesus Cristo não era Deus, mas era a encarnação desta deusa Sofia, que é a personificação da sabedoria feminina. Esta deusa pode ser encontrada dentro de qualquer mulher e é identificada com o ego feminino. No Congresso celebraram uma “Ceia” onde o pão e o vinho foram substituídos por leite e mel, e conclamaram as igrejas tradicionais a pedir perdão por terem se referido a Deus sempre no masculino. Amaldiçoaram os que são contra o aborto e abençoaram os que defendem os gays e as lésbicas.

Se o próprio Deus é alvo da Revolução feminista, o que resta para os homens? Vimos anteriormente que o patriarcado é um dos grandes alvos do feminismo. Isso não é diferente dentro da igreja e nas famílias que a compõe. Para as feministas cristãs, as mulheres são melhores e mais aptas para o governo da igreja, bem como dos lares. Como isso, negam o ensino bíblico basilar da complementação entre os sexos.

No artigo com o título de “Irremediavelmente Patriarcal”, Steve M. Schlissel defende que “Qualquer tentativa de abandonar o governo dos homens precisa começar com a renúncia do governo de Deus, isto é, a Santa Bíblia.” Pois é o próprio Deus que se revelou assim e usou o homem como cabeça. Ele ainda diz:

[...] as feministas estão certas quando reconhecem que a Bíblia é irremediavelmente patriarcal, pois nela encontramos que os homens são nomeados presbíteros (sem exceção), juízes (com uma exceção interessante), profetas (com poucas exceções), sacerdotes e apóstolos (sem exceções). Além disso, tentar encontrar uma anja se manifestando de forma feminina é procurar em vão. (Schlissel)

Concordamos com este autor e precisamos ser categóricos em afirmar que foi Deus que criou o homem e a mulher, iguais em dignidade e no sentido de ambos portarem a imagem de Deus. Todavia, eles possuem papeis diferentes, não estamos falando de competências, mas de papeis a serem desempenhados. “Deus criou os homens para serem cabeças pactuais. A rejeição do patriarcalismo exige a rejeição da Bíblia e do Deus da Bíblia. Aceitar a Bíblia requer aceitar o patriarcalismo. Não é possível interpretar de qualquer outra maneira.” (SCHLISSEL).

Referências

 BAUCHAM, Voddie Jr. As Consequências do Feminismo. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2013/06/as-consequencias-do-feminismo.html

CAMARGO, Edson. De Machorras Militantes e Mal-amadas no mercado. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/09/de-machorras-militantes-e-mal-amadas-no.html

CAMARGO, Edson. De Volta ao Lar, De Volta a Realidade. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/09/de-volta-ao-lar-de-volta-realidade.html

EINWECHTER, William. A Feminização da Família. Disponível em:
http://bereianos.blogspot.com.br/2013/12/a-feminizacao-da-familia.html

FRAME, John M. Deus e o Gênero: Macho e Fêmea. Disponível em:
http://bereianos.blogspot.com.br/2014/12/deus-e-o-genero-macho-e-femea.html

GRUDEM, Wayne. Confrontado o Feminismo Evangélico: Respostas Bíblicas para perguntas cruciais. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 336p.

GRUDEM, Wayne. O Feminismo Evangélico: Um novo caminho para o liberalismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 256p.

JONES, Peter. A Ameaça Pagã: Velhas heresias para uma nova era. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 394p.

LOPES, Augustus Nicodemus. O Feminismo Cristão: Como tudo começou. Disponível em:
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2014/05/o-feminismo-cristao-como-tudo-comecou.html

MAcCULLEY, Carolyn. Feminilidade Radical: Fé Feminina em um mundo feminista. São José dos Campos: FIEL, 2017. 362p.

OLIVETTI, Odayr. A Bíblia é Machista? Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2013/09/a-biblia-e-machista.html

PIPER, John. Deus Criou o ser humano homem e mulher: o que significa ser complementarista? Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2014/11/deus-criou-o-ser-humano-homem-e-mulher.html

PRIDE, Mary. De Volta ao Lar. São Paulo: Edições Cristãs, 2004. 199p.

SCHLISSEL, Steve M. Irremediavelmente Patriarcal. Disponível em:
http://monergismo.com/steve-schlissel/irremediavelmente-patriarcal/

TOKASHIKI, Ewerton B. Uma Crítica à Hermenêutica Feminista. Disponível em:
http://bereianos.blogspot.com.br/2017/01/uma-critica-hermeneutica-feminista.html



AUTOR: Rev. Vanderson Scherre - Integrante da Equipe do Ministério Cristão Apologético

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