Ainda que sejam totalmente incompatíveis e opostos entre si, desde sua origem, o feminismo tem assediado o cristianismo, confrontando seus valores, corrompendo sua verdade e ao mesmo tempo se colocando como vítimas do “cristianismo opressor”. Entretanto, não são poucos os cristãos que flertam com a causa feminista, outros que lhes são simpáticos e ainda temos aqueles que temem o feminismo devido ao seu discurso vitimista.
De início, uso as palavras de Jones para expressar algo importante sobre o feminismo em relação a fé cristã: “Os cristãos devem entender que o movimento religioso feminista carrega em si um ataque frontal à normatividade da heterossexualidade criacional e, além disso, ao próprio Deus como o Criador.” (JONES, 2002, p.235). Julgo necessário estabelecer tal premissa para deixar claro que não pode haver diálogo entre feminismo e fé cristã genuína.
Dito
isto, podemos voltar nos primórdios do movimento feminista para mostrarmos que
desde sua origem a sua ideologia busca o confronto com o cristianismo e com sua
Regra de Fé e prática, que é a Bíblia Sagrada. A Convenção dos Direitos da
Mulheres apresentaram como parte de suas reivindicações a participação das
mulheres na igreja:
O homem permite à
mulher, na igreja assim como na sociedade, apenas uma posição subordinada,
afirmando autoridade apostólica para sua exclusão do ministério, e, com algumas
exceções, de qualquer participação pública nas questões da igreja [...].
Resolve-se que, por muito tempo, a mulher permaneceu satisfeita nos limites
circunscritos que costumes corrompidos e uma aplicação pervertida das
Escrituras estabeleceram para ela, e que é hora para que ela se mova em direção
à esfera abrangente que o grande Criador lhe designou. (MAcCULLEY, 2017, p.50,
51)
Mediante
esta citação, fica claro as intenções do feminismo desde seus primórdios.
Reinterpretar as Escrituras para fazê-la favorável ao ministério feminino. Ainda
sobre este assunto, as conquistas e reivindicações da primeira onda do
movimento feminista, MacCulley (2017, p.52) afirma: “[...] misturado àquelas
reformas sociais necessárias estava um desafio para o cristianismo – o governo
da igreja, o ensinamento bíblico e o culto público.” O problema é que parece
que a igreja não atentou-se para isso como deveria. Pois “[...] embora as
conquistas triunfantes da primeira onda do movimento feminista tenha sido as
reformas legais na cobertura e no sufrágio, o escritos de Stanton revelam que o
contínuo alvo era a autoridade da Escritura.” (MAcCULLEY, 2017, p.57, 58).
Pensando
um pouco adiante, Lopes (2014) acredita que “[...] o livro de Katherine Bliss,
The Service and Status of Women in the Church (O Trabalho e o Status da Mulher
na Igreja, 1952) como o marco inicial do moderno movimento feminista dentro da
cristandade.” Ela questionou os papeis do homem e da mulher dentro da igreja e
propôs a reavaliação dos mesmos. Em 1961 as ativistas cristãs associam-se com
as feministas de segunda onda para buscarem juntas uma participação mais
significativa em suas respectivas esferas. Devemos lembrar que, nesta altura,
as feministas de segunda onda questionavam o patriarcado considerando-o como
mera construção social. Questão que rapidamente foi incorporada aos debates
conciliares, inclusive no Concilio Mundial de Igrejas de 1961. Lopes (2014)
afirma que: “Muitos católicos, metodistas, batistas, episcopais,
presbiterianos, congregacionais e luteranos concordaram: a mulher na Igreja
precisa de libertação.” Isso as colocou no caminho para a busca da ordenação
feminina. E sem qualquer base Escriturística, assumiram a máxima de que os
padrões bíblicos eram sexistas, influenciados pela cultura, e deveriam ser
mudados.
Depois
desta abertura, Lopes (2014) nos mostra que “[...] as feministas cristãs
passaram a afirmar que a Bíblia dava suporte à plena igualdade das mulheres e
que os homens haviam negligenciado estes conceitos bíblicos.” Isso é a
expressão do igualitarismo, idêntico ao defendido pelo feminismo de segunda
onda. Os efeitos nocivos do igualitarismo na sociedade já foram apresentados.
Mas dentro do cristianismo seus efeitos são ainda mais catastróficos. Wayne
Grudem, em seu livro “Feminismo Evangélico: Um novo caminho para o
liberalismo”, nos chama a atenção para o fato do feminismo evangélico ter se
tornado uma brecha para o liberalismo teológico. (GRUDEM, 2009, p.15) E é fácil
perceber porque o igualitarismo conduz ao liberalismo: “A ordenação das
mulheres requer o desenvolvimento de uma nova teologia, de uma nova visão sobre
Deus, sobre a Bíblia, o culto e o mundo. A teologia deve se redefinir,
alinhando-se com o ponto de vista feminino.” (LOPES, 2014).
Com
isso, a autoridade bíblica fica enfraquecida e relativizada para atender uma
causa ao invés de mostrar a verdadeira Revelação divina. É verdade que nem
todos aqueles favoráveis a ordenação feminina sejam liberais. Mas independente
disto, a ordenação feminina força a interpretação de textos bíblicos e abrem
precedente para questionamentos posteriores. Tokashiki (2017) afirma que a
Hermenêutica Feminista é resultado do abandono da autoridade final da
Escritura. Pra ele, “A Teologia Feminista é um ramo dentro da conhecida
Teologia da Libertação.” Veja como Tokashiki (2017) define a leitura feminista
das Escrituras:
A interpretação
feminista das Escrituras tem o seu ponto de partida num dos seus pressupostos
básicos: a teologia deve fundamentar-se sobre a análise da realidade
sociopolítica. Ela não começa com o texto e contexto da Escritura Sagrada, mas
com o contexto social da mulher, como sendo oprimida numa sociedade de
cosmovisão machista.
Isso
evidencia o fato de que o feminismo não parte do princípio que a Bíblia é a
Palavra de Deus inspirada para assim interpretá-la, mas abraçam o subjetivismo
sob a óptica do oprimido montar todo o seu sistema interpretativo. Tokashiki (2017)
ainda afirma: “Na nova hermenêutica a interpretação e sistematização do ensino
não é algo extraído das Escrituras, mas da experiência subjetiva do intérprete
que impõe sobre o texto sagrado a sua opinião.”
Com tal
ponto de vista hermenêutico fica fácil entender o que Grudem (2009, p.26, 27)
aponta: “Se olharmos para as denominações que aprovaram a ordenação de
mulheres, de 1956 a 1976, vamos descobrir que algumas delas, [...] têm grandes
contingentes pressionando para a aprovação da conduta homossexual [...] e a
aprovação da ordenação de homossexuais.”
Para este autor existe um caminho obvio traçado por aqueles que
abandonam a visão Reformada das Escrituras:
1 deixar de crer na
inerrância da Bíblia;
2 aprovar a
ordenação de mulheres;
3 abandonar os
ensinos da Bíblia sobre o homem como cabeça no casamento;
4 excluir os
clérigos que se opõem à ordenação de mulheres;
5 aprovar o
comportamento homossexual como moralmente válido em alguns casos;
6 aprovar a
ordenação de homossexuais;
7 ordenação de homossexuais
para posições de alta liderança na denominação; (GRUDEM, 2009, p.27)
Depois
de compreendermos as implicações do feminismo em relação às Escrituras,
especialmente sua relativização e o comprometimento desta como inerrante
Palavra de Deus, há outros sérios problemas causados pelo feminismo dentro da
igreja e das famílias que a compõe.
No campo teológico, a identidade de Deus Pai e de seu Filho, Jesus Cristo são atacadas. John M. Frame, no artigo Deus e Gênero: Macho e Fêmea, apresenta uma discussão levantada por feministas, as quais advogam que também devemos atribuir a Deus gênero feminino. Depois de expor os argumentos feministas, Frame os refuta de uma clara e objetiva perspectiva reformada. Mas ele não é o único a apresentar e tratar deste problema. Wayne Grudem também aponta o fato de que igualitaristas tendem a obscurecer e negar a identidade de Deus como Pai, chamando-o de mãe. Nesse interim, ele explica: “Chamar Deus de ‘Mãe’ é mudar a descrição que o próprio Deus faz de si na Bíblia. É chamar Deus por um nome que ele não tomou para si.” (GRUDEM, 2009, p.197). Todavia isso não é problema para as teólogas do feminismo. Pois, em última análise, isso não passa de uma construção social machista e precisa ser mudada. Assim, Grudem fecha essa questão dizendo:
O igualitarismo leva
à abolição de qualquer coisa distintamente masculina. Um Adão andrógino. Um
Jesus cuja masculinidade não é importante – apenas sua ‘humanidade’. Um Deus
que é ao mesmo tempo Pai e Mãe, e então um Deus que é Mãe, mas não pode ser
chamado de Pai. (GRUDEM, 2009, p.198)
Lopes
(2014) nos mostra o quão longe a audácia feminista pode chegar, e os absurdos
que são capazes de produzir a partir de uma hermenêutica fraudulenta:
O passo mais ousado dado pelo movimento feminista cristão
radical foi a "reinvenção de Deus". Mais de 800 feministas, gays e
lésbicas do mundo inteiro reuniram-se nos Estados Unidos em 1998 num Congresso
chamado Reimaginando Deus. Os participantes chegaram a conclusões tremendas: o
verdadeiro deus de Israel era uma deusa chamada Sofia, que os autores
masculinos transformaram no deus masculino Javé, homem de guerra. Jesus Cristo
não era Deus, mas era a encarnação desta deusa Sofia, que é a personificação da
sabedoria feminina. Esta deusa pode ser encontrada dentro de qualquer mulher e
é identificada com o ego feminino. No Congresso celebraram uma “Ceia” onde o
pão e o vinho foram substituídos por leite e mel, e conclamaram as igrejas
tradicionais a pedir perdão por terem se referido a Deus sempre no masculino.
Amaldiçoaram os que são contra o aborto e abençoaram os que defendem os gays e
as lésbicas.
Se o
próprio Deus é alvo da Revolução feminista, o que resta para os homens? Vimos
anteriormente que o patriarcado é um dos grandes alvos do feminismo. Isso não é
diferente dentro da igreja e nas famílias que a compõe. Para as feministas
cristãs, as mulheres são melhores e mais aptas para o governo da igreja, bem
como dos lares. Como isso, negam o ensino bíblico basilar da complementação
entre os sexos.
No
artigo com o título de “Irremediavelmente Patriarcal”, Steve M. Schlissel
defende que “Qualquer tentativa de abandonar o governo dos homens precisa
começar com a renúncia do governo de Deus, isto é, a Santa Bíblia.” Pois é o
próprio Deus que se revelou assim e usou o homem como cabeça. Ele ainda diz:
[...] as feministas estão certas quando reconhecem que a
Bíblia é irremediavelmente patriarcal, pois nela encontramos que os homens são
nomeados presbíteros (sem exceção), juízes (com uma exceção interessante),
profetas (com poucas exceções), sacerdotes e apóstolos (sem exceções). Além
disso, tentar encontrar uma anja se manifestando de forma feminina é procurar
em vão. (Schlissel)
Concordamos
com este autor e precisamos ser categóricos em afirmar que foi Deus que criou o
homem e a mulher, iguais em dignidade e no sentido de ambos portarem a imagem de
Deus. Todavia, eles possuem papeis diferentes, não estamos falando de
competências, mas de papeis a serem desempenhados. “Deus criou os homens para
serem cabeças pactuais. A rejeição do patriarcalismo exige a rejeição da Bíblia
e do Deus da Bíblia. Aceitar a Bíblia requer aceitar o patriarcalismo. Não é
possível interpretar de qualquer outra maneira.” (SCHLISSEL).
Referências
BAUCHAM, Voddie Jr. As Consequências
do Feminismo. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2013/06/as-consequencias-do-feminismo.html
CAMARGO, Edson. De Machorras
Militantes e Mal-amadas no mercado. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/09/de-machorras-militantes-e-mal-amadas-no.html
CAMARGO, Edson. De Volta ao Lar, De
Volta a Realidade. Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/09/de-volta-ao-lar-de-volta-realidade.html
EINWECHTER, William. A Feminização da
Família. Disponível em:
http://bereianos.blogspot.com.br/2013/12/a-feminizacao-da-familia.html
FRAME, John M. Deus e o Gênero: Macho
e Fêmea. Disponível em:
http://bereianos.blogspot.com.br/2014/12/deus-e-o-genero-macho-e-femea.html
GRUDEM, Wayne. Confrontado o Feminismo
Evangélico: Respostas Bíblicas para perguntas cruciais. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009. 336p.
GRUDEM, Wayne. O Feminismo Evangélico:
Um novo caminho para o liberalismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 256p.
JONES, Peter. A Ameaça Pagã:
Velhas heresias para uma nova era. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 394p.
LOPES,
Augustus Nicodemus. O Feminismo Cristão: Como tudo começou. Disponível
em:
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2014/05/o-feminismo-cristao-como-tudo-comecou.html
MAcCULLEY, Carolyn. Feminilidade
Radical: Fé Feminina em um mundo feminista. São José dos Campos: FIEL,
2017. 362p.
OLIVETTI, Odayr. A Bíblia é Machista?
Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2013/09/a-biblia-e-machista.html
PIPER, John. Deus Criou o ser humano
homem e mulher: o que significa ser complementarista? Disponível em: http://bereianos.blogspot.com.br/2014/11/deus-criou-o-ser-humano-homem-e-mulher.html
PRIDE, Mary. De Volta ao Lar. São
Paulo: Edições Cristãs, 2004. 199p.
SCHLISSEL,
Steve M. Irremediavelmente Patriarcal. Disponível em:
http://monergismo.com/steve-schlissel/irremediavelmente-patriarcal/
TOKASHIKI, Ewerton B. Uma Crítica à
Hermenêutica Feminista. Disponível em:
http://bereianos.blogspot.com.br/2017/01/uma-critica-hermeneutica-feminista.html
AUTOR: Rev. Vanderson Scherre - Integrante da Equipe do Ministério Cristão Apologético
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