Por Paulo Henrique dos Santos
O nome Calvinismo*
tem ganhado nas últimas décadas uma posição de destaque no meio evangélico
brasileiro, seja entre aqueles que vieram a se identificar com ele ou entre
aqueles que não se identificam, o Calvinismo tem ganhado um espaço que abrange
desde o meio acadêmico, chegando até as rodas de conversas entre cristãos em
suas igrejas.
No
entanto, qual a essência do Calvinismo? Acredito que se
perguntássemos nos seminários, faculdades, igrejas e nas ruas a respeito dessa
questão, iríamos obter respostas bem diferentes. A identificação de algumas
pessoas como sendo calvinistas normalmente é uma identificação reducionista,
que se restringe a apenas um dos aspectos do calvinismo. Certa vez Charles
Spurgeon disse:
“Não há nada sobre o que
o homem precisa ser mais instruído do que sobre a verdadeira natureza do
Calvinismo”. Assim, quer seja você um calvinista, um não calvinista, ou até
mesmo um anticalvinista, você precisa dar uma atenção justa a questão sobre o
que é a essência do Calvinismo.
O
PRINCIPIO BÁSICO DO CALVINISMO
Devemos iniciar
dizendo que a teologia calvinista inclui todas as doutrinas evangélicas
essenciais, tais como a deidade de Cristo, a expiação objetiva, a pessoa e a
obra do Espírito Santo, enganam-se aqueles que pensam que o Calvinismo se
resume a área da soteriologia com os famosos cinco pontos do Calvinismo, pois
na verdade ele entra em muitas
outras áreas, inclusive tendo forte influência na visão de mundo por parte do
calvinista.
Também inclui
muitas doutrinas desenvolvidas por grandes teólogos como Agostinho e Martinho
Lutero, mas o Calvinismo herda seu nome do grande teólogo francês João Calvino.
Deve-se, porém, fazer um parêntese aqui para a seguinte questão, é um erro
achar que o Calvinismo é apenas uma reunião de ensinos feita por João Calvino,
das obras dos teólogos que o antecederam, Calvino foi um gênio na organização e
sistematização de doutrinas bíblicas, sua divida para com seus antecessores não
deprecia a sua originalidade, evidenciada em sua doutrina da filiação divina,
ênfase na humanidade do Redentor, o ofício tríplice de Cristo, em sua
explanação do culto ser baseado no segundo mandamento etc.
Ao mesmo tempo
deve se evitar o erro de se dizer que o calvinista é um adorador de Calvino ou que
o tem como alguém inspirado e infalível, ou quaisquer outras coisas semelhantes
a essa, pois o próprio Calvino nunca manifestou qualquer intenção de possuir
seu nome ligado a discípulos ou a teologia.
Os calvinistas ao longo da história não se
portaram como meros imitadores de Calvino, muito pelo contrário, esses
trabalharam, por exemplo, no desenvolvimento da teologia do pacto, da teologia
dos decretos e na doutrina da segurança da fé. Por isso apesar da contribuição
de diversas correntes, o Calvinismo pode ser bem definido como “O mais amplo e
o mais profundo cristianismo, ou o mais consistente e, igualmente, o mais
harmonioso cristianismo”. Citamos novamente o batista Charles Spurgeon que
certa vez disse: “
Eu não acredito que
seja possível pregar a Cristo, e esse crucificado, a menos que estejamos
pregando o que é hoje conhecido como Calvinismo, o Calvinismo é só um apelido,
pois na verdade ele é o evangelho e nada mais”.
Através dos
séculos muitos eruditos têm procurado identificar um conceito singular que
governa o Calvinismo, algumas interpretações do princípio básico do Calvinismo
incluem, por exemplo, a predestinação e o pacto, no entanto, se temos que
reduzir o Calvinismo a um conceito, acredito que podemos utilizar as palavras
de B.B Warfield que disse: ”Ser reformado/calvinista
é ser teocêntrico”. O que será que isso significa?
TEOCENTRISMO
O calvinista é
aquele que crê que o Deus revelado na Escritura é o Senhor da vida e Soberano
no universo, isso é diferente da visão de muitos irmãos não calvinistas sobre a
Soberania divina. Falar de um Deus Soberano no meio evangélico é falar de algo
que todos aceitarão, mas o que se tem visto é que essa soberania engloba apenas
alguns aspectos, ou seja, Deus é soberano para nos abençoar, para abrir portas,
para curar, mas quando se fala de uma soberania que abrange toda a salvação
humana, todas as decisões humanas e todos os acontecimentos do universo,
veremos então que para a grande maioria no meio evangélico, a soberania que
Deus exerce é limitada por causas externas a ele.
Portanto, o
interesse primário da teologia calvinista é o Deus Trino, os calvinistas são
aqueles que vêem a vida toda “Coram Deo”,
ou seja, uma vida vivida diante da face de Deus. Ser calvinista significa
enfatizar o abrangente, soberano e amoroso senhorio de Deus sobre todas as
coisas, enfatizar um Deus que é livre e independente de qualquer força externa
(Dn 4.35), um Deus que sabe o fim desde o princípio (ISA 46: 9-10), que não
somente criou, mas também sustenta toda a criação (Cl 1. 16-17), que governa e
dirige todas as coisas para sua própria glória (Rm 11.36), um Deus que deve ser
amado, adorado, temido, glorificado por toda a criação (1 Co 10.31).
R.C Sproul concorda coma definição citada
acima dizendo: “
A doutrina de um Deus
Soberano e amoroso em Jesus Cristo é o centro da teologia calvinista, pois
através desse entendimento nós podemos entender a natureza do homem, que porta
a imagem de Deus, a natureza de Cristo, que age para satisfazer o Pai, a
natureza da salvação, que é realizada por Deus, e a natureza da ética, cujas
normas estão baseadas no caráter de Deus, e ainda muitas outras considerações
teológicas.”
Dessa forma,
podemos então dizer que o calvinista define toda doutrina de uma maneira
centrada em Deus, o pecado é terrível porque é uma ofensa contra Deus, a
salvação é maravilhosa porque traz glória a Deus, o céu é glorioso porque é o
lugar em que Deus é tudo em todos, o inferno é terrível porque é o lugar onde
Deus manifesta sua ira justa, ou seja, Deus está no centro de todas essas coisas.
CONCLUSÃO
Com o aumento do
interesse pelo Calvinismo torna-se necessário um melhor conhecimento a respeito
dele, não devemos achar que conhecer os cinco pontos faz de alguém um
calvinista ou reformado, pois a teologia calvinista vai muito além disso. A
centralidade de Deus tem sido considerada como a essência do calvinismo, para o
calvinista Deus é o grande sol, e todas as outras bênçãos são raios de luz,
Deus é a fonte, e todas as bênçãos são apenas correntes de água.
Infelizmente, nos
dias atuais essa paixão pela centralidade de Deus na teologia e na vida tem
sido deixada de lado até mesmo dentro de igrejas Reformadas, muitos púlpitos
passaram a centralizar o homem, muitos cristãos passaram a colocar seus
interesses acima de tudo. Que o nascimento desse interesse pelo Calvinismo seja
aproveitado principalmente pelas igrejas Reformadas, e que Deus volte a ocupar
o lugar que lhe é devido, o centro.
REFERÊNCIAS
Joel Beeke,
Vivendo para a glória de Deus.
Charles Spurgeon,
Verdades chamadas Calvinistas.
*Embora
seja melhor dizer “Reformados”, mas para efeitos da identificação do uso,
prosseguimos com o termo em mira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário