O sistema de interpretação que
nega corretamente o milênio* dispensacionalista e clássico, chamado de Amilenista+, geralmente, segue uma
divisão do livro do Apocalipse chamada de Paralelismo
Progressivo (Mais que Vencedores, pp. 47-49, William Hendriksen; Comentário
do Novo Testamento, Apocalipse, p 21,22, Simon Kistemaker; A Bíblia e o Futuro,
p. 263-267, Antony Hoekema). Isso torna o Amilenismo possível dentro do
esquema. Depois de apresentar o Paralelismo Progressivo, Hoekema afirma:
“Agora
estamos prontos para a interpretação do Apocalipse 2.1-6 [...]” (A Bíblia e o
Futuro, p.267).
Deve ser dito também que a
abordagem pós-milenista de Apocalipse 20 é a mesma dos amilenistas, porém, com um detalhe diferente significativo.
A ressurreição de Ap 20.4,5 segundo os pós-milenistas da atualidade é a
regeneração, que há razoável base bíblica, quando os amilenistas produzem um ‘neologismo
teológico’ chamando o estado intermediário de “ressurreição” ( A Ilusão Pré-Milenista, pp. 31-56; O Milênio - 3 pontos de vista pp.48-50).
A interpretação Amilenista do
Apocalipse não raro faz uso das quatro escolas de interpretação apocalíptica
(Escatologia do Novo Testamento, p. 52), sendo a idealista de maneira mais
geral, e a preterista, futurista e historicista em outros pontos. Uma
combinação das ideias gerais, leva os Amilenistas fazerem uma boa aplicação dos
princípios do livro na vida e esperança
cristã, ao passo que o gênero literário do livro é estritamente respeitado,
em seus símbolos.
No referido Paralelismo Progressivo, recurso hermenêutico canônico de vários amilenistas, afirma-se que em cada paralelo entre
os blocos, a próxima sessão avança mais no esclarecimentos de aspectos que não
foram expandidos no bloco anterior. Embora essa divisão seja arbitrária e não
resiste a testes minuciosos, ainda assim há uma satisfatória aceitação dessa
divisão, pois de fato, podemos perceber, sem sermos dogmáticos, paralelos
nas visões de João registradas no livro.
Considerando os acertos do
sistema, e levando em conta a minha consideração por essa forma de interpretar,
penso que um pequeno reajuste no fim de um do bloco pode resolver
definitivamente um impasse hermenêutico do sistema Amilenista, que é o fluxo de Apocalipse 19 para o 20. Os
Amilenistas sugerem como base a semelhança dos blocos que compreendem o
capítulo 11 para o capítulo 12 – onde o fim do mundo é posto no fim do capítulo
11 e há um retorno ao ministério de Cristo no capítulo 12, assim também seria o
caso, segundo eles do sexto bloco, isto é, os capítulos 19 para o 20 (Não me deterei nas impossibilidades disso
agora, mas muitos sabem que é uma maiores fraquezas do sistema Amilenista, tal
porção, dado as evidencias claras da continuidade da visão iniciada em Ap 19.11).
Pensemos na possibilidade de
terminar o penúltimo bloco não em Apocalipse 19.21 mas em Ap 20.15?!
Estenderíamos assim todos os eventos do
capítulo 20 no desdobrar do “último dia” [que sabemos, não é mais um dia, é o
Grande Dia do Juízo]. Levando em conta o progresso de alguns paralelos,
teríamos assim, mais detalhes do reinado dos santos e da participação deles no
último dia, conforme ensinado em toda Bíblia, chamado de mil anos.
Em uma referência bem limitada,
já houve quem fez essa associação semelhante, embora seja pré-milenista:
“Robert
Wall vê 19.11-20.15 como um grupo de visões que descrevem “um único evento
concluindo com o estabelecimento da comunidade escatológica no jardim cidade de
Deus””(O Milênio – 3 pontos de vista, p. 188).
Será que essa suposição não teria
base alguma em outro paralelo em Apocalipse? Sim, com certeza! Olhe os
capítulos 6º e 7º de Apocalipse. No fim do sexto capítulo, com a abertura do
sexto selo, temos um paralelo aos eventos de Apocalipse 19.11-21, isto é – a volta de Cristo e o julgamento.
Perceba que no próximo capítulo temos a informação da igreja, dos santos
naquele período e logo após no céu (144 mil e a grande multidão diante de Deus
e do Cordeiro). O que ocorre também em Apocalipse 20 – os santos passam a
reinar com Cristo.
Se os Amilenistas, nos quais eu
caminho partes do trajeto hermenêutico apocalíptico, mas sem nenhuma possibilidade de prosseguir no ponto em questão, olhassem para o último dia;
como iniciado em Apocalipse 19.11 e findando em Apocalipse 20.15 – fazendo uma
comparação com Mateus 25.31-46, teria um maior êxito na exposição, e
provavelmente, e a leitura do Apocalipse 20 teria uma leitura mais natural,
dentro do simbolismo do livro.
... para pensar e refletir.
Deus nos ilumine.
* Pelo menos corretamente ao
negar a natureza do milênio que esses apresentam, mas ficando na mesma situação
por oferecer uma alternativa também errada, mas obviamente, não com as heresias
dispensacionalistas, em meu ponto de vista.
+
Ninguém nega
o milênio, o que existe são interpretações a respeito
que são auto excludentes, daí a ideia de chamar alguns de Amilenistas ser uma
nomenclatura infeliz, pois, em um sentido pleno, todo Amilenista crê no milênio
sendo realizado agora, e portanto, Cristo voltando depois. Nesse sentido, o
Amilenista também é Pósmilenista.
Luciano, em escatologia eu ainda não tenho uma posição muito clara. Confesso que tenho uma inclinação para a visão pré-milenista histórica, a visão adotada por Dr. Russel Shed. Sou presbiteriano e amo a teologia reformada, mas confesso que tenho muita dificuldade com o Amilenismo. Me chama a atenção o fato de os primeiros pais da igreja terem sido pré-milenistas. No entanto, também percebo algumas fraquezas no pré-milenismo. Se o pré-milenismo histórico estiver correto, então Jesus não pode voltar a qualquer momento, pois ainda teremos a Grande Tribulação e só depois o Senhor virá. A vantagem do Amilenismo é que nesse sistema escatológico, o Senhor pode voltar a qualquer momento. Mesmo assim, algumas coisas no Amilenismo não me convencem. Já o dispensacionalismo, eu rejeito totalmente e até acho estranho que alguns pastores reformados sejam dispensacionalistas. Gostaria de saber, Luciano, se na sua opinião, o pré-milenismo histórico também é incompatível com a teologia reformada. Vou continuar estudando o assunto com cuidado. Aguardo resposta. Deus contine abençoando teu ministério, meu irmão.
ResponderExcluirO pré-milenismo histórico ainda se apega a alguns erros, mas tratando-se de Ap 20, ele se sai melhor... não sei mesmo se seria incompatível com o esquema reformado. Acho que não... em certo sentido eu procuro na postagem superar o problema.
ResponderExcluirSalve Luciano, tudo bem? Estou participando (como aluno) com meu amigo Rev Israel Sifoleli de uma série acerca de escatologia reformada que ele está realizando aos domingos pela manhã em sua igreja a 2ª IPB Ermelino Matarazzo.
ResponderExcluirTem sido muito bacana. Eu conhecia pouco da linha amilenista e até então eu tinha pouco a dizer sobre o assunto, exatamente por ter no passado adotado outras linhas de escatologia (tinha percepções mais dispensacionalistas a princípio, devido a formação do seminário em que estudei - depois me tornei adventista e fiquei com a escatologia "própria denominacional" - mas atualmente estou passando por uma mudança), tem sido uma benção participar com eles do estudo onde utilizam os autores Grant Osborne (Comentário sobre apocalipse), e Mais que vencedores do Hendriksen... Grande abraço
Ótimo ! Deus abençoe os estudos para chegar a conclusão única da escatologia - Ele é o Senhor da história.
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