Respondendo ao apologista adventista - Prof. Azenilto G. Brito

 Quando o Leandro Quadros postou a crítica contra a minha palestra no JMC, uma avalanche de adventistas me criticaram de maneira bairrista. Foram na mesma onda do Leandro, sem nem ao menos conferirem várias coisas que o Leandro disse que eu na realidade NÃO disse! Aquela massa de fãs, levada pela euforia de expressar sua admiração por Leandro não me impressiona, nem me preocupa. Porém, ao ver o comentário do Prof. Azenilto Brito, conhecidíssimo apologista adventista* e tradutor de alguns textos da IASD, aí eu resolvi dar uma atenção maior. 

(*Ele escreveu um livro muito conhecido sobre as Testemunhas de Jeová, intitulado: O Desafio da Torre. Que bom seria se ele usasse a mesma força de argumentação contra a falsa profecia de Miller bem como contra o antitrinitarianismo dos pioneiros adventistas! Heresias que o jeovismo tem de sobra.)

Ele comentou o seguinte a respeito da palestra:

“a – Interessante o Ev. Luciano Sena, um presbiteriano, pôr-se a criticar as origens da IASD, quando ele é calvinista, e todos sabem sobre como Calvino, mesmo sendo um homem usado por Deus (como Lutero), teve atitudes incompatíveis com o genuíno cristianismo, sendo extremamente intolerante e ditatorial, e terminando por levar à morte um cientista respeitável e famoso–Miguel de Servet– por pura discordância ideológica. Se Miller cometeu o erro de definir data para a volta de Cristo, pelo menos o seu erro (que foi apenas parcial) não teve consequências tão funestas. Ninguém foi condenado à morte por isso.”

Respondo: A História do Adventismo, traduzido por Azenilto, conta a respeito de pessoas que venderam seus bens, famílias que ficaram desamparadas, por causa da falsa profecia de 1844: 

“Um bom número de mileritas, contudo, não podia ajustar-se facilmente. Eles não mais possuíam casas a que retornar. Haviam vendido suas fazendas e doado o valor à causa.” (p. 35). 

As consequências não foram tão funestas, pelo que sabemos...?

Azenilto diz que Calvino foi usado por Deus (obviamente ele só diz isso porque Ellen White disse!), mas teve atitudes incompatíveis com genuíno cristianismo. O famoso apologista adventista deu a explicação necessária. Enquanto o grosso dos ensinos de Calvino está embasado em uma teologia ortodoxa, ele sucumbiu em erros pessoais, diretos e indiretos, na área teológica também, que apenas prova que ele é pecador tanto quanto os demais (sobre esse caso, veja AQUI). Calvino foi usado por Deus enquanto foi fiel ao Texto do Espírito Santo. No entanto, os erros teológicos não se aproximam do que o pioneirismo adventista propagou, nem mesmo calculou a data da volta de Cristo.

A diferença, para a qual o Prof. Azenildo não atinou, porém, está na mistificação do movimento. Não existe na Confissão de Fé de Westminster, nem em outros padrões Reformados de Teologia (Belga, Heidelberg, Dort), nenhuma afirmação que Calvino, tenha sido foco de crença, ou que as igrejas que surgiram, seja um movimento profético e/ou profetizado, tal como Ellen White assevera de Miller e dos Pioneiros Adventistas.

Ao contrário, a CFW diz: "IV. Esta Igreja Católica tem sido ora mais, ora menos visível. As igrejas particulares, que são membros dela, são mais ou menos puras conforme neles é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto público. Rom. 11:3-4; At. 2:41-42; I Cor. 5:6-7.V. As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo.I Cor. 1:2, e 13:12; Mat. 13:24-30, 47; Rom. 11.20-22; Apoc. 2:9; Mat. 16:18." (XXV)

O presbiterianismo não pode ser ponderado em pessoas, nem em momentos ‘proféticos’, mas em seu escopo confessional*. Qualquer que aderir aos Padrões de Fé Reformados Bíblicos, sistematizados, pode ser considerado Presbiteriano – Calvinista ou Reformado. Portanto, o fato de eu ser calvinista (prefiro que me chamem de Reformado), não compromete a avaliação que fiz do início do movimento adventista, especialmente.

[*Além disso, o sistema de governo não nos unifica internacionalmente. O que  tem a IPB com as seitas presbiterianas apóstatas que sucumbiram ao liberalismo moral e teológico?]

Ele continua: “b – Miller foi um autêntico revivalista e despertou o mundo para uma negligenciada doutrina– a da volta literal de Cristo, enquanto os comentaristas bíblicos e pregadores de seu tempo ensinavam o pós-milenismo, que levava a um total relaxo na preparação para o fim. A teologia prevalecente era de que Cristo voltaria só depois de mil anos de paz e prosperidade. Então, que necessidade haveria para preocupar-se com o fim de todas as coisas? O curioso é que hoje os cristãos conservadores aceitam o pré-milenismo de Miller (e dos adventistas).”

"Autêntico reavivalista"!? Preciso saber então o que é um falso profeta (digo de Miller antes do arrependimento). Um pós-milenista avisou Miller de seus erros, mas o falso profeta não deu ouvidos ao ‘pós-milenista’:

“Vós vos enganastes inteiramente quanto à natureza dos acontecimentos que deveriam ocorrer ao fim destes períodos. Esta a causa primordial da irritação causada por vossas exposições.” (Grande Conflito, p. 696, nota).

Quem é que errou?

Para piorar, o Sr. Azenilto diz que os cristãos de hoje aceitam o pré-milenarismo por influência de Miller e dos adventistas! Papias, e vários dos pais da Igreja, pelo jeito, foram esquecidos por Brito. Sem mencionar ainda os anabatistas e outros grupos que sempre foram pré-milenistas. Nenhuma Confissão de fé protestante histórica mudou.

Na verdade, a aderência ao pré-milenismo em nosso tempo deve-se ao dispensacionalismo de J. N. Darby, e não ao fracassado movimento do Advento, que, aliás, fala-se pouco do que ele, Miller, pregava sobre o Milênio. Acrescento ainda, que desconheço um pré-milenismo com uma Terra sendo moradia exclusiva do diabo.

c – Que bom que ele NÃO NEGA o princípio do sábado, condenando o dispensacionalismo e seu “dianenhumismo”. Parabéns a ele por seu comentário depreciativo a essa filosofia dominante nos meios evangélicos, que inclusive (e ele reconhece) influencia os cristãos históricos, pelo menos nessa questão de ensino de “lei abolida” e “dianenhumismo”. Mas aí a coisa fica fácil, pois “provar” que o domingo tomou o lugar do sábado é IMPOSSÍVEL. E ele reconhece sutilmente essa dificuldade. . .

Que bom que o Sr. Azenilto percebeu e escreveu que reconheço um “princípio do sábado”. A Fé Reformada não é dispensacionalista, e neste ponto, o Adventismo apoia-se em nossa boa e fiel teologia! Essa mesma teologia, no entanto, percebe o progresso da revelação, que incluiu o Domingo no lugar do dia de Sábado, mantendo o princípio, (Confissão de Fé, XXI.vii) mas agora sob a luz litúrgica e salvífica do Novo Testamento, com sua dimensão muito mais abrangente na pessoa de Cristo.

Posso garantir que para manter a teologia reformada a respeito da Lei, deve-se admitir também o Domingo como parte desse sistema, se assim não for, sua alternativa é o dispensacionalismo, ou uma colcha de retalhos. É inútil usar a teologia Reformada para mostrar a permanência da Lei, e excluir desse mesmo sistema a sua perspectiva da substituição do sábado pelo domingo. O sábado só sobrevive no NT sob a sua forma dominical.

d – O sábado é da LEI MORAL, então a comparação com Páscoa e Santa Ceia não é válida. É o 4o. Mandamento, e não há mudança prevista. Cristo estabeleceu a Páscoa, mas não definiu NADA quanto ao tempo em que devia ser celebrada. Os cristãos inicialmente a realizavam junto com os judeus, no mesmo dia, só que com referencial ritual diferente– pão e vinho, em vez de cordeiro pascal e ervas amargas. Como não há definição quanto ao dia, por Cristo, isso chega a ser significativo, pois se Jesus se preocupasse com um dia supostamente a ser mudado, diria para fazerem isso num “Domingo de Páscoa”, o que Ele não disse.

O professor Azenilto, como não tem um texto de transição, diante do emaranhado que o Nisto Cremos o colocou, não conseguiu responder. Obvio que o sábado era moral (e também cerimonial, mas isso não vem ao caso agora), mas nem por isso a comparação de substituição não é válida. Comparei o processo de substituição ‘silenciosa’ de ambos os casos.

Portanto, qual texto bíblico mostra que a Santa Ceia substituiu a Páscoa? Silêncio...

e – O que Ele disse é que “o sábado foi feito por causa do homem”, sendo esse “homem” ‘anthropós’ no grego–o que indica o homem universal, não o mero homem judaico. Que bom que Sena acentua ao final que não há como argumentar que é UM sétimo dia, e sim O sétimo dia que deve ser observado, só que tentando canhestramente substituir o sábado pelo domingo.

f – O primeiro dia da semana, em grego, é ‘mía twn sabbatwn’, que pode ser traduzido como “o primeiro a partir do sábado”. João escreveu 60 ANOS DEPOIS da Ressurreição, e se esse dia tivesse qualquer título especial, seria tratado por João de modo diferente (ver João 20:1, 19). Por que João NÃO FALA que era o “dia do Senhor”, ou algo semelhante?

Eu aprendi que argumentos baseados no silêncio podem ser silenciosamente descartados! Na realidade, Brito não atentou que João falou isso por volta de 90 AD no livro do Apocalipse (1.10). Ademais, se esqueceu de que João está dando um relato histórico de uns sessenta anos antes, e obviamente, nem sempre anacronismos seriam usados.

Azenilto não tocou no assunto nevrálgico da minha acusação, a saber: o adventismo vê o sábado como um sinal escatológico salvífico. Esse é o ponto que temos acusado o adventismo de herético no que diz respeito ao sábado. Como diz o livro que ele traduziu:

“Desde 22 de outubro de 1844 Jesus, no lugar santíssimo, tem chamado a atenção para o sábado, não simplesmente porque é o sétimo dia, mas porque representa um modo único e cristão de vida, o critério final que separa o bem do mal nos últimos dias.” (História do Adventismo, p.282).

A salvação nos últimos dias será a mesma dos primeiros dias, a graça de Deus em Cristo Jesus (Jo 3.36; Ef 2.8; Ap 7.14).

g – Sena também admite que esse “relaxo” na guarda do domingo não é atitude correta, mas não há o que fazer ele como que ‘entrega os pontos’ diante da situação real de que os protestantes/evangélicos não sabem o que fazer com o princípio do sábado, pois embora OFICIALMENTE nos seus documentos confessionais saibam que devem dedicar o dia “ao Senhor”, sem atividades seculares ou recreativas, na prática não levam a sério isso. Que jovem presbiteriano, batista, metodista, ou mesmo assembleiano, deixará de acompanhar os esportes na TV no “dia do Senhor” por escrúpulos religosos? Isso se dá porque sabem que a teoria de o domingo ser o “dia do Senhor”, devendo ser-lhe integralmente dedicado, não conta com real fundamentação bíblica.

Isso apenas depõe contra nós presbiterianos. A desobediência não é prova bíblica de que tal doutrina está errada.

Nossas igrejas não são evangelizadoras como deveriam ser, portanto o Ide está errado? Claro que Brito não chegaria a essa conclusão. O problema de nossa falta de exatidão na obediência é algo que deverá ser trabalhado. Se não, estaremos em falha com esse preceito do NT – dedicar aquilo que é DO Senhor (Ap 1.10).

“h – É uma distorção dizer que nós cremos que o diabo participa da expiação. Errado, e há autoridades várias que entendem que Azazel (o outro bode) era símbolo de Satanás. Mas isso o irmão Leandro Quadro se encarregou de refutar muito bem.”

Espante-me que até mesmo o Sr. Brito caiu nessa falta de atenção de Leandro Quadros. Eu até esperava isso dos fãs dele, da equipe na Mira da Verdade e do Tito por exemplo, mas não de Azenilto, por quem tenho admiração. Eu não disse aquilo, e mesmo antes (04/2012), já postei algo no blog nos seguintes dizeres: 

"Muitos apologistas e teólogos acusam o Adventismo de fazer de Satanás um co-redentor. Precisamos ser bem honestos que essa é uma conclusão inevitável se levarmos em conta a Teologia Cristã, em seus postulados teológicos, bíblicos históricos e protestantes. Visto que os Adventistas não dizem isso, pois tratam da questão em ‘outro’ ângulo, devemos deixar bem claro que é um erro de princípio interpretativo. Eles não confessam isso: ‘Satanás é um redentor com Cristo’. Mas é só isso que a Igreja Adventista não faz... dizer! (AQUI)

“i – Sobre Ellen White, é importante acentuar como ela não se cansa de recomendar que tenhamos a Bíblia e a Bíblia só como regra de fé e prática. Então, dizer que somos “seguidores de Ellen White” nesse ponto é ótimo, pois ela nos remete à Bíblia continuamente em seus vários escritos. As citações onde ela dá esse destaque às Escrituras nunca são citadas pelo oponentes de nossa fé.”

Católicos também dizem que Maria mandou seguir Jesus! Seria um comportamento suicida  se Ellen White não ‘recomendasse’ a Bíblia. Poucos hereges não fazem isso... Porém, o fato de que muitas interpretações bíblicas serem decididas, canonizadas, aos tramites visionários de Ellen White, é uma clara evidencia que os senhores adventistas a seguem qual profetisa mística. Vou mostrar alguns exemplos no livro História do Adventismo, que o próprio Azenilto traduziu em 1982:

“Preferindo testemunhar pelo exemplo, Bates pouco disse a respeito de seu regime alimentar em público, até que Ellen White recebesse uma visão sobre reforma de saúde, em 1863. Após isso ele passou a falar mais livremente sobre o assunto. (P. 83)

“Sua descoberta foi confirmada pelas visões de Ellen White de 6 de março e 3 de abril de 1847.”(p. 93)

“Descobriram, de fato, que o selo de Deus é o sábado, apropriadamente observado pela fé em Jesus. E essa interpretação deles foi confirmada por exaustivo estudo da Bíblia e por uma ou mais visões dadas a Ellen White.” (p. 94).

“O próprio papel de Ellen White era limitado, mas valioso. “Quando chegavam ao ponto em seu em que diziam: ‘Nada mais podemos fazer’, o Espírito do Senhor vinha sobre mim”, ela recorda, “eu era tomada em visão, e uma clara explanação das passagens que tínhamos estado estudando me era dada, com instrução de como devíamos trabalhar e ensinar eficazmente.” Os irmãos imediatamente procuravam suas sugestões em suas Bíblias e concordâncias e ficavam impressionados em descobrir que realmente se tornavam claros os pontos em análise. Essas contribuições de Ellen White pareciam particularmente impressionantes porque “os irmãos sabiam que quando não em visão”, ela nos diz, “eu não podia entender esses assuntos”. O esboço geral era suficientemente claro, por certo. Mas muitas vezes ela não podia entender os textos bíblicos ou os ardorosos raciocínios que os irmãos utilizavam para apoiar seus vários pontos de vista.” (p. 98,99).

Acho que isso é suficiente...

“j – O tal ‘tópico 18′ acentuado por Sena NÃO DIZ que devemos crer em Ellen White, como pessoa, e sim na MENSAGEM que Deus por meio dela nos transmitiu. Então, ele distorce ao dizer que temos de crer numa pessoa, quando o nome dela apenas vem à tona como aquela que TEM o espírito de profecia (não que É o espírito de profecia, como alguns desonestamente dizem).”

E esta mensagem está com quem? E onde, exclusivamente, tem manifestado o tal espírito de profecia, A Mensagem para a Igreja Remanescente, além dos escritos de Ellen White? O nome dela surge por que ela é exclusivamente a portadora de tal mensagem, segundo vocês. Logo, Sr. Azeninto, você tem um nome pessoal para identificar essa mensagem, Ellen White!

“Seriam apenas estes comentários que teria a apresentar, que somados aos que o irmão Leandro Quadros muito bem apresenta, além do que outros também disseram acima, é suficiente para mostrar como o Ev. Sena não tem nada a nos oferecer para ensino da verdade. Lamentavelmente sua exposição reflete mais uma vez a triste somatória de DESINFORMAÇÃO + PRECONCEITO. Já vimos esse filme antes, e muitas vezes. . .”

Quem oferecerá algo a um grupo que considera-se DONO da verdade?! ... quem convencido está disso, só olhará para outros como ‘mentirosos’, o que seria uma conclusão obvia!!! Já vi também este filme em outros lugares...

Deus te abençoe e te fortaleça em Cristo.