O excelente Manual Bíblico de Halley, nas páginas 394 a 405
oferece uma lista de profecias messiânicas no VT. No manual de Halley, alguns textos não parecem, pelo menos para mim, ter uma clara predição messiânica. Outros, no entanto, são claramente uma profecia messiânica. Nesta postagem irei fazer algumas observações naquilo que o Manual aponta como profecias messiânicas em Gênesis (Veja AQUI uma elucidação sobre Tipos e Profecias). Em postagens futuras, continuarei a avaliação da lista.
O livro de Gênesis é um livro repleto
de predições e acontecimentos que tipificaram a vinda salvadora do Redentor da
humanidade. A Bíblia de Estudo de Genebra, página 7 diz: “As ousadas profecias e os sutis tipos em Gênesis mostram que Deus
estava escrevendo uma história que se completaria com Jesus.”
Tomando o devido cuidado para não ultrapassar
os limites da tipologia, a adentrar no campo perigoso e místico das alegorias
(mesmo que algumas são legítimas), é possível ver um quadro amplo sobre a
redenção bem cedo na história bíblica.
1) Adão: Indicar Adão como um tipo de Cristo no AT
pode parecer estranho para o leitor judaico, mas é um tipo legítimo para os cristãos. Um autor cristão inspirado por Deus, em 1 Co 15.45 diz que
Jesus é um segundo Adão. Em Rm 5.12 fica evidente qual é o princípio
tipológico. Adão representou um grupo
de homens diante de Deus. E por seu erro esse grupo recebe punição assim como
ele. Cristo, por sua vez, representa também um grupo de pessoas diante de Deus.
E por sua obediência recebe por eles a aprovação graciosa de Deus. A vida
eterna. Deus prefigurou a salvação no Éden, onde se
encontrava a árvore da vida.
3) Gênesis 3.15: Essa é uma passagem que historicamente é
considerada o proto evangelho (ou primeiro evangelho). Se essa interpretação
da igreja estiver certa, o próprio Deus já antecipa a obra redentora do Messias
logo após a queda.
Porém, não
existe evidencia clara no texto de quem é que se fala. Quem é esse descendente
que esmagará a cabeça da serpente, quando Deus está falando com Eva e o diabo
(a serpente)? Uma leitura simples levaria a conclusão que algum filho direto de
Eva esmagaria a cabeça da serpente. Palmer Robertson indica outras sugestões para
justificar a interpretação da igreja. Entre elas, referências que indicam a
batalha de Cristo e de seus discípulos contra o diabo ([Mt 12..27,28] Rm 16.20;
1 Jo 3.12).
Provavelmente
Apocalipse 12 é a melhor referência no NT que substancia a interpretação
tradicional de Gn 3.15. A passagem lembra que a identidade antiga de Satanás
era a serpente. E em Ap 12 existe uma luta intensa. Onde acontecimentos são bem
parecidos ao que Deus predisse em Gn 3.15. Descendentes, uma mulher e
perseguição.
Esse texto
bíblico recebe atenção especial por essas amplas aplicações e associações com
outras passagens. O contexto, porém, permite que algo inicial teria ligação com
a declaração. Colocar o versículo 15 como uma ilha contextual não é um
procedimento interpretativo seguro, nem correto. Ao adentrar o versículo 16 a atenção de
Deus volta-se para Eva, que era a mulher da cena, e ainda refere-se a dores de
partos para produzir descendentes. Não existe outra referência no contexto de
Gn 3 que leve a uma contemplação futura da vinda do Messias e sua obra
redentora.
O que temos logo em Gn 4.1 é que Eva afirma que produziu um filho
com a ‘ajuda do SENHOR’. Pensou Eva na promessa de um descendente que esmagaria
a serpente, revertendo os efeitos nocivos do pecado? À luz desse contexto, não
seria próprio negar. Uma afirmação que poderá receber critica é que: segundo o
contexto geral bíblico e da percepção da igreja, Gn 3.15 é a primeira profecia
messiânica, sem base estrita no contexto. Entra aqui em cena o sensus plenior.
4) Gn 4.4-7: O objetivo aqui é encontrar um tipo, uma
correspondência da redenção feita por Cristo, pela oferta que Abel sacrificou a
Deus. É muito própria a associação que Halley faz. Mas excluir a oferta de Caim
não é correto. A oferta de sangue que Abel fez, prenunciou sim os sacrifícios
mosaicos posteriores e o do próprio Cristo. Mas a oferta de Caim também pode
ser colocado nessa tipologia (ainda que G. Archer a negue), tendo em vista que
as ofertas agrícolas foram instituídas posteriormente no sistema mosaico de
oferendas. Ademais, o apóstolo Paulo chamou Cristo de ‘primícias’, nomenclatura desse
tipo de oferta (1 Co 15.20,23). Desta maneira, se há algum tipo em Gn 4.4-7,
esse não é propriedade da exclusiva da oferta sangrenta de Abel cruenta, mas também a de Caim.
Como coloca
a Bíblia de Estudo de Genebra, o fato de Deus rejeitar a oferta, talvez seja
que Caim não levou as primícias do fruto da terra. Outros, porém, indicam uma
indisposição para com a graça de Deus por parte de Caim como o motivo da rejeição
divina de sua oferta (Enciclopédia de Temas Bíblicos, p.82).
Em Gn 4.4-7
existe um tipo da redenção de Cristo nos sacrifícios oferecidos a Deus. No caso
da oferta de Abel a oferta de sangue tem uma associação precisa em um sistema que
seria normatizado por Deus e interpretada pelos inspirados escritores bíblicos
do NT, especialmente, como sendo um tipo da morte de Cristo pelos ele.
5) Gn 12.3;
18.18; 22.18: Existe um tipo aqui com base em
Gl 3.16. Uma autorização inspirada para dizer que quando Deus disse 'teu
descendente' para Abraão, Ele pensava não apenas em Israel, mas no próprio
Jesus. A benção aqui, que seria espalhada a todas as nações, era sem duvida
alguma a salvação multinacional em Cristo( Mt 28.19).
No entanto,
algo estava sendo estabelecido nesse contexto. Um modelo salvífico, revelando a
salvação em Cristo no AT. Os leitores imediatos dessa promessa estariam
conscientes que era entre os descendentes de Abraão que a benção de Deus seria
derramada. A atenção das nações deveria voltar-se a esses futuros descendentes
de Abraão, sendo então desta maneira salvação administrada ordinariamente. A missão era
para o centro da adoração do Deus verdadeiro em Israel (Is 2.1,2).
6) Gn 14.18-20: O
sacerdote Melquisedeque tipificou a Cristo. Um dos três oficios de Cristo é o de sacerdote. O
autor aos Hebreus e o salmista descrevem que esse sacerdote 'enigmático' serviu
de representação do sacerdócio do Messias ( Sl 110.4; Hb 7).
O sacerdote
fazia mediação pelo povo. Conduzia a reconciliação do povo com Deus por meio de
sacrifícios e ofertas. Nada mais próprio que um sacerdote tipificar Cristo e
sua redenção. Sempre que alguém no AT chegava-se diante dum sacerdote, ele
demonstrava incapacidade de aproximar-se aceitavelmente a Deus. O aparecimento súbito, e de igual maneira, seu desaparecimento no relato bíblico, está justamente
posto com Abraão. O 'pai' de todos os que seriam salvos pela fé em Cristo
Jesus. Quando Cristo disse que Abraão viu o Seu dia e alegrou-se, não pode ser dispensada
a possibilidade de que o encontro com Melquisedeque amadureceu a vida espiritual
de Abraão, sendo aquele o tipo de Cristo ( Jo 8.56). Não apenas o
sacerdócio de Melquisedeque, mas também o de Araão tipificaram a redenção de
Cristo.
7) Gn 22.1-19: Quando Abraão tentou oferecer Isaque, talvez algum tipo foi ensaiado ali (nesse caso aproxima-se muito de uma alegoria). Naquele caso de alguma maneira lembra Deus Pai ofertando Seu único Filho a Si mesmo em lugar da Igreja. O principio de associação de termos é muito particular.
Deus entregou seu único Filho(Jo 3.16). Parece que esse lembra aquele quando
Hebreus 11.17 é comparado: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque,
quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu
unigênito.”
Porém, a comparação não tem base em nenhum
escritor direto do NT. E como
observado no inicio, isso não é autorizado, ainda que poderia ser apropriado.
(Podemos pensar no sensus plenior? http://mcapologetico.blogspot.com.br/2013/03/a-salvacao-no-antigo-testamento-tipos-e.html)
8) Gn 49.10,11: Uma profecia que de Judá o reinado não se afastaria. E por este, as nações seriam regidas. Para fazer justiça ao que é predito,
isso é uma garantia que os reis em Israel seriam sempre vindo dessa tribo. (o
caso de Saul é exceção.) Davi era dessa tribo e seus descendentes receberam
garantias que seriam governantes em Judá. As nações estão incluídas aqui. Não
apenas o povo judeu.
A genealogia
de Jesus garante sua linhagem judaica ( Mt 1). Porém, o que fica mais claro
nesse assunto é Ap 5.5. A revelação divina dada ao apóstolo João afirma que
Jesus é o leão da tribo de Judá. Gn 49.9 chama Judá de leão.
Como pensar
em salvação num contexto de realeza? É evidente na Bíblia, como mostra-nos a CFW, quando classifica o Mediador como tendo um ofício de Rei, com base nisso (CFW
cap.VIII,1), um rei teria prerrogativas. Na parábola dos bodes e ovelhas Jesus mostra que ele é Rei( Mt
25:31-46). Pelo que fica posto na parábola, a realeza está associada com
salvação.
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