4. O AUTOR DA RECONCILIAÇÃO – DEUS, O PAI
Ao
discutirmos a autoria da reconciliação devemos voltar os nossos olhos
especialmente para 2ª Coríntios 5.18-21. Lá, o apóstolo Paulo dá uma clara
informação sobre o assunto em questão. Logo no início do verso 18 ele diz que
“Tudo provém de Deus”, esta expressão, por si só, sugere que Deus é a fonte
última da nova vida, o que é observado mais especificamente quando analisamos
esta expressão em conexão com a mensagem do verso 17, que fala dos salvos como
novas criaturas. Contudo, a identidade do Agente da reconciliação torna-se mais
clara na sequência do verso 18, onde ele diz que “Deus ... nos reconciliou
consigo mesmo por meio de Cristo”. Ora, é clara e lógica a referência à
primeira pessoa da Trindade, pois, ao destacar a Segunda Pessoa – Cristo, fica
evidente que o termo Deus não poderia se referir a outro senão ao Pai.
A
mesma idéia é reforçada no verso 19 quando ele diz que “Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo”. Uma clara declaração da autoria da
reconciliação. Ela, portanto, não é uma iniciativa do Filho, nem tampouco, do
homem, mas do Pai e somente do Pai. Veja que Paulo diz que Deus é que estava
reconciliando consigo o mundo.
Em
todas as ocorrências do verbo reconciliar no Novo Testamento Deus é sempre o
sujeito.
5. O AGENTE DA RECONCILIAÇÃO – CRISTO
Um
segundo conceito importante diz respeito ao agente da reconciliação. A
Confissão de Fé de Westminster diz:
O
Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si
mesmo, sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez,
satisfez plenamente à justiça do Pai. e para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu
não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos
Céus.[17]
O
texto da confissão deixa a sugestão de que há uma participação do Filho na obra
de reconciliação. Esta participação está apresentada no texto de Paulo em 2ª
Coríntios 5.18-19. Lá, Paulo diz que Deus nos reconciliou consigo por meio
de Cristo. Isto é, pela instrumentalidade de Jesus.
Stott
diz:
(...)
se Deus é o autor, Cristo é o agente da reconciliação. Os versículos 18
e 19 do capítulo 5 de 2 Coríntios tornam essa verdade clara como o cristal.
"Deus. . . nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo" e
"Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo". Ambas as
afirmativas nos dizem que Deus tomou a iniciativa da reconciliação, e que ele o
fez em Cristo e por meio dele.[18]
A
mesma idéia é fortalecida na argumentação de Calvino, nas suas institutas
quando ele diz:
Ora,
se bem que nesta ruinosa situação do gênero humano já ninguém sentirá a Deus,
seja como Pai, seja como autor da salvação, seja como de
qualquer maneira propício, até que Cristo se interponha como agente
mediador para apaziguá-lo em relação a nós, todavia uma coisa é
sentirmos que Deus, como nosso Criador, nos sustenta com seu poder, nos
governa em sua providência, nos provê em sua bondade e nos cumula
de toda sorte de bênçãos; outra, porém, é abraçarmos a graça da reconciliação que
nos é proposta em Cristo.[19]
(grifo meu)
Deste
modo, fica claro que há uma participação de Cristo no ministério da
reconciliação.
6. OS EMBAIXADORES E O MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO – OS SALVOS
2
Coríntios 5:19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a
palavra (logon) da reconciliação.
As
Escrituras afirmam que aos filhos de Deus foi confiado o anúncio da reconciliação.
Aqui devemos lembrar que embora a obra da reconciliação tenha sido consumada na
cruz é necessário que os pecadores sejam convidados ao arrependimento.[20]
Neste aspecto devemos lembrar que a pregação fiel do evangelho é um convite à
reconciliação do homem com Deus.
Em
2ª Co. 5.18 o apóstolo Paulo diz que recebemos o ministério da reconciliação.
Aqui devemos lembrar que a palavra usada para se referir a ministério é diakonian,
que pode ser traduzida como ministério, ministração ou serviço, podendo
referir-se aqueles que pelo mandato de Deus proclamam e promovem a religião
entre os homens[21].
Segundo
Calvino, a graça da reconciliação é aplicada em nós pelo ministério do
evangelho e isto, de tal modo, que podemos compartilhá-lo.[22]
Mais adiante, no mesmo comentário, falando sobre o ministério da reconciliação
ele escreve:
Esta
é uma das descrições mais notáveis do evangelho como uma mensagem entregue
através de um embaixador com o fim de reconciliar os homens com Deus. É uma
dignidade singular de ministros do evangelho sermos enviados por Deus com um
mandato como mensageiros e, por assim dizer, com a garantia de sua boa vontade
para conosco. (…) Aos ministros é dada a autoridade para nos declararem estas
boas novas e fazer aumentar nossa segurança no amor paternal de Deus para
conosco. É verdade que qualquer outra pessoa pode ser-nos testemunha da graça
de Deus, mas Paulo ensina que este dever é imposto especialmente aos ministros.[23]
Assim,
podemos dizer que o ministério da reconciliação é a declaração, divinamente
autorizada, da obra de Cristo em favor do pecador.
Quando
anunciamos o evangelho anunciamos o ministério da reconciliação. E,
considerando que todos os crentes são comissionados por Deus para anunciar as
virtudes de Jesus, vale reiterar o fato de que todos somos ministros da
reconciliação. Veja o que diz Pedro: 1 Pedro 2:9 Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz;.
Autor: Rev. Cleverson Gilvan
[17]
A Confissão de Fé de Westminster - http://www.teologia.org.br/estudos/confissao_westminster.pdf
acessado em 15 de agosto de 2009
[18]
STOTT, John R. W. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 1996. p. 87
[19]
CALVINO, João. Institución de la Religión Cristiana. 3 ed. Paises Bajos:
Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1986. v.1 pág. 5
[20]
STOTT, John R. W. A cruz de Cristo. São Paulo: Vida, 1996. p. 88
[21]
BÍBLIA ONLINE 2.0. Sociedade Bíblica do Brasil – Software – Strong – verbete
diakonian.
[22]
CALVINO, João. 2 Coríntios. Tradução de Valter Graciano Martins. 1. ed. São
Paulo: Edições Paracletos, 1995. p. 120
[23]
Idem, p.120
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