O artigo adventista
intitulado, Os
Presbiterianos, a Lei e o Sábado, apresenta uma imagem a respeito da
teologia oficial presbiteriana, para que de alguma forma ofereça subsídios para
a defesa adventista a respeito do Sábado. Quero fazer alguns apontamentos a
respeito desse artigo. Apesar de que o sábado se efetivou no Adventismo via
Ellen White e suas visões, vou fazer uma avaliação sobre o artigo
desconsiderando esse fator nevrálgico.
1. O patrono do
presbiterianismo. O autor do texto fala que o Reformador João Calvino, é o
mentor da teologia presbiteriana. Ele, porém, apenas deixou de mencionar que,
em matéria de Sábado, a posição de João Calvino, não foi seguida exatamente pela
teologia puritana, que produziu os Símbolos de Westminster. James M. Boice diz
“Em geral, há três
abordagens para a questão do Sábado. Primeiro, tem sido ensinado por alguns que
os cristãos devem guardar o sábado. Esta é a posição, por exemplo, dos
adventistas do sétimo dia e também de outros. Segundo, há a visão de que o
domingo é equivalente no Novo Testamento ao que é o Sábado no Antigo, e,
portanto, é para ser guardado de maneira similar. A Confissão de Fé de
Westminster chama o Dia do Senhor de Sabbath cristão [...] Terceiro, há a visão
de que o sábado foi abolido pela morte e ressurreição de Jesus, e que um novo
dia, O Dia do Senhor, que tem características próprias, substituiu-o. Essa foi
a visão de Calvino que disse com clareza que “o dia sagrado para os judeus foi
descartado e que outro [dia] foi colocado em seu lugar”. (Fundamentos da Fé Cristã,
p. 203).
No livro Do
Shabbath para o Dia do Senhor capítulo 11, demonstra que esse foi o
fato. Nem Lutero, nem Calvino, defenderam uma postura idêntica daquela
que viera a ser mantida pela Teologia Reformada posterior em seus postulados
confessionais, no tocante ao quarto mandamento, em especial os de Westminster.
Ainda que haja significativa semelhanças.
2. Os Dez Mandamentos –
‘resumidamente compreendida’. O artigo também cita a pergunta do Catecismo Maior
de Wesminster que diz que a Lei Moral está “resumidamente
compreendida” nos Dez Mandamentos. Precisamos qualificar melhor isso. A Lei
Moral encontra um resumo, não seu detalhamento nos Dez Mandamentos.
Possuem uma semente, que se expande em toda Bíblia. Jesus demonstrou isso no
Sermão do Monte (Mt 5.21-32). Creio que uma diferença significativa aqui é que
Adventismo tem um olhar muito místico nas duas tabuas, não seu valor pedagógico
claramente pretendido, conforme advoga a Teologia Reformada. Nas tábuas da Lei
não havia proibição nem punição para a fornicação entre solteiros, mas a lei
exigia o casamento – caso o pai da moça não proibisse. Também, se compararmos a
Lei em Êxodo 20 com Deuteronômio 5, percebe-se diferenças.
Veja um exemplo claro
no Catecismo Maior de como o resumo é detalhado depois com
inúmeras passagens bíblicas e em outras perguntas. Repare bem que a
questão 123 recebe depois outras 10 questões de amparo para
explicar o 5º mandamento:
123. Qual é o quinto
mandamento? O
quinto mandamento é: “Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma longa vida
sobre a terra que o Senhor teu Deus te há de dar.” Ex 20.12.
124. Que significam as
palavras “pai” e “mãe”, no quinto mandamento? As palavras “pai” e
“mãe”, no quinto mandamento, abrangem não somente os próprios pais, mas também
todos os superiores em idade e dons, especialmente todos aqueles que, pela
ordenação de Deus, estão colocados sobre nós em autoridade, quer na Família,
quer na Igreja, quer no Estado. Gn 4:20,21;45:8; II Rs 2:12;5:13; Is 49:23; Pv
23:22,25; I Tm 5:1,2;Gl 4:19. 125. Por que são os superiores chamados
“pai” e “mãe”? Os superiores são chamados “pai” e “mãe” para lhes
ensinar que, em todos os deveres para com os seus inferiores, devem eles, como
verdadeiros pais, mostrar amor e ternura para com aqueles, conforme as suas
diversas relações; e para levar os inferiores a cumprirem os seus deveres para
com os seus superiores, pronta e alegremente, como se estes fossem seus pais.
Ef 6:4; I Ts 2.7,8,11,12; I Co 4:14-16. 126. Qual é o alcance geral do
quinto mandamento? O alcance geral do quinto mandamento é o
cumprimento dos deveres que mutuamente temos uns para com os outros em nossas
diversas relações como inferiores, superiores ou iguais. Ef 5:21; I Pe 2:17; Rm
12:10. 127. Qual é a honra que os inferiores devem aos
superiores? A honra que os inferiores devem ao superiores é toda a
devida reverência sincera, em palavras e em procedimento; a oração e ações de
graças por eles; a imitação de suas virtudes e graças; a pronta obediência aos
seus mandamentos e conselhos legítimos; a devida submissão às suas correções; a
fidelidade, a defesa, a manutenção de suas pessoas e autoridade, conforme os
seus diversos graus e a natureza de suas posições; suportando as suas fraquezas
e encobrindo-as com amor, para que sejam uma honra para eles e para o seu
governo. Gn 9:23; Ml 1:6; Pv 31:23,38,39; Lv 19:3,32; I Sm 26:15,16; I Rs
2:19;Sl 127:3-5; Mt 22:21; Rm 16:6,7; Ef 6:1,2; I Pe 2:13,1,18-20;4;3:6;
I Tm 2:1,2;5:17,18; Fl 3:17;Tt 2:9,10; Hb 12:9;13:7. 128. Quais são os
pecados dos inferiores contra os seus superiores? Os pecados dos
inferiores contra os seus superiores são: toda negligência dos deveres exigidos
para com eles; a inveja, o desprezo e a rebelião contra suas pessoas e
posições, em seus conselhos, mandamentos e correções legítimos; a maldição, a
zombaria e todo comportamento rebelde e escandaloso, que vem a ser uma vergonha
e desonra para eles e para o seu governo. Êx 21:15; Dt 21:18,20,21; Pv
19:26;30:11,17; I Sm 8:7;10:27; II Sm 15:1-12; Is 2:25;3:5; Sl 2:25;106:16; Mt
15:5,6. 129. Que se exige dos superiores para com os seus
inferiores? Exige-se dos superiores, conforme o poder que recebem de
Deus e a relação em que se acham colocados, que amem os seus inferiores, que
orem por eles e os abençoem; que os instruam, aconselhem e admoestem,
aprovando, animando e recompensando os que fazem o bem, e reprovando,
repreendendo e castigando os que fazem o mal; protegendo-os e provendo-lhes
tudo o que é necessário para a alma e o corpo; e que, por um procedimento
sério, prudente, santo e exemplar glorifiquem a Deus, honrem-se a si mesmos, e
assim preservem a autoridade com que Deus os revestiu. Dt 6:6,7; Cl 3:19; I Sm 12:23; Jó 1:5; Pv 29:15; I Rs 3:28;8:55,56; Is
1:17; Ef 6:3,4; Rm 13:3,4; I Pe 2:14;3:7; Tt 2:4,15; I Tm 4:12;5:8. 130. Quais são os pecados
dos superiores? Os pecados dos superiores, além da negligência dos deveres
que lhe são exigidos, são a ambição incontrolável, a busca desordenada da
própria glória, repouso, proveito ou prazer; a exigência de coisas ilícitas ou
fora do alcance de os inferiores poderem realizar; aconselhando, encorajando ou
favorecendo-os naquilo que é mau; dissuadindo, desanimando ou reprovando-os
naquilo que é bom; corrigindo-os indevidamente; expondo-os descuidosamente ao
dano, à tentação e ao perigo; provocando-os à ira; ou de alguma forma
desonrando-se a si mesmos, ou diminuindo a sua autoridade por um comportamento
injusto, indiscreto, rigoroso ou negligente. Gn 9:21; Ex 34:2,4; Lv 19:29; Dt 17:17; I Rs 12:13,14; Is 56:10,11;58:7;
Jr 5:30,31;6:13,14; Dn 3:4,6; Mt 14:8;23:2,4; Mc 6.4; Jo 5:4;7:18,46-48; At
4:18; Ef 6:4; I Pe 2:19,20; Fp 2:21;Hb 12:10. 131. Quais são os deveres
dos iguais? Os deveres dos iguais são o considerar a dignidade e o merecimento
uns dos outros, tendo cada um aos outros por superiores; e o alegrar-se com os
dons e a promoção uns dos outros como sendo de si mesmos. Rm 12:10;15-16; Fp
2:3,4; I Pe 2:17. 132. Quais são os pecados dos iguais? Os
pecados dos iguais, além da negligência dos deveres exigidos, são a depreciação
do merecimento, a inveja dos dons, a tristeza causada pela promoção ou
prosperidade dos outros, e a usurpação da preeminência que uns têm sobre
outros. Nm 12:2; Pv 13:21; Is 65:5; Mt
20.15;25-27; Lc 15:28,29;22:24-26; Rm 13:8; II Tm 3:3; At 7:9; Gl 5:26; I Jo
3:12; III Jo 9. 133. Qual é a razão anexa ao quinto mandamento para lhe dar maior
força? A razão anexa ao quinto mandamento, para lhe dar maior
força, contida nestas palavras: “para que se prolonguem os teus dias na terra
que o Senhor teu Deus te dá”, é uma promessa de longa vida e prosperidade,
tanto quanto sirva para a glória de Deus e para o bem de todos quantos guardem
este mandamento. Ex 20.12; Dt 5:16; I Rs 8:25; Ef 6:2,3.
Por que se dá isso? Porque o Decálogo
possui um resumo da Lei Moral, não sua extensão. Daí a conclusão do autor do
artigo, que o CMW diz que o Decálogo é “A DECLAÇÃO DA VONTADE DE DEUS”,
é reducionista, e não apresenta com precisão o que o CMW disse nas partes
indicadas por ele.
3. Deus deu a Lei antes da
Queda. O artigo também ventila, sem melhores esclarecimentos, que Deus
deu a Lei a Adão como pacto de obras. Sem perdermos espaço com a questão
do pacto da obras, deve ser dito que Adão recebeu a Lei de Deus
em primeiro lugar de forma positiva. ‘Não ter outros deuses, não
fazer imagens, não matar, não adulterar’, etc, são proibições negativas que
levam em conta um estado de pecado presente na pessoa e no mundo, que não
estavam presentes no Éden, muito menos no céu. Obviamente, Adão
recebeu em sua consciência a Lei Moral, e também a proibição expressa da
proibição de comer o fruto. O renomado teólogo reformado Louis Berkhof nos
explica:
“Essencialmente, a lei
moral, como Adão a conhecia, era sem duvida semelhante aos dez
mandamentos, mas sua forma era diferente. Em sua presente forma, a lei
moral pressupõe o conhecimento do pecado e, portanto, é primordialmente
negativa; no coração de Adão, porém, só pode ter tido caráter positivo. Mas
justamente por ser positiva, não trazia à consciência a possibilidade de pecar.
Portanto, foi acrescentado um mandamento negativo.” (Teologia Sistemática, p.
200).
Outro teólogo reformado,
A. A. Hodge diz:
“[...] essa lei
moral, pelo menos em princípios essenciais, e até onde era
necessária para guiar os homens num estado de inocência, foi revelada
na própria constituição da natureza do humana” (Confissão de Fé
Comentada, p. 340).
Em segundo lugar, alguns
detalhes da lei, não estavam presentes na eternidade, já que o descanso
sabático decorre da criação, na eternidade não devemos achar que
havia sábado!
4. Colossesnses 2.16. Na avaliação do
articulista, no tópico anterior em sua postagem, ele chamou a atenção a
distinção da lei, entre moral e cerimonial. Obviamente essa é uma distinção
feita pela teologia, que não é declarada na Escritura. Nós que
devemos fazer o julgamento entre lei e lei, para chegarmos à essa conclusão.
Daí, ele introduz um texto muito debatido – Colossesnses 2.16.
Esse texto é interpretado
de duas maneiras na tradição reformada, e o autor adventista omite
isso, se é que ele o sabe. Uma interpretação, que é que tal texto prova ao
menos que o sábado foi abolido. Podemos demonstrar em um exemplo.
Vejamos o que João Calvino
escreveu sobre esse texto:
“...escreve o Apóstolo
em outro lugar que o sábado tem sido uma sombra da realidade futura,
e que o corpo, isto é, a sólida substância da verdade, que bem explicou naquela
passagem, está em Cristo... Portanto, que esteja longe dos cristãos a
observância supersticiosa de dias... ainda que o sábado esteja
cancelado, entre nós, não obstante, ainda tem lugar isto: primeiro,
que nos congreguemos em dias determinados para ouvir a Palavra, para partir o
pão místico, para as orações públicas; segundo, para que se dê aos servos e aos
operários relaxação de seu labor.” (As Institutas, Vol II p. 159).
A interpretação de Calvino
sobre Colossenses 2.16,17 é diferente daquela mantida pelos interpretes
confessionais puritanos que encaram esse texto como destacando os outros dias
sabáticos, e não o quarto mandamento – nesse ponto os adventistas plagiaram a
teologia puritana. Veja quando a CFW cita o texto de Colossesnsses 2.17:
III. Além dessa lei,
geralmente chamada lei moral, foi Deus servido dar ao seu povo de Israel,
considerado uma igreja sob a sua tutela, leis cerimoniais que contêm
diversas ordenanças típicas. Essas leis, que em parte se referem ao culto e
prefiguram Cristo, as suas graças, os seus atos, os seus sofrimentos e os seus
benefícios, e em parte representam várias instruções de deveres morais, estão
todas abrogadas sob o Novo Testamento. Heb.10:1; Gal. 4:1-3; Col. 2:17; Exo. 12:14; I Cor.5:7; II Cor.
6:17; Col. 2:14, 16-17; Ef. 2:15-16.
(Sempre insiro um
qualificativo, na soma dessas interpretações reformadas: O sábado foi
abolido pela substituição – digo isso por causa de minha concordância
confessional com a CFW e com a exegética de João Calvino a respeito de Cl 2.16.
Tire o texto de Cl 2.17 citado nessa parte da CFW, e sua doutrina
continua a mesma.)
5. A desonestidade
acadêmica. Nos pontos 6 ao 8, em especial o ponto 8, o autor
demonstra sua ‘competência’ de dar impressões distorcidas. Ele não
mencionou em nenhum momento nessas partes, as doutrinas oficiais presbiterianas
a respeito do assunto. Por que não? Para omitir a
continuidade da argumentação dos Símbolos de Westminster de forma a levar
leitores a terem uma impressão que a defesa do sábado favorece a interpretação
adventista! Ele não colocou a parte da CFW que responderia pergunta! Veja a
pergunta que ele formulou:
“(8) Por Quanto Tempo Deve
Durar o Mandamento do Sábado?”
Daí ele falou dos comentários de presbiterianos que usam o termo sábado, mas ele não explica que para esses, “sábado cristão” é sinônimo de primeiro dia da semana, domingo, e não sétimo dia!
E se ele colocasse os
Símbolos de Westminster que responderia a pergunta? Veja:
CFW: Como é lei da
natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto
de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo,
preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou
particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado
por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse
dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o
primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do
Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. Exo. 20:8-11; Gen. 2:3; I Cor.
16:1-2; At. 20:7; Apoc.1:10; Mat. 5: 17-18.
CMW: 116. Que se exige no
quarto mandamento? No quarto mandamento exige-se que todos os homens
santifiquem ou guardem santos para Deus todos os tempos estabelecidos, que Deus
designou em sua Palavra, expressamente um dia inteiro em cada sete; que
era o sétimo desde o princípio do mundo até à ressurreição de Cristo, e o
primeiro dia da semana desde então, e há de assim continuar até ao fim do
mundo; o qual é o sábado cristão, que no Novo Testamento se chama Dia do
Senhor. Gn 2:3; Is 56:2,4,6,7; I Co 16:2; At 20:7; Jo 20:19-27; Ap 1:10.
Omitir isso, foi
evidentemente intencional!!!
Isso é adventismo...
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