Infelizmente alguns têm
confundido a crença nos cinco
pontos do calvinismo como
sendo a fé reformada. Quero dizer que todo Reformado é calvinista, mas nem
todo calvinista é Reformado. Reformado tem que subscrever algum documento
confessional de alguma igreja reformada, que cobre a fé reformada em sua
totalidade, que vai além das chamadas doutrinas da graça. Além disso, algumas
pessoas só porque leem algum livro sobre os cinco pontos, já se acham que estão
habilitadas a se identificarem como Reformadas. Mais arriscado ainda é
quando igrejas decidem incluir exposição da fé reformada com pessoas pouco
habilitadas para tal.
O conjunto das doutrinas da fé
reformada possui Teontologia, Revelação, Epistemologia, Eclesiologia,
Escatologia, doutrina Aliancista, entre outras. Mesmo os cinco pontos não podem
ser classificados como sendo matéria apenas da Soteriologia (nos cinco pontos
temos a doutrina dos Decretos, Harmatologia e Pneumatologia). Portanto, tomemos
cuidado com esse reducionismo, quando muitos se dizem Reformados, mas na
verdade são apenas calvinistas de cinco
pontos.
Pretendo ser breve e didático na
exposição daquilo que creio que sejam as bases norteadoras de toda a fé
reformada.
1. A Suficiência da
Escritura Sagrada. A Bíblia é a inerrante, infalível
e inspirada Palavra de Deus (Jo 17.17; Is 55.6; II Tm 3.16). Portanto, temos um
documento suficiente para edificação e salvação. Qualquer outra fonte de
revelação deve ser rejeitada por um autêntico reformado, pois a Escritura já é
completa (II Tm 3.17). Qualquer tradição religiosa que não decorre da Escritura
não deve ser encarada como norma de fé (I Te 2.13). As seitas como o
mormonismo, adventismo – com suas fontes ‘inspiradas’, e de outra forma o
jeovismo e o romanismo – com seus lideres como sendo ‘canais’ de Deus, é
inconsistente com a autoridade e suficiência da Escritura. O pentecostalismo
(leigo), virtualmente na suas praxes litúrgicas tem sido responsável pelas mais
bizarras heresias. Apesar de que seus representantes não colocarem essas
revelações como normas de fé e prática, portanto, diferente das seitas citadas,
em essência, porém, o pentecostalismo é inconsistente com a doutrina da
suficiência da Escritura, conforme pensa a fé Fé Reformada.
2. Deus inquestionavelmente
Soberano. Um
Reformado não pensa como os arminianos modernos e teístas abertos, que
classificam as ações soberanas, (conforme lidas na perspectiva bíblico
reformada) de Deus como injustas ou más (Rm 9.19-24). Para um Reformado quando
Deus pune, ele é tão bom e justo quanto quando perdoa (Rm 3.5-8, 19-26).
Nenhuma ação ou permissão de Deus o qualifica ou desqualifica-o. Ele é que
qualifica suas ações. Sendo Santo tudo que faz, por definição é santo. Seu
domínio soberano afasta-nos de qualquer dualismo, e sua santa providencia
destrói qualquer “acaso”. Nos dizeres Bíblicos ‘Ele É, o que É, ele mata e faz
viver, ele fere e cura, e ninguém escapa de suas mãos’ (Dt 32.39). Apesar de reconhecer o
grande valor humano, e valorizá-lo como tal, o Reformado nunca pressionará a
interpretações bíblicas à partir dos sentimentos humanistas como fazem os
arminianos, pelagianos, semi-pelagianos, ateus e espíritas.
3. Deus é Um e Três. A crença na Trindade e na Unidade
Divina é firmada e respaldada na Escritura Sagrada (Mt 28.19), aceita,
definida, e defendida pelos credos cristãos históricos. Esse é o DEUS do
cristão reformado. Não confunde e nem diminui as pessoas divinas, nem divide a
única (numérica) substância da divindade (Jo 10.30; Hb 1.3). Fora disso não existe Deus, mas
ídolos produzidos pelo homem herético. Tudo que é dito de Deus ontologicamente,
só pode ser dito do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e enquanto
economicamente, cada pessoa tem suas funções bem como propriedades que os
distingue (II Co 13.13). O Modalismo/Unicista do Tabernáculo da Fé, o
Unitarismo, o Henoteísmo das Testemunhas de Jeová, Tristeísmo – quer seja o
triteísmo pessoal mórmon ou o ontológico adventista, não são bíblicos.
4. O homem é uma criatura depravada. A crença autêntica Reformada não faz concessão com o evolucionismo
(Gn 1.1,26,27). É uma negação da Fé Reformada achar que teístas evolucionistas
são Reformados. No Brasil e no mundo, a grande capacidade teológica e histórica
de certos autores, seduziu muitos reformados e eles fecham os olhos para esse
descompasso com a Fé Reformada. Fomos criados por Deus (Mt 19.4) segundo à sua
imagem (Gn 9.6) para um propósito (Ec 12.13,14) nos tornando seres impares,
capazes de amar, planejar, sendo sociáveis, ansiamos por significado e
utilidade, racionais, constituímos família com base no amor, para procriação e
cuidado. Não somos produto do acaso, nem de evolução ocasionada.
Por outro lado, somos pecadores, totalmente
depravados. Os arminianos creem na depravação total, mas são inconsistente com
ela por causa da falsa doutrina da graça preveniente, que não regenera – mas [ironicamente], irresistivelmente, capacita
o depravado. Para o Reformado
a depravação total não é apenas uma incapacidade salvífica (Ef 2.1; I Co 2.14),
mas também e igualmente, uma potencialização de nossa inimizade com Deus (Rm
5.10). Nossa natureza rejeita a Deus, se irrita com ele, foge Dele (Gn 3.10)
sempre resiste a Ele(Mt 23.37; At 7.51; Rm 3.10-18). Nossa crença da Queda, do
pecado original, deve ser considerada pela hereditariedade (Rm 5.12) e
sua culpa pela imputação (Rm 8.20). A representação federal de Adão (e Eva),
leva-nos a crer que o que o
que eles fizeram era exatamente o que qualquer um de nós faríamos se
estivéssemos em sua lugar. Não há entre os filhos de Adão um inculpável.
5. A salvação é uma obra eterna
de Deus. O
Reformado vê a salvação como obra exclusiva do Deus Trino, planejada na
eternidade e como tal, executada e mantida por Ele (Ef 1.3-14). Nenhuma pessoa
se achegaria a Cristo se isso não fosse realizado por Deus Pai (Jo 6.44).
Nenhuma pessoa saberia quem é Deus Pai se o Filho não o revelasse (Mt 11.27).
Nenhuma pessoa saberia quem é Deus se o Espírito Santo não o revelasse
efetivamente (I Co 2.10-16). Ninguém poderia confessar a fé no Senhorio de
Cristo, se não fosse isso dom do Espírito Santo (I Co 12.3, compare com M
7.21-23). Mesmo a fé sendo dom Deus, ela só é corretamente exercida na
orientação de Deus (At 16.14). Nenhum eleito seria santo sem a obra
santificadora do Espírito Santo. Deus escolheu entre a humanidade pecadora,
caída, que o rejeitou o Édem, pela morte de Cristo os justificou (Is 53. 11),
que são chamados assim Eleitos. Os demais, por causa de sua ‘negligencia e
desprezo voluntário da graça que é oferecida, são justamente deixados na sua
incredulidade e nunca se chegam sinceramente a Jesus Cristo.’
6. A glória de Deus. Por último, para o Reformado, a
glória de Deus é a causa de tudo que existe. Deus criou tudo para sua glória
(Ap 4.11). Sabemos que a obra do Filho era a salvação dos que iriam crer (Jo
3.16,36), mas essa também tinha por alvo a glória de Deus. Essa foi a
preocupação de Jesus: “Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é
glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também
Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.”(João 13:31,32). Todo seu juízo, todo
seu amor, toda sua bondade, o céu e o inferno, perdão e punição, ações e
permissões, tudo e qualquer coisa que veio e virá ocorrer, por fim, redundará
na glória de Deus na manifestação de seus atributos. O principal texto bíblico
para o Reformado é Romanos 11.36: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;
glória, pois, a ele eternamente. Amém.” Devemos
desejar a Deus, estimá-lo, honrar seu nome, obedecê-lo em tudo, temer de
ofender seu coração, portanto, nos dizeres no Senhor Jesus: “Amarás, pois, o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu
entendimento e de toda a tua força.” (Mc
12.30).
Olá Luciano Sena
ResponderExcluirBom dia
Parabéns pelo texto.
Existe uma Santa Tradição Cristã composta dos santos e santos no Senhor foi essa Santa Tradição que montou sob a inspiração do Santo Deus Espírito Santo a Bíblia e isso levou um tempo, o tempo de Deus mas a Bíblia não caiu do céu pronta. Nesse sentido a Santa Tradição é essencial sim.
O ser humano por ser imagem e semelhança de Deus coopera com a salvação. A Graça é um Santo Dom de Deus porém é algo impessoal que vem do Deus Pessoal logo a Graça prescisa da ação de um ser pessoal que é o ser humano. Existe uma frase muito conhecida mais ou menos assim: Não somos salvos porque fazemos boas obras mas fazemos boas obras por que somos salvos, mas isso só reforça a importância das santa obras pois se um salvo necessariamente produz boas obras logo essas fazem parte inerente da ação da Graça nos crentes no Senhor e mais se as boas obras decorrem da ação da Santa Graça ( que naturalmente vem de Deus) então sem obras o ser humano não estaria salvo pois não estaria em concordância com a ação da própria Graça que é gerar boas e santa obras e uma Graça que não gera boas obras seria uma Graça estática e entraria em contradição com a própria noção da Graça em si e aí tem a cooperação dos crentes no Senhor com os seus livre-arbítrio e a capacidade humana de cooperar na Salvação. O pecado não conseguiu aniquilar por completo a capacidade humana para ter livre-arbítrio senão isso descaracterizaria o ser humano em si pois tal capacidade faz parte da natureza do ser humano.
Deus ser revela ao ser humano, e se se revela se espera uma resposta do crente à ação de Deus pois Deus não se revela ao próprio Deus mas sim a o ser humano. Se em última análise só Deus age no ser humano então seria como Deus aceitando Ele próprio para se salvar pois só Ele agiria sem a participação humana.
Um grande abraço
Luiz
Olá irmão Luiz...
ExcluirÉ temos discordância nesse assunto. O irmão escreveu:
"O pecado não conseguiu aniquilar por completo a capacidade humana para ter livre-arbítrio senão isso descaracterizaria o ser humano em si pois tal capacidade faz parte da natureza do ser humano."
Para saber se o irmão está defendendo a posição arminiana clássica, pergunto: o que preserva a capacidade no homem depravado, o fato de o pecado não ser tão destrutivo ou o fato de existir a graça preveniente?
Olá Luciano Sena
ResponderExcluirBom dia
O pecado não destruiu o pois senão o ser humano não existiria pois o livre-arbítrio é uma das características inerentes do ser humano e Deus coloca a Graça no ser humano também, não são coisas excludentes mas sim cooperativas.Sem a Graça não tem como o ser humano agir e sem a cooperação humana a Graça sozinha por ser algo Divino porém impessoal não pode agir por si se faz necessário a ação humana ou seja uma ação pessoal.
Um abraço
Luiz
Olá Luiz.
ResponderExcluirQual base bíblica vc tem para me dizer que sem livre-arbítrio o ser humano não existiria?
Olá Luciano Sena
ResponderExcluirBom dia
Em Gênesis quando Deus cria a ser humano a imagem e semelhança. Deus é Espirito e como o ser humano é uma alma vivente i.e. uma alma imortal a mesma possui características inerentes e o livre -arbítrio é uma delas e se é inerente logo faz parte integrante e sem essa característica o ser não teria uma composição completa. Devemos ver na Bíblia o que está escrito e o que a mesma quer dizer. Não está escrito que a alma é imortal de forma explícita porém a idéia que a Bíblia passa é que a alma é imortal.
Um abraço
Luiz