quarta-feira, 30 de março de 2016

Bases fundamentais da Fé Reformada

Infelizmente alguns têm confundido a crença nos cinco pontos do calvinismo como sendo a fé reformada. Quero dizer que todo Reformado é calvinista, mas nem todo calvinista é Reformado. Reformado tem que subscrever algum documento confessional de alguma igreja reformada, que cobre a fé reformada em sua totalidade, que vai além das chamadas doutrinas da graça. Além disso, algumas pessoas só porque leem algum livro sobre os cinco pontos, já se acham que estão habilitadas a se identificarem como Reformadas.  Mais arriscado ainda é quando igrejas decidem incluir exposição da fé reformada com pessoas pouco habilitadas para tal.

O conjunto das doutrinas da fé reformada possui Teontologia, Revelação, Epistemologia, Eclesiologia, Escatologia, doutrina Aliancista, entre outras. Mesmo os cinco pontos não podem ser classificados como sendo matéria apenas da Soteriologia (nos cinco pontos temos a doutrina dos Decretos, Harmatologia e Pneumatologia). Portanto, tomemos cuidado com esse reducionismo, quando muitos se dizem Reformados, mas na verdade são apenas calvinistas de cinco pontos.

Pretendo ser breve e didático na exposição daquilo que creio que sejam as bases norteadoras de toda a fé reformada.

1.  A Suficiência da Escritura Sagrada. A Bíblia é a inerrante, infalível e inspirada Palavra de Deus (Jo 17.17; Is 55.6; II Tm 3.16). Portanto, temos um documento suficiente para edificação e salvação. Qualquer outra fonte de revelação deve ser rejeitada por um autêntico reformado, pois a Escritura já é completa (II Tm 3.17). Qualquer tradição religiosa que não decorre da Escritura não deve ser encarada como norma de fé (I Te 2.13). As seitas como o mormonismo, adventismo – com suas fontes ‘inspiradas’, e de  outra forma o jeovismo e o romanismo – com seus lideres como sendo ‘canais’ de Deus, é inconsistente com a autoridade e suficiência da Escritura.  O pentecostalismo (leigo), virtualmente na suas praxes litúrgicas tem sido responsável pelas mais bizarras heresias. Apesar de que seus representantes não colocarem essas revelações como normas de fé e prática, portanto, diferente das seitas citadas, em essência, porém, o pentecostalismo é inconsistente com a doutrina da suficiência da Escritura, conforme pensa a fé Fé Reformada.

2. Deus inquestionavelmente Soberano. Um Reformado não pensa como os arminianos modernos e teístas abertos, que classificam as ações soberanas, (conforme lidas na perspectiva bíblico reformada) de Deus como injustas ou más (Rm 9.19-24). Para um Reformado quando Deus pune, ele é tão bom e justo quanto quando perdoa (Rm 3.5-8, 19-26). Nenhuma ação ou permissão de Deus o qualifica ou desqualifica-o. Ele é que qualifica suas ações. Sendo Santo tudo que faz, por definição é santo. Seu domínio soberano afasta-nos de qualquer dualismo, e sua santa providencia destrói qualquer “acaso”. Nos dizeres Bíblicos ‘Ele É, o que É, ele mata e faz viver, ele fere e cura, e ninguém escapa de suas mãos’ (Dt 32.39). Apesar de reconhecer o grande valor humano, e valorizá-lo como tal, o Reformado nunca pressionará a interpretações bíblicas à partir dos sentimentos humanistas como fazem os arminianos, pelagianos, semi-pelagianos, ateus e espíritas.

3. Deus é Um e Três. A crença na Trindade e na Unidade Divina é firmada e respaldada na Escritura Sagrada (Mt 28.19), aceita, definida, e defendida pelos credos cristãos históricos. Esse é o DEUS do cristão reformado. Não confunde e nem diminui as pessoas divinas, nem divide a única (numérica) substância da divindade (Jo 10.30; Hb 1.3). Fora disso não existe Deus, mas ídolos produzidos pelo homem herético. Tudo que é dito de Deus ontologicamente, só pode ser dito do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e enquanto economicamente, cada pessoa tem suas funções bem como propriedades que os distingue (II Co 13.13). O Modalismo/Unicista do Tabernáculo da Fé, o Unitarismo, o Henoteísmo das Testemunhas de Jeová, Tristeísmo – quer seja o triteísmo pessoal mórmon ou o ontológico adventista, não são bíblicos.

4. O homem é uma criatura depravada. A crença autêntica Reformada não faz concessão com o evolucionismo (Gn 1.1,26,27). É uma negação da Fé Reformada achar que teístas evolucionistas são Reformados. No Brasil e no mundo, a grande capacidade teológica e histórica de certos autores, seduziu muitos reformados e eles fecham os olhos para esse descompasso com a Fé Reformada. Fomos criados por Deus (Mt 19.4) segundo à sua imagem (Gn 9.6) para um propósito (Ec 12.13,14) nos tornando seres impares, capazes de amar, planejar, sendo sociáveis, ansiamos por significado e utilidade, racionais, constituímos família com base no amor, para procriação e cuidado. Não somos produto do acaso, nem de evolução ocasionada.

Por outro lado, somos pecadores, totalmente depravados. Os arminianos creem na depravação total, mas são inconsistente com ela por causa da falsa doutrina da graça preveniente, que não regenera – mas [ironicamente], irresistivelmente, capacita o depravado. Para o Reformado a depravação total não é apenas uma incapacidade salvífica (Ef 2.1; I Co 2.14), mas também e igualmente, uma potencialização de nossa inimizade com Deus (Rm 5.10). Nossa natureza rejeita a Deus, se irrita com ele, foge Dele (Gn 3.10) sempre resiste a Ele(Mt 23.37; At 7.51; Rm 3.10-18). Nossa crença da Queda, do pecado original, deve ser considerada pela  hereditariedade (Rm 5.12) e sua culpa pela imputação (Rm 8.20). A representação federal de Adão (e Eva), leva-nos a crer que o que o que eles fizeram era exatamente o que qualquer um de nós faríamos se estivéssemos em sua lugar. Não há entre os filhos de Adão um inculpável.

5. A salvação é uma obra eterna de Deus. O Reformado vê a salvação como obra exclusiva do Deus Trino, planejada na eternidade e como tal, executada e mantida por Ele (Ef 1.3-14). Nenhuma pessoa se achegaria a Cristo se isso não fosse realizado por Deus Pai (Jo 6.44). Nenhuma pessoa saberia quem é Deus Pai se o Filho não o revelasse (Mt 11.27). Nenhuma pessoa saberia quem é Deus se o Espírito Santo não o revelasse efetivamente (I Co 2.10-16). Ninguém poderia confessar a fé no Senhorio de Cristo, se não fosse isso dom do Espírito Santo (I Co 12.3, compare com M 7.21-23). Mesmo a fé sendo dom Deus, ela só é corretamente exercida na orientação de Deus (At 16.14). Nenhum eleito seria santo sem a obra santificadora do Espírito Santo. Deus escolheu entre a humanidade pecadora, caída, que o rejeitou o Édem, pela morte de Cristo os justificou (Is 53. 11), que são chamados assim Eleitos. Os demais, por causa de sua ‘negligencia e desprezo voluntário da graça que é oferecida, são justamente deixados na sua incredulidade e nunca se chegam sinceramente a Jesus Cristo.’


6. A glória de Deus. Por último, para o Reformado, a glória de Deus é a causa de tudo que existe. Deus criou tudo para sua glória (Ap 4.11). Sabemos que a obra do Filho era a salvação dos que iriam crer (Jo 3.16,36), mas essa também tinha por alvo a glória de Deus. Essa foi a preocupação de Jesus: Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.”(João 13:31,32).  Todo seu juízo, todo seu amor, toda sua bondade, o céu e o inferno, perdão e punição, ações e permissões, tudo e qualquer coisa que veio e virá ocorrer, por fim, redundará na glória de Deus na manifestação de seus atributos. O principal texto bíblico para o Reformado é Romanos 11.36: Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. Devemos desejar a Deus, estimá-lo, honrar seu nome, obedecê-lo em tudo, temer de ofender seu coração, portanto, nos dizeres no Senhor Jesus: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.” (Mc 12.30).


5 comentários:

  1. Olá Luciano Sena

    Bom dia

    Parabéns pelo texto.

    Existe uma Santa Tradição Cristã composta dos santos e santos no Senhor foi essa Santa Tradição que montou sob a inspiração do Santo Deus Espírito Santo a Bíblia e isso levou um tempo, o tempo de Deus mas a Bíblia não caiu do céu pronta. Nesse sentido a Santa Tradição é essencial sim.

    O ser humano por ser imagem e semelhança de Deus coopera com a salvação. A Graça é um Santo Dom de Deus porém é algo impessoal que vem do Deus Pessoal logo a Graça prescisa da ação de um ser pessoal que é o ser humano. Existe uma frase muito conhecida mais ou menos assim: Não somos salvos porque fazemos boas obras mas fazemos boas obras por que somos salvos, mas isso só reforça a importância das santa obras pois se um salvo necessariamente produz boas obras logo essas fazem parte inerente da ação da Graça nos crentes no Senhor e mais se as boas obras decorrem da ação da Santa Graça ( que naturalmente vem de Deus) então sem obras o ser humano não estaria salvo pois não estaria em concordância com a ação da própria Graça que é gerar boas e santa obras e uma Graça que não gera boas obras seria uma Graça estática e entraria em contradição com a própria noção da Graça em si e aí tem a cooperação dos crentes no Senhor com os seus livre-arbítrio e a capacidade humana de cooperar na Salvação. O pecado não conseguiu aniquilar por completo a capacidade humana para ter livre-arbítrio senão isso descaracterizaria o ser humano em si pois tal capacidade faz parte da natureza do ser humano.

    Deus ser revela ao ser humano, e se se revela se espera uma resposta do crente à ação de Deus pois Deus não se revela ao próprio Deus mas sim a o ser humano. Se em última análise só Deus age no ser humano então seria como Deus aceitando Ele próprio para se salvar pois só Ele agiria sem a participação humana.

    Um grande abraço

    Luiz

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    1. Olá irmão Luiz...
      É temos discordância nesse assunto. O irmão escreveu:

      "O pecado não conseguiu aniquilar por completo a capacidade humana para ter livre-arbítrio senão isso descaracterizaria o ser humano em si pois tal capacidade faz parte da natureza do ser humano."

      Para saber se o irmão está defendendo a posição arminiana clássica, pergunto: o que preserva a capacidade no homem depravado, o fato de o pecado não ser tão destrutivo ou o fato de existir a graça preveniente?

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  2. Olá Luciano Sena

    Bom dia

    O pecado não destruiu o pois senão o ser humano não existiria pois o livre-arbítrio é uma das características inerentes do ser humano e Deus coloca a Graça no ser humano também, não são coisas excludentes mas sim cooperativas.Sem a Graça não tem como o ser humano agir e sem a cooperação humana a Graça sozinha por ser algo Divino porém impessoal não pode agir por si se faz necessário a ação humana ou seja uma ação pessoal.

    Um abraço

    Luiz

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  3. Olá Luiz.

    Qual base bíblica vc tem para me dizer que sem livre-arbítrio o ser humano não existiria?

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  4. Olá Luciano Sena

    Bom dia

    Em Gênesis quando Deus cria a ser humano a imagem e semelhança. Deus é Espirito e como o ser humano é uma alma vivente i.e. uma alma imortal a mesma possui características inerentes e o livre -arbítrio é uma delas e se é inerente logo faz parte integrante e sem essa característica o ser não teria uma composição completa. Devemos ver na Bíblia o que está escrito e o que a mesma quer dizer. Não está escrito que a alma é imortal de forma explícita porém a idéia que a Bíblia passa é que a alma é imortal.

    Um abraço


    Luiz

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