Os
arminianos clássicos, uma genuína vertente do cristianismo evangélico e
ortodoxo, estão ‘surgindo’ finalmente no Brasil – não contra o
semi-pelagianismo dominante no Evagelicalismo Brasileiro, mas contra o Calvinismo.
Mais uma tentativa de barrar o calvinismo no Brasil.
O
arminianismo insiste dizer que creem na Depravação Total. E que, em última
instância, não é a vontade do homem, mas Deus e seus atributos de amor e
justiça, são os cernes de sua teologia. Será mesmo que esse é o fato? Qual é a
doutrina necessária para que defendam essa doutrina Reformada da depravação
total, e não venham ser consequentemente Calvinistas?
A Graça Preveniente:
A graça preveniente arminiana, é uma teoria que ensina que Deus capacita o
homem em seu estado de pecado e inimizade, a crer, sem contudo, regenerá-lo.
Seria, em termos críticos e irônicos, um tratamento médico aplicando remédio a
um morto, mas que funciona - segundo eles!
Vamos pegar
por base uma explicação arminiana da Graça Preveniente em relação a Depravação
Total, de Timothy C. Tennent, e vejamos se há algo bíblico nisso:
“É importante entender que a
salvação nunca começa com algo que nós fazemos, mas sempre como uma resposta a
algo que Deus fez. Pensar que a salvação começa com nosso arrependimento de
nossos pecados e convite para que Jesus entre em nossos corações não é a forma
que as Escrituras entendem todo o processo de salvação. Antes, a salvação
sempre começa com uma ação anterior de Deus. Ele age, e nós respondemos ou
resistimos. Ela sempre segue esse padrão.”
A) Nesse primeiro parágrafo, o
autor mostra um salutar pensamento evangélico, e em seus termos definidos,
plenamente bíblico. Porém, salvação é um plano divino na eternidade e executado
no tempo.
O autor está certo em dizer que é Deus que começa, antes, e que nós – os objetos
do amor, respondemos ou rejeitamos.
O que acontece no tempo é o resultado do que
se decidiu na eternidade. A resposta positiva, também faz parte do que Deus
planejou, antes da fundação do mundo. Falar da salvação destituído do domínio
Soberano de Deus em fazer o que Lhe apraz, não é plenamente bíblico.
“Porque,
não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito
de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por
aquele que chama),” (Rm 9.11).
Se alguma
pessoa achar que Saulo decidiu aceitar a Cristo, como resposta de ter aquele
encontro dramático com o salvador (o que nem seria convencional para um convite
assim tão passivo), se engana. Ele mesmo escreveu depois:
“Mas,
quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou,
e me chamou pela sua graça,” (Gl 1,15).
B) Nós respondemos, pois isso faz
parte do processo que Ele decidiu, porém, ele
não nos escolheu a todos, para depois ver quem iria aceita-lo e permanece fiel,
e escolher especificamente esses. Nossa resposta é a um chamado
irresistível. Mas deve ser dito, que não significa que o chamado é sempre irresistível, que vem
ordinariamente por meio da Igreja. Muito menos também significa que os não
eleitos não aceitarão o chamado universal e dele se beneficiem. O que significa que é que no tempo de Deus,
esse chamado se tornará irresistível para produzir salvação verdadeira,
conversão genuína. Saulo, apesar de eleito e finalmente salvo, resistiu a
mensagem de Estevão como lemos em Atos:
“Homens
de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos
pais.” (At 7.51)
“E,
expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas
aos pés de um jovem chamado Saulo.”
(At 7. 58).
“E
também Saulo consentiu na morte dele.”
(At 8.1a)
“Instruindo
com mansidão os que resistem, a ver se
porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, E
tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele
estão presos.” 2 Timóteo 2:25,26
O arminiano
continua:
“Uma abordagem de todas as
maneiras que Deus nos prepara para receber o evangelho é usar o termo “graça
preveniente (precedente)”. A graça preveniente diz respeito a todos esses atos
da graça em nossas vidas que antecedem a nossa conversão. Sabemos que tal graça
existe porque Jesus disse que “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o
não trouxer” (Jo 6.44). Há uma “atração” ou “preparação” que precede nossa
efetiva conversão.”
A graça
preveniente, pelo que notamos, é uma solução para a incapacidade humana de
aceitar – ensino claro de Romanos 3.11 “Não
há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.” Porém, o autor
desconsidera o contexto da citação de João 6.44, e até mesmo o texto. Leiamos
na integra:
“E
Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e
quem crê em mim nunca terá sede. Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes. Todo o
que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei
fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade
daquele que me enviou. E a vontade do
Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca,
mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é
esta: Que todo aquele que vê o Filho, e
crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Murmuravam,
pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. E diziam:
Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois,
diz ele: Desci do céu? Respondeu, pois,
Jesus, e disse-lhes: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai
que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está
escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.” João
6:35-45
O termo
grego na Atualizada, foi traduzido por “trouxer”, tem a ideia
de um puxar, não necessariamente sempre em um sentido violento, mas
positivamente atuante: “... significa “puxar” por poder interior,
mediante impulso divino.” (Vine, p 414). No Dicionário W. E. Vine coloca a tradução do termo no verbete
“arrastar”. A Chave Linguística do Novo
Testamento Grego apresenta “trazer,
atrair” (p.172). Porém, o termo parece ser mais usado no sentido que Vine
apresenta. Tanto que o termo é usado nesse sentido ativo em outros textos da
Escritura (At 16.19; 21.30, Tg 2.6). Mesmo que atrair fosse a tradução mais literal
(o que não é), ainda sim a ideia de força nessa atração não seria eliminada,
devido a intensão do uso em seu contexto. Para ilustrar - um imã atrai ativamente o metal!
Acredito que
ter que explicar alguma coisa nesse contexto claro, é uma falta de respeito com
os leitores desse artigo. Assim, não existe a citação favorável de Jo 6.44 para
a graça preveniente. Por dois motivos
simples, óbvios e claros – em Jo 6.44 e no contexto ela
não é nem universal nem passiva!
A outra razão que sabemos que a graça de Deus
deve preceder nossa decisão de seguir a Cristo é que as Escrituras nos ensinam
que estamos mortos em nossos delitos e pecados à parte de Cristo (Ef 2.1). As
Escrituras não ensinam que estamos meramente doentes ou que o nosso progresso
espiritual geral é lento, mas que estamos espiritualmente mortos. (Esta é uma
outra grande característica distintiva do Cristianismo.) Isto significa que
somos incapazes de nos ajudar ou de nos salvar sem uma ação prévia de Deus.
Embora na
prática eles fazem isso, que negam acima, com a tal Graça Preveniente, as
afirmações acima tem parcialmente o aval a respaldo bíblico - devemos ter cuidado com a sentença final.
Agora, com a
próxima citação, fica claro que o arminianismo apenas afirma a crença na depravação,
apenas isso. Eles ainda estão submissos ao livre-arbítrio, e causa o
descompasso entre Depravação Total e aquilo que a corrige – a Regeneração. Note
bem o que o arminiano escreveu, e suas ressalvas:
Muitos cristãos creem na doutrina
da depravação total. Isso significa que os seres humanos estão mortos em seus
pecados e não podem fazer nada para ajudar ou melhorar seu estado espiritual
diante de Deus. Entretanto, é também um
ponto de vista cristão crer no livre arbítrio. Isto significa que afirmamos
que Deus quer que agimos e tomamos decisões a seu favor. Este é o problema: Como uma pessoa espiritualmente morta pode agir ou
decidir dar suas vidas a Cristo? A Bíblia está repleta de prescrições para
agir – as pessoas são chamadas a se arrepender, crer, vir, decidir e assim por
diante. A resposta é a doutrina da graça
preveniente. Esta é a ponte entre a depravação humana e o livre exercício da
vontade humana. A graça preveniente é um ato soberano de Deus pelo qual ele
suspende a raça humana de sua depravação e nos concede a capacidade de
respondermos à graça de Deus. Ela é um ato de Deus de favor imerecido. É a luz
de Deus “que ilumina a todo o homem” (Jo 1.9, ACF), que nos levanta e permite
que exercemos nossa vontade e respondemos à graça de Cristo.”*
O que faz a
Graça Preveniente? Ela corrige parcialmente o que a Depravação Total causa, mas
não corrige a Depravação Total, pois ela não é o Novo Nascimento. Ela faz a
ponte para um morto passar, mas não o ressuscita – talvez o deixa entre um
estado meio morto e meio vivo.
A Graça Preveniente também é irresistível.
Ela capacita o homem dizer sim a Deus, mas não garante – ela então não é
Soberana para esse fim. Porém, ela é Soberana e Irresistível, apenas para outro
fim – capacitar o homem a decidir querer, mesmo que o homem não queira o que se
oferece, nem na verdade deseja querer!!
Devemos
lembrar que o pecador não é apenas incapaz de aceitar, ele não quer, ele é
inimigo.
“Porque
se nós, sendo inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” (Rm 5.10).
“Porque
a lei do Espírito de vida, em Cristo
Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era
impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu
Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne;
Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne,
mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as
coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque
a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade
contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.
Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.” (Romanos 8:2-8).
Perceba que
no inicio do texto, o autor faz indireta alusão à Regeneração: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo
Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Não existe graça preveniente
aqui. No fim do artigo o autor mostra uma lista de textos bíblicos que, segundo
ele, ensina a Graça Preveniente: Isaías
55.1, João 1.9, João 6.44, João 12.32, João 16.8-11, Atos 14.17, Atos 16.13-15,
Romanos 2.4, 1 Timóteo 2.4-6, Tito 2.11.
Em postagens
futuras, trarei uma avaliação de tais textos.
Olá
ResponderExcluirBoa noite
Em Lucas 23:43 nós vemos o ser humano tomando a iniciativa para salvação. Jesus não perguntou a um dos malfeitores se ele queria aceitá-lo como Senhor e Salvador e olha que ambos já´estavam perto da morte. Embora a Graça e a Providência Divina estivessem dentro daquele homem faltava ainda a ação dele ou seja a cooperação humana na salvação é biblica. Deuteronômino 30:19 fala da cooperação humana.
um abraço
Luiz
Luiz, nossas diferenças não estão tão longes. A resposta humana faz parte, mas ela se torna possível após a ação divina. Nesse ponto, ainda concordamos. Porém, essa ação divina será certa para produzir a salvação nos eleitos? Aí, vc crê que não, eu creio que sim.
ResponderExcluirOlá Luciano Sena
ResponderExcluirBoa tarde
Bom eu creio convictamente que o ser humano coopera na salvação. Inclusive tem uma questão interessante até pegando um gancho na questão da alma imortal que não é o assunto deste tópico mas veja: a alma imortal quando criada, Deus coloca características intrínsecas na mesma e o livre-arbítrio ou seja a capacidade de escolha inclusive para a salvação existe. pois se não crermos assim estaremos até mesmo descaracterizando a estrutura da alma imortal. Se fazemos boas obras porque estamos salvos então obrigatoriamente as santas boas obras devem aparecer,pois se elas como muitos dizem são a evidência da salvação então se elas não aparecerem então não existe evidência e então o crente logicamente não tem a salvação.
Um abraço
Luiz
Olha irmão Luiz, parece que não há ligação no que mencionou.
ResponderExcluirCooperar com salvação, por aceitar o Evangelho, é algo que não estamos questionando... mas quem é que pode aceitar, por querer, é algo que está ligado com a depravação total.
Olá Luciano Sena
ResponderExcluirBoa noite
A deprevação total não aniquilou a ação humana. Se Deus age com a base e depois o homem age então a participação humana não apenas existe mas é importantíssima e essencial no processo. Se o ser humano está totalmente depravado ele simplesmente não agiria. A questão é a importância da cooperação humana.
Um abraço
Luiz
Por isso eu disse que a questão de nosso desacordo está aqui... depravação total. Porém, não somente aqui. O irmão disse: "Se o ser humano está totalmente depravado ele simplesmente não agiria."
ResponderExcluirAcho, que como irmãos, podemos prosseguir: Poderia, em poucas palavras definir seu conceito de depravação total, e se ela se identifica com alguma tradição evangélica (arminana, semi-pelagiana, wesleyana)?
Abraço
Olá Luciano Sena
ResponderExcluirBom dia
Depravação total seria a total incapacidade do ser humano agir para a salvação. Deus age e depois o ser humano age.
Uma coisa é Deus agir e em sequencia a cooperação humana como só e somente Ele agindo outra coisa é Deus agir e como a ação de Deus fica no justo, o ser humano paralelamente agir. A depravação total na verdade é o pecado no ser humano e tal pecado não impede a ação humana apenas mostra a natureza pecaminosa do ser humano como tendo a real possibilidade de amar o pecado e viver nele. Tal atitude de amar opecado é resultado de uma ação humana ou seja o livre-arbítrio e tendo tal livre-arbítrio o ser humano pode escolher a salvação.
Um abraço
Luiz