Estudo mais aquilo que pode ser classificado
como ‘apologética religiosa’. Isto é, procuro me envolver com a disciplina heresiologia, naquilo que chamamos de
apologética cristã – ou defesa da fé.
Existe a apologética que trabalha numa área
mais científica e filosófica, cuja faceta está mais voltada para os incrédulos,
propriamente dito. Apologética clássica, ou evidencialista, e a
pressuposicionalista (existe nuanças dentro de cada uma, sendo até mesmo classificada como distintas).
Eu encaro todas as linhas apologéticas como úteis na
evangelização de incrédulos. Todas elas possuem sua maior força para certos
contextos. Franklin Ferreira informa que “Francis
Schaerffer propôs um método hibrifdo, quando mostrou como os elementos
evidencialistas e pressuposicionalista podem trabalhar em conjunto na
evangelização.”(Teologia Sistemática [Ferreira e Myatt], p. 15).
A apologética pressuposicionalista denuncia a
evidencialista como trabalhando em terreno inimigo, caído – a capacidade
racional do ímpio. Por sua vez, evidencialistas dizem que o
pressuposicionalismo não fala com o mundo.
O teísta evolucionista, [que dizem ser ele
‘calvinista’], Alister McGrath, não deixa por menos ao criticar Van Til dizendo
que o pressuposicionalismo não é da tradição reformada mais antiga, está longe
dos cânones da velha Princeton e, aqui pesa ainda mais, discorda do próprio
Calvino. Segundo esse erudito, na verdade a apologética vantiliana é uma
apologética baseada em A. Kuype, e não em bases históricas calvinistas.
Verificando essa observação de McGrath, e se
ela for correta, encontro provavelmente no livro de Kuype Calvinismo, p. 66,67 um ‘sêmen’ vantiliano, quando escrevendo sobre
o pecador ao ser iluminado pelo Espírito:
“Tudo que está nele anseia pelo Pai de todas as Luzes e espíritos. Fora da Escritura
ele descobriu somente sombras vagas. Mas agora [depois do testemunho interno do
Espírito] ele olhou para cima, através do prisma das Escrituras, e redescobriu
seu Pai e seu Deus.”. Agora se esse sistema não é embasado totalmente em
Calvino, é algo que os especialistas devem provar a McGrath.
“[...] Calvino não diz em momento algum que esse conhecimento de Deus
com base na ordem criada é algo exclusivo e restrito aos fieis cristãos. É talvez nesse ponto que Karl Barth e Cornélius
Van Til se veem impossibilitados de endossar integralmente os pensamentos de
Calvino.” -“A posição
de Van Til, portanto, é seriamente vulnerável, seja do ponto de vista
histórico, seja do teológico.” (Apologética cristã no século XXI, p. 42,51.
Da página 46 a 53 deste livro, o erudito McGrath desfere suas críticas ao
sistema vantliano.)
Van Til de fato classifica os argumentos de Hodge
& CIA como um ‘calvinismo inconsistente’, nas páginas 80-85 do livro Apologética Cristã. A crítica de Van Til
a eles é que parece que Hodge olha para a razão como que ficando imune da
depravação do pecado. Não sei ao certo se Hodge pensava assim mesmo a respeito
da razão. Indiferente se sim ou não, Van Til direciona sua crítica como se esse
fosse o caso.
Até mesmo outro pressuposicionalista, Gordon
Clark, também critica o evidencialismo clássico, e o presssuposicionalismo de
Van Til:
“Charles A.
Hodge e Robert C. Sproul , insistem que o melhor caminho, na verdade o único
caminho para provar a existência de Deus é estudar o crescimento de uma planta,
, a tragetória de um planeta, e o
movimento de uma bola de gude.” “[...] certo
cavaleiro [Van Til] nos quarenta anos passados, jamais tentou enunciá-lo [o
argumento cosmológico!] de forma apropriada.” (Em defesa
da Teologia, p. 31,33).
R. C. Sproul no livro Boa Pergunta! Página 17,18, ancorado em Rm 1, defende um argumento cosmológico para mostrar ‘a qualquer um’ que Deus existe. Na segunda citação
acima, é curioso que o que McGrath diz que Van Til não faz, é exatamente o que Clark
diz que Van Til afirma!
Além desses, a turma de R. C. Sproul, N.
Geisler, W. Craig, encaram o sistema pressuposicionalista de Van Til como mudo,
sem comunicação com as exigências lógicas do homem moderno. E embora Clark seja
pressuposicionalista, seu sistema está ancorado na ‘lógica’ – visto que até
tentou provar “logicamente” que Deus sendo o autor de tudo, até do mal, não faz
dele responsável moral por isso (Deus e o
Mal, ed. Monergismo). Portanto, ele ganha um respeito maior de alguns filósofos
como Ronald Nash.
Van Til e
Romanos 1
Não percebi em momento algum Van Til
rejeitando a nossa capacidade lógica de perceber fatos da revelação natural.
Até mesmo McGrath alerta dizendo que o sistema de Van Til ‘não é vazio de racionalidade’, como alguns dizem, ‘mas que deve existir um salto do
racionalismo secular para o cristão’ (Apologética cristã no século XXI,
p.117).
O que percebemos em Van Til é que o problema
do pecador é interpretação incorreta e
incapacidade volitiva, diante do testemunho da Criação. Devemos lembrar de um fato crucial; a revelação natural foi dada antes da Queda. Romanos 1 não deixa dúvidas que a
revelação natural é um atestado da condenação do homem. No entanto, não de sua
salvação! Van Til olha um homem, segundo a Escritura, caído em sua totalidade.
Qualquer coisa que leve esse homem a Deus é contra sua natureza. Ainda que ele
saiba de algo, testemunha algo, um passo adiante será suicídio de sua natureza
pecaminosa e abandono das trevas. Van Til diz que isso só pode ser feito pelo
Testemunho do Espírito nos pressupostos da Escritura.
McGrath acha que existe muitos problemas
nisso. Mas o que ele não faz é provar na Bíblia que tal perspectiva é
errada. Para McGrath é possível chegar uma decisão teísta usando o raciocínio
lógico mediante o testemunho da criação. Porém, a totalidade que ele
aceita de Romanos 1.19 ele a rejeita de Romanos 1.21. Os mesmos que sabem que
existe Deus são os mesmo que suprimem isso na essência da alma - TODOS. Existe exceção?
Somente os cristãos!
Ou seja, o problema está na teologia estrita de Van Til, que acaba colocando-o em oposição aos defensores da teologia natural. Para Van Til, não existe teísta que não seja Cristão. Se não for Cristão, a concepção é um ídolo, e não O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (Apologética Cristã, p. 64). A natureza convenceu alguns que existe um deus, um deus muito poderoso, até mesmo índios sabem disso. Estão eles salvos? Está aqui a diferença da apologética dele.
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