segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Dicionário Vine e seu dispensacionalismo

As Testemunhas de Jeová usam com frequencia o dicionário de W. E. Vine para 'provar' que Cristo morreu numa estaca, e para ensinar que a "vinda" de Cristo deveria ser traduzida por "presença". Sobre esse último tópico veja o que Carl Olof Jonsson* nos mostra:

"Existe um dicionário moderno de Grego-Inglês [em português pela CPAD], contudo, que parece dar algum apoio ao entendimento da Watch Tower Society acerca da parousía de Cristo como um período de "presença invisível," seguido por uma "revelação" final da sua presença na batalha do Armagedom. É o Expository Dictionary of New Testament Words (Dicionário Expositivo de Palavras do Novo Testamento), de W. E. Vine, que define o termo parousía da seguinte maneira:


"PAROUSIA ... denota tanto uma chegada como a subsequente presença com.... Quando usada para se referir ao retorno de Cristo, significa não meramente a sua vinda momentânea para os Seus santos, mas a Sua presença com eles desde esse momento até à Sua revelação e manifestação ao mundo."

Esta descrição da parousía soa muito parecida à da Watch Tower Society. Portanto, não é surpresa nenhuma descobrir que a definição que Vine apresenta da palavra é amplamente citada na página 1335 do dicionário bíblico da Sociedade Aid to Bible Understanding (Ajuda ao Entendimento da Bíblia). Pode ser uma surpresa para alguns, porém, saber que Vine foi um dos mais assíduos defensores da doutrina do "arrebatamento secrteto" no nosso século. Isto aparentemente fez com que ele definisse a palavra parousía de uma maneira que apoiasse os seus pontos de vista teológicos. Contudo, isto só serviu para o pôr em conflito com os resultados da moderna erudição.

Conforme observado anteriormente, a ideia do "arrebatamento secreto" teve os seus defensores mais zelosos entre os seguidores de John Nelson Darby, chamados a Irmandade. Em 1847 um desentendimento entre Darby e George Müller, o líder de um grupo da Irmandade em Bristol, Inglaterra, dividiu o movimento em dois: a Irmandade Exclusiva, liderada por Darby, e a Irmandade Aberta, que alinhou com Müller. Embora o próprio Müller rejeitasse o conceito do "arrebatamento secreto," o movimento da Irmandade Aberta aderiu à ideia e continuou a pregá-la. W. E. Vine, que nasceu em 1873, estava associado com a Irmandade Aberta e parece tê-lo estado desde a sua juventude. Ele foi um grande perito, e o seu Dicionário é inestimável como manual para o estudo do Novo Testamento. A sua definição da palavra parousía, contudo, foi claramente influenciada pela sua aderência à doutrina do "arrebatamento secreto," uma doutrina que lhe deve ter sido muito cara desde a sua juventude. Ele defendeu-a em vários livros escritos em colaboração com um condiscípulo, o Sr. C. F. Hogg, como por exemplo The Epistles of Paul and the Apostle to the Thessalonians (As Epístolas de Paulo e o Apóstolo aos Tessalonicenses; 1914), Touching the Coming of the Lord (Atingindo a Vinda do Senhor; 1919), e The Church and the Tribulation (A Igreja e a Tribulação; 1938). O último livro mencionado foi publicado como uma resposta ao ataque do Rev. Alexander Reese contra a ideia do "arrebatamento secreto," no livro The Approaching Advent of Christ (O Advento de Cristo que se Aproxima), publicado no ano anterior (1937). O bem conhecido exegeta e comentador bíblico, Professor F. F. Bruce, embora tendo os mesmos antecedentes religiosos do Dr. Vine, faz os seguintes comentários críticos a respeito do uso que Vine e Hogg fazem da palavra parousía no seu sistema escatológico:

"Talvez o aspecto mais distintivo de Atingindo a Vinda tenha sido o tratamento dado à palavra parousía. Eles insistiram no sentido primário de 'presença' e interpretaram a palavra no seu uso escatológico como significando a presença de Cristo com a Sua Igreja glorificada no intervalo que precede a Sua manifestação em glória....

Pode ser posta em dúvida se esta interpretação de parousía faz justiça ao sentido que a palavra tem no grego helenístico. Os escritores apelaram, de facto, ao léxico de Cremer em apoio do seu ponto de vista; mas Cremer escreveu muito antes de o estudo de papiros vernaculares ter revolucionado o nosso conhecimento da linguagem helenística comum."16

Portanto, a referência da Watch Tower Society à definição de parousía do Dr. Vine não tem grande peso. Examinada mais de perto, mostra ser essencialmente tão obsoleta como as outras referências da Sociedade."


*C. Jonsson escreveu Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, a mais importante e reconhecida obra erudita do mundo sobre a doutrina de 1914 das Testemunhas de Jeová.



3 comentários:

  1. Comprei um livro chamado Novo Testamento Judaico, de autoria David H. Stern no Site chamada.com.br e para a minha surpresa este livro defende o mesmo ensinamento das Testemunha de Jeová, que Cristo não foi crucificado e sim morreu na estaca. Segue link do livro para vossa análise: http://www.chamada.com.br/livraria/detalhes/?cod=NTJ

    ResponderExcluir
  2. Olá Roberto.

    O fato é simples de responder. Não havia no grego palavra diretamente correspondente para cruz. Usaram uma (staurós) que é mais genérico.

    As evidências estabelecem que Jesus morreu na cruz.

    Veja esse:

    http://www.geocities.ws/irmaobrasil/cruz.htm

    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Bom dia prezados,
    De modo respeitoso expresso minha opinião e conhecimento.
    No antigo testamento NÃO existe a palavra cruz. E as Escrituras indicam que Jesus foi morto do mesmo modo que os criminosos. Os criminosos muitas vezes morriam pendurados em madeiras, postes, em árvores, em estacas, como mostra o relato de Esdras 6: 11. Vejam este link do Site das Testemunhas de Jeová, que tem referências de outros escritos antigos e que são de fontes confiáveis. https://www.jw.org/pt/ensinos-biblicos/perguntas/jesus-morreu-numa-cruz/#?insight[search_id]=09d234f6-ebf9-4155-b4c1-58b36e008aa1&insight[search_result_index]=2

    ResponderExcluir