Ainda podemos mencionar que acreditar na própria razão como valorosa exige um passo de fé. Aqui, não é necessário que a discussão seja apenas sobre ciência e fé, mas epistemologia em geral. Vale observar que todos pressupõe ser a razão, a lógica, algo de um caráter ontológico ‘simbiótico’ à realidade. Assim, “porque elas são também leis do ser, podemos usá-las para apreender a estrutura lógica do mundo” (NASH, 2008, p.210).
De fato, vários pensadores apresentam argumentos observando que devemos presumir a lógica para raciocinar.
Nash observa que, apesar de a lei da não-contradição (“A não pode ser B e não-B, ao mesmo tempo e no mesmo sentido” NASH, 2008, p.210) não poder ser provada diretamente (pois todo argumento pressupõe a lógica, de modo que o raciocínio seria circular, ou seja, o que se quer provar já está admitido nas premissas), ela é indiretamente provada se observarmos que a eliminação dela impossibilita a existência do pensamento significante, da conduta humana significante, e da comunicação significante (o que impossibilitaria um argumento para refutar a própria lógica). Isso porque a distinção entre as coisas é eliminada. Se B é essencialmente algo, e ao mesmo tempo é essencialmente algo diferente, B é tudo. Gordon H. Clark explana: “Se declarações contraditórias são verdadeiras em relação ao mesmo objeto e ao mesmo tempo, evidentemente todas as coisas serão a mesma coisa. [...] Todas as diferenças entre as coisas se desvanecerão e tudo será um” (CLARK apud NASH, 2008, p. 211).
Chesterton observa de maneira muito semelhante: “A própria razão é uma questão de fé. É um ato de fé afirmar que nossos pensamentos têm alguma relação com a realidade por mínima que seja” (CHESTERTON, 2008, p.56); e que [apesar do viés tomista do pensamento] “ambas [religião e razão] têm a mesma natureza primária e autoritária. Ambas são métodos de comprovação que não podem elas mesmas ser comprovadas” (CHESTERTON, 2008, p.58).
Budziszewski também comenta: "O mote 'apenas a razão!' é completamente sem sentido. A própria razão pressupõe fé. Por quê? Porque uma defesa da razão pela razão é circular e, portanto, sem valor” (BUDZISZEWSKI apud GEISLER; TUREK, 2006, p. 133).
A questão é que o mundo pode ser totalmente caótico, e a lógica, que presumimos corresponder à ele, não o fazer. Estaríamos caminhando, ao lado de Nietzsche, rumo à loucura, e isso não seria nada, paradoxalmente falando, ilógico. É uma possibilidade lógica o fato de a lógica não corresponder à realidade.
Assim, de fato, presumimos a lógica, e que ela corresponde ao mundo, ao ser.
Continua...
Bibliografia
CHESTERTON, Gilbert K. Ortodoxia. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. 264 p.
GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. 2006, 420 p.
NASH, Ronald H. Questões Últimas da vida: uma introdução à filosofia. Tradução de Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 448 p.
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